"Amor meu, não te amo por ti nem por mim nem pelos dois
juntos, não te amo porque o sangue me faça te amar, amo-te porque tu não és
minha, porque tu estás do outro lado, desse lado para onde me convidas a saltar
e não posso dar o salto, porque no mais profundo de tudo tu não estás em mim, e
não te alcanço, não consigo passar para lá do teu corpo, do teu riso, há horas
em que me atormento por saber que tu me amas (como gostas de usar o verbo amar,
com que pretensão vais deixando cair o teu amor que não me serve de ponte, pois
uma ponte não se apóia de um só lado, Wright ou Le Corbusier jamais farão uma
ponte apoiada de um só lado e não me olhes com esses olhos de pássaro, para ti
a operação do amor é muito fácil, tu ficarás curada antes de mim, e a verdade é
que não amo aquilo que amas em mim..."
(Julio Cortázar, em "O Jogo da
Amarelinha", cap 93)