quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Lavoura arcaica
“... rico só é o homem que aprendeu, piedoso e
humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando
suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua
corrente, estando aberto para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para
receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende
essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de
vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao
buscar por elas, de defrontar-se com o que não é.”
- Raduan Nassar, in: Lavoura arcaica, 1975.
Um outro Poema de Amor
No fundo, as relações entre mim e ti
cabem na palma da mão:
onde o teu corpo se esconde e
de onde,
quando sopro por entre os dedos,
foge como fumo
um pequeno pássaro,
ou um simples segredo
que guardávamos para a noite.
Nuno Júdice, in "O Movimento do Mundo"
Amor como em Casa
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"
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