Não é nada engraçado ser covarde. Talvez eu não seja
totalmente covarde. Sei lá. Acho que talvez eu seja apenas em parte covarde, e
em parte o tipo de sujeito que está pouco ligando se perder as luvas. Um de
meus problemas é que nunca me importo quando perco alguma coisa – quando eu era
pequeno minha mãe ficava danada comigo por causa disso. Tem gente que passa
dias procurando o que perdeu. Eu acho que nunca tive nada que me importaria
muito de perder. Talvez por isso eu seja em parte covarde. Mas isso não é
desculpa. Sei que não é. O negócio é não ser nenhum um pouquinho covarde. Se é
hora de dar um soco na cara de alguém, e dá vontade de fazer isso mesmo, a
gente não devia nem conversar. Mas não consigo ser assim. (JD Salinger. O
apanhador no campo de centeio, 18ª ed., Editora do Autor, p.91)