sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


James Joyce


A História é um pesadelo do qual eu tento acordar.


Deus fez o alimento, o diabo acrescentou o tempero.


Ninguém presta à sua geração maior serviço do que aquele que, seja pela sua arte, seja pela sua existência, lhe proporciona a dádiva de uma certeza.


O amor ama amar o amor.


Os erros são os portais da descoberta.


Tudo é caro demais quando não é necessário.

Relembrando Blanchot


Via Luís Serguilha

A obra de arte está ligada a um risco, é afirmação de uma experiência extrema. Se o artista corre um risco, é porque a obra é essencialmente risco e, a isso estando ligado é, também, o artista que pertence ao risco..,..na obra o homem fala, mas a obra dá voz, no homem, ao que se não diz, ao inominável, ao desumano, ao que não tem ( é) verdade, ao que não tem justiça; sem usufruir de direito, lá onde o homem não se reconhece, onde não se sente justificado; onde não está de modo algum presente; onde o homem se ausenta de si próprio, de deus…,.. poema é a película que torna visível o fogo, que o torna visível porque o esconde e o dissimula. O mostra, portanto. Descobre mas dissimulando e retendo na obscuridade, o que só se pode esclarecer pelo obscuro, e guardando-o no obscuro até à claridade revelada pelas trevas…,..o poeta vive na intimidade do perigo. Só. Suporta profundamente o tempo vazio da ausência e, nele, o erro torna-se a profundidade da perdição, a noite torna-se noutra noite. Mas o que é que isto significa? Quando René Char escreve: "Que o risco seja a tua clareza", quando Georges Bataille, colocando face a face a chance e a poesia, diz : " A ausência de poesia é ausência de chance", quando Hölderlin classifica o presente vazio do perigo " plenitude de sofrimento, plenitude de alegria, o que é que se procura dizer? Por que é que o risco se assumiria como clarificação? Por que é que o tempo do perigo seria o tempo da chance? Quando Hölderlin fala dos poetas que, como os apóstolos de Bacchus, vão errando de país em país na noite sagrada, em deslocação interminável, infelicidade que atormenta quer os que falham o lugar ou a migração fecunda, o movimento que mediatiza, o que faz das correntes uma linguagem e da linguagem, a casa do ser, o poder pelo qual o dia permanece- e será a nossa habitação?...,..o poema é a ausência de resposta. O poeta é o que, pelo seu sacrifício, conserva no seu trabalho esta questão em aberto. Nunca deixa de viver no perigo. Sempre. No poema não é só o homem que se arrisca, pelo facto que se expõe à expectativa e ao fogo tenebrosos. O risco é mais essencial; é o perigo dos perigos, pelo qual, de cada vez, é radicalmente contestada a essência da linguagem.
 
Fonte : Cláudio Daniel

Neurolinguística





Adélia Prado

Quando ele me disse
ô linda,
pareces uma rainha,
fui ao cúmice do ápice
mas segurei meu desmaio.
Aos sessenta anos de idade,
vinte de casta viuvez,
quero estar bem acordada,
caso ele fale outra vez.

SUBVERSIVA





"A poesia
Quando chega
Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha

Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.

E promete incendiar o país."
Ferreira Gullar


“Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda.”

(Sigmund Freud)
 

Anseios



Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!...
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!

Não estendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!...

- Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"
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