sábado, 30 de maio de 2015

Sobre os governantes

Sobre os governantes, se pode dizer, com Maquiavel:

“Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se.”

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.

TRÊS PALAVRAS QUE DEFINEM UM GOVERNO

Will Coutinho Hamon

Não sei o que é maior entre nós educadores. Se é a descrença ou se é a revolta. É provável que seja um misto destes dois sentimentos e o sabor intragável que eles nos proporcionam.
Acompanhando a cobertura da mídia e conversando com colegas cheguei à conclusão de que não disponho de outro modo de expressar o que estamos vivendo em nosso Estado do que a descrença e a revolta.
Vivemos em uma democracia. Reconhecemos e respeitamos os seus mecanismos de participação e nos lançamos em uma luta legítima (entendendo como legítima uma luta que se trava pela garantia dos direitos constitucionais que são prerrogativa de todos os cidadãos). Ainda assim, após uma extensa e custosa greve que a todos afetou e afeta – dos diretamente prejudicados (alunos, pais, funcionários, pedagogos, professores e diretores) aos indiretamente implicados (condutores de vans escolares, proprietários de pequenos comércios locais, empresas de eventos e formaturas, etc.) nos deparamos novamente com a tríade de palavras-ações que melhor caracterizam este governo e que são a INDIFERENÇA, a PILHERIA e a TRUCULÊNCIA.

Senão vejamos.

O que foi proposto neste dia 27/05/15 por parte do governo do Estado do Paraná (deste governo com letra minúscula mesmo) não foi senão o resultado da ausência de diálogo, do desdém frente aos direitos adquiridos e da tentativa de manipulação descarada da opinião pública por intermédio de propagandas enganosas que não tem outro objetivo que o de tratar a população como massa de manobra, lançando-a contra uma classe de trabalhadores. E o que é pior. Contra aqueles trabalhadores que formam e muitas vezes e educam os seus filhos.

Ir aos meios de comunicação disseminando a falsa informação de que se está dando um aumento de 12% para o funcionalismo público quando na verdade o que se oferece são 3,45% em três suaves parcelas de 1,15% a serem pagas em setembro, outubro e novembro de 2015, vinculando o restante dessa “correção” a um labirinto de condicionantes jurídicos do tipo “se” e “dependendo da disponibilidade orçamentária e financeira”, e isso tudo a ser pago no longínquo janeiro de 2016 é, em outras palavras, dizer para nossos alunos e para os seus pais – “Estão vendo os seus professores! Estão acompanhando os professores dos seus filhos! Pois aprendam. Não vale a pena lutar por direitos. O melhor a fazer é aceitar o que vier e seguir de cabeça baixa.” É também esperar que funcionários e professores comportem-se como cães acovardados, daqueles que mesmo sendo tratados com migalhas, sobras e vivendo sob a mais escancarada violência, pela absoluta falta de orgulho próprio e de capacidade de iniciativa, retornam para suas casas-prisões com seus “rabos entre as pernas”.

Lembramos, para nunca mais esquecer, que num passado bastante recente nossas reivindicações também foram encerradas sob a garantia da ampla discussão, porém que, quando nos deparamos com a realidade dos fatos, o que encontramos foi um verdadeiro esquema de guerra nos vedando a participação em qualquer diálogo, e que custou, não uma ou duas, porém centenas de vítimas, maculando para sempre a imagem de um Estado que até então era tido como ordeiro e progressista.
Aqueles que mentem e traem com tanta naturalidade vivem num círculo vicioso e doentio. Obtém sucesso nas suas malfadadas iniciativas tão somente por encontrar pessoas tão inescrupulosas ou fracas quanto a si mesmas. Para seu azar aqui no Paraná neste ano de 2015 encontraram funcionários públicos e professores em seu caminho. Também encontraram uma população cansada de engolir mentiras, sofrer com aumentos de impostos e tarifas, e, ser mal atendida por intermédio de serviços públicos inexistentes, ausentes, quando não absolutamente precários.

Não vejo a hora desta greve acabar. Quero muito voltar a dar aula. É o que eu gosto e acredito que de alguma forma saiba fazer. Infelizmente, na contramão desta minha vontade, não vejo de que Realmente Cris! forma ela poderá ter fim...

                 Chegamos a um impasse. Não vejo possibilidade de recuo. Mas a frente, até que o tempo se abra novamente, segue-se um longo e denso nevoeiro.

    Ana Amorim__________________Estou com saudades do colégio, mas quando achei que o governador iria abaixar a bola para tentar amenizar o gigantesco índice de rejeição, ele se mostra ainda mais incompetente.

    Eu devo estar muito mal de matemática mesmo... Não consigo entender essa conta do reajuste acima de 12%. Será que usaram a mesma calculadora mágica que chegou aos 60% de aumento salarial?! Ele pensa estar lidando com acéfalos, somando os dois índices(e somente assim chegaria a algo entorno de 12%) e dividindo pelos dois anos daria mais ou menos 6% ao ano, abaixo da inflação e sem qualquer garantia que irão mesmo receber... que porcaria de proposta...

    Ainda tive o desprazer de ver o Traiano sorridente ao apresentar a proposta à mídia... sem contar o Betinho se dizendo perseguido e apelando para a infinita bondade de Deus contra as "terríveis agressões e maldades" que ele diz sofrer... É o fim mesmo.

        Will Coutinho Hamon_________________ Como sempre falou muito bem Ana! A proposta e tão absurda que beira ao ridículo. E no mínimo subestimar a capacidade de alguém esperar que venha a acreditar numa alternativa que consegue ser pior que a anterior (que já era pífia). A proposta de resolução da greve não e outra que a de que todos façamos papel de trouxas. Os alunos por terem que se adequar a um novo calendário escolar, fruto de uma luta malsucedida. Os professores por desperdiçarem esforços e meses de luta em vão. Os pais e responsáveis por assistirem um péssimo político e ator posar de "bom moço", que se diz perseguido e que não têm o mínimo de hombridade para assumir sua responsabilidade. A educação de um modo geral e a escola pública no Estado do Paraná tornaram-se um "cemitério" de possibilidades. Lamentável que se esteja assim...
             Para todo o lado que miramos (rádio, tv, internet) não vemos outra coisa que não a corrupção e o erro. A coisa chegou a um ponto que nem se faz questão de esconde-la. E escancarada mesmo. Penso que mais do que nunca seja importante nos voltarmos para nossas famílias, nossos amigos e nossa espiritualidade para ressignificar esse mundo que de outra forma está perdido. Também, que ao buscar equilíbrio nesse lado positivo da vida possamos encontrar forças para lutar e exercer nossa cidadania.

            -Teremos de buscar ainda um pouco de otimismo mesmo quando, como agora, ele falhar. Penso que o saldo final de todo esse esforço e luta ainda será positivo. Enquanto movimento nos fortalecemos muito e conquistamos importantes apoios. Não podemos contar com o bom senso onde ele não existe. Este governo terá que ser destituído para que qualquer razoabilidade prevaleça.