sábado, 13 de maio de 2017

O socialismo é uma doutrina triunfante



"O socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo… tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: 'o senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana'. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na 'Ideologia alemã': as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias… tudo é conquista do socialismo."

ANTONIO CANDIDO (1918-2017), em entrevista ao jornal Brasil de Fato, 8 de agosto de 2011, "O socialismo é uma doutrina triunfante", por Joana Tavares.


A SOFÍSTICA, A "MORTE DE DEUS" E O MARKETING POLÍTICO


(por Luiz Carlos De Oliveira e Silva)

1. A política se faz também por meio de "narrativas", como se diz hoje em dia. A isto estavam atentos, desde a fundação da democracia em Atenas, no século V a.C., Sócrates e os sofistas, cada um a seu modo.
2. O embate que opôs Sócrates e os sofistas tornou-se célebre devido ao testemunho interessado de Platão, e acabou por se constituir num dos pilares da Civilização Ocidental.
3. Pode-se dizer que Sócrates é o pai da confiança de que uma narrativa verdadeira é possível, e desejável, enquanto os sofistas são os pais da compreensão de que “tudo são narrativas em disputa”, como se diz atualmente.
4. Para os que consideram que “tudo são narrativas em disputa”, tanto na Antiguidade como na atualidade, a Verdade não é, nem pode ser, a medida dos discursos, e sim a sua eficácia em produzir efeitos na consciência dos indivíduos e das coletividades.
5. Para Sócrates, a medida do discurso, pelo contrário, deve ser a Verdade, porque só deste modo poder-se-ia produzir subjetividades potentes e livres, situação a que todos deveriam almejar.
6. Podemos dizer que os sofistas foram derrotados – porque o Ocidente fez da Verdade o seu valor supremo –, e submergiram nas trevas do recalque histórico por séculos. A concepção de que a Verdade é o valor supremo fez fortuna no Ocidente, onde descreveu uma história. Inicialmente ela foi concebida como conceito filosófico, depois se transformou em experiência religiosa, em seguida constituiu-se como critério da ciência para, por fim, desaparecer do horizonte histórico.
7. O desaparecimento do valor Verdade como o valor supremo foi anunciado por Nietzsche, na segunda metade do século XIX, como a “morte de Deus”.
8. A “morte de Deus” abriu campos extraordinariamente férteis para a criatividade humana, inclusive no terreno da religião, mas possibilitou o retorno, com força inaudita, do que esteve recalcado durante todos esses séculos: os sofistas e a sofística.
9. A “morte de Deus”, isto é, o desaparecimento do valor Verdade como o valor supremo, tornou possível, dentre outras coisas muitos positivas, práticas baseadas nos piores aspectos da sofística: marketing político, imprensa pós-factual, fake News etc., tudo o que poderíamos resumir pela expressão “pós-verdade”.
10. João Santana e Mônica Moura são marqueteiros políticos. Eles que, com seus sortilégios de mágicos de circo mambembe, estariam agora, com suas “delações premiadas”, falando a verdade?
11. Profissionais da mentira baseada no cálculo do frio interesse que são não estariam agora sendo nada mais do que marqueteiros de si mesmos? Afinal, “tudo são narrativas em disputa”?
12. Nunca saberemos por que já não é mais possível saber. Deus morreu... O verdadeiro e o falso se interpenetram e se amalgamam num todo viscoso, colorido e sedutor.
13. Sócrates e os socráticos venceram os sofistas e a sofística. Mas, apesar da duração, não foi uma vitória cabal, porque não se pode derrotar cabalmente o que pertence à nossa essência. Os derrotados estão de volta, mais vivos do que nunca. E nós não temos mais a Verdade para combatê-los...
14. A única Verdade que nos sobrou é a de que o marketing político é a verdade da política e que “tudo são narrativas em disputa”.

15. Deus morreu e levou consigo a Verdade... Para o bem e para o mal. Como combater a sofística sem o recurso à Verdade? Esta é a tarefa que se impõe....

1968: Negociações de paz para o Vietnã


ESPECIAL:
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Em 13 de maio de 1968, negociações de paz começaram em Paris. Cerca de 25 mil participaram da primeira grande manifestação em 1965 em Washington. Dois anos depois, 400 mil foram às ruas de Nova York pelo fim do conflito.


 Vietnamkrieg - Flüchtlingsfrau mit Kindern (picture-alliance/dpa)
Refugiados da Guerra do Vietnã em 1968

Cerca de 25 mil pessoas participaram da primeira grande manifestação contra a Guerra do Vietnã, realizada em 1965, em Washington. Dois anos depois, 400 mil pacifistas saíram às ruas de Nova York, pedindo o fim do conflito em que os Estados Unidos haviam se envolvido até o pescoço desde a derrota francesa de Dien Bien Phu, em maio de 1954.

O presidente norte-americano Lyndon Johnson (1908-1973) começava a enfrentar sérios conflitos internos. Em abril de 1968, após o assassinato de Martin Luther King, ocorreram os maiores tumultos raciais da história dos EUA. Em agosto do mesmo ano, centenas de policiais espancaram manifestantes durante um congresso do Partido Democrata em Chicago.

Conflito diplomático

Entre os soldados norte-americanos no Vietnã, crescia a insatisfação com a falta de perspectiva de um acordo entre Ho Chi Minh e Johnson. Foi nesse clima que começaram, a 13 de maio de 1968, as negociações de paz em Paris. Nenhum dos dois lados tinha realmente interesse numa solução negociada. Isso ficou evidente já na absurda discussão sobre a disposição das mesas da conferência.

O conflito diplomático revelou uma profunda divergência em relação à forma de participação do governo do Vietnã do Sul e dos representantes da Frente de Libertação Nacional (FLN) nas conversações. Como tanto os EUA quanto o Vietnã do Norte apostavam numa decisão militar, os negociadores em Paris não tinham pressa.
Negociações paralelas à guerra

Começou, assim, um longo jogo de empurra-empurra, com negociações de paz ocorrendo paralelamente à guerra. Somente em 1972, Henry Kissinger, assessor de segurança do presidente Richard Nixon (1913-1994), e o negociador norte-vietnamita Le Duc Tho chegaram a um acordo aceitável para os dois países.
Tho aprovou a continuidade do regime de Nguyen Van Thieu no Vietnã do Sul. Um Conselho Nacional para Reconciliação e Unidade, formado pelo governo de Saigon, pelo "governo popular revolucionário", proclamado pela FLN, e por grupos neutros, deveria preparar eleições gerais para o Vietnã do Sul.
Em contrapartida ao cessar-fogo imediato oferecido por Tho, os EUA deveriam encerrar todas as operações militares contra o Vietnã do Norte e retirar suas tropas do Vietnã do Sul num prazo de 60 dias.
Indiganção entre a comunidade internacional

Kissinger dizia acreditar que a paz estava próxima. Mas suas esperanças foram esmagadas pela rejeição do acordo tanto pelo Vietnã do Sul, quanto pelo próprio presidente Nixon. Após sua reeleição, no final de 1972, Nixon quis dar uma nova demonstração de força, com ataques aéreos a Hanói e Haiphong.

A opinião pública internacional reagiu indignada aos chamados "bombardeios de Natal" dos norte-americanos. A ofensiva aérea, porém, forçou Hanói a voltar à mesa de negociações. Finalmente, a 27 de janeiro de 1973, Nixon anunciou o fim da guerra do Vietnã.

Milhões de vítimas

O "acordo para o fim da guerra e o restabelecimento da paz", assinado em janeiro de 1973 em Paris pelos Vietnãs do Norte e do Sul, pelo "governo provisório" da FLN e pelos EUA, não chegou a ser implementado.

Mesmo assim, os EUA começaram a retirar as suas tropas. Hanói deu continuidade à guerra, enquanto os generais sul-vietnamitas tentavam, de qualquer forma, ampliar seu controle sobre o país. A guerra de trinta anos pelo poder no Vietnã só terminou em maio de 1975, com a capitulação do Vietnã do Sul.

O conflito deixou um saldo de 58 mil soldados mortos e 153 mil feridos do lado norte-americano, e de um milhão de mortos e 900 mil crianças órfãs do lado vietnamita. Os EUA, que gastaram cerca de 200 bilhões de dólares com o conflito, sofreram no Vietnã a maior derrota militar da sua história.

Autoria Michael Kleff


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