Margaret Eleanor Atwood nasceu 1939 no Canadá
Autora canadense fala à Deutsche Welle sobre seu novo livro: sobrevivência humana após uma catástrofe natural. Ainda assim, ela se diz otimista.
The Year of the the Flood é uma história futurista sobre a consequência de um grande desastre natural que, ao que parece, teria comprometido a vida humana. Adam One, o líder de um grupo religioso que mistura ciência, fé e natureza, já havia previsto a catástrofe. Depois do acontecimento, ele e seus seguidores se reagrupam num mundo alterado e imprevisível.
A obra é assinada por Margaret Atwood. A autora nasceu em 1939, no Canadá, escreveu contos, estudos críticos, peças, livros para crianças e poemas – mas é conhecida por seus romances. O trabalho de Atwood já foi traduzido em mais de 30 línguas, inclusive para o português.
Deutsche Welle: Você viveu na Alemanha nos anos de 1980. Quais foram as suas experiências naquela época?
Margaret Atwood: Eu fui para a Alemanha pela primeira vez por causa de um editor alemão, nos anos de 1970. Então, em 1984, eu comecei o livro The Handmaid´s Tale em Berlim, antes da queda do Muro. Eu comecei o livro em Berlim e terminei em Tuscaloosa, no estado americano do Alabama, o que foi um contraste.
Mas os dois casos foram situações de estresse, porque a Alemanha Ocidental, naquela época, claro que era circundada pelo Muro e todos os domingos a força aérea da Alemanha Oriental sobrevoava a região e fazia aquele ruído sônico só para lembrar-nos que estavam lá.
Agora, na Alemanha, você está apresentando o seu novo livro The Year of the Flood. O que esse livro, que foi concluído aos seus 70 anos, representa para você?
Na verdade, ele foi completado um ano antes. A publicação foi adiada por um ano porque, se fosse publicada em 2008, coincidiria com as eleições americanas. E os editores disseram diretamente que ninguém iria fazer outra coisa a não ser acompanhar as eleições porque, na disputa entre Hillary Clinton e Barack Obama, qualquer resultado não teria precedentes e todos estariam ligados na televisão, o que de fato aconteceu.
É assustador pensar que o seu último livro é uma profecia sobre o futuro.
Primeiramente, não é uma profecia porque eu não sou profeta. Ninguém pode realmente prever o futuro. Até mesmo os profetas do Velho Testamento não previram o futuro, eles disseram mais ou menos o estado da alma das pessoas naquele momento. Não se pode realmente escrever sobre o futuro porque ninguém ainda esteve lá. É como Dante escreveu sobre o inferno – ele não esteve lá de verdade.
Você é otimista sobre o futuro? O seu livro traz um ambiente de devastação, do qual nós sempre ouvimos nos noticiários.
Não é tanto sobre isso, na verdade. A verdade é que, se você retira as pessoas, a natureza se revigora bem, o que é o ponto abordado no começo do livro. Há bastante natureza e não o fato de que a natureza é destruída.
Como diz Willian Gibson, o futuro já está aqui, mas é desigualmente distribuído. Algumas pessoas falam sobre aquecimento global, mas elas deveriam dizer mudança climática porque o clima está ficando mais extremo. As coisas mudam.
O que realmente assusta no livro não é exatamente isso, embora seja uma motivação, mas o que assusta é que nós podemos criar novas espécies. Nós já podemos criar novas espécies, e já estamos fazendo isso. Mas o que é realmente assustador é que nós podemos inventar novas doenças. E nós já temos essa capacidade. Porque um país ainda não criou uma doença horrível e lançou-a em todos? Eles têm medo que o golpe se volte contra eles. Não há como fazer isso sem a possibilidade que seu país também se contamine, com as coisas sendo tão facilmente alastradas.
O que as pessoas não sabem é que o seu primeiro livro foi de poesia.
Sim, mas não foi a primeira coisa que eu escrevi. Eu estava de fato escrevendo prosa e poesia ao mesmo tempo. Era assim que era naqueles tempos, no Canadá, onde era praticamente impossível publicar um romance por completo. Poesias eram muito mais baratas, eram mais curtas.
E tipicamente, você começava fazendo cópias no mimeógrafo, ou juntando tudo num tipo de livro insensível, ou fazia tudo à mão, o que eu fiz com meu primeiro livreto de poema – eu acertei tudo manualmente numa impressora. Tenta fazer isso!
Você reconheceria que Margaret Atwood é uma otimista?
Qualquer um que escreve um livro é um otimista. Não importa o conteúdo. A coisa otimista sobre isso é: é um livro.
Autor: Breandain O'Shea (np)
Revisão:
Fonte : Deutsche- Welle. Cultura. 26/06/2010