Will Coutinho Hamon
Não sei o que é maior entre nós educadores. Se é a descrença
ou se é a revolta. É provável que seja um misto destes dois sentimentos e o
sabor intragável que eles nos proporcionam.
Acompanhando a cobertura da mídia e conversando com colegas
cheguei à conclusão de que não disponho de outro modo de expressar o que
estamos vivendo em nosso Estado do que a descrença e a revolta.
Vivemos em uma democracia. Reconhecemos e respeitamos os
seus mecanismos de participação e nos lançamos em uma luta legítima (entendendo
como legítima uma luta que se trava pela garantia dos direitos constitucionais
que são prerrogativa de todos os cidadãos). Ainda assim, após uma extensa e
custosa greve que a todos afetou e afeta – dos diretamente prejudicados
(alunos, pais, funcionários, pedagogos, professores e diretores) aos
indiretamente implicados (condutores de vans escolares, proprietários de pequenos
comércios locais, empresas de eventos e formaturas, etc.) nos deparamos
novamente com a tríade de palavras-ações que melhor caracterizam este governo e
que são a INDIFERENÇA, a PILHERIA e a TRUCULÊNCIA.
Senão vejamos.
O que foi proposto neste dia 27/05/15 por parte do governo
do Estado do Paraná (deste governo com letra minúscula mesmo) não foi senão o
resultado da ausência de diálogo, do desdém frente aos direitos adquiridos e da
tentativa de manipulação descarada da opinião pública por intermédio de propagandas
enganosas que não tem outro objetivo que o de tratar a população como massa de
manobra, lançando-a contra uma classe de trabalhadores. E o que é pior. Contra
aqueles trabalhadores que formam e muitas vezes e educam os seus filhos.
Ir aos meios de comunicação disseminando a falsa informação
de que se está dando um aumento de 12% para o funcionalismo público quando na
verdade o que se oferece são 3,45% em três suaves parcelas de 1,15% a serem
pagas em setembro, outubro e novembro de 2015, vinculando o restante dessa
“correção” a um labirinto de condicionantes jurídicos do tipo “se” e
“dependendo da disponibilidade orçamentária e financeira”, e isso tudo a ser
pago no longínquo janeiro de 2016 é, em outras palavras, dizer para nossos
alunos e para os seus pais – “Estão vendo os seus professores! Estão
acompanhando os professores dos seus filhos! Pois aprendam. Não vale a pena
lutar por direitos. O melhor a fazer é aceitar o que vier e seguir de cabeça
baixa.” É também esperar que funcionários e professores comportem-se como cães
acovardados, daqueles que mesmo sendo tratados com migalhas, sobras e vivendo
sob a mais escancarada violência, pela absoluta falta de orgulho próprio e de
capacidade de iniciativa, retornam para suas casas-prisões com seus “rabos
entre as pernas”.
Lembramos, para nunca mais esquecer, que num passado
bastante recente nossas reivindicações também foram encerradas sob a garantia
da ampla discussão, porém que, quando nos deparamos com a realidade dos fatos,
o que encontramos foi um verdadeiro esquema de guerra nos vedando a
participação em qualquer diálogo, e que custou, não uma ou duas, porém centenas
de vítimas, maculando para sempre a imagem de um Estado que até então era tido
como ordeiro e progressista.
Aqueles que mentem e traem com tanta naturalidade vivem num
círculo vicioso e doentio. Obtém sucesso nas suas malfadadas iniciativas tão
somente por encontrar pessoas tão inescrupulosas ou fracas quanto a si mesmas.
Para seu azar aqui no Paraná neste ano de 2015 encontraram funcionários
públicos e professores em seu caminho. Também encontraram uma população cansada
de engolir mentiras, sofrer com aumentos de impostos e tarifas, e, ser mal
atendida por intermédio de serviços públicos inexistentes, ausentes, quando não
absolutamente precários.
Não vejo a hora desta greve acabar. Quero muito voltar a dar
aula. É o que eu gosto e acredito que de alguma forma saiba fazer.
Infelizmente, na contramão desta minha vontade, não vejo de que Realmente Cris!
forma ela poderá ter fim...
Chegamos a um impasse. Não vejo
possibilidade de recuo. Mas a frente, até que o tempo se abra novamente,
segue-se um longo e denso nevoeiro.
Ana Amorim__________________Estou com saudades do colégio, mas quando achei que o governador iria abaixar a
bola para tentar amenizar o gigantesco índice de rejeição, ele se mostra ainda
mais incompetente.
Eu devo estar
muito mal de matemática mesmo... Não consigo entender essa conta do reajuste
acima de 12%. Será que usaram a mesma calculadora mágica que chegou aos 60% de
aumento salarial?! Ele pensa estar lidando com acéfalos, somando os dois
índices(e somente assim chegaria a algo entorno de 12%) e dividindo pelos dois
anos daria mais ou menos 6% ao ano, abaixo da inflação e sem qualquer garantia
que irão mesmo receber... que porcaria de proposta...
Ainda tive o
desprazer de ver o Traiano sorridente ao apresentar a proposta à mídia... sem
contar o Betinho se dizendo perseguido e apelando para a infinita bondade de
Deus contra as "terríveis agressões e maldades" que ele diz sofrer...
É o fim mesmo.
Will Coutinho
Hamon_________________ Como sempre falou muito bem Ana! A proposta e
tão absurda que beira ao ridículo. E no mínimo subestimar a capacidade de
alguém esperar que venha a acreditar numa alternativa que consegue ser pior que
a anterior (que já era pífia). A proposta de resolução da greve não e outra que
a de que todos façamos papel de trouxas. Os alunos por terem que se adequar a
um novo calendário escolar, fruto de uma luta malsucedida. Os professores por
desperdiçarem esforços e meses de luta em vão. Os pais e responsáveis por
assistirem um péssimo político e ator posar de "bom moço", que se diz
perseguido e que não têm o mínimo de hombridade para assumir sua responsabilidade.
A educação de um modo geral e a escola pública no Estado do Paraná tornaram-se
um "cemitério" de possibilidades. Lamentável que se esteja assim...
Para todo
o lado que miramos (rádio, tv, internet) não vemos outra coisa que não a
corrupção e o erro. A coisa chegou a um ponto que nem se faz questão de
esconde-la. E escancarada mesmo. Penso que mais do que nunca seja importante
nos voltarmos para nossas famílias, nossos amigos e nossa espiritualidade para
ressignificar esse mundo que de outra forma está perdido. Também, que ao buscar
equilíbrio nesse lado positivo da vida possamos encontrar forças para lutar e
exercer nossa cidadania.
-Teremos
de buscar ainda um pouco de otimismo mesmo quando, como agora, ele falhar. Penso
que o saldo final de todo esse esforço e luta ainda será positivo. Enquanto
movimento nos fortalecemos muito e conquistamos importantes apoios. Não podemos
contar com o bom senso onde ele não existe. Este governo terá que ser
destituído para que qualquer razoabilidade prevaleça.