quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Internação compulsória de menores viciados em crack



Crescente em todo o país, o consumo de crack é uma tragédia que se consuma em duas frentes. Uma, a da Saúde, produz números cada vez mais preocupantes sobre a quantidade de usuários entregues ao vício, praticamente irreversível e com um poder de destruição do corpo que leva, se não à morte em pouco tempo, mas seguramente a um horrendo processo de degradação física. Outra, a da Segurança, dá conta de estatísticas, principalmente nos grandes centros urbanos, que mostram uma relação direta entre a dependência e o aumento da violência decorrente da criminalidade. Em ambas as áreas, a vítima preferencial desse horror social são os jovens - o que só torna o fenômeno ainda mais condenável.

Os dados sobre o aumento do consumo do crack, uma substância derivada da pasta de cocaína e que provoca dependência quase imediata, sugerem que o problema deve ser tratado como assunto prioritário. A curva ascendente foi detectada por organismos como o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC). Segundo o órgão, a apreensão desse tipo de entorpecente no Brasil cresceu de 200 quilos em 2002 para quase 600 quilos em 2007 (o equivalente a 82% de todo o crack apreendido na América do Sul).

A droga já é a segunda maior causa de procura por atendimento nos centros do SUS especializados em abuso de álcool e tóxicos. No Rio, o vício se espalha principalmente entre a população de rua, afetando em geral menores desassistidos de amparo social. Em Salvador, até 2009 quase seis mil novos usuários haviam passado a ser atendidos por um programa de redução de danos da Universidade Federal da Bahia. Em Pernambuco, o crack está presente em todos os 184 municípios do estado - um quadro que se estende a quase todo o Nordeste. Em São Paulo e Minas, é assustador o aumento do consumo. Em Porto Alegre, um levantamento entre pacientes internados por dependência química mostrou, já em 2006, que 43% eram usuários de crack. Decorrente desse quadro de virtual epidemia, o consumo do crack liga-se diretamente ao aumento de indicadores de violência, principalmente homicídios.

Trata-se de uma tragédia que exige respostas imediatas do poder público e da sociedade como um todo. Neste sentido, é altamente positiva a decisão do município do Rio de recolher compulsoriamente a centros de internação menores flagrados no uso da droga em áreas conhecidas como cracolândias. A iniciativa, que começou a ser adotada no início de junho, logrou tirar das ruas, até a segunda quinzena de julho, 51 jovens dependentes. Logo em seguida, a prefeitura de São Paulo também anunciou adesão à política de internação compulsória, a ser implementada a partir de um parecer da Procuradoria Geral do Município.

São passos importantes, mas tímidos, por pontuais. As duas cidades e, de resto, todo o país, ainda não têm uma estrutura de atendimento aos dependentes em escala capaz de dar conta da crescente demanda de vítimas do vício. E recolher sem tratar corresponde apenas a manter uma realidade na qual, uma vez de volta às ruas, o usuário se reencontra com a droga. Também não contribuem para enfrentar o problema críticas a programas de internação, com argumentos segundo os quais, ao recolher menores viciados, o poder público lhes está negando o direito de ir e vir, e "sociologismos" do tipo. O flagelo é real, mostram os números e uma extensa crônica de tragédias provocadas pela droga. É uma luta sem espaço para a hipocrisia.

Recolher não é acolher - Wanderley Rebello Filho



TEMA EM DISCUSSÃO: Internação compulsória de menores viciados em crack

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência e discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Isto é o que consta do artigo 227 da Constituição. Há muito aprendi a não aceitar as coisas como elas são, e vou continuar assim. Doa a quem doer!

Crianças não têm educação, não têm profissionalização, não têm alimentação, não têm lazer, e agora não têm liberdade. Há um futuro sombrio para elas! Em reunião recente de que participei na OAB/RJ, sobre o tema "Recolher não é acolher", tomei conhecimento de detalhes das operações da Secretaria municipal de Assistência Social, sob o aval do MP e da Justiça. Trata-se do recolhimento e internação compulsórios de crianças e adolescentes, já tendo sido recolhidas mais de 240, sendo que destas, de acordo com a SMAS, apenas cerca de 80 estariam recolhidas. Mas estariam elas em locais adequados e com toda a assistência necessária? Dizem que não! Dizem que a natureza dessa operação é higienista? Espero que não seja!

Uma coisa eu sei: jamais funcionaram quaisquer ações que elejam a internação compulsória para posterior tratamento de dependentes químicos, ainda mais em se tratando de crianças e adolescentes que pertencem às classes populares menos favorecidas, em situação de rua. O "querer se tratar" é fundamental. Aprisionar para tratar - é isto que pode estar acontecendo - me assusta. Pode produzir resultados piores do que a própria dependência. O crack invade as ruas e quem paga é o usuário. Poucos traficantes são presos, a polícia não chega nem perto de alguma repressão, e quem vai para uma cadeia travestida de "acolhimento" são as crianças e os adolescentes.

Tem até certa razão o secretário quando disse que "ninguém faz nada", e que ele, ao menos, está tentando "fazer alguma coisa por essas crianças". Acho até que há boas intenções na iniciativa, mas elas só serão dignas de crédito quando houver mais transparência. Eu mesmo fui convidado a visitar a Casa Viva, em Laranjeiras, desde que marcasse dia e hora. Com hora marcada não visito mais nada! Minha experiência no Conselho Penitenciário do Estado me mostrou as maquiagens que são feitas nessas "cadeias" quando vão receber inspeções. Dizem que há crianças gritando diariamente nesses locais, já há denúncias de violências e de fugas, entre outras mazelas. Há uma linha tênue que separa o que é "Casa Viva" e o que pode ser uma casa de morte; que separa o que é recolher para tratar do que é recolher para torturar; que separa o que é céu do que é inferno para crianças e adolescentes. Cada um faz o seu currículo de vida, e não gostaria que isto desse errado para o signatário da medida.


Pop cult 55




Dani, será que conseguiremos o impossível de novo?

(...) a cidade era muito pobre naquele tempo, não me lembro bem por quê, mas nos jornais dizia-se que estava falida. O prefeito era um velho judeu simpático e desleixado cuja maior conquista foi escrever nas placas da 5th Ave “Don’t even think of parking here”. Os homeless eram os donos das calçadas e dos sinais de trânsito, com suas águas sujas, lavando vidros for a quarter. Num incêndio uma vez, no dormitório dos mendigos na East 3rd St., vi saírem mendigos que não viam a luz do dia há uma década, praticamente homens da caverna, nus, enrolados em cobertores fétidos... A violência comia solta. Vi um homem ser esfaqueado na barriga a um metro de mim. Vi também a polícia chegar para acudi-lo antes mesmo que eu pudesse piscar. Os poloneses e ucranianos dominavam a paisagem e eram donos de todos os apartamentos da vizinhança.

Basquiat e Haring grafitavam os prédios dos vizinhos, os meninos do Bronx faziam demonstrações de break dance na Washington Sq., o Spalding se apresentava em teatros esquálidos, o Serra destruía a galeria do Leo Castelli com suas esculturas monumentais, eu comia no food do Matta-Clark sem mesmo saber que era dele. E apesar de viver sempre com muito medo do dia seguinte: dura, eu sorvia a cidade. Fiquei tempo suficiente para ver as ondas de dinheiro transformarem o espaço físico e humano das vizinhanças: a destruição do Soho e do West Village, a reconstrução do Upper West Side, com a expulsão dos porto-riquenhos que tinham feito do bairro seu feudo por quase 30 anos, e o início da gentrificação do próprio East Village: o fim dos coffee shops dos gregos, substituídos por Starbucks. Mas tenho imensa fé em Nova York, que acredito ser o torso de um dinossauro adormecido, e as ondas vêm e vão, o dinheiro tenta desfigurá-la com avidez, mas ela lhe escapa pelas bordas...or so I dream. bjs, Dani

Vi “Pull my daisy” nesses dias. Eu e a Mariana. Temos lido muito sobre Kerouac e Ginsberg depois
que ela me mandou uma foto linda (a mais linda que já vi ) do Francis Bacon abraçado com o Burroughs andando por Londres. Adorei saber que você leu por lá, quando saiu “Just kids”. O livro de fotos da Judy Linn é demais. Ontem, ouvindo Cohen percebi uma frase que nunca havia notado: “There is a crack in everything, that’s how the light gets in”.

Como você sabe também muito bem, eu ADORO ser sua parceira e acho que juntos a gente arrebenta. Espero que ainda venhamos a explodir muitos palcos e telas por aí.
Dani, será que conseguiremos o impossível de novo?
Você é minha querida, amada, parceira. A mulher mais corajosa do oeste. Essa tempestade não é nada na rota da nossa longa viagem.
Tenho descansado bastante, conversado com meus filhos, olhando nos olhos deles, prestando atenção. Coisa que não fazia há muito tempo.
Mas à noite sonho intensamente com as filmagens. Especialmente com uma cena em que eu/a câmera nos movimentamos na superfície de um lago escuro. Saudades
então... são 3 da tarde e o dia virou noite e uma tempestade de raios tomou conta da cidade. eu poderia estar no avião, voltando para São Paulo.
Seremos sempre capazes de reverter expectativas? Dar sentido ao verbo experimentar? Fizemos 20 espetáculos juntos. Em todos, a preocupação conceitual, o desenvolvimento da ideia, a busca da forma e da linguagem. Adoecemos quando sentimos no ar qualquer traço de afrouxamento da dignidade artística.
Hoje, quando acabei de assistir à cabine de “Insolação”, me encolhi no chão e chorei por 5 minutos, de tanta emoção. Dani
Você está acordado?
ATENDE O TELEFONE!!!!!!
Nosso hotel em Veneza me lembrou uma frase do meu amigo Fabio Cardoso: “Um dia eu almoço no Mássimo, outro dia no máximo eu almoço”.
A cena fica assim, Dani
Você acha que não vai esquecer? Mas, vai...
Aí, você vai encontrar um papel, e vai pensar:
Qual foi o sentido daquilo? Você vai conhecer outra pessoa,
Não vai dar certo.
Você vai perceber — perto do fim — que um certo tipo de tênis está de volta.
O mundo vai parecer menor do que nunca,
O amor imenso.
Fui na Pina ontem. “Cafe Mueller” não envelheceu um dia sequer. Ainda é a coisa mais poderosa feita num palco desde que foi feita pela primeira vez. Eu estava tomada de emoção.
(...) no gala opening da season do Met, no final da ópera, os cantores foram ovacionados. Entram no palco os criadores: são unissonamente vaiados. O público ilustrado, embecado, enjoalhado de Nova York vaiou por dez minutos RICHARD PEDUZZI!!!!!!!!!!! Meu ídolo máximo. Estamos, meu querido, definitivamente, irremediavelmente fudidos. beijo, Dani
“Rigoletto” estreia dia 12 no Theatro Municipal de São Paulo. Estou reensaiando a Fernanda. Conversamos nos intervalos sobre tantas coisas. Nosso tempo juntos não é o bastante. Hoje só ensaiamos falar sobre McLuhan. Daniela Thomas, ou está em Pequim ou já voltou, eu não sei. Recentemente liguei pra ela e combinamos nosso segundo filme. Um dia ele acontece. Antes disso viajo pela Califórnia por dois meses. Não conheço a City Lights Bookstore. Quero ver onde o uivo de Ginsberg foi dado.

 Felipe Hirsch - 08 Aug 2011 



O meio já era a mensagem




RIO DE JANEIRO - Marshall McLuhan teria feito 100 anos outro dia. Voltou subitamente às folhas, e seu livro "The Medium is the Massage" está saindo numa nova tradução brasileira. Ótimo. Resta ver se provocará nos garotos de hoje a impressão que nos causou quando o abrimos pela primeira vez, em 1968, poucos meses depois que ele foi lançado em Nova York.
Na época, foi um choque. Aquele não era bem um livro, mas um objeto do futuro -um show de imagens, palavras e recursos gráficos, para veicular as ideias mais provocativas, sobre o conhecimento e a comunicação. Tanto que McLuhan não era o único autor. Seu editor de arte, Quentin Fiore, o coassinava.
Se tivéssemos que buscar referências para defini-lo, teríamos de ir a filmes de Godard, como "Pierrot le Fou" e "Alphaville", à revista "Esquire", ao jazz, à pop art, às histórias em quadrinhos. Ou ao concretismo -não por coincidência, Décio Pignatari era um de seus campeões no Brasil.
Quando se anunciou que, à falta de McLuhan, Quentin Fiore estava vindo ao Rio, o frisson foi o mesmo. O ano era 1969. Fiore deu uma palestra na Esdi (Escola Superior de Desenho Industrial), na Lapa, para um auditório abarrotado. Na noite seguinte, levado por Pignatari, foi o centro de uma reunião no apartamento de Ecila e José Lino Grünewald, em Copacabana.
Fiore tinha 50 anos e estava esperto. Encantou-se por uma bela menina da Esdi, de 20 anos. Ela também gostou dele. Entusiasmado, Fiore contou sobre como o livro tinha sido feito -ele, em seu estúdio em New Hampshire; McLuhan, em Toronto. Não precisavam se encontrar. Os dois trocavam textos, desenhos, fotos e layouts por um aparelho recém-criado, que transmitia tudo. Algo chamado "fac simile". Ou seja, "The Medium is the Massage" foi feito por intermédio do avô do fax. Não sabíamos, mas o meio já era a mensagem.



RUY CASTRO - 08 Aug 2011 

CULTURA POLÍTICA E MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL: A UNIOESTE, EM CASCAVEL/PARANÁ



2o Congreso Latinoamericano de WAPOR "Opinión Pública, Democracia y Conflictos en América Latina” Lima, Perú, Abril 22-24, 2009 CULTURA POLÍTICA E MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL: A UNIOESTE, EM CASCAVEL/PARANÁ Rosana Kátia Nazzari 1 Elza Corbari Buttura2


RESUMO: Os índices de participação política convencional dos jovens são baixos. A falta de um envolvimento mais expressivo nas questões políticas não favorece o fortalecimento da democracia. Na universidade, os jovens têm a oportunidade de desenvolver eficácia política por meio da participação no movimento estudantil, eficácia que poderá colaborar com a construção da cidadania, no futuro. Neste sentido, é importante resgatar o papel dos estudantes na construção do movimento estudantil da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).
PALAVRAS-CHAVE: Participação política. Movimento estudantil. Universidade

RESUMEN: Los índices convencionales de participación política de los jóvenes son bajos. La falta de una participación más significativa en las cuestiones políticas no contribuye al fortalecimiento de la democracia. En la universidad, los jóvenes tienen la oportunidad de desarrollar una política eficaz a través de la participación en el movimiento estudiantil, lo que podría colaborar con la construcción de la ciudadanía en el futuro. En este sentido, es importante rescatar el papel de los estudiantes en la construcción del movimiento estudiantil en la Universidad Estatal del Oeste de Paraná (UNIOESTE).
PALABRAS CLAVE: La participación política. Movimiento estudiantil. Universidad
ABSTRACT: The indices of conventional political participation of young people are low. The lack of a more meaningful involvement in political issues does not help the strengthening of democracy. At the university, young people have the opportunity to develop effective policy through participation in the student movement, which could collaborate with the construction of citizenship in the future. In this sense, it is important redeem the role of students in the construction of the student movement at the State University of the West of Paraná (UNIOESTE).

KEYWORD: Political participation. Student movement. University
1 Doutora em Ciência Política, docente, pesquisadora e líder do Grupo de Pesquisa sobre Comportamento Político (GPCP) da UNIOESTE. Endereço eletrônico: knazzari@hotmail.com.
2 Aluna do Curso de Pós Graduação - Especialização em Planejamento, Gestão e Avaliação de Políticas Públicas, da UNIOESTE – Campus de Toledo, Técnica Administrativa da UNIOESTE - Reitoria. Endereço eletrônico: elza@unioeste.br.
2

1 INTRODUÇÃO
A organização estudantil no Brasil teve início com a classe média e proporcionou importantes mudanças nos fatos políticos do país. Com a ditadura militar que se iniciou em 1964 e com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI5), muitos brasileiros sofreram grandes represálias e violência, sendo cassados seus direitos políticos, com intelectuais demitidos do serviço público e com presos políticos torturados e desaparecidos. Além disso, houve repressões violentas a todos os tipos de movimentos populares. Neste período posterior a 1964, os movimentos de massa, inclusive o estudantil, praticamente desaparecem, retornando somente no final da década de 1970 para demandar a anistia e a reconquista do regime democrático no país.

Assim, após a lei da anistia, a União Nacional dos Estudantes (UNE) voltou à legalidade somente em 1985, e, desta forma, aos poucos, ressurgiram os grêmios e os centros estudantis em todo o país, gradativamente reconquistando seu espaço e sua importância na política nacional na democracia.
Embora a democracia parta do princípio teórico de igualdade entre os indivíduos, diante do capitalismo esbarra na desigualdade e na exclusão social, principalmente em sua dimensão econômica. Na falta de igualdade socioeconômica, mesmo que se tenham os direitos civis e políticos garantidos constitucionalmente, na prática eles não se efetivam. Ocorre, assim, que esses direitos são concedidos apenas de acordo com o interesse da classe dominante. Por causa dessa distorção imposta pela classe dominante, surge a necessidade de que a cidadania seja promovida e incrementada por outros meios, até porque é só pelo seu exercício que ela de fato ocorre, ou seja, pela sua prática por meio da socialização política, segundo Nazzari (2006). Neste sentido, a participação política nas várias esferas interpessoais, sociais e institucionais é fundamental para o exercício da cidadania, ou seja, para que aquele princípio teórico de igualdade se traduza em realidade entre os indivíduos.
O conceito de cidadania é considerado amplo e abrange várias dimensões. Uma das mais importantes dessas dimenções diz respeito à regulação dos direitos e dos deveres dos indivíduos na sociedade, tanto na cidadania individual como na cidadania coletiva.

A cidadania individual pressupõe a liberdade e a autonomia dos indivíduos num sistema de mercado, de livre jogo da competição, em que todos sejam respeitados e tenham garantias mínimas para a livre manifestação de suas opiniões, basicamente pelo voto, e de auto-realização de suas potencialidades. A cidadania individual pressupõe ainda um ente mediador que atue como árbitro na sociedade e reponha, sempre que se fizer necessário, o lugar dos indivíduos no conjunto social. Este é o Estado, o poder público. (GOHN, 1995, p. 195).

Assim, na cidadania individual, o que se busca é a conquista dos direitos civis e políticos na sociedade em que se vive. Já na cidadania coletiva destacam-se dois pontos de referência:
O primeiro remete às origens clássicas do cidadão da pólis grega, pois diz respeito a uma dimensão cívica, em que os cidadãos exercitam virtudes cívicas e têm na comunidade em que vivem a sua referência imediata. Há obrigações e deveres a cumprir. O segundo marco remete à contemporaneidade, ou aos tempos pós-modernos. Ela diz respeito à busca de leis e direitos para categorias sociais até então excluídas da sociedade. (GOHN, 1995, p. 196).

Salienta Gohn ainda que “A cidadania coletiva privilegia a dimensão sociocultural, reivindica direito sob a forma da concessão de bens e serviços, e não apenas a inscrição desses direitos em lei, reivindica espaços sociopolíticos sem que para isto tenha de se homogeneizar e perder sua identidade cultural”. Constata-se que, no processo de lutas pelos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais, a luta pela cidadania coletiva sempre esteve associada às lutas pela igualdade e pela liberdade. Dessa forma, a constituição da cidadania se configurou, historicamente, através de um processo de construção e de participação coletiva.

Para Bordenave (1994), pensar a participação é pensar a família, o trabalho, e a escola, ou seja, o meio social em que estamos inseridos. Neste sentido, a universidade é detentora do papel fundamental de socialização e de formação crítica de seus alunos, de tal forma que possibilite e instigue seus estudantes à participação, não só internamente como também na sociedade em geral, contribuindo, assim, para a consolidação da democracia. O ser humano, por natureza, vive em grupo e, desta forma, sempre buscou mecanismos onde pudesse haver a participação de todos.

Segundo Paro (2001), a participação não se dá espontaneamente, sendo antes um processo histórico de construção coletiva. Participação não pode ser entendida como dádiva, como concessão, como algo preexistente, mas, sim, como um processo de conquista, em constante vir-a-ser, sempre se fazendo. Paro considera também que, em nossa sociedade, existe uma tradição de autoritarismo, de poder altamente concentrado, e de exclusão da divergência nas decisões e nas discussões.

Pode-se perceber que existe uma tendência histórica à dominação, onde a sociedade se organiza através de polarização hierárquica, predominando a postura organizacional de cima para baixo, sendo muito peculiar a este fenômeno do poder que haja um lado que seja comandado.

Tratando-se de cidadania e de participação, faz-se necessário estar inserido em um modelo social democrático. Se atualmente predomina a hegemonia capitalista como forma de poder, nem sempre foi assim e, da mesma forma que a sociedade se transforma, os conceitos de democracia, de cidadania e de participação, por serem categorias, também se modificam ao longo do tempo.

Assim, no regime democrático, a participação é fundamental para a garantia dos direitos, e esta participação se efetiva através de organizações representativas, no caso em tela as entidades estudantis, que têm por objetivo não somente a defesa das questões educacionais, como também, a defesa de demais temas de interesse coletivo e nacional.

Ocorre, no entanto, que o movimento estudantil brasileiro é frágil, assim como relativamente frágeis são as demais instituições políticas. Os jovens não são incentivados para a participação na esfera política e, mesmo convocados, omitem-se ou demonstram desafeição pela política. Desta forma, é uma minoria que participa das reuniões ou das assembléias na universidade, ou seja, geralmente a maioria não o faz, alegando, dentre outras justificativas, falta de tempo ou, simplesmente, a falta de interesse. Assim, preferem utilizar-se deste tempo para outras atividades e outros interesses particulares.

Na década de 1960, influenciados pela revolução cubana e pelas críticas, em todas as partes do globo, à intervenção norte-americana no Vietnã, muitos jovens de classe média participantes do movimento estudantil assumiram claramente um perfil contestatório e desafiador ao sistema político (especialmente contra a instalação das ditaduras militares na maioria dos países da região).

Os movimentos estudantis e de oposição aos regimes autoritários pautaram-se claramente pela crítica à ordem estabelecida e pela busca de transformações radicais na sociedade. A juventude apareceu então como a categoria portadora da possibilidade de transformação profunda; e, para a maior parte da sociedade, portanto, condensava o pânico da revolução. O medo aqui era duplo: por um lado, o da reversão do “sistema”; por outro, o medo de que, não conseguindo mudar o sistema, os jovens condenavam a si próprios a jamais conseguirem se integrar ao funcionamento normal da sociedade, por sua própria recusa (os jovens que entraram na clandestinidade, por um lado; por outro lado, os jovens que se recusaram a assumir um emprego formal, que foram viver em comunidades à parte, como formas familiares e de sobrevivência alternativas, etc.) não mais como uma fase passageira de dificuldades, mas como recusa permanente de se adaptar, de se “enquadrar” (ABRAMO, 1997, p. 31).

A resposta do Estado à mobilização e à maior participação político-social dos jovens foi a execução de uma contra política ofensiva e violenta de controle policial, visando à total supressão desses movimentos. A imagem da juventude ativa dos anos 1960 e 1970 acabou passando por uma reelaboração positiva e foi apontada como modelo ideal de participação jovem transformadora, idealista, inovadora e utópica, que se vai contrapor à imagem estereotipada dos jovens dos anos 1980, como geração individualista, consumista, conservadora, indiferente e apática. “Uma geração que se recusava a assumir o papel de inovação cultural que agora, depois da reelaboração feita sobre os anos 60, passava a ser atributo da juventude como categoria social” (ABRAMO, 1997, p. 31).

Apesar dessa imagem formada sobre os jovens dos anos 1980, o Estado não cedeu em nada no exercício de seu papel controlador, especialmente ao lidar com jovens pertencentes ou ligados aos grupos surgidos em estratos populares (as gangues juvenis, punks, as “galeras” de modo geral) e com jovens de vivência e expressão urbanas, principais vítimas da deterioração da qualidade de vida, que atinge principalmente as camadas populares, e do empobrecimento generalizado da população latino-americana. A preocupação generalizada com aspectos e fatos isolados que associam a juventude à violência, ou às drogas, faz multiplicar as proposições normativas visando a disciplinar essas relações causais. As drogas, a violência e o desemprego passaram a ser considerados os problemas e as vulnerabilidades sociais máximas de nosso tempo.
Diante deste quadro, e a fim de confiná-lo em uma moldura socialmente confortável, várias políticas de compensação social foram criadas, das quais umas poucas catalogadas como exclusivamente para jovens. O foco e a prioridade principal delas foram, especialmente, os jovens oriundos de setores “excluídos”, jovens que apresentavam condutas consideradas delinqüentes. O enfoque adotado contribuiu, assim, fortemente, para manter, até os dias de hoje, o estigma problematizador da condição juvenil.

Não se pode esperar que a sociedade tenha uma imagem diferente dos jovens, como indivíduos engajados nas questões sociais, pois, na esfera política as pesquisas reforçam a permanência de um comportamento não participativo entre os jovens do ensino fundamental e médio, eles não recebem incentivos (NAZZARI, 2006). Estes fatores vão desembocar na fragilidade do movimento estudantil universitário, como se destaca a seguir.

Em nível local, o Movimento Estudantil (ME) passou por diversas fases desde seu surgimento na década de 1980. Primeiramente, a criação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) durante a extinta Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Cascavel (FECIVEL). A criação do DCE contou com a contribuição dos acadêmicos do Curso de Ciências Econômicas. Desde o início da organização estudantil, o Centro Acadêmico de Economia (CA de Economia) teve contribuição relevante, participou ativamente da ascensão, da construção e das conquistas importantes para o desenvolvimento da região Oeste do Paraná. Uma bandeira do movimento, em conjunto com as instituições organizativas dos professores e dos técnico-administrativos e com a sociedade, foi a chamada estadualização da UNIOESTE, composta pelas seguintes faculdades: Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Cascavel (FECIVEL), Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Foz do Iguaçu (FACISA), Faculdade de Ciências Humanas de Marechal Cândido Rondon (FACIMAR) e Faculdade de Ciências Humanas “Arnaldo Busato” de Toledo (FACITOL).

Assim, o presente estudo tem como objetivo geral o de verificar os índices de participação dos estudantes da UNIOESTE no Campus de Cascavel, nos CAs dos respectivos cursos, nos assuntos comuns internos da universidade, bem como, nas demais instituições políticas. E, para tal, conta com os seguintes objetivos específicos: a) Detectar a evolução do movimento estudantil no Brasil e na UNIOESTE; b) Analisar as características da participação dos acadêmicos no Diretório Central da Unioeste (DCE), com base nos fatos históricos e nos depoimentos de seus dirigentes; e c) Mensurar os índices de participação, de eficácia e de interesse pelo movimento estudantil dos acadêmicos da UNIOESTE no Campus de Cascavel.

2 METODOLOGIA
A reflexão crítica será encaminhada em duas estratégias principais, com procedimentos qualitativos e quantitativos. Uma das estratégias tem base teórica e a outra se realiza por meio de pesquisa empírica com aplicação de questionário em aproximadamente 10% dos estudantes do Campus de Cascavel.
A primeira estrategia será, portanto, de natureza teórica, como a análise estrutural-histórica do movimento estudantil no Brasil, onde se destacam questões referentes à cultura política brasileira. Nesta parte, observa-se, também, a relação das pesquisas sobre socialização política brasileira com o conceito de participação política.
Na segunda estratégia, será utilizado o método estatístico, que se aplica a todos os fenômenos aleatórios que se destacam, porque se repetem e estão associados a uma variabilidade. Verifica-se, por meio da repetição das respostas, se os resultados se distribuem com certa regularidade ou freqüência. Fundamenta-se na teoria da amostragem e auxilia os estudos científicos nas ciências sociais, para medir o grau de correlação entre os fenômenos da realidade social; o universo ou conjunto de fenômenos com características comuns, a população como um conjunto de menor número de dados representativos necessários para se captar a totalidade da população.
Este segundo procedimento consiste na técnica metodológica de levantamento de opinião ou survey, técnica que é usual nos estudos de socialização política. Através de questionário ou entrevista podem-se levantar dados para testar hipóteses e elaborar teorias. Neste sentido, as opiniões coletadas permitem testar a hipótese do incremento da participação política por meio da socialização política dos estudantes da UNIOESTE do Campus de Cascavel. Na pesquisa, buscou-se verificar como os acadêmicos concebem a universidade, bem como se buscou verificar seu grau de participação no movimento estudantil. Para tanto, as questões formuladas visam temas mais abrangentes, bem como questões mais pontuais, considerando o objetivo deste trabalho.

O método da socialização política consiste em investigar a formação de orientações e atitudes políticas em indivíduos e grupos, através da análise de manifestações exteriores (opiniões, ações, votos...), coletadas por meio de técnicas quantitativas e qualitativas, “[...] interpretando os resultados obtidos à luz do contexto sociocultural (incluindo a esfera econômica, política e histórica) e do desenvolvimento psicológico-cognitivo (esfera individual).” (SCHMIDT, 2000, p. 185).

Assim, conforme Schmidt (2000, p. 185-6), “[...] parte das manifestações exteriores que os indivíduos expressam (entrevistas, questionários, depoimentos, grupos focais, textos, testes projetivos...), para se chegar ao nível mais profundo das orientações e atitudes políticas”, permite sugerir tendências do comportamento político da população pesquisada. Poder-se-á, então, fazer projeções de nível micro para questões do cenário mais amplo.

A UNIOESTE é composta por cinco campi (localizados nas cidades de: Cascavel, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Marechal Cândido de Rondon e Toledo) e duas extensões (localizadas nas cidades de Medianeira e de Santa Helena), totalizando 10.195 alunos nos cursos de graduação.

O procedimento de amostragem que foi utilizado é o de estratificação por conglomerados de natureza inferencial. O critério de estratificação foi alcançado por meio de variáveis demográficas como idade e sexo. Os conglomerados foram constituídos pelos estudantes do Campus de Cascavel, que conta com 3.235 acadêmicos, distribuídos nos 15 cursos de graduação: Administração, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Enfermagem, Engenharia Agrícola, Engenharia Civil, Farmácia, Fisioterapia, Informática, Letras, Matemática, Medicina, Odontologia e Pedagogia, totalizando 65% dos alunos no turno diurno e 35% no turno noturno.

Com o objetivo de mensurar os índices de participação, a eficácia e o interesse pelo movimento estudantil dos acadêmicos deste campus, foi aplicado um questionário, constituído principalmente de questões sobre a participação estudantil na universidade. A partir de listagens completas, fornecidas pela Secretaria Acadêmica, foram abordados 20% dos alunos do 1º ano, 21% do 2º ano, 27% do 3º ano e 31% dos alunos do 4º ano, séries estas selecionadas aleatoriamente nos cursos, tendo todos os cursos do campus participado da amostra.

O número de estudantes entrevistados (de turma em turma), foi escolhido a partir da conjugação de fatores como disponibilidade de horário e colaboração dos professores, somando 307 entrevistas.
O erro amostral da pesquisa foi de 2,31% para um nível de confiança de 95%. A fórmula, utilizada para o cálculo do erro amostral, foi a seguinte: Erro= z.V[(1/n-1/N). Pql, em que z é o valor da distribuição normal; n é o tamanho da amostra; N é o tamanho da população; pq é a estimativa de variabilidade da proporção.

O questionário dos estudantes constituiu-se de 15 questões, entre fechadas e abertas. A similaridade das questões aplicadas em pesquisas anteriores foi para possibilitar comparações. Como técnica complementar foi desenvolvida bateria de entrevistas informais com os dirigentes do movimento estudantil em Cascavel, notadamente do movimento estudantil da UNIOESTE.

3 PARTICIPAÇÃO DOS JOVENS EM ATIVIDADES ASSOCIATIVAS

O individualismo e o imediatismo atuais levam a uma variedade de impedimentos para que os jovens consigam sua independência e conquistem suas metas. O tempo necessário para que se preparem para a carreira, as pressões do mercado e o sucesso não lhes deixam tempo livre para a política. Além destes fatores, as instituições políticas não estão equipadas e dispostas a adotar, a encorajar e a incentivar novos talentos para a liderança política.
Deste modo, o processo e as mudanças de pensamento indicam evidências dos efeitos do período, da sociedade e das experiências universais que atravessam as gerações. O posicionamento e as experiências dos jovens de hoje são diferentes dos jovens de outras gerações.

As técnicas quantitativas utilizadas pela ciência política, baseadas em questionários survey, argüindo o entrevistado sobre definição dos significados políticos, podem colaborar para apontar as diferenças do engajamento e da orientação política dos jovens nos anos recentes.

Sugerir que a juventude é apática e apolítica, isto é não considerar o interesse dos jovens por diferentes tipos de participação política. Eles têm algum engajamento, embora provavelmente não seja o da política formal. Quando se analisa a política formal, convencionalmente definida, a conclusão é a de que os jovens são céticos e desengajados, e desconfiam dos governantes e do sistema político, pois se verificou que o interesse por política varia segundo a concepção da política.
Pagé e Chastenay (2003), em seus estudos sobre socialização política e capital social dos jovens das cidades de Québec, Nouveau-Brunswick e Alberta, no Canadá, realizaram análises e comparações em três dimensões importantes, a saber: a identificação cívica, o igualitarismo e a participação.
Em nível geral, foram observados os comportamentos políticos de acordo com as normas de igualdade e de eqüidade aplicadas a todos os cidadãos, considerando e comparando suas identidades culturais diferentes nas perspectivas individualistas e pluralistas (PAGÉ e CHASTENAY, 2003, p. 4-5).
Para Pagé e Chastenay (2003), fatores sociodemográficos, tais como a história, as normas públicas e a diversidade, marcam etapas cruciais entre as províncias. Os jovens tiveram atitudes positivas para com a presença de nomes de personagens importantes de diversidades culturais nos espaços social e público, bem como refletiram uma atitude positiva frente aos acordos e aos debates públicos. Para completar a pesquisa, os estudiosos apontaram uma terceira dimensão, que é composta de quatro fatores: a participação atual, a participação futura, a confiança nos personagens políticos e a participação efetiva.

Principalmente as participações dos jovens em atividades estudantis implicam o conjunto de atividades da vida social deles mesmos. E indicam uma implicação na vida política e comunitária do estudante. Assim, a participação dos jovens em associações e em outras formas de interação social é criadora de capital social, porque tem efeitos na socialização política, “[...] ampliando a aquisição de normas e valores de cooperativos, bem como de confiança necessária para o funcionamento adequado da democracia. As associações funcionam como escolas para se aprender democracia” (STOLLE e HOOGHE, 2002, p. 3).

Segundo pesquisa da UNICEF (2002), entre os adolescentes em idade eleitoral, 41,3% assinalaram que não participam das eleições porque acham que ainda não têm idade, 21,9% não participam porque não gostam de política e apenas 3,4% participam votando e fazendo campanha para candidato de sua preferência.

“O envolvimento dos jovens em associações comunitárias, grêmios escolares, discussões sobre problemas do bairro, organização de festas gincanas, revela que 65% dos adolescentes entrevistados nunca participaram desse tipo de atividade”. Entre as 13% atividades associativas assinaladas pelos jovens aparecem os grêmios escolares e a organização de gincanas. Estes dados apontam a precária participação dos jovens na vida cívica (UNICEF, 2002, p. 124).

A maior participação na vida cívica não somente contribui para a formação dos cidadãos, mas propicia um contexto de confiança social na nação. A participação poderia possibilitar o desenvolvimento de confiança e propiciar que as experiências de âmbitos restritos levem à participação em grupos mais organizados para a valorização do coletivo, “[...] que podem estimular predisposições positivas em relação à eficácia política de cada cidadão” (BAQUERO, 2001, p. 40). Nesta direção, torna-se pertinente examinar as predisposições dos jovens em participar de atividades associativas, pois pode ser um indicador de eficácia política.

Nota-se que o componente de eficácia política influencia na dimensão de participação dos jovens brasileiros. Percebe-se que atitudes de pouca participação vêm acompanhadas de um reconhecimento latente de participação futura. Ao mesmo tempo, os entrevistados reconhecem a necessidade de participar para mudar as coisas e os índices apontam para a intenção mediana de ampliar sua participação futura nas atividades associativas, caso fossem convidados, atitudes verificadas por meio dos dados coletados na amostra da presente pesquisa.

A maioria ainda não se sente segura para participar de alguma atividade, pois 61,4% responderam que depende; 30,6% participariam; enquanto 5,5% não participariam e 2,5% não sabem ou não responderam à questão. Há, contudo, uma clara distinção entre a percepção subjetiva dos estudantes entrevistados de participarem das atividades associativas e sua disposição de realmente participar nelas. A questão aberta de cunho qualitativo pode reforçar esta análise.

Observou-se que a socialização política, até o presente momento, não vem incentivando, nos jovens, sentimentos e comportamentos relacionados à importância da freqüência de participação em atividades associativas e políticas, e isto não propicia a estocagem de capital social na comunidade, visto que a participação dos jovens é baixa e esporádica.

A participação nas atividades sociais e políticas na vida adulta é influenciada pelo processo de socialização política que incentiva a participação nas associações na juventude. A vida familiar, o trabalho, a vida social informal, assistir televisão e ir à escola são atividades preferidas pela maioria dos cidadãos.

Os jovens, em geral, mostram certa homogeneidade de avaliação sobre a participação no movimento estudantil ou em associações comunitárias. Na maioria das vezes, optam pela indiferença nos temas públicos. Existem, no entanto, premissas básicas que relacionam a percepção da importância com a participação efetiva dos jovens na esfera política. Para tal, o próximo item preocupa-se com a construção da participação política dos jovens brasileiros, em esfera de socialização na universidade, notadamente no movimento estudantil.

4 MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL

O movimento estudantil inicia-se no Brasil entre 1901 a 1930. Neste período dá-se o aparecimento das primeiras organizações nacionais do movimento estudantil brasileiro, movimento que, segundo o MME (2007, p. 3), foi marcado por certa efemeridade. Em 1901 foi criada a Federação de Estudantes Brasileiros, entidade que dura pouco tempo. Em 1910 foi realizado o I Congresso Nacional de Estudantes, em São Paulo Em 1924, por meio da revista A Época (dos acadêmicos da Faculdade Nacional de Direito), é feita uma campanha por uma Federação de Estudantes Brasileiros. E, em 13 de agosto de 1929, foi “[...] criada a Casa do Estudante do Brasil, visando à assistência social aos estudantes e à promoção, à difusão e ao intercâmbio de obras e atividades culturais”.

Na era Vargas, com a revolução de 1930, “A politização do ambiente nacional levou os estudantes a tomarem parte na Revolução Constitucionalista de São Paulo e a formarem organizações como a Juventude Comunista e a Juventude Integralista. Em 1937, foi criada a União Nacional dos Estudantes (UNE). Na década de 40, era o grande marco na luta contra o nazi-fascismo” (MME, 2007, p. 4).

No dia 11 de agosto de 1937, “[...] com a instalação do I Congresso Nacional dos Estudantes, nasce a União Nacional dos Estudantes (UNE), órgão máximo de representação estudantil. A entidade começa a funcionar no prédio da Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, sob a direção de Ana Amélia Queirós Carneiro de Mendonça”. Em dezembro de 1938 “[...] é realizado o II Congresso Nacional de Estudantes, no Rio de Janeiro. Preconiza a luta pela indústria siderúrgica nacional. O gaúcho Valdir Ramos Borges é eleito o primeiro presidente oficial da UNE”. E, em 1942, “[...] pelo decreto-lei no 4080, o presidente Getúlio Vargas institucionaliza a UNE como entidade representativa dos universitários brasileiros” (MME, 2007, p. 4). Entre 1943 e 1945, a UNE é reprimida pela ditadura Vargas, ocorrendo diversas mortes de estudantes em movimentos e passeatas. “O estudante Demócrito de Souza Filho é assassinado, em Recife, no comício de propaganda da candidatura de Eduardo Gomes. Três dias depois, a UNE mobiliza estudantes contra a ditadura Vargas, em comício nas escadarias do Teatro Municipal do Rio de Janeiro”. Em maio de 1945, “A criação da União Democrática Nacional (UDN), partido de oposição a Getúlio Vargas, provoca cisão do movimento estudantil, até então unificado”.

A partir de 1947, iniciou-se a fase de hegemonia socialista na UNE, que foi até 1950. Nesse período, a entidade liderou campanhas nacionais contra a alta do custo de vida e em prol da indústria siderúrgica nacional e do monopólio estatal do petróleo (campanha O Petróleo É Nosso). De 1950 a 1956, a UNE viveu sua fase direitista, comandada por um grupo ligado à União Democrática Nacional (UDN). Com a esquerda de novo no poder, a UNE apoiou, em 1961, a campanha da legalidade, a favor da posse de João Goulart, e reforçou sua ação no campo da cultura com a criação do Centro Popular de Cultura e da UNE Volante (MME, 2007, p. 6).

O período entre 1964 a 1974 foi “[...] caracterizado pela luta contra a ditadura militar e pelo retorno às liberdades democráticas.” Em 10 de abril de 1964, a sede da UNE é incendiada por participantes do movimento político militar. Em 29 de março de 1968 a UNE decreta greve geral dos estudantes. Em 26 de junho do mesmo ano a UNE promove a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro. E, em outubro, é realizado clandestinamente o XXX Congresso da UNE, em Ibiúna (SP). São presas mais de 700 pessoas, entre elas as principais lideranças do movimento estudantil: Luís Travassos (presidente eleito), Vladimir Palmeira, José Dirceu, Franklin Martins e Jean Marc Von Der Weid. Em 13 de dezembro de 1969 é decretado o AI-5. Centros Cívicos substituem os grêmios estudantis.
Em 1969, Weid é preso e em 1972 seu substituto na presidência da UNE Honestino Guimarães, desaparece. “A AP passa a denominar-se Ação Popular Marxista-Leninista (APML). Em 1973, Alexandre Vannucchi Leme, aluno da Universidade de São Paulo (USP), é preso e morto pelos militares. A missa em sua memória, realizada em 30 de março na Catedral da Sé, em São Paulo, é o primeiro grande movimento de massa desde 1968. Em 1974 é criado o Comitê de Defesa dos Presos Políticos na Universidade de São Paulo (USP) (MME, 2007, p. 6).

Entre 1974 a 1984, depois de um período de inatividade da UNE, em 1976, iniciou-se um movimento pela reconstrução da entidade. Favoreceu o contexto de "abertura lenta e gradual" iniciada por Ernesto Geisel (1974-1979) e aprofundada por João Batista Figueiredo (1979-1985)”. Nos anos que se seguiram foram muitos os conflitos e os estudantes retornam as ruas do país. Em 1977, “Em 22 de setembro, as forças policiais da ditadura invadem o campus Monte Alegre da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em repressão ao ato público realizado pelos alunos em razão do 3º Encontro Nacional de Estudantes, que havia sido proibido pelo regime militar. Cerca de novecentas pessoas são detidas.” (MME, 2007, p. 7).

Desde a segunda metade da década de 1980, com a posse do primeiro presidente civil desde 1964 e com o retorno às liberdades democráticas no país, o movimento estudantil brasileiro foi lentamente recuperando seu lugar e sua importância na política nacional. O grande destaque desse período foi a campanha pelo impeachment do presidente Fernando Collor, marcada pelas grandes manifestações de rua lideradas pelos estudantes "caras-pintadas". Em agosto de 1999 é realizado o Fórum Nacional de Lutas (FNL), reunindo dezenas de organizações sob a coordenação da UNE, da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Em junho de 2001, em seu 47º congresso, a UNE elege Felipe Maia seu presidente. Em junho de 2003, “Gustavo Petta assume a presidência da UNE, eleito no 48º Congresso da entidade, o maior de sua história até então, com a participação de cerca de 15 mil jovens” (MME, 2007, p. 7).

5 MOVIMENTO ESTUDANTIL NA UNIOESTE

De acordo com Monteiro (2007), entende-se a universidade, principalmente a pública, “[...] como uma instância de construção e consolidação da cultura política democrática, dadas as possibilidades diferenciais de socialização política que proporciona aos jovens”. A universidade deve, assim, possibilitar um avanço para uma prática política participativa na comunidade estudantil, considerando o papel que a universidade exerce para a consolidação do regime democrático, tendo em vista que possui a incumbência de preparar seus jovens para atuarem na sociedade em geral (MONTEIRO, 2007).

Em nível local, o Movimento Estudantil (ME) da UNIOESTE passou por diversas fases desde seu surgimento. Primeiramente, a criação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) durante a existência da extinta Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Cascavel (FECIVEL).

A criação do DCE demarca o início da organização estudantil universitária local e sua ascensão nos anos seguintes, período em que se podem destacar nomes importantes na construção da história do movimento estudantil universitário do Oeste do Paraná, nomes que tiveram atuação efetiva na sociedade de Cascavel: Geraldo Magela, Ocimar Bin, Ricardo Yueda, Rosana Kátia Nazzari, Vander Piaia, Dilvo Groli, Hostílio Lustosa, Luci Bedin, Luiz Fernando Reis, Alex Paixão, Roseni Dalavale, Ronaldo Barbosa, Maira Palpitz e outros, uma contribuição que merece destaque é do jornalista e historiador Alceu Sperança (o principal mentor e articulador da formação do DCE) – todos deixaram suas contribuições na década de 1980.

Segundo o Jornal Fronteira do Iguaçu, de 15 de maio de 1981, em entrevista concedida por Nazzari (primeira tesoureira e fundadora), descreve que os centros acadêmicos (CAs) começam a surgir, e amplia a discussão para a criação do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Inicialmente se deu a extinção do Diretório Acadêmico Dezesseis de Agosto (DADA), órgão criado para atender às demandas de poucos estudantes da antiga FECIVEL. A idéia surgiu nos debates durante os três dias de paralisação das aulas por parte dos estudantes, no final de março de 1981. Foram criados em dois meses dois centros acadêmicos: Engenharia Agrícola e Enfermagem, com estatutos aprovados e diretorias eleitas. Com o surgimento do movimento pró-DCE, existiam duas alas políticas: uma composta pelos veteranos e dirigentes do DADA e a segunda, que queria renovação nas propostas. Na época em que o DCE foi criado, a Faculdade contava com 1.800 acadêmicos.

Importante é destacar a experiência e a atuação da chapa: “Primeiros Passos”, comandada pela acadêmica de economia Luci Bedin (1986), que foi vitoriosa nas eleições para o DCE, com 70% dos votos, frente à corrente do PT, unida na chapa “Caminhando”. Luci foi a representante dos acadêmicos na estadualização e na criação da FUNIOESTE (Fundação Universidade do Oeste do Paraná), fundação que deu origem à UNIOESTE. Luci Bedin foi a articuladora do movimento pela estadualização, organizou a caravana com oito ônibus para Brasília, quando um grupo de alunos tiveram uma entrevista com o Presidente Sarney. O movimento contou com a participação de lideranças políticas do Oeste do Paraná, em sua maioria os prefeitos da região. Retornaram de Brasília somente com promessas. Já no final de seu mandato, em 1986, o Governador José Richa encaminhou o processo de estadualização da universidade, que foi referendado no governo de Álvaro Dias.

Outro momento importante do movimento estudantil da universidade foi a participação de Manoel Selvo do Nascimento Neto (1987), empresário e sócio-proprietário da Plantar, que trouxe o Congresso da União Paranaense dos Estudantes (UPE) para Cascavel.

Observa-se a importante contribuição do já falecido Afonso Cid (vindo da Juventude do PMDB). Afonso era formado em Direito pela PUC (Pontífice Universidade Católica) de São Paulo e cursou Ciências Econômicas na década de 1990.

Mais tarde, no início da década de 1990, a FECIVEL (Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Cascavel) torna-se universidade (torna-se, na verdade, o maior campus da nova universidade, a UNIOESTE), e o DCE realiza diversos debates sobre essa mudança. Com isso, o Movimento Estudantil ganhou força e prestígio na comunidade universitária.

Ocorre, porém, que, apesar desses 20 anos de história, são os anos de 2001-2002 que podem ser considerados o marco divisor de águas. A greve na UNIOESTE, que durou seis meses, teve conseqüências drásticas sobre o ME na instituição. No início, a greve teve apoio dos estudantes, sendo que, nesse período, o DCE organizou uma das maiores paralisações de estudantes do país.
Os estudantes se uniram pela luta de melhores condições de ensino e pararam durante três meses, acompanhando professores e funcionários. Com a continuidade da greve, vários estudantes acabaram, porém, se transferindo para outras universidades, voltando para suas cidades de origem ou mesmo desistindo do curso.

Essa situação leva o DCE a começar a luta pelo fim da greve e pelas reivindicações dos alunos, professores e funcionários. Ao final do longo período de greve, os estudantes estavam cansados e se sentiam desmotivados para continuarem participando do movimento estudantil. Tal fato ocorreu devido ao grande desgaste causado pela greve.

No ano de 2003, o DCE ainda apresenta certa força conseguindo reunir alguns alunos nas assembléias e reuniões. Apesar de todo o desgaste causado pela greve, as lideranças estudantis usam de todos os meios para manter viva a chama do ME, porém não obtêm o sucesso que se esperava. Os estudantes começam a se afastar e, conseqüentemente, o DCE enfraquece.

No final do ano de 2004, com a eleição da nova diretoria, surgia uma nova esperança de mudança. Essa nova diretoria inicia seu mandato com certas glórias, consegue organizar uma das maiores festas de recepção dos calouros já presenciada na universidade, com o objetivo de integrar os estudantes e incentivar a participação. A festa do “OI” no início de 2005, realizada no Campus de Cascavel, no espaço conhecido como Caracol, mostra certa força dessa gestão, sendo ainda lembrada como uma das melhores festas promovida pelo DCE.

Durante esta gestão, que se encerrou no final de 2005, brigas internas no DCE dificultaram o progresso da gestão. Dois grupos se debatiam, os ditos “não partidários” e os que pertenciam à União da Juventude Socialista (UJS) e seus apoiadores, culminando em duas chapas para a eleição no final de 2005, tendo como vencedor o segundo grupo. Ocorre que as dificuldades internas do DCE somente aumentaram neste mandato, não conseguindo cumprir as propostas de campanha.

Um fator importante que ajudou a manter o ME em atividade no Campus foi o surgimento do Movimento “Saudações a Quem Tem Coragem”. Este movimento, encabeçado pelos membros da chapa derrotada na eleição de 2005, tinha como principal objetivo lutar pelos direitos dos estudantes e por melhorias na universidade, que aos poucos foi ganhando força e conseguindo organizar diversas lutas internas e no município de Cascavel. O movimento de maior impacto foi a luta pelo passe livre, luta que, além das manifestações internas, reuniu, juntamente com a Associação Cascavelense dos Estudantes Secundaristas (ACES), mais de 500 estudantes em frente à Prefeitura Municipal de Cascavel.

No final de 2006, os membros deste movimento, indignados com a situação vivida no DCE, se candidataram para diretoria. Sendo a única chapa inscrita, recebe quase que 100% dos votos a favor. A nova gestão inicia com diversos problemas do mandato anterior, principalmente falta de dinheiro e uma dívida de aproximadamente dois mil reais, além da incumbência de reconquistar a confiança e a credibilidade da comunidade acadêmica.

Entre as ações desta gestão se destaca a campanha do trote sem abuso, a conquista do terreno para a Casa do Estudante, a construção de um projeto de viabilidade econômica do Restaurante Universitário, o jornal do DCE e seu programa de rádio. Desta forma, com o esforço e o trabalho deste grupo, o ME volta a ganhar forças, prova disso foi a assembléia realizada no início de 2007, assembléia que contou com a participação de mais de 600 alunos.

Isto considerado, destacam-se alguns nomes e ações na organização do DCE, sendo que alguns tiveram participação ativa. Em 2003 contou-se com Jordano Gonzatto. Em 2004 foi a Ana Caroline Amaral. Em 2005, o João Guilherme Carminati começa a ter certa proximidade e se elege no final do ano para o cargo de coordenador de assistência estudantil, ficando nesse cargo até o final do ano de 2005. No ano de 2007, Paulo Alberto Vilas Boas Teodoro participa ativamente da comissão de finanças do DCE.

Além disso, no ano de 2007 é importante destacar a participação nas atividades do DCE dos alunos Ezequiel Schlichting e Alexandre Batista de Souza que lideraram o movimento vitorioso pela continuação do meio passe para os estudantes em Cascavel. Diante disto, destaca-se a importância dos lideres estudantis, ao longo do tempo, na colaboração e no incentivo à participação dos acadêmicos, contribuindo assim para uma sociedade mais democrática e participativa.

6 ÍNDICE DE PARTICIPAÇAO ESTUDANTIL NA UNIOESTE - CAMPUS DE CASCAVEL
O resultado da pesquisa, aplicada aos estudantes do Campus de Cascavel, através de questionário, no primeiro semestre de 2008, mostra que a maioria dos alunos que compõem a amostragem é originária do Paraná, com 87%, sendo 48% da cidade de Cascavel; 6% da cidade de Toledo; 3% da cidade de Foz do Iguaçu; 2% da cidade de Corbélia; e 28% são de origem de outras cidades do Estado. Já dos provindos de outros Estados, o percentual é de 13%, destacando-se o Estado de São Paulo (com 3%), o Estado de Santa Catarina (também com 3%), o Estado do Rio Grande do Sul (com 2%) e os demais Estados (com 5% dos alunos da amostragem). A pesquisa revela que a maioria dos estudantes universitários estão na faixa etária entre 17 e 22 anos, essa maioria perfazendo um total de 74%.


Em relação ao gênero, destaca-se que a pesquisa seguiu as informações relativas ao número de alunos matriculados no Campus de Cascavel, no ano de 2008, registrados na Pró-Reitoria de Graduação da Unioeste. Os números são os seguintes: 3.235 estudantes, sendo 1.840 estudantes (cerca de 57%) do sexo feminino e 1.395 estudantes (cerca de 43%) do sexo masculino. Na pesquisa foram consultados números compatíveis de gênero, ou seja, 57% do sexo feminino e 43% do sexo masculino.


Observa-se que a busca pela formação acadêmica é maior para o gênero feminino do que para o gênero masculino. Este fenômeno também é comum nas demais instituições do país, conforme demonstram as pesquisas sobre o assunto, ou seja, o número de mulheres que ingressam nos cursos superiores aumenta a cada ano. Também não destoa a relação com outras instituições de ensino superior no que se refere ao envolvimento com a política estudantil. Com objetivo de verificar as percepções dos estudantes sobre a universidade, questionou-se como os estudantes concebem a universidade, assunto que se destaca na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1: Como você concebe a Universidade?
Como um espaço estritamente acadêmico 12 %
Como um espaço de interação intelectual e pessoal 70 %
Como um espaço de decisões políticas 2 %
Como um espaço de ascensão social 3 %
Como um espaço de realização profissional 11 %
NR 2 %
Total 100 %
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
Os dados demonstram que a maioria percebe a universidade como um espaço de interação intelectual e pessoal, com 70%. A percepção sobre envolvimento e eficácia política registrou percentuais baixos, pois, quando questionados sobre a universidade como um espaço de decisões políticas, apenas 2% dos alunos da amostragem apontaram essa opção. Dessa forma, os dados da Tabela 1 revelam a inexpressiva participação dos acadêmicos na organização estudantil, atitudes que se confirmam na resposta negativa da participação em organização estudantil de 83% dos alunos da amostragem, conforme Figura 1 a seguir:
Figura 1: Participação em organização estudantil (%)
7%
83%
10%
Sim
Não
NR
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
14
Solicitou-se também, sobre a hipótese de não participar, justificar os motivos, sendo que a maioria responde que não participa por falta de tempo ou por falta de interesse, conforme Figura 2 a seguir:
Figura 2: Motivos para não participar das organizações estudantil (%)
45%
14%
14%
27%
Sem tempo
Sem interesse
Outros motivos
Não justificou
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
E quando indagados se ocupariam um cargo de liderança estudantil, a resposta de 66% dos alunos é de que não participariam. Apesar destes dados negativos relacionados ao envolvimento dos estudantes com a política na universidade, percebe-se que a busca pela formação intelectual e pessoal é o principal objetivo da maioria dos estudantes. Mesmo não participando, 63% dos entrevistados acreditam que a universidade contribui para o aumento de sua participação política, 36%  responderam que não sabem ou não se sentem motivados pela universidade para o aumento de sua
formação política e 1% mão respondeu. Isto se destaca na Figura 3 a seguir:
Figura 3:Contribuição da universidade para o aumento da participação política dos estudantes (%)
63%
29%
7%1%
Sim
Não
Não sabe
NR
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
Assim, os dados revelam que há um desencontro entre o discurso e a prática, pois, ao mesmo tempo em que grande parte dos estudantes acredita que o fato de estar em uma universidade contribui para o aumento de sua participação política, a maioria não está integrada ao movimento estudantil ou à entidade estudantil, que é o principal órgão representativo da categoria, e, quando participam, é esporadicamente e sem envolvimento contínuo. Isto se destaca na Figura 4 a seguir:
Figura 4: Formas de participação política na universidade (%)
15
32%
2%
45%
21%
De manifestações
ou protestos
De greves
Ass. um abaixo
assinado
NR
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
Diante destes dados, percebe-se que a maioria ainda revela que, entre as várias formas de participação política na universidade, aquela de que participariam efetivamente seria assinando um abaixo-assinado (45%), ou fazendo manifestações ou protestos (32%). No caso de greves, somente 2% indicaram essa opção, além de que 21% não sabem o que fariam ou não responderam, Os dados revelaram também que 70% dos alunos concordam com as reivindicações que ocorrem na universidade e que reconhecem a importância da organização estudantil (resposta de 82% dos alunos),
como se observa a seguir na Figura 5.
Figura 5: Importância da participação em organizações estudantis (%)
82%
8%
8%
2% Sim
Não
Não
sabe
NR
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
Outro fator relevante na pesquisa é que 99% dos estudantes da amostragem revelam que os alunos deveriam tem influência nas decisões tomadas na universidade, sendo que 49% acham que deveria ser em grande proporção e 48% acreditam que deveria ser moderada, enquanto apenas 3% respondem que deveria ser em pouca proporção, sendo que apenas 1% responde que os alunos não devem ter nenhuma influência nas decisões da universidade, como mostra as figuras 6.
Figura 6 - Influência dos estudantes nas decisões da universidade (%)
99%
1%
0%
Sim
Não
NR
Em que proporção?
49%
3%
48%
Muita
Pouca
Moderada
Fonte: Dados da investigação das autoras (2008)
16
Foi, no entanto, observada a discrepância entre o discurso e a prática democrática, pois os estudantes têm uma percepção positiva sobre a importância da participação dos estudantes em alguma entidade estudantil, porém, na prática, não participam.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Movimento Estudantil perdeu a força política que tinha nas décadas de 1960 e 1970 como contraponto ao regime militar. As causas dessa perda de força, por um lado, são a ausência de objetivos e, por outro lado, o individualismo dominante no mercado e na sociedade. Estes fatores reforçaram as crenças e os valores da cultura política híbrida, mesclada de democracia e autoritarismo, juntamente com a falta de incentivo das agências socializadoras para o aprendizado democrático, advindo da vivência dos jovens no movimento estudantil.

No início do século XXI, o que reflete a reorganização dos movimentos sociais é a eleição de Lula para o governo federal. A UNE auxilia o governo a programar as reformas orientadas pelos organismos internacionais. Assim, percebe-se que o movimento estudantil, no Brasil, tem presença forte do Estado. Por essas razões, é necessário pensar outras formas de socialização e de empoderamento dos jovens na universidade para promover o fortalecimento das alternativas que surgem no movimento estudantil no protagonismo dos jovens brasileiros para o fortalecimento da democracia.

Apesar de não terem sido encontrados, no DCE, documentos com registros dos alunos que participaram do DCE nos últimos anos, recorre-se à memória de pessoas de boa vontade para documentar a importância deste movimento para consolidação da universidade.

As pesquisas reforçam a permanência de um comportamento não participativo entre os jovens da Unioestes do Campus Cascavel, embora afirmem que o fato de estarem na universidade contribui para o aumento da participação. A maioria respondeu que não participa, mesmo sabendo da importância da participação. Em geral, os alunos mostram interesse e estão de acordo com as reivindicações políticas que ocorrem na universidade, mas nem sempre estão dispostos a participar, sendo que a forma de participação política mais praticada pelos estudantes é a reivindicação por meio de abaixo-assinado, sem envolvimento em esferas mais amplas.

A maioria dos estudantes na universidade admite e procura a possibilidade de vantagens pessoais, vantagens como a garantia de bom emprego e o aperfeiçoamento pessoal, ou vantagens como a universidade sendo importante agência fomentadora de capital humano, para o mercado e para as empresas. São raros os estudantes que se envolvem em política estudantil, por muitas vezes estarem desmotivados e censurados, pois estes possuem índices importantes de capital social que permite seu envolvimento na vida comunitária e universitária.

Observou-se que os jovens não são incentivados à participação política na universidade, instituição que deveria ser importante local de socialização. A universidade, como importante espaço socializador, poderia promover e incentivar a participação política dos estudantes. Essa participação política poderia ser uma forma de aprendizado para a cidadania e para o fortalecimento da democracia. Essa participação política também poderia incrementar o conhecimento, a cultura, experiências e vivências, tanto acadêmicas como políticas, de sorte a favorecer os estudantes universitários a atuarem na sociedade para cumprirem seu papel de protagonistas de suas histórias pessoais e coletivas.

Entende-se, portanto, que esta deficiência na socialização política na universidade poderia ser alterada, já que os jovens estão em contato com abordagens críticas das ciências em geral.
8. REFERÊNCIAS
ABRAMO, H. W. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. In: Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n.5-6, p. 25-36, 1997.
BORDENAVE, Juan E. Díaz. O que é participação? São Paulo: Brasiliense, 1994.
COLEMAN, James S. The adolescent society. The social life of the teenager and its impact on education. New York: Free Press of Glencoe, 1961.
JORNAL FRONTEIRA DO IGUAÇU. Centros acadêmicos começam a surgir. O tema vai à discussão amanhã e antecipa a formação do Diretório Central dos Estudantes na Fecivel. Entrevista concedida por Rosana Katia Nazzari. Cascavel, 1981.
HENN, Matt; WEINSTEIN, Mark and WRING, Dominic. A generation apart? Youth and political participation in Britain. In: British Journal of Politics and International Relations, Vol. 4, nº 2, June 2002. p. 167-192.
FAUNDEZ, Antonio. O poder da participação. São Paulo: Cortez, 1993.
GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos e lutas sociais: a construção da cidadania dos brasileiros. São Paulo: Loyola, 1995.
KRAUS, Rosa. Compartilhando o poder nas organizações. São Paulo: Nobel, 1991.
BAQUERO, Marcello (Org.). Reiventando a sociedade na América Latina. In: Cultura política, gênero, exclusão e capital social. Porto Alegre: Universidade, 2001. p. 208.
MME. Memória do Movimento Estudantil. Disponível em: .Fundação Roberto Marinho. Acesso em: 10 maio 2007.
MONTEIRO, Marco Aurélio. Universidade Pública e Cultura Política. Dissertação de Mestrado. USP Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara, 2007.
NAZZARI, Rosana Katia. Empoderamento da juventude no Brasil: capital social, família, escola e midia. Cascavel: Coluna do Saber, 2006.
PAGÉ, Michel et CHASTENAY, Marie-Hélene. Jeunes citoyens du Québec, du Nouveau-Brunswick et de l’Alberta. Département de psychologie et GREAPE, Université de Montreal, 2003. p. 8.
PUTMAN, Robert D. Comunidade e democracia. A experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996. p. 260.
SCHMIDT, João Pedro. Juventude e política nos anos 1990: um estudo da socialização política no Brasil. Porto Alegre, 2000. Tese de Doutorado em Ciência Política. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
STOLLE, Dietlind and HOOGHE, Marc. Preparing for the learning school of democracy: The effects of youth and adolescent involvement on value patterns and participation in adult life, In: Paper prepared for the McGill University workshop on Citizenship on Trial: Interdisciplinary Perspective on Political Socialization of Adolescents. Montreal June 20-21, 2002. p. 34.
UNICEF, Fundo das Nações Unidas para a Infância. A voz dos adolescentes. Unicef/Fator OM, 2002. p. 132


 13 Apr 2012 

Cientista Política Rosana Katia Nazzari