2o Congreso Latinoamericano de WAPOR "Opinión Pública,
Democracia y Conflictos en América Latina” Lima, Perú, Abril 22-24, 2009
CULTURA POLÍTICA E MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL: A UNIOESTE, EM
CASCAVEL/PARANÁ Rosana Kátia Nazzari 1 Elza Corbari Buttura2
RESUMO: Os índices de participação política convencional dos
jovens são baixos. A falta de um envolvimento mais expressivo nas questões
políticas não favorece o fortalecimento da democracia. Na universidade, os
jovens têm a oportunidade de desenvolver eficácia política por meio da participação
no movimento estudantil, eficácia que poderá colaborar com a construção da
cidadania, no futuro. Neste sentido, é importante resgatar o papel dos
estudantes na construção do movimento estudantil da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná (UNIOESTE).
PALAVRAS-CHAVE: Participação política. Movimento estudantil.
Universidade
RESUMEN: Los índices convencionales de participación
política de los jóvenes son bajos. La falta de una participación más
significativa en las cuestiones políticas no contribuye al fortalecimiento de
la democracia. En la universidad, los jóvenes tienen la oportunidad de
desarrollar una política eficaz a través de la participación en el movimiento
estudiantil, lo que podría colaborar con la construcción de la ciudadanía en el
futuro. En este sentido, es importante rescatar el papel de los estudiantes en
la construcción del movimiento estudiantil en la Universidad Estatal del Oeste
de Paraná (UNIOESTE).
PALABRAS CLAVE: La participación política. Movimiento estudiantil. Universidad
ABSTRACT:
The indices of conventional political participation of young people are low.
The lack of a more meaningful involvement in political issues does not help the
strengthening of democracy. At the university, young people have the
opportunity to develop effective policy through participation in the student
movement, which could collaborate with the construction of citizenship in the
future. In this sense, it is important redeem the role of students in the
construction of the student movement at the State University of the West of
Paraná (UNIOESTE).
KEYWORD:
Political participation. Student movement. University
1 Doutora em Ciência Política, docente, pesquisadora e líder
do Grupo de Pesquisa sobre Comportamento Político (GPCP) da UNIOESTE. Endereço
eletrônico: knazzari@hotmail.com.
2 Aluna do Curso de Pós Graduação - Especialização em
Planejamento, Gestão e Avaliação de Políticas Públicas, da UNIOESTE – Campus de
Toledo, Técnica Administrativa da UNIOESTE - Reitoria. Endereço eletrônico:
elza@unioeste.br.
A organização estudantil no Brasil teve início com a classe
média e proporcionou importantes mudanças nos fatos políticos do país. Com a
ditadura militar que se iniciou em 1964 e com a edição do Ato Institucional nº
5 (AI5), muitos brasileiros sofreram grandes represálias e violência, sendo
cassados seus direitos políticos, com intelectuais demitidos do serviço público
e com presos políticos torturados e desaparecidos. Além disso, houve repressões
violentas a todos os tipos de movimentos populares. Neste período posterior a
1964, os movimentos de massa, inclusive o estudantil, praticamente desaparecem,
retornando somente no final da década de 1970 para demandar a anistia e a
reconquista do regime democrático no país.
Assim, após a lei da anistia, a União Nacional dos
Estudantes (UNE) voltou à legalidade somente em 1985, e, desta forma, aos
poucos, ressurgiram os grêmios e os centros estudantis em todo o país,
gradativamente reconquistando seu espaço e sua importância na política nacional
na democracia.
Embora a democracia parta do princípio teórico de igualdade
entre os indivíduos, diante do capitalismo esbarra na desigualdade e na
exclusão social, principalmente em sua dimensão econômica. Na falta de
igualdade socioeconômica, mesmo que se tenham os direitos civis e políticos
garantidos constitucionalmente, na prática eles não se efetivam. Ocorre, assim,
que esses direitos são concedidos apenas de acordo com o interesse da classe
dominante. Por causa dessa distorção imposta pela classe dominante, surge a
necessidade de que a cidadania seja promovida e incrementada por outros meios,
até porque é só pelo seu exercício que ela de fato ocorre, ou seja, pela sua
prática por meio da socialização política, segundo Nazzari (2006). Neste
sentido, a participação política nas várias esferas interpessoais, sociais e
institucionais é fundamental para o exercício da cidadania, ou seja, para que
aquele princípio teórico de igualdade se traduza em realidade entre os
indivíduos.
O conceito de cidadania é considerado amplo e abrange várias
dimensões. Uma das mais importantes dessas dimenções diz respeito à regulação
dos direitos e dos deveres dos indivíduos na sociedade, tanto na cidadania
individual como na cidadania coletiva.
A cidadania individual pressupõe a liberdade e a autonomia
dos indivíduos num sistema de mercado, de livre jogo da competição, em que
todos sejam respeitados e tenham garantias mínimas para a livre manifestação de
suas opiniões, basicamente pelo voto, e de auto-realização de suas
potencialidades. A cidadania individual pressupõe ainda um ente mediador que
atue como árbitro na sociedade e reponha, sempre que se fizer necessário, o
lugar dos indivíduos no conjunto social. Este é o Estado, o poder público.
(GOHN, 1995, p. 195).
Assim, na cidadania individual, o que se busca é a conquista
dos direitos civis e políticos na sociedade em que se vive. Já na cidadania
coletiva destacam-se dois pontos de referência:
O primeiro remete às origens clássicas do cidadão da pólis
grega, pois diz respeito a uma dimensão cívica, em que os cidadãos exercitam
virtudes cívicas e têm na comunidade em que vivem a sua referência imediata. Há
obrigações e deveres a cumprir. O segundo marco remete à contemporaneidade, ou
aos tempos pós-modernos. Ela diz respeito à busca de leis e direitos para
categorias sociais até então excluídas da sociedade. (GOHN, 1995, p. 196).
Salienta Gohn ainda que “A cidadania coletiva privilegia a
dimensão sociocultural, reivindica direito sob a forma da concessão de bens e
serviços, e não apenas a inscrição desses direitos em lei, reivindica
espaços sociopolíticos sem que para isto tenha de se homogeneizar e perder sua
identidade cultural”. Constata-se que, no processo de lutas pelos direitos
sociais, econômicos, políticos e culturais, a luta pela cidadania coletiva
sempre esteve associada às lutas pela igualdade e pela liberdade. Dessa forma,
a constituição da cidadania se configurou, historicamente, através de um
processo de construção e de participação coletiva.
Para Bordenave (1994), pensar a participação é pensar a
família, o trabalho, e a escola, ou seja, o meio social em que estamos
inseridos. Neste sentido, a universidade é detentora do papel fundamental de
socialização e de formação crítica de seus alunos, de tal forma que possibilite
e instigue seus estudantes à participação, não só internamente como também na
sociedade em geral, contribuindo, assim, para a consolidação da democracia. O
ser humano, por natureza, vive em grupo e, desta forma, sempre buscou
mecanismos onde pudesse haver a participação de todos.
Segundo Paro (2001), a participação não se dá
espontaneamente, sendo antes um processo histórico de construção coletiva.
Participação não pode ser entendida como dádiva, como concessão, como algo
preexistente, mas, sim, como um processo de conquista, em constante vir-a-ser,
sempre se fazendo. Paro considera também que, em nossa sociedade, existe uma
tradição de autoritarismo, de poder altamente concentrado, e de exclusão da
divergência nas decisões e nas discussões.
Pode-se perceber que existe uma tendência histórica à
dominação, onde a sociedade se organiza através de polarização hierárquica,
predominando a postura organizacional de cima para baixo, sendo muito peculiar
a este fenômeno do poder que haja um lado que seja comandado.
Tratando-se de cidadania e de participação, faz-se
necessário estar inserido em um modelo social democrático. Se atualmente
predomina a hegemonia capitalista como forma de poder, nem sempre foi assim e,
da mesma forma que a sociedade se transforma, os conceitos de democracia, de
cidadania e de participação, por serem categorias, também se modificam ao longo
do tempo.
Assim, no regime democrático, a participação é fundamental
para a garantia dos direitos, e esta participação se efetiva através de
organizações representativas, no caso em tela as entidades estudantis, que têm
por objetivo não somente a defesa das questões educacionais, como também, a
defesa de demais temas de interesse coletivo e nacional.
Ocorre, no entanto, que o movimento estudantil brasileiro é
frágil, assim como relativamente frágeis são as demais instituições políticas.
Os jovens não são incentivados para a participação na esfera política e, mesmo
convocados, omitem-se ou demonstram desafeição pela política. Desta forma, é
uma minoria que participa das reuniões ou das assembléias na universidade, ou
seja, geralmente a maioria não o faz, alegando, dentre outras justificativas,
falta de tempo ou, simplesmente, a falta de interesse. Assim, preferem
utilizar-se deste tempo para outras atividades e outros interesses
particulares.
Na década de 1960, influenciados pela revolução cubana e
pelas críticas, em todas as partes do globo, à intervenção norte-americana no
Vietnã, muitos jovens de classe média participantes do movimento estudantil
assumiram claramente um perfil contestatório e desafiador ao sistema político
(especialmente contra a instalação das ditaduras militares na maioria dos
países da região).
Os movimentos estudantis e de oposição aos regimes
autoritários pautaram-se claramente pela crítica à ordem estabelecida e pela
busca de transformações radicais na sociedade. A juventude apareceu então como
a categoria portadora da possibilidade de transformação profunda; e, para a
maior parte da sociedade, portanto, condensava o pânico da revolução. O medo aqui era duplo: por um lado, o
da reversão do “sistema”; por outro, o medo de que, não conseguindo mudar o
sistema, os jovens condenavam a si próprios a jamais conseguirem se integrar ao
funcionamento normal da sociedade, por sua própria recusa (os jovens que
entraram na clandestinidade, por um lado; por outro lado, os jovens que se
recusaram a assumir um emprego formal, que foram viver em comunidades à parte,
como formas familiares e de sobrevivência alternativas, etc.) não mais como uma
fase passageira de dificuldades, mas como recusa permanente de se adaptar, de
se “enquadrar” (ABRAMO, 1997, p. 31).
A resposta do Estado à mobilização e à maior participação
político-social dos jovens foi a execução de uma contra política ofensiva e
violenta de controle policial, visando à total supressão desses movimentos. A
imagem da juventude ativa dos anos 1960 e 1970 acabou passando por uma
reelaboração positiva e foi apontada como modelo ideal de participação jovem
transformadora, idealista, inovadora e utópica, que se vai contrapor à imagem
estereotipada dos jovens dos anos 1980, como geração individualista,
consumista, conservadora, indiferente e apática. “Uma geração que se recusava a
assumir o papel de inovação cultural que agora, depois da reelaboração feita
sobre os anos 60, passava a ser atributo da juventude como categoria social”
(ABRAMO, 1997, p. 31).
Apesar dessa imagem formada sobre os jovens dos anos 1980, o
Estado não cedeu em nada no exercício de seu papel controlador, especialmente
ao lidar com jovens pertencentes ou ligados aos grupos surgidos em estratos
populares (as gangues juvenis, punks, as “galeras” de modo geral) e com jovens
de vivência e expressão urbanas, principais vítimas da deterioração da
qualidade de vida, que atinge principalmente as camadas populares, e do
empobrecimento generalizado da população latino-americana. A preocupação
generalizada com aspectos e fatos isolados que associam a juventude à
violência, ou às drogas, faz multiplicar as proposições normativas visando a
disciplinar essas relações causais. As drogas, a violência e o desemprego
passaram a ser considerados os problemas e as vulnerabilidades sociais máximas
de nosso tempo.
Diante deste quadro, e a fim de confiná-lo em uma moldura
socialmente confortável, várias políticas de compensação social foram criadas,
das quais umas poucas catalogadas como exclusivamente para jovens. O foco e a
prioridade principal delas foram, especialmente, os jovens oriundos de setores
“excluídos”, jovens que apresentavam condutas consideradas delinqüentes. O
enfoque adotado contribuiu, assim, fortemente, para manter, até os dias de
hoje, o estigma problematizador da condição juvenil.
Não se pode esperar que a sociedade tenha uma imagem
diferente dos jovens, como indivíduos engajados nas questões sociais, pois, na
esfera política as pesquisas reforçam a permanência de um comportamento não
participativo entre os jovens do ensino fundamental e médio, eles não recebem
incentivos (NAZZARI, 2006). Estes fatores vão desembocar na fragilidade do movimento
estudantil universitário, como se destaca a seguir.
Em nível local, o Movimento Estudantil (ME) passou por
diversas fases desde seu surgimento na década de 1980. Primeiramente, a criação
do Diretório Central dos Estudantes (DCE) durante a extinta Faculdade de
Educação, Ciências e Letras de Cascavel (FECIVEL). A criação do DCE contou com
a contribuição dos acadêmicos do Curso de Ciências Econômicas. Desde o início
da organização estudantil, o Centro Acadêmico de Economia (CA de Economia) teve
contribuição relevante, participou ativamente da ascensão, da construção e das
conquistas importantes para o desenvolvimento da região Oeste do Paraná. Uma
bandeira do movimento, em conjunto com as instituições organizativas dos
professores e dos técnico-administrativos e com a sociedade, foi a chamada estadualização da UNIOESTE,
composta pelas seguintes faculdades: Faculdade de Educação, Ciências e Letras
de Cascavel (FECIVEL), Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Foz do Iguaçu
(FACISA), Faculdade de Ciências Humanas de Marechal Cândido Rondon (FACIMAR) e
Faculdade de Ciências Humanas “Arnaldo Busato” de Toledo (FACITOL).
Assim, o presente estudo tem como objetivo geral o de
verificar os índices de participação dos estudantes da UNIOESTE no Campus de
Cascavel, nos CAs dos respectivos cursos, nos assuntos comuns internos da
universidade, bem como, nas demais instituições políticas. E, para tal, conta
com os seguintes objetivos específicos: a) Detectar a evolução do movimento
estudantil no Brasil e na UNIOESTE; b) Analisar as características da
participação dos acadêmicos no Diretório Central da Unioeste (DCE), com base
nos fatos históricos e nos depoimentos de seus dirigentes; e c) Mensurar os
índices de participação, de eficácia e de interesse pelo movimento estudantil
dos acadêmicos da UNIOESTE no Campus de Cascavel.
A reflexão crítica será encaminhada em duas estratégias
principais, com procedimentos qualitativos e quantitativos. Uma das estratégias
tem base teórica e a outra se realiza por meio de pesquisa empírica com
aplicação de questionário em aproximadamente 10% dos estudantes do Campus de
Cascavel.
A primeira estrategia será, portanto, de natureza teórica,
como a análise estrutural-histórica do movimento estudantil no Brasil, onde se
destacam questões referentes à cultura política brasileira. Nesta parte,
observa-se, também, a relação das pesquisas sobre socialização política
brasileira com o conceito de participação política.
Na segunda estratégia, será utilizado o método estatístico,
que se aplica a todos os fenômenos aleatórios que se destacam, porque se
repetem e estão associados a uma variabilidade. Verifica-se, por meio da
repetição das respostas, se os resultados se distribuem com certa regularidade
ou freqüência. Fundamenta-se na teoria da amostragem e auxilia os estudos
científicos nas ciências sociais, para medir o grau de correlação entre os
fenômenos da realidade social; o universo ou conjunto de fenômenos com
características comuns, a população como um conjunto de menor número de dados
representativos necessários para se captar a totalidade da população.
Este segundo procedimento consiste na técnica metodológica
de levantamento de opinião ou survey, técnica que é usual nos estudos de
socialização política. Através de questionário ou entrevista podem-se levantar
dados para testar hipóteses e elaborar teorias. Neste sentido, as opiniões
coletadas permitem testar a hipótese do incremento da participação política por
meio da socialização política dos estudantes da UNIOESTE do Campus de Cascavel.
Na pesquisa, buscou-se verificar como os acadêmicos concebem a universidade,
bem como se buscou verificar seu grau de participação no movimento estudantil.
Para tanto, as questões formuladas visam temas mais abrangentes, bem como
questões mais pontuais, considerando o objetivo deste trabalho.
O método da socialização política consiste em investigar a
formação de orientações e atitudes políticas em indivíduos e grupos, através da
análise de manifestações exteriores (opiniões, ações, votos...), coletadas por
meio de técnicas quantitativas e qualitativas, “[...] interpretando os
resultados obtidos à luz do contexto sociocultural (incluindo a esfera
econômica, política e histórica) e do desenvolvimento psicológico-cognitivo
(esfera individual).” (SCHMIDT, 2000, p. 185).
Assim, conforme Schmidt (2000, p. 185-6), “[...] parte das
manifestações exteriores que os indivíduos expressam (entrevistas,
questionários, depoimentos, grupos focais, textos, testes projetivos...), para
se chegar ao nível mais profundo das orientações e atitudes políticas”, permite
sugerir tendências do comportamento político da população pesquisada.
Poder-se-á, então, fazer projeções de nível micro para questões do cenário mais
amplo.
A UNIOESTE é composta por cinco campi (localizados nas
cidades de: Cascavel, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Marechal Cândido de
Rondon e Toledo) e duas extensões (localizadas nas cidades de Medianeira e de
Santa Helena), totalizando 10.195 alunos nos cursos de graduação.
O procedimento de amostragem que foi utilizado é o de
estratificação por conglomerados de natureza inferencial. O critério de
estratificação foi alcançado por meio de variáveis demográficas como idade e
sexo. Os conglomerados foram constituídos pelos estudantes do Campus de
Cascavel, que conta com 3.235 acadêmicos, distribuídos nos 15 cursos de
graduação: Administração, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis, Ciências
Econômicas, Enfermagem, Engenharia Agrícola, Engenharia Civil, Farmácia,
Fisioterapia, Informática, Letras, Matemática, Medicina, Odontologia e
Pedagogia, totalizando 65% dos alunos no turno diurno e 35% no turno noturno.
Com o objetivo de mensurar os índices de participação, a
eficácia e o interesse pelo movimento estudantil dos acadêmicos deste campus,
foi aplicado um questionário, constituído principalmente de questões sobre a
participação estudantil na universidade. A partir de listagens completas,
fornecidas pela Secretaria Acadêmica, foram abordados 20% dos alunos do 1º ano,
21% do 2º ano, 27% do 3º ano e 31% dos alunos do 4º ano, séries estas
selecionadas aleatoriamente nos cursos, tendo todos os cursos do campus
participado da amostra.
O número de estudantes entrevistados (de turma em turma),
foi escolhido a partir da conjugação de fatores como disponibilidade de horário
e colaboração dos professores, somando 307 entrevistas.
O erro amostral da pesquisa foi de 2,31% para um nível de
confiança de 95%. A fórmula, utilizada para o cálculo do erro amostral, foi a
seguinte: Erro= z.V[(1/n-1/N). Pql, em que z é o valor da distribuição normal;
n é o tamanho da amostra; N é o tamanho da população; pq é a estimativa de
variabilidade da proporção.
O questionário dos estudantes constituiu-se de 15 questões,
entre fechadas e abertas. A similaridade das questões aplicadas em pesquisas
anteriores foi para possibilitar comparações. Como técnica complementar foi
desenvolvida bateria de entrevistas informais com os dirigentes do movimento
estudantil em Cascavel, notadamente do movimento estudantil da UNIOESTE.
3 PARTICIPAÇÃO DOS JOVENS EM ATIVIDADES ASSOCIATIVAS
O individualismo e o imediatismo atuais levam a uma
variedade de impedimentos para que os jovens consigam sua independência e
conquistem suas metas. O tempo necessário para que se preparem para a carreira,
as pressões do mercado e o sucesso não lhes deixam tempo livre para a política.
Além destes fatores, as instituições políticas não estão equipadas e dispostas
a adotar, a encorajar e a incentivar novos talentos para a liderança política.
Deste modo, o processo e as mudanças de pensamento indicam
evidências dos efeitos do período, da sociedade e das experiências universais
que atravessam as gerações. O posicionamento e as experiências dos jovens de
hoje são diferentes dos jovens de outras gerações.
As técnicas quantitativas utilizadas pela ciência política,
baseadas em questionários survey, argüindo o entrevistado sobre definição dos
significados políticos, podem colaborar para apontar as diferenças do
engajamento e da orientação política dos jovens nos anos recentes.
Sugerir que a juventude é apática e apolítica, isto é não
considerar o interesse dos jovens por diferentes tipos de participação
política. Eles têm algum engajamento, embora provavelmente não seja o da
política formal. Quando se analisa a política formal, convencionalmente
definida, a conclusão é a de que os jovens são céticos e desengajados, e
desconfiam dos governantes e do sistema político, pois se verificou que o
interesse por política varia segundo a concepção da política.
Pagé e Chastenay (2003), em seus estudos sobre socialização
política e capital social dos jovens das cidades de Québec, Nouveau-Brunswick e
Alberta, no Canadá, realizaram análises e comparações em três dimensões
importantes, a saber: a identificação cívica, o igualitarismo e a participação.
Em nível geral, foram observados os comportamentos políticos
de acordo com as normas de igualdade e de eqüidade aplicadas a todos os
cidadãos, considerando e comparando suas identidades culturais diferentes nas
perspectivas individualistas e pluralistas (PAGÉ e CHASTENAY, 2003, p. 4-5).
Para Pagé e Chastenay (2003), fatores sociodemográficos,
tais como a história, as normas públicas e a diversidade, marcam etapas
cruciais entre as províncias. Os jovens tiveram atitudes positivas para com a
presença de nomes de personagens importantes de diversidades culturais nos
espaços social e público, bem como refletiram uma atitude positiva frente aos
acordos e aos debates públicos. Para completar a pesquisa, os estudiosos
apontaram uma terceira dimensão, que é composta de quatro fatores: a
participação atual, a participação futura, a confiança nos personagens
políticos e a participação efetiva.
Principalmente as participações dos jovens em atividades
estudantis implicam o conjunto de atividades da vida social deles mesmos. E
indicam uma implicação na vida política e comunitária do estudante. Assim, a
participação dos jovens em associações e em outras formas de interação social é
criadora de capital social, porque tem efeitos na socialização política, “[...]
ampliando a aquisição de normas e valores de cooperativos, bem como de
confiança necessária para o funcionamento adequado da democracia. As
associações funcionam como escolas para se aprender democracia” (STOLLE e
HOOGHE, 2002, p. 3).
Segundo pesquisa da UNICEF (2002), entre os adolescentes em
idade eleitoral, 41,3% assinalaram que não participam das eleições porque acham
que ainda não têm idade, 21,9% não participam porque não gostam de política e
apenas 3,4% participam votando e fazendo campanha para candidato de sua
preferência.
“O envolvimento dos jovens em associações comunitárias,
grêmios escolares, discussões sobre problemas do bairro, organização de festas
gincanas, revela que 65% dos adolescentes entrevistados nunca participaram
desse tipo de atividade”. Entre as 13% atividades associativas assinaladas
pelos jovens aparecem os grêmios escolares e a organização de gincanas. Estes
dados apontam a precária participação dos jovens na vida cívica (UNICEF, 2002,
p. 124).
A maior participação na vida cívica não somente contribui
para a formação dos cidadãos, mas propicia um contexto de confiança social na
nação. A participação poderia possibilitar o desenvolvimento de confiança e
propiciar que as experiências de âmbitos restritos levem à participação em
grupos mais organizados para a valorização do coletivo, “[...] que podem estimular predisposições
positivas em relação à eficácia política de cada cidadão” (BAQUERO, 2001, p.
40). Nesta direção, torna-se pertinente examinar as predisposições dos jovens
em participar de atividades associativas, pois pode ser um indicador de
eficácia política.
Nota-se que o componente de eficácia política influencia na
dimensão de participação dos jovens brasileiros. Percebe-se que atitudes de
pouca participação vêm acompanhadas de um reconhecimento latente de
participação futura. Ao mesmo tempo, os entrevistados reconhecem a necessidade
de participar para mudar as coisas e os índices apontam para a intenção mediana
de ampliar sua participação futura nas atividades associativas, caso fossem
convidados, atitudes verificadas por meio dos dados coletados na amostra da
presente pesquisa.
A maioria ainda não se sente segura para participar de
alguma atividade, pois 61,4% responderam que depende; 30,6% participariam;
enquanto 5,5% não participariam e 2,5% não sabem ou não responderam à questão.
Há, contudo, uma clara distinção entre a percepção subjetiva dos estudantes
entrevistados de participarem das atividades associativas e sua disposição de
realmente participar nelas. A questão aberta de cunho qualitativo pode reforçar
esta análise.
Observou-se que a socialização política, até o presente
momento, não vem incentivando, nos jovens, sentimentos e comportamentos
relacionados à importância da freqüência de participação em atividades
associativas e políticas, e isto não propicia a estocagem de capital social na
comunidade, visto que a participação dos jovens é baixa e esporádica.
A participação nas atividades sociais e políticas na vida
adulta é influenciada pelo processo de socialização política que incentiva a
participação nas associações na juventude. A vida familiar, o trabalho, a vida
social informal, assistir televisão e ir à escola são atividades preferidas
pela maioria dos cidadãos.
Os jovens, em geral, mostram certa homogeneidade de
avaliação sobre a participação no movimento estudantil ou em associações
comunitárias. Na maioria das vezes, optam pela indiferença nos temas públicos.
Existem, no entanto, premissas básicas que relacionam a percepção da
importância com a participação efetiva dos jovens na esfera política. Para tal,
o próximo item preocupa-se com a construção da participação política dos jovens
brasileiros, em esfera de socialização na universidade, notadamente no
movimento estudantil.
4 MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL
O movimento estudantil inicia-se no Brasil entre 1901 a
1930. Neste período dá-se o aparecimento das primeiras organizações nacionais
do movimento estudantil brasileiro, movimento que, segundo o MME (2007, p. 3),
foi marcado por certa efemeridade. Em 1901 foi criada a Federação de Estudantes
Brasileiros, entidade que dura pouco tempo. Em 1910 foi realizado o I Congresso
Nacional de Estudantes, em São Paulo Em 1924, por meio da revista A Época (dos
acadêmicos da Faculdade Nacional de Direito), é feita uma campanha por uma
Federação de Estudantes Brasileiros. E, em 13 de agosto de 1929, foi “[...]
criada a Casa do Estudante do Brasil, visando à assistência social aos
estudantes e à promoção, à difusão e ao intercâmbio de obras e atividades
culturais”.
Na era Vargas, com a revolução de 1930, “A politização do
ambiente nacional levou os estudantes a tomarem parte na Revolução
Constitucionalista de São Paulo e a formarem organizações como a Juventude
Comunista e a Juventude Integralista. Em 1937, foi criada a União Nacional dos
Estudantes (UNE). Na década de 40, era o grande marco na luta contra o nazi-fascismo” (MME,
2007, p. 4).
No dia 11 de agosto de 1937, “[...] com a instalação do I
Congresso Nacional dos Estudantes, nasce a União Nacional dos Estudantes (UNE),
órgão máximo de representação estudantil. A entidade começa a funcionar no
prédio da Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, sob a direção de Ana
Amélia Queirós Carneiro de Mendonça”. Em dezembro de 1938 “[...] é realizado o
II Congresso Nacional de Estudantes, no Rio de Janeiro. Preconiza a luta pela
indústria siderúrgica nacional. O gaúcho Valdir Ramos Borges é eleito o
primeiro presidente oficial da UNE”. E, em 1942, “[...] pelo decreto-lei no
4080, o presidente Getúlio Vargas institucionaliza a UNE como entidade
representativa dos universitários brasileiros” (MME, 2007, p. 4). Entre 1943 e
1945, a UNE é reprimida pela ditadura Vargas, ocorrendo diversas mortes de
estudantes em movimentos e passeatas. “O estudante Demócrito de Souza Filho é
assassinado, em Recife, no comício de propaganda da candidatura de Eduardo
Gomes. Três dias depois, a UNE mobiliza estudantes contra a ditadura Vargas, em
comício nas escadarias do Teatro Municipal do Rio de Janeiro”. Em maio de 1945,
“A criação da União Democrática Nacional (UDN), partido de oposição a Getúlio
Vargas, provoca cisão do movimento estudantil, até então unificado”.
A partir de 1947, iniciou-se a fase de hegemonia socialista
na UNE, que foi até 1950. Nesse período, a entidade liderou campanhas nacionais
contra a alta do custo de vida e em prol da indústria siderúrgica nacional e do
monopólio estatal do petróleo (campanha O Petróleo É Nosso). De 1950 a 1956, a
UNE viveu sua fase direitista, comandada por um grupo ligado à União
Democrática Nacional (UDN). Com a esquerda de novo no poder, a UNE apoiou, em
1961, a campanha da legalidade, a favor da posse de João Goulart, e reforçou
sua ação no campo da cultura com a criação do Centro Popular de Cultura e da
UNE Volante (MME, 2007, p. 6).
O período entre 1964 a 1974 foi “[...] caracterizado pela
luta contra a ditadura militar e pelo retorno às liberdades democráticas.” Em
10 de abril de 1964, a sede da UNE é incendiada por participantes do movimento
político militar. Em 29 de março de 1968 a UNE decreta greve geral dos
estudantes. Em 26 de junho do mesmo ano a UNE promove a Passeata dos Cem Mil,
no Rio de Janeiro. E, em outubro, é realizado clandestinamente o XXX Congresso
da UNE, em Ibiúna (SP). São presas mais de 700 pessoas, entre elas as
principais lideranças do movimento estudantil: Luís Travassos (presidente
eleito), Vladimir Palmeira, José Dirceu, Franklin Martins e Jean Marc Von Der
Weid. Em 13 de dezembro de 1969 é decretado o AI-5. Centros Cívicos substituem
os grêmios estudantis.
Em 1969, Weid é preso e em 1972 seu substituto na
presidência da UNE Honestino Guimarães, desaparece. “A AP passa a denominar-se
Ação Popular Marxista-Leninista (APML). Em 1973, Alexandre Vannucchi Leme,
aluno da Universidade de São Paulo (USP), é preso e morto pelos militares. A
missa em sua memória, realizada em 30 de março na Catedral da Sé, em São Paulo,
é o primeiro grande movimento de massa desde 1968. Em 1974 é criado o Comitê de
Defesa dos Presos Políticos na Universidade de São Paulo (USP) (MME, 2007, p.
6).
Entre 1974 a 1984, depois de um período de inatividade da
UNE, em 1976, iniciou-se um movimento pela reconstrução da entidade. Favoreceu
o contexto de "abertura lenta e gradual" iniciada por Ernesto Geisel
(1974-1979) e aprofundada por João Batista Figueiredo (1979-1985)”. Nos anos
que se seguiram foram muitos os conflitos e os estudantes retornam as ruas do
país. Em 1977, “Em 22 de setembro, as forças policiais da ditadura invadem o campus Monte Alegre
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em repressão ao ato
público realizado pelos alunos em razão do 3º Encontro Nacional de Estudantes,
que havia sido proibido pelo regime militar. Cerca de novecentas pessoas são
detidas.” (MME, 2007, p. 7).
Desde a segunda metade da década de 1980, com a posse do
primeiro presidente civil desde 1964 e com o retorno às liberdades democráticas
no país, o movimento estudantil brasileiro foi lentamente recuperando seu lugar
e sua importância na política nacional. O grande destaque desse período foi a
campanha pelo impeachment do presidente Fernando Collor, marcada pelas grandes
manifestações de rua lideradas pelos estudantes "caras-pintadas". Em
agosto de 1999 é realizado o Fórum Nacional de Lutas (FNL), reunindo dezenas de
organizações sob a coordenação da UNE, da Central Única dos Trabalhadores (CUT)
e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Em junho de 2001, em
seu 47º congresso, a UNE elege Felipe Maia seu presidente. Em junho de 2003,
“Gustavo Petta assume a presidência da UNE, eleito no 48º Congresso da
entidade, o maior de sua história até então, com a participação de cerca de 15
mil jovens” (MME, 2007, p. 7).
5 MOVIMENTO ESTUDANTIL NA UNIOESTE
De acordo com Monteiro (2007), entende-se a universidade,
principalmente a pública, “[...] como uma instância de construção e
consolidação da cultura política democrática, dadas as possibilidades
diferenciais de socialização política que proporciona aos jovens”. A
universidade deve, assim, possibilitar um avanço para uma prática política
participativa na comunidade estudantil, considerando o papel que a universidade
exerce para a consolidação do regime democrático, tendo em vista que possui a
incumbência de preparar seus jovens para atuarem na sociedade em geral
(MONTEIRO, 2007).
Em nível local, o Movimento Estudantil (ME) da UNIOESTE
passou por diversas fases desde seu surgimento. Primeiramente, a criação do
Diretório Central dos Estudantes (DCE) durante a existência da extinta
Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Cascavel (FECIVEL).
A criação do DCE demarca o início da organização estudantil
universitária local e sua ascensão nos anos seguintes, período em que se podem
destacar nomes importantes na construção da história do movimento estudantil
universitário do Oeste do Paraná, nomes que tiveram atuação efetiva na
sociedade de Cascavel: Geraldo Magela, Ocimar Bin, Ricardo Yueda, Rosana Kátia
Nazzari, Vander Piaia, Dilvo Groli, Hostílio Lustosa, Luci Bedin, Luiz Fernando
Reis, Alex Paixão, Roseni Dalavale, Ronaldo Barbosa, Maira Palpitz e outros,
uma contribuição que merece destaque é do jornalista e historiador Alceu
Sperança (o principal mentor e articulador da formação do DCE) – todos deixaram
suas contribuições na década de 1980.
Segundo o Jornal Fronteira do Iguaçu, de 15 de maio de 1981,
em entrevista concedida por Nazzari (primeira tesoureira e fundadora), descreve
que os centros acadêmicos (CAs) começam a surgir, e amplia a discussão para a
criação do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Inicialmente se deu a
extinção do Diretório Acadêmico Dezesseis de Agosto (DADA), órgão criado para
atender às demandas de poucos estudantes da antiga FECIVEL. A idéia surgiu nos
debates durante os três dias de paralisação das aulas por parte dos estudantes,
no final de março de 1981. Foram criados em dois meses dois centros acadêmicos:
Engenharia Agrícola e Enfermagem, com estatutos aprovados e diretorias eleitas.
Com o surgimento do movimento pró-DCE, existiam duas alas políticas: uma
composta pelos veteranos e dirigentes do DADA e a segunda, que queria renovação nas propostas. Na
época em que o DCE foi criado, a Faculdade contava com 1.800 acadêmicos.
Importante é destacar a experiência e a atuação da chapa:
“Primeiros Passos”, comandada pela acadêmica de economia Luci Bedin (1986), que
foi vitoriosa nas eleições para o DCE, com 70% dos votos, frente à corrente do
PT, unida na chapa “Caminhando”. Luci foi a representante dos acadêmicos na
estadualização e na criação da FUNIOESTE (Fundação Universidade do Oeste do
Paraná), fundação que deu origem à UNIOESTE. Luci Bedin foi a articuladora do
movimento pela estadualização, organizou a caravana com oito ônibus para
Brasília, quando um grupo de alunos tiveram uma entrevista com o Presidente
Sarney. O movimento contou com a participação de lideranças políticas do Oeste
do Paraná, em sua maioria os prefeitos da região. Retornaram de Brasília
somente com promessas. Já no final de seu mandato, em 1986, o Governador José
Richa encaminhou o processo de estadualização da universidade, que foi
referendado no governo de Álvaro Dias.
Outro momento importante do movimento estudantil da
universidade foi a participação de Manoel Selvo do Nascimento Neto (1987),
empresário e sócio-proprietário da Plantar, que trouxe o Congresso da União
Paranaense dos Estudantes (UPE) para Cascavel.
Observa-se a importante contribuição do já falecido Afonso
Cid (vindo da Juventude do PMDB). Afonso era formado em Direito pela PUC
(Pontífice Universidade Católica) de São Paulo e cursou Ciências Econômicas na
década de 1990.
Mais tarde, no início da década de 1990, a FECIVEL
(Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Cascavel) torna-se universidade
(torna-se, na verdade, o maior campus da nova universidade, a UNIOESTE), e o
DCE realiza diversos debates sobre essa mudança. Com isso, o Movimento
Estudantil ganhou força e prestígio na comunidade universitária.
Ocorre, porém, que, apesar desses 20 anos de história, são
os anos de 2001-2002 que podem ser considerados o marco divisor de águas. A
greve na UNIOESTE, que durou seis meses, teve conseqüências drásticas sobre o
ME na instituição. No início, a greve teve apoio dos estudantes, sendo que,
nesse período, o DCE organizou uma das maiores paralisações de estudantes do
país.
Os estudantes se uniram pela luta de melhores condições de
ensino e pararam durante três meses, acompanhando professores e funcionários.
Com a continuidade da greve, vários estudantes acabaram, porém, se transferindo
para outras universidades, voltando para suas cidades de origem ou mesmo
desistindo do curso.
Essa situação leva o DCE a começar a luta pelo fim da greve
e pelas reivindicações dos alunos, professores e funcionários. Ao final do
longo período de greve, os estudantes estavam cansados e se sentiam
desmotivados para continuarem participando do movimento estudantil. Tal fato
ocorreu devido ao grande desgaste causado pela greve.
No ano de 2003, o DCE ainda apresenta certa força
conseguindo reunir alguns alunos nas assembléias e reuniões. Apesar de todo o
desgaste causado pela greve, as lideranças estudantis usam de todos os meios
para manter viva a chama do ME, porém não obtêm o sucesso que se esperava. Os
estudantes começam a se afastar e, conseqüentemente, o DCE enfraquece.
No final do ano de 2004, com a eleição da nova diretoria,
surgia uma nova esperança de mudança. Essa nova diretoria inicia seu mandato
com certas glórias, consegue organizar uma das maiores festas de recepção dos
calouros já presenciada na universidade, com o objetivo de integrar os
estudantes e incentivar a participação. A festa do “OI” no início de 2005,
realizada no Campus de Cascavel, no espaço conhecido como Caracol, mostra certa força dessa gestão, sendo ainda
lembrada como uma das melhores festas promovida pelo DCE.
Durante esta gestão, que se encerrou no final de 2005,
brigas internas no DCE dificultaram o progresso da gestão. Dois grupos se
debatiam, os ditos “não partidários” e os que pertenciam à União da Juventude
Socialista (UJS) e seus apoiadores, culminando em duas chapas para a eleição no
final de 2005, tendo como vencedor o segundo grupo. Ocorre que as dificuldades
internas do DCE somente aumentaram neste mandato, não conseguindo cumprir as
propostas de campanha.
Um fator importante que ajudou a manter o ME em atividade no
Campus foi o surgimento do Movimento “Saudações a Quem Tem Coragem”. Este
movimento, encabeçado pelos membros da chapa derrotada na eleição de 2005,
tinha como principal objetivo lutar pelos direitos dos estudantes e por
melhorias na universidade, que aos poucos foi ganhando força e conseguindo
organizar diversas lutas internas e no município de Cascavel. O movimento de
maior impacto foi a luta pelo passe livre, luta que, além das manifestações internas,
reuniu, juntamente com a Associação Cascavelense dos Estudantes Secundaristas
(ACES), mais de 500 estudantes em frente à Prefeitura Municipal de Cascavel.
No final de 2006, os membros deste movimento, indignados com
a situação vivida no DCE, se candidataram para diretoria. Sendo a única chapa
inscrita, recebe quase que 100% dos votos a favor. A nova gestão inicia com
diversos problemas do mandato anterior, principalmente falta de dinheiro e uma
dívida de aproximadamente dois mil reais, além da incumbência de reconquistar a
confiança e a credibilidade da comunidade acadêmica.
Entre as ações desta gestão se destaca a campanha do trote
sem abuso, a conquista do terreno para a Casa do Estudante, a construção de um
projeto de viabilidade econômica do Restaurante Universitário, o jornal do DCE
e seu programa de rádio. Desta forma, com o esforço e o trabalho deste grupo, o
ME volta a ganhar forças, prova disso foi a assembléia realizada no início de
2007, assembléia que contou com a participação de mais de 600 alunos.
Isto considerado, destacam-se alguns nomes e ações na
organização do DCE, sendo que alguns tiveram participação ativa. Em 2003
contou-se com Jordano Gonzatto. Em 2004 foi a Ana Caroline Amaral. Em 2005, o
João Guilherme Carminati começa a ter certa proximidade e se elege no final do
ano para o cargo de coordenador de assistência estudantil, ficando nesse cargo
até o final do ano de 2005. No ano de 2007, Paulo Alberto Vilas Boas Teodoro
participa ativamente da comissão de finanças do DCE.
Além disso, no ano de 2007 é importante destacar a
participação nas atividades do DCE dos alunos Ezequiel Schlichting e Alexandre
Batista de Souza que lideraram o movimento vitorioso pela continuação do meio
passe para os estudantes em Cascavel. Diante disto, destaca-se a importância
dos lideres estudantis, ao longo do tempo, na colaboração e no incentivo à
participação dos acadêmicos, contribuindo assim para uma sociedade mais
democrática e participativa.
6 ÍNDICE DE PARTICIPAÇAO ESTUDANTIL NA UNIOESTE - CAMPUS DE
CASCAVEL
O resultado da pesquisa, aplicada aos estudantes do Campus
de Cascavel, através de questionário, no primeiro semestre de 2008, mostra que
a maioria dos alunos que compõem a amostragem é originária do Paraná, com 87%,
sendo 48% da cidade de Cascavel; 6% da cidade de Toledo; 3% da cidade de Foz do
Iguaçu; 2% da cidade de Corbélia; e 28% são de origem de outras cidades do Estado.
Já dos provindos de outros Estados, o percentual é de 13%, destacando-se o Estado de
São Paulo (com 3%), o Estado de Santa Catarina (também com 3%), o Estado do Rio
Grande do Sul (com 2%) e os demais Estados (com 5% dos alunos da amostragem). A
pesquisa revela que a maioria dos estudantes universitários estão na faixa etária
entre 17 e 22 anos, essa maioria perfazendo um total de 74%.
Em relação ao gênero, destaca-se que a pesquisa seguiu as
informações relativas ao número de alunos matriculados no Campus de
Cascavel, no ano de 2008, registrados na Pró-Reitoria de Graduação da Unioeste. Os
números são os seguintes: 3.235 estudantes, sendo 1.840 estudantes (cerca de 57%) do
sexo feminino e 1.395 estudantes (cerca de 43%) do sexo masculino. Na pesquisa
foram consultados números compatíveis de gênero, ou seja, 57% do sexo feminino e 43%
do sexo masculino.
Observa-se que a busca pela formação acadêmica é maior para
o gênero feminino do que para o gênero masculino. Este fenômeno
também é comum nas demais instituições do país, conforme demonstram as pesquisas sobre
o assunto, ou seja, o número de mulheres que ingressam nos cursos superiores
aumenta a cada ano. Também não destoa a relação com outras instituições de ensino
superior no que se refere ao envolvimento com a política estudantil. Com objetivo de
verificar as percepções dos estudantes sobre a universidade, questionou-se como os
estudantes concebem a universidade, assunto que se destaca na Tabela 1 a seguir.
Tabela 1: Como você concebe a Universidade?
Como um espaço estritamente acadêmico 12 %
Como um espaço de interação intelectual e pessoal 70 %
Como um espaço de decisões políticas 2 %
Como um espaço de ascensão social 3 %
Como um espaço de realização profissional 11 %
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
Os dados demonstram que a maioria percebe a universidade
como um espaço de interação intelectual e pessoal, com 70%. A
percepção sobre envolvimento e eficácia política registrou percentuais baixos, pois, quando
questionados sobre a universidade como um espaço de decisões políticas, apenas 2%
dos alunos da amostragem apontaram essa opção. Dessa forma, os dados da
Tabela 1 revelam a inexpressiva participação dos acadêmicos na organização
estudantil, atitudes que se confirmam na resposta negativa da participação em
organização estudantil de 83% dos alunos da amostragem, conforme Figura 1 a seguir:
Figura 1: Participação em organização estudantil (%)
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
Solicitou-se também, sobre a hipótese de não participar,
justificar os motivos, sendo que a maioria responde que não participa por
falta de tempo ou por falta de interesse, conforme Figura 2 a seguir:
Figura 2: Motivos para não participar das organizações
estudantil (%)
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
E quando indagados se ocupariam um cargo de liderança
estudantil, a resposta de 66% dos alunos é de que não participariam.
Apesar destes dados negativos relacionados ao envolvimento dos estudantes com a política
na universidade, percebe-se que a busca pela formação intelectual e pessoal é o
principal objetivo da maioria dos estudantes. Mesmo não participando, 63% dos entrevistados
acreditam que a universidade contribui para o aumento de sua participação
política, 36% responderam que não sabem ou não se sentem motivados pela universidade
para o aumento de sua
formação política e 1% mão respondeu. Isto se destaca na
Figura 3 a seguir:
Figura 3:Contribuição da universidade para o aumento da
participação política dos estudantes (%)
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
Assim, os dados revelam que há um desencontro entre o
discurso e a prática, pois, ao mesmo tempo em que grande parte dos estudantes
acredita que o fato de estar em uma universidade contribui para o aumento de sua
participação política, a maioria não está integrada ao movimento estudantil ou à entidade
estudantil, que é o principal órgão representativo da categoria, e, quando participam, é
esporadicamente e sem envolvimento contínuo. Isto se destaca na Figura 4 a seguir:
Figura 4: Formas de participação política na universidade
(%)
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
Diante destes dados, percebe-se que a maioria ainda revela
que, entre as várias formas de participação política na universidade,
aquela de que participariam efetivamente seria assinando um abaixo-assinado (45%), ou
fazendo manifestações ou protestos (32%). No caso de greves, somente 2% indicaram
essa opção, além de que 21% não sabem o que fariam ou não responderam, Os dados
revelaram também que 70% dos alunos concordam com as reivindicações que ocorrem
na universidade e que reconhecem a importância da organização estudantil (resposta
de 82% dos alunos),
como se observa a seguir na Figura 5.
Figura 5: Importância da participação em organizações
estudantis (%)
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
Outro fator relevante na pesquisa é que 99% dos estudantes
da amostragem revelam que os alunos deveriam tem influência nas decisões
tomadas na universidade, sendo que 49% acham que deveria ser em grande proporção e
48% acreditam que deveria ser moderada, enquanto apenas 3% respondem que
deveria ser em pouca proporção, sendo que apenas 1% responde que os alunos não
devem ter nenhuma influência nas decisões da universidade, como mostra as
figuras 6.
Figura 6 - Influência dos estudantes nas decisões da
universidade (%)
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
Foi, no entanto, observada a discrepância entre o discurso e
a prática democrática, pois os estudantes têm uma percepção positiva sobre a
importância da participação dos estudantes em alguma entidade estudantil,
porém, na prática, não participam.
O Movimento Estudantil perdeu a força política que tinha nas
décadas de 1960 e 1970 como contraponto ao regime militar. As causas dessa
perda de força, por um lado, são a ausência de objetivos e, por outro lado, o
individualismo dominante no mercado e na sociedade. Estes fatores reforçaram as
crenças e os valores da cultura política híbrida, mesclada de democracia e
autoritarismo, juntamente com a falta de incentivo das agências socializadoras
para o aprendizado democrático, advindo da vivência dos jovens no movimento
estudantil.
No início do século XXI, o que reflete a reorganização dos
movimentos sociais é a eleição de Lula para o governo federal. A UNE auxilia o
governo a programar as reformas orientadas pelos organismos internacionais.
Assim, percebe-se que o movimento estudantil, no Brasil, tem presença forte do
Estado. Por essas razões, é necessário pensar outras formas de socialização e
de empoderamento dos jovens na universidade para promover o fortalecimento das
alternativas que surgem no movimento estudantil no protagonismo dos jovens
brasileiros para o fortalecimento da democracia.
Apesar de não terem sido encontrados, no DCE, documentos com
registros dos alunos que participaram do DCE nos últimos anos, recorre-se à
memória de pessoas de boa vontade para documentar a importância deste movimento
para consolidação da universidade.
As pesquisas reforçam a permanência de um comportamento não
participativo entre os jovens da Unioestes do Campus Cascavel, embora afirmem
que o fato de estarem na universidade contribui para o aumento da participação.
A maioria respondeu que não participa, mesmo sabendo da importância da
participação. Em geral, os alunos mostram interesse e estão de acordo com as
reivindicações políticas que ocorrem na universidade, mas nem sempre estão
dispostos a participar, sendo que a forma de participação política mais
praticada pelos estudantes é a reivindicação por meio de abaixo-assinado, sem
envolvimento em esferas mais amplas.
A maioria dos estudantes na universidade admite e procura a
possibilidade de vantagens pessoais, vantagens como a garantia de bom emprego e
o aperfeiçoamento pessoal, ou vantagens como a universidade sendo importante
agência fomentadora de capital humano, para o mercado e para as empresas. São
raros os estudantes que se envolvem em política estudantil, por muitas vezes
estarem desmotivados e censurados, pois estes possuem índices importantes de
capital social que permite seu envolvimento na vida comunitária e
universitária.
Observou-se que os jovens não são incentivados à
participação política na universidade, instituição que deveria ser importante
local de socialização. A universidade, como importante espaço socializador,
poderia promover e incentivar a participação política dos estudantes. Essa
participação política poderia ser uma forma de aprendizado para a cidadania e
para o fortalecimento da democracia. Essa participação política também poderia
incrementar o conhecimento, a cultura, experiências e vivências, tanto
acadêmicas como políticas, de sorte a favorecer os estudantes universitários a
atuarem na sociedade para cumprirem seu papel de protagonistas de suas
histórias pessoais e coletivas.
Entende-se, portanto, que esta deficiência na socialização
política na universidade poderia ser alterada, já que os jovens estão em
contato com abordagens críticas das ciências em geral.
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13 Apr 2012
Cientista Política Rosana Katia Nazzari