quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Sociedade do Espetáculo

[O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens.

Compreendido em sua totalidade, o espetáculo é tanto o resultado como a meta do modo de produção dominante. Ele não é uma mera decoração acrescentada ao mundo real. É o próprio coração do irrealismo desta sociedade real. Em todas suas manifestações particulares -- notícias, propaganda, anúncios, entretenimento -- o espetáculo representa o modelo dominante de vida. É a afirmação onipresente das escolhas que já foram feitas na esfera da produção e do consumo resultante de tal produção.]



Gui Debord 

A Palavra


Eleva-se entre a espuma, verde e cristalina
e a alegria aviva-se em redonda ressonância.
O seu olhar é um sonho porque é um sopro indivisível
que reconhece e inventa a pluralidade delicada.
Ao longe e ao perto o horizonte treme entre os seus cílios.

Ela encanta-se. Adere, coincide com o ser mesmo
da coisa nomeada. O rosto da terra se renova.
Ela aflui em círculos desagregando, construindo.
Um ouvido desperta no ouvido, uma língua na língua.
Sobre si enrola o anel nupcial do universo.

O gérmen amadurece no seu corpo nascente.
Nas palavras que diz pulsa o desejo do mundo.
Move-se aqui e agora entre contornos vivos.
Ignora, esquece, sabe, vive ao nível do universo.
Na sua simplicidade terrestre há um ardor soberano.


- António Ramos Rosa, in "Volante Verde".

psiquê do ódio

Para entender o curioso fenômeno em que Dilma se consolida como favorita e aumenta o ódio das fragmentadas oposições. Entrevisto eleitores falando que a Dilma é razoável, mas os outros candidatos são todos seguramente muito piores e por isso é que ela vai se reeleger. A forte base social e força eleitoral do voto no PT motiva reações desesperadas, violentas e desconexas. Os movimentos de protesto amanhã serão menores, muito menores porque já se formou um grande e vigoroso anticorpo político contra black blocs, anonymous e outras velhacarias em rede de 2013. Marina e Heloísa Helena não repetirão 2010 e 2006 como já se sabia naquelas eleições. Órfãos da ditadura, alguns dos mesmos que patrocinaram agosto de 54, Jânio Quadros, a Redentora de 64 e Fernando Collor imaginam inventar um neo-velho simulacro desgastado de "Salvador da Pátria" autoritário, tipo Idi Amin Dada, outra manobra fadada ao fracasso. O PSDB traz sólida rejeição nacional a quem apoiar no primeiro e no segundo turno. Para quem viveu e sobreviveu aos governos Figueiredo, Sarney, Collor, Fernando Henrique Cardoso - sabe-se que a situação hoje é muito melhor (ou bem menos pior) do que durante os períodos anteriores a 2003. Quem está individualmente pior hoje em relação a 2002, 1992, 1982 ? A grande maioria do povo brasileiro melhorou bastante de vida em relação aos últimos 10, 20, 30 anos. Para entender a curiosa psiquê do ódio. http://www.domtotal.com/noticias/detalhes.php?notId=719590&fb_action_ids=10201527525175980&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=[355654764577474]&action_type_map=[%22og.likes%22]&action_ref_map=[]

Ricardo Costa de Oliveira

O impossível carinho


Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!


- Manuel Bandeira, no livro "Libertinagem e Estrela da Manhã". 14ª ed., Editora Nova Fronteira, 2000, pág. 68.

Black Bloc é uma tática e não uma organização política. Não existe, portanto, os Black Blocs.
O que há são pessoas ou pequenos grupos dispersos que se intitulam assim, numa heterogeneidade de motivações, condutas, trajetórias.
O que dá identidade para quem se diz um Black Bloc são os rostos cobertos e a ação de enfrentamento direto aos aparelhos estatais, sobretudo a polícia, em diferentes níveis.
Esse anonimato e essa forma de atuação criam um terreno fértil para a reunião de jovens inconsequentes, que agem por revolta e desorganizados, atraídos pela ousadia Black Bloc e repelidos pela inércia das instituições políticas tradicionais, principalmente os partidos políticos.
Mas também é o terreno ideal para a infiltração da polícia e de mercenários pagos para incitar conflitos, com o intuito de justificar o aumento da repressão e de afastar a massa dos protestos. Por isso, a violência policial e a ação de grupos violentos em meio às multidões, invariavelmente, são movimentos articulados e planejados para criminalizar e dissipar movimentos legítimos de contestação.

Aqueles que ainda acreditam nas transformações sociais e na força das mobilizações populares precisam dedicar seu tempo para discutir com essa juventude e apontar caminhos consequentes de luta organizada.

André Castelo Branco Machado



Visualize 2014 em Curitiba: cidade mais atrasada para a Copa e com menor volume de obras para a Copa; risco de implosão no sistema integrado de transporte público e sobra de vagas em hotéis porque os turistas não se interessaram pela cidade. Ou seja, ano em que todo o mito da capital europeia escoa rapidamente ralo da realidade. Esse é o ano da "brasileirização" de Curitiba. Cidade dos atrasos, dos superfaturamentos, da inexistência de prestação de contas do uso do dinheiro público, do transporte coletivo caro e ruim, dos coronéis na política, dos políticos mandões e dos políticos fracotes. Depois dessa, chega! Estamos no Brasil, moçada, com tudo o que isso significa. Essa ladainha da cidade evoluída não se sustenta mais. Não somos - tenho dúvidas que um dia tenhamos sido - mais avançados e organizados do que outras cidades do mesmo porte do País.
Emerson Urizzi Cervi

discussões políticas

Jose Alvaro Moises
10 de fevereiro próximo a São Paulo
Não estou seguro de que todas as pessoas responsáveis desse país - inclusive meus colegas da universidade e, especialmente, os cientistas políticos - estão se dando conta de modo completo das implicações e das consequências do retorno da violência na vida pública brasileira. Só não vê quem não quer que o clima de mal estar com o funcionamento da democracia - e em grande parte com o governo de Dilma Roussef e do PT - está dando lugar a iniciativas as mais variadas que, antes de se apoiar no diálogo, na negociação e nas instituições de representação - usam a violência como forma de protesto, de ação e de expressão. A morte de um jornalista, os ônibus queimados, os abusos das milícias, e também das polícias, o pânico da população - tudo está dando sinais de que, aos poucos, em todas as esferas da vida o conflito legítimo de sociedades complexas como a nossa está sendo tratado como se sua única solução fosse o uso da força, da violência e da depredação. Não me digam, por favor, que os governos ditos de esquerda ou seus opostos, os conservadores, estão sabendo o que fazer, nem que os partidos de qquer orientação estão conectados com a população. Não importa mais a controvérsia se o presidencialismo de coalizão funciona ou não, o que precisamos perceber é que o país está entrando em um clima e em uma atmosfera perigosa, que ameaçam a democracia, a convivência social e tranquilidade das pessoas. Acho melhor olhar isso de frente logo, com clareza e percepção, e começar a pensar em saídas para tudo isso do que esperar o caos se instalar. Desculpem-me o desabafo, mas estou sufocado pela apreensão pelo que estou vendo ocorrer no Brasil contemporâneo, sem vislumbrar saídas de lado nenhum. Queria saber aonde estão as nossas lideranças, e o que elas têm a dizer de tudo isso.
Vera Zaverucha "Que ameaçam a democracia, a convivência social e a tranquilidade das pessoas"..

Na verdade, a força, a violência e depredação são artifícios de guerra para espantarem a população. Ninguém quer mais ir às ruas pois temem serem rechaçadas. Os black blocs são uma farsa. São pessoas programadas para desfazer manifestações e causar transtornos.

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Adilson Simonis Caro Professor, solidarizo-me com seu oportuno desabafo. Apenas tento agregar a ideia de que este lamentável episódio dos Blacs está muito parecido com o assassinato em Sarajevo do Arquiduque Império Austro-Húngaro Francisco Ferdinando pelo sérvio nacionalista Gavrillo.
Adilson Simonis Continuando: não foi a causa mas uma manifestação de muitas variáveis que levaram ao ato violento. Cabe-nos trazer a complexidade a toma. Você tem um papel merecido neste aspecto. Abraços
Jose Alvaro Moises Pois é Adilson, tem algo de muito estranho nisso, tudo a indicar que se trata de algo articulado e não espontâneo, embora não seja claro ainda com que objetivos. E a perplexidade parece ser geral, porque agora, com exceção de uma ou outra pessoa públic...Ver mais
Jose Alvaro Moises A esquerda tem medo de constatar a violência e suas consequências por que já flertou e ainda flerta com ela. A direita só vai até o pedido de repressão sem querer olhar as causas. M
Jose Alvaro Moises Mas o mais grave é que as chamadas lideranças democráticas não tenham nada a dizer, estão guardando um silêncio sepulcral como se o país não estivesse entrando - em ritmo ainda local e de pequenas proporções - em convulsão.
Jose Alvaro Moises Não acho que seja o caso de exagerar no diagnóstico, mas os sinas não são bons e pedem atenção e soluções, rápidas, eficazes, antes que se acumulem os efeitos negativos do que está ocorrendo.
Adilson Simonis Pois caro amigo, a questão econômica está pegando. A incapacidade do modelo vigente se sustentar e a falta de proposta da oposição (no máximo manter o tripé do Palocci via Rede) fazem que a pasmaceira reine. O que tah pegando como dizem os jovens eh a crise energética (dizem que o apagão derrubou FHC) . Pois bem, cade os pensadores para propor avanços sociais aos que terão que devolver o carrinho pois não conseguem pagar o Ipva (35 porcento do Pibinho em postos) significa uma barreira capitalista de acumulação que, mesmo ela, não pode gerar riquezas sem estabilidade política. Vocês sociólogos tem que se manifestarem; nos estatísticos estamos vendo a coisa feia e pode piorar. Abraço
Ernesto Heine O grande trunfo do governo é ter amarrado muitos setores da indústria ao BNDES e a empréstimos com prazos a vencer em período que precede eleições. O BNDES, empreiteiras, imprensa e etc são máquinas muito eficientes de manipulação e em um período de crise a quantidade de setores endividados é imensa. Ninguém quer abrir a boca e ser liquidado. Como as lideranças políticas tem uma corda atrelada ao setor econômico.... não restam dúvidas que está tudo muito amarrado. Esta corda precisa ser rompida através da reforma política. É o ponto alto da questão.
Adilson Simonis Caro Ernesto; defina reforma política, por favor. Voto distrital, fundo partidário diferente do de hoje ou manter o financiamento público. Onde reformaram?
Jose Alvaro Moises Adilson, ao menos penso que não podemos mais continuar com financiamento privado no volume que ocorre no Brasil. A França e a Alemanha proibiram as empresas de financiar partidos e candidatos. Pode ser um começo. E precisamos mudar o sistema político, o sistema proporcional atual retira poder dos eleitores, não é bom. E o presidencialismo de coalizão concentra poderes demais nas mãos do Executivo, enfraquece no Legislativo e estimula o Judiciário a judicializar a política. Temos de reequilibrar o balanço de poderes republicanos, e restaurar o interesse público na vida política.
Claudia N. Paiva Eu não entendo quem é chamado de direita ou esquerda nesse caso, pq o grupo no poder se diz esquerda, e os manifestantes nas ruas, anarquistas.
As manifestações começaram pacíficas e foram reprimidas violentamente até que só sobrassem black blocs nas ruas. Essa repressão foi aceita pela opinião pública, única revista a reclamar foi a isto é. Agora está formada a confusão.
Ernesto Heine Adilson Simonis, estava escrevendo, mas o Prof. Moisés respondeu de modo ainda mais completo. Restaurar o interesse público na vida política é essencial também. A juventude está muito despolitizada. Não há uma geração de pensadores e quem é mais pensante, hoje tem medo de opinar... ou então carece de liderança.
Adilson Simonis O setor privado não joga dinheiro fora. O estado deve intervir onde falta dinheiro (Monte Belo jah deveria estar pronta). Na época da UDN havia tão pouco dinheiro que chamar aquilo de financiamento privado foge ao meu entendimento histórico. De qualquer maneira, gostei da sua resposta.
Para a Claudia Paiva, chamo a atenção ao conceito que ajudou a condenar alguns no processo do mensalão; domínio do fato.
Adilson Simonis Ernesto, obrigado pela resposta. Eu não procuro lideranças (jah basta minha mulher que manda em mim) e como dizia um personagem de quadrinhos; soja tenho medo que o céu caia na minha cabeça. Boa noite a todos, sempre aprendo com os amigos da área de Humanas...
Jose Alvaro Moises A esquerda está no governo, mas não no poder, embora compartilhe partes dele. A direita está em alguns estados, tem poder econômico e dirige o capitalismo no país. Os manifestantes não são todos anarquistas, apenas alguns, a maioria pediu mais democracia. Agora, os black blocs... além de vândalos são provocadores, mas não está bem claro a serviço de quem... talvez do crime organizado, os traficantes e contrabandeadores de armas.
Jose Alvaro Moises E também expressam um fenômeno mais profundo de marginalidade, desigualdade e deslocamento social - mas nada disso justifica o uso da violência e da força. Isso é próprio da direito, como fizeram durante a ditadura, no nazismo e na fascismo; e, infelizmente, as vezes também na antiga União Soviética.

Angélica Salazar Pessôa Mesquita Prof. Jose Álvaro Moisés, como sempre o senhor foi brilhante nos seus comentários. Mas, na minha opinião a esquerda já deixou de flertar com a violência. Elas estão de braços dados, defendendo direitos para bandidos e mais deveres para os cidadãos de bem.
Claudia N. Paiva Duvido muito q black blocs estejam a serviço de quem quer q seja. Acompanhei as discussões das pag do anonymous e dos black blocs, fui as manifestações maiores. Houve um momento (está no youtube) em frente a prefeitura em q acredito q a guera começou. Um homem bombado (e talvez cheirado) q a multidão pedia à polícia p retirar e a polícia ameaçava quem pedia de cadeia. Depois a polícia usou esse homem de pretexto p iniciar a repressão. Acho q existiu uma sensação de massacre e injustiça pela polícia quando eles começaram a reprimir as manifestações sem nenhuma justificativa moral razoável, e mais revolta ainda quando ficou patente o uso de p2 pela polícia para culpar manifestantes. O caso do Bruno mostrou q a polícia pode incriminar um inocente a hora q quiser. Muitas prisões injustificadas foram flagradas por populares. Os black blocs tomaram a função de "defesa da multidão", são equivocados no seu entendimento do problema e nas suas táticas q estão longe de ser só defesa, mas não são coesos, de fato, pela própria natureza anarquista da maioria de seus integrantes.
Renato Perissinotto Penso que existem diferentes violências oriundas de diversos lugares na sociedade, mas me parece que elas se unificam a partir de um lugar: o Estado brasileiro. Seja pela presença seja pela ausência, o Estado brasileiro é fonte/incentivo à violência. Quando ausente, cria uma estrutura de oportunidades para que a violência entranhada na sociedade brasileira se manifeste, como no caso do garoto amarrado ao poste; quando se faz presente humilha a população pela ineficiência (seja ao prestar serviços, seja quando os regula) ou pela repressão. Como você disse, isso gera um ambiente perverso, em que a direita demanda mais repressão e parte da esquerda (?), ultraminoritária, aposta na violência como fim em si mesmo, como um primeiro recurso. Na minha opinião, o problema da reforma do Estado brasileiro, para além da bobagem do Estado mínimo ou da antinomia infrutífera entre empresas estatais ou privadas, é o tema ausente mais importante da agenda política. Reforma no sentido de, por um lado, recapacitá-lo a ser coordenador de ação coletiva e implementador de um projeto de longo prazo que transcenda o curto prazo das eleições e, por outro, no sentido de republicanizá-lo, de colocá-lo a serviço da população e não contra ela. Mas para isso, seria preciso um pacto entre lideranças políticas e forças socioeconômicas em nome de um projeto de longo prazo. Quem seria capaz de encaminhar isso? Não vejo ninguém à altura e isso também me preocupa muito.

Alba Zaluar Em março do ano passado fui gratuitamente ofendida e agredida por jovens, aliás com sotaque paulista, alguns com máscaras, na saída da inauguração do MAR, museu na cidade do Rio de Janeiro. Barraram a minha passagem por um corredor (polonês), depois me deixaram passar gritando que eu fedia e era uma burguesa! Portanto muito antes de qualquer manifestação de rua no Rio de Janeiro. Não havia PMs no local, apenas a segurança da presidente Dilma que nada fez. E eu saí mais cedo porque cansei de esperar pela comitiva dela para ouvir os discursos e finalmente visitar o museu. Esse movimento estava sendo gestado há muito, alimentado lamentavelmente pelas ideias de alguns professores. A partir desse momento, comecei a me perguntar o que estava acontecendo e, claro, me postei contra essa inútil forma de agredir quem não tem nada com quem manda no país.

Jose Alvaro Moises Me solidarizo inteiramente com minha querida colega Alba Zaluar. O relato dessa experiência humana horrível que a atingiu é um exemplo importante dos riscos que estão surgindo ao direito à vida, à livre expressão e à participação irrestrita na vida política e social. Quando um de nós é ameaçado, todos estamos sendo ameaçados e, nesse caso, é sinal de desconhecimento e de desprezo pela inestimável contribuição da Alba, precisamente ao nosso tema, o uso da violência na vida pública.

Evelyn Levy Me identifico com aqueles que estão perplexos e igualmente expresso minha profunda preocupação. Também acredito que não estão surgindo lideranças para interpretar e propor caminhos. Nesse sentido seria muito bom se você, Moisés - e o NUPPs- pudessem abrir o espaço para o debate. Especialmente por que acho que a situação é mais complexa do que estamos acostumados: há novos atores e novas formas de expressão se misturando a velhos interesses. Também não acredito que possamos atribuir a responsabilidade exclusivamente ao Governo Federal. Acredito que se não formos capazes de fazer uma interpretação correta dessas múltiplas influências - a economia da droga, por exemplo, como indicou ontem o Governador Anastasia -não saberemos formular propostas eficazes de ação política.

Wagner Iglecias Caro Prof. José Jose Alvaro Moises, sua preocupação é muito legítima e pertinente, ainda mais neste momento em que o ambiente político-partidário anda tão envenenado. Entendo sua mensagem como um convite a que todos aqueles da comunidade acadêmica interessados em debater de maneira franca o país e saídas para seus problemas que o façam. Apenas não creio que avançaremos se partimos da premissa de que o esgotamento da paciência da população é com o partido A ou o partido B. Parece-me que é geral, e não apenas com partidos ou com este ou aquele nível de governo. Muita gente anda farta do governo federal, dos governadores, dos prefeitos. E não só. As pessoas estão também cansadas do Congresso Nacional, dos deputados estaduais, vereadores, juízes, promotores de justiça, de certos comunicadores da midia etc. Estão ainda fartas da forma como são tratadas pelas empresas de telefonia, bancos, operadoras de cartão de crédito, companhias aéreas, TVs a cabo e tantos outros segmentos.

Jose Alvaro Moises O debate está aberto e todos podem participar dele. Por outro lado, concordo que a insatisfação é geral, atinge a todos. Mas alguns tem mais responsabilidade do que outros, especialmente, os que fizeram o seu prestígio e sucesso eleitoral em torno da ideia de que estavam reformando a política. Ao não reformarem, e pelo contrário a degradarem mais ainda, deixaram um vazio ético, moral e político que agora está deixando o país sem rumo e as pessoas sem esperança. Todos os partidos estão falhando e são deficitários, mas alguns são mais do que outros, a história registra isso sem piedade. Temos de ter clareza e cobrar isso de quem deve ser cobrado, sob pena de fraudarmos a nossa própria percepção, mas não acho mais que o momento é para isso.


Jose Alvaro Moises João, não dou brecha nenhuma, sou bem conhecido - e, aliás, criticado - por ser um crítico duro do PT, não apenas por causa da sua política nos últimos 11 anos, mas por causa do seu projeto de poder, e dos seus objetivos de longo prazo. Como fui fundador do partido, e participei dele por mais de 10 anos, sei bem do que estou falando. Quanto ao mais, respeito suas opiniões e da maior parte dos que tem participado do debate, embora não de todos.
João Weber Jose Alvaro Moises, meu ponto não é esse, e nem você especificamente. O "projeto de poder" do PT é o projeto de poder da esquerda por excelência.

Os governos Lula e Dilma representam DE FATO a esquerda - em todos os aspectos. Dissociar o "projeto de poder" petista da esquerda é problemático. Não acho possível separar uma coisa da outra, assim como não é possível dissociar a TFP da "direita".

Sei que não há mais consenso acadêmico a respeito dos termos "direita" e "esquerda", e portanto trato a dicotomia como uma questão autointitulada. É de esquerda quem se diz de esquerda.


Jose Alvaro Moises Então, aos poucos o mistério está se revelando... resta saber como o governo vai reagir, assim como os líderes da oposição - o momento exige uma tomada de posição clara das pessoas responsáveis

Ernesto Heine Isso no fundo é bom. Antes da copa e bem próximo às eleições, está se desenhando um clima de novos protestos. Desta vez com envergadura ainda maior. A mudança acontecerá.

Os pedidos dos manifestantes não foram atendidos. Nenhum... Apenas alguns elementos de agenda foram apressados. Para piorar a questão da copa está machucando demais. Pensou-se que o povo queria só futebol. Isso acabou.

Seria muito bom que estas investigações sejam concluídas rapidamente, para que o momento eleitoral seja ao gosto da população. Para que haja um clima de confraternização, de alegria democrática...
Joel Formiga Acreditar que os black blocs são um movimento popular legítimo, independente do julgamento que se faça dos seus métodos e táticas, seria um ato de fé e uma esperança na capacidade de mobilização política da população da qual não comungo. Infelizmente, são, na minha opinião, jovens alienados comoois demais brasileiros, aliciados por uma remuneração, e no máximo unidos por uma aversão à Polícia e às autoridades. Movimento legítimo seria o dos rolezinhos, interessados em fazer uma farra aqui ou ali, e indiferentes às questões sociais, raciais ou políticas que, por mais que a mídia tenha tentado, não colaram. Legitimamente apolíticos.

Me resta compartilhar das preocupações e do pessimismo do Prof. Moisés - ainda vai piorar muito antes de melhorar. O atual ambiente tem potencial explosivo e destrutivo na hipótese possível se não improvável de uma crise econômica.