domingo, 20 de dezembro de 2015

Até quando Gilmar vai abusar da nossa paciência?

 Por Paulo Nogueira


Até quando nossa paciência vai aguentar o ministro Gilmar Mendes? A grande sentença de Cícero contra o conspirador Catilina lembrada esta semana na operação da PF que enfim deu um tranco em Eduardo Cunha se aplica a Gilmar. Até quando vamos aturá-lo? O Brasil está se reconstruindo. Haverá lugar para um juiz que toma decisões políticas, sem nenhum pudor, e não técnicas? Para um juiz que vai de microfone a microfone na mídia amiga para fazer pronunciamentos políticos? Há tempos Gilmar age de maneira incompatível com a dignidade de um juiz, mas esta semana ele escalou degraus. Na sessão do STF que definiu o procedimento do impeachment, seu voto foi uma torrente de insultos ao governo. Ninguém mais fez isso. Mesmo os que voltaram com ele se detiveram em sua interpretação da Constituição. Não bastasse isso, num protesto patético num homem de sua idade, saiu no meio dos debates sob a alegação de que teria que viajar. Ora, ora, ora. Que viagem seria tão importante assim para ele abandonar o plenário num momento de tamanha relevância para o país? O mais provável é que ele tivesse ficado revoltado ao ver que o voto de Fachin, que ele endossou, fora surpreendentemente atropelado depois da divergência de Barroso, este sim um exemplo de compostura. Não foi tudo. No dia seguinte, numa entrevista à Jovem Pan, Gilmar desqualificou seus pares ao dizer que o STF foi cooptado pelo governo. Ele usou, mais uma vez, a palavra bolivarianismo, que para ele simboliza uma Justiça que se pauta pela política. De novo: ora, ora, ora. Que juiz é mais bolivariano que Gilmar? Ele faz do STF uma tribuna política desde sempre. Quem o indicou foi FHC, que promoveu um aparelhamento terrível da Justiça. Num perfil louvatório escrito para uma revista da Folha anos atrás, Eliane Cantanhede citou as ligações de Gilmar com o PSDB. Repare. Eu escrevi citou, e não acusou. Também ela pertencente ao Planeta Tucano, Eliane não se deu conta da gravidade do que escrevera num texto em que as adulações não se limitaram a Gilmar e se estenderam para sua mulher. A semana da infâmia de Gilmar se completou com uma entrevista dada à jornalista Mariana Godoy. Ele chamou Dilma de poste, sem nenhuma hesitação. Mariana ficou desconcertada. Tudo isso posto, até quando vamos ter que aturá-lo? Há uma evidente quebra de decoro no comportamento de Gilmar. Juízes não podem agir assim. Tente encontrar em sociedades avançadas um juiz como ele. Impossível. Num Brasil melhor, não cabem Gilmares. Não estou dizendo que um juiz não possa ser conservador como ele. Pode. É do jogo. Mas é inaceitável que aja como um torcedor de futebol, como um bolivariano exaltado e tolo. Quebra de decoro num juiz do STF pode resultar em processo e afastamento, diz a Constituição. É uma decisão que caberia, na etapa final, ao Senado. Está escrito. É crime de responsabilidade, num juiz, “proceder de modo incompatível com a honra, a dignidade e decoro de suas funções”. Alguém tem definição melhor para o que Gilmar vem fazendo?
Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade,
nem o temor do povo, nem a afluência de todos os homens de bem,
nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado,
nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?

Oh tempos, oh costumes!
"“Há uma dimensão totalitária quanto à linguagem e a instrumentalização da linguagem política. Não vejo como a esquerda possa reagir diante dessa ofensiva totalitária da mídia”, diz Laymert. “Snowden e Assange entenderam que o poder está na informação. Mais do que isso, entenderam que, ao contrário do Facebook, que fornece mais do mesmo e satisfaz o narcisismo das pessoas, o que importa é a informação que não se vê, que está oculta. No mundo atual, a informação real é a que não é exposta.”

Diante da sistemática ofensiva do oligopólio de comunicação, “não existe mais” cobertura (jornalística), no sentido de processar informações reais. “A mídia é parte ativa na criação de versões e ficções sobre o que acontece. O que é de fato real soçobra.”

Entre os veículos de comunicação que fazem parte da campanha contra o governo petista de Dilma Rousseff, Laymert considera a Folha de S. Paulo o mais sofisticado e eficiente na construção do discurso da negatividade.

“A Folha é a mais elaborada, porque eles estão há mais de 30 anos elaborando o discurso do ressentimento. Sempre, em qualquer momento em que há uma positividade, o discurso é negativo. Se a notícia é boa, existe o recurso: ‘mas…’”

A operação que se desenvolveu nos últimos meses para proteger o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que poderia ser o condutor do impeachment desejado pela direita do país, para o sociólogo, é absurda.

“Ele (Cunha) está apodrecendo todos os dias e não cai. Como é possível construir essas redes de proteção? Os ladrões estão gritando ‘pega ladrão’ para quem não é ladrão.”

O grande problema, para Laymert, é que “o outro lado não consiga responder”. Segundo a análise, “estamos vivendo um fenômeno complicado para o qual a esquerda não tem respostas”.

Ele diz que desde os anos 1980 observa a dificuldade da esquerda em compreender a questão midiática.

Um dos principais erros de líderes petistas foi acreditar que, quando o PT chegasse ao poder, haveria uma “troca de sinal” e os meios de comunicação passariam a ser mais benevolentes com os esquerdistas. Mas o que se viu foi o contrário. “Uma vez no poder, a esquerda tem uma atitude ao mesmo tempo de submissão e fascínio pelos meios de comunicação.”"

Laymert Garcia dos Santos