RIO DE JANEIRO - No dia 18 de março de 1976, o pianista
brasileiro Francisco Tenório Jr., 33, estava em Buenos Aires para uma temporada
no Teatro Rex com seus patrícios Vinicius de Moraes e Toquinho. Naquela noite,
saiu do hotel Normandie, onde estavam hospedados, e deixou um bilhete:
"Vou comprar cigarros e um remédio. Volto já". Não voltou -nunca
mais.
Fora confundido com um militante procurado pela ditadura
argentina e levado preso. Por falar bem espanhol e com sotaque portenho, não
acreditaram que fosse brasileiro, músico e inocente. Passaram a torturá-lo, com
a colaboração, a partir do quinto dia, de agentes brasileiros da Operação
Condor, braço internacional das ditaduras argentina, brasileira, chilena e
uruguaia.
Nove dias depois, seus algozes se convenceram de que tinham
se enganado. Mas, já então, Tenório estava cruelmente machucado. Pior: vira o
rosto deles. Não podiam devolvê-lo à rua. O jeito era matá-lo, o que fizeram
com um tiro, no dia 27. Dali Tenório foi dado como "desaparecido", e
o Brasil nunca se empenhou em elucidar o fim de um de seus filhos mais
talentosos -autor, em 1964, aos 21 anos, do grande disco instrumental
"Embalo".
Os detalhes gravíssimos sobre a morte de Tenório só
começaram a aparecer dez anos depois, em 1986, e mesmo assim porque um membro
da inteligência argentina resolveu contar. Pois, agora, os argentinos, que não
estão varrendo a sua ditadura para debaixo do tapete, nos darão em breve nova
lição.
No dia 16 de novembro, às 14 h, a cidade de Buenos Aires,
por iniciativa do deputado portenho Raul Puy, homenageará Tenório com uma placa
na fachada do hotel Normandie, na rua Rodríguez Peña, 320, de onde ele saiu
para morrer. Ela dirá: "Aqui se hospedou este brilhante músico brasileiro,
vítima da ditadura militar argentina".
RUY CASTRO - 22 Oct 2011
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