domingo, 30 de maio de 2010
Lixo que não é lixo vira riqueza para o País
Preservação do meio ambiente, inserção social, geração de riquezas. Estes são os principais benefícios encontrados em duas soluções simples e eficientes: a coleta seletiva e a reciclagem de materiais reaproveitáveis.
No Brasil, a primeira experiência do gênero aconteceu na cidade de Niterói (RJ), em 1985. Entre as capitais, Curitiba foi a pioneira, implantando, com sucesso, o Programa Lixo que não é lixo, em 1989.
De acordo com a jornalista e doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Myrian Del Vecchio de Lima, a ideia politicamente correta acabou sensibilizando a população, fazendo com que a iniciativa desse resultado.
“A campanha do Lixo que não é lixo foi bem interessante. Trata-se de um “case’ histórico que despertou nas pessoas a consciência para a preservação do meio ambiente”, relata.
Vinte e um anos depois do projeto, a manutenção deste trabalho ainda continua firme na capital. Contudo, a doutora acredita que a cidade poderia ter avançado muito mais neste processo.
“A gente faz mais a parte simples, que é separar o lixo seco (reciclável) do molhado (orgânico). Acredito que poderíamos fazer algo um pouco mais avançado, como deixar um espaço exclusivo para cada material. Outra questão é que o pessoal não faz a devida limpeza na embalagem antes de descartá-la. Se isso não for feito, o material acaba perdendo valor e, em alguns casos, nem pode ser reciclado”, revela.
Como exemplo a ser seguido, a jornalista cita o caso da Alemanha, do Canadá e dos Estados Unidos. “A Alemanha é considerada o País mais avançado no que tange à coleta seletiva e à reciclagem. Canadá, embora conte com uma população bem menor que a do Brasil, também obtém ótimos resultados, assim como os Estados Unidos que, mesmo sendo um país extremamente consumista, faz um bom trabalho”, comenta.
Para Lima, porém, tão importante quanto a ideia de seleção do lixo e reciclagem é a de conscientizar a população para evitar o consumo exagerado dos produtos. “Um detalhe que constatei é o de que não existem campanhas para orientar as pessoas para frear o consumo e, principalmente, aumentar a vida útil de aparelhos eletrônicos, em especial celulares e computadores, que são substituídos com muita velocidade, gerando o que se chama de lixo eletrônico. Isso está se tornando um problema ambiental sério, pois possuem componentes tóxicos, como chumbo e cádmio. Por isso, que não dá para dispensá-los como lixo comum, até porque tem muita coisa ali que é reciclável”, alerta.
Assim como o lixo eletrônico, a doutora avisa que outros materiais tóxicos para a natureza podem ser reaproveitados. “Um bom exemplo disso é o óleo de cozinha. Se ele for reciclado, pode se transformar em produtos de limpeza, como sabão. Do contrário, se ele for descartado sem cuidado, vai entupir tubulações e, se cair na rede pluvial, contaminará a água. Pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes, que contém metais pesados, também podem ser reciclados. A exceção fica por conta do lixo hospitalar, que necessita de uma série de cuidados, coleta diferenciada e vai para aterros especiais, e lixo do banheiro, pois o papel higiênico, fralda e absorvente íntimo estão bem contaminadas”, salienta.
ONG da capital trabalha com material eletrônico
Uma organização não-governamental (ONG) de Curitiba vem trabalhando em uma medida interessante para o lixo eletrônico. O Instituto Brasileiro de Ecotecnologia (Biet) vem promovendo ações interdisciplinares de educação ambiental e inserção social por meio da reutilização, reciclagem, destruição e disposição final destes produtos.
De acordo com o engenheiro civil e presidente do conselho administrativo do Biet, Maurício Beltrão Fraletti, o instituto surgiu de outro projeto seu, a Robótica sem Mistério, no ano de 2003.
“Comecei a receber bastante ofertas do que eu chamo de e-lixo quando foi criada a Robótica sem Mistério. Por ter ciência de que é um problema sério e de não me conformar em ver tais materiais em aterros sanitários, passei a usar as peças na robótica e assim nasceu o Biet. Desde então, fizemos diversas parcerias com governos estadual e municipal, iniciativa privada e a sociedade como um todo. Recentemente recebemos materiais vindos da Cargil, Bosch e da Ordem dos Advogados do Brasil seção Paraná (OAB-PR)”, conta.
O Biet conta com um centro no bairro Sítio Cercado e outros municípios já demonstraram interesse em abrir estes espaços. “Recebemos convites para levar o projeto para Colombo, São José dos Pinhais, Campo Largo e Araucária (todos na Região Metropolitana de Curitiba RMC). Vamos abrir um centro em uma escola pública de Ponta Grossa (Campos Gerais) e realizamos oficinas pelo Estado por meio do programa Paraná em Ação”, diz Fraletti.
A ação do Biet consiste em receber o e-lixo, testar os equipamentos, um a um, e o que funcionar é separado e o que está estragado é desmontado. “O que ainda puder ser utilizado, nós utilizamos no nosso centro e doamos para alguma outra instituição, mas com o compromisso de devolução após o produto não ter mais funcionamento. Por exemplo, um monitor queimou de vez. A gente pega o que estragou e substitui por outro que pode ser utilizado. O material inutilizado será reciclado e vai ser destinado para as oficinas de robóticas e para a confecção de novos produtos”, salienta.
A única coisa que falta para a ONG é o de conseguir fazer a reciclagem total dos computadores, conforme conta o presidente do Biet. “Estamos buscando ajuda nas universidades para descobrir como resolver a questão que envolve os metais pesados nos computadores”, afirma.
Para doar um equipamento eletrônico para o Biet, é preciso agendar antes. Os telefones de contato são (41) 3289-8856 e (41) 9932-0168 ou pelo e-mail falecom@biet.org.br. Mais informações da ONG pelo site www.biet.org.br.
Programa
Não são apenas plásticos, metais e papéis que vão para o programa de reciclagem da Prefeitura de Curitiba. Segundo a gerente de limpeza do Departamento de Limpeza Público, Gisele Martins dos Anjos, o lixo eletrônico e o tóxico também são recolhidos.
A gerente diz ainda que no caso dos eletro-eletrônicos, a reciclagem não é feita pela prefeitura. “É feito apenas uma pré-triagem dos materiais e as peças são leiloadas para empresas que trabalham com esse tipo de reciclagem”, avisa.
Paraná aplica há sete anos a responsabilidade solidária
O governo do Paraná, por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), vem aplicando há sete anos a Lei Federal número 6938/81 que, entre outras coisas, aborda a questão da responsabilidade solidária. O que seria isso? Significa que a empresa cuja logomarca da embalagem está presente num determinado produto é responsável pelo destino final do mesmo.
O coordenador de resíduos sólidos da Sema, Laerty Dudas, diz que para que a lei funcione plenamente, é necessário uma mudança nos hábitos da população. “Vamos tomar como exemplo a questão dos computadores. Estamos sempre conversando com as empresas e elas não se negam a fazer a chamada logística inversa (que vai do consumidor até o fabricante). Entretanto, elas pedem a nota fiscal da mercadoria. Infelizmente, não temos esse hábito de guardar notas fiscais, que é fundamental para que o fabricante descaracterize o produto ao receber”.
No caso das lâmpadas fluorescentes, o diálogo vem sendo mais extenso, conforme explica o coordenador. “Antes eles não queriam nem saber de dar o destino do produto após o seu uso. Hoje já há um canal de diálogo.
Já existe uma lei estadual que informa que a responsabilidade de recolher a lâmpada após o uso é de responsabilidade do fabricante ou do importador”, informa.
Dudas conta que foi conversado com a Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux) e com a Associação Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminação (Abilumi) para que encontrem uma solução para este problema. “Em abril deste ano, foi feita uma reunião dos municípios que mais geram resíduos no Paraná, chamados de G-22.
Eles têm um passivo de 260 mil lâmpadas estocadas, o que é um agravante, pois trata-se de um material que contém mercúrio, tóxico para o ser humano. A Abilux ficou de retirar esse passivo ambiental e dar um fim a ele. A Abilumi recebeu um prazo final até o dia 30 de junho deste ano, para apresentar um projeto para solucionar este impasse”, conta.
Flávio Laginski
fonte: http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news
No Brasil, a primeira experiência do gênero aconteceu na cidade de Niterói (RJ), em 1985. Entre as capitais, Curitiba foi a pioneira, implantando, com sucesso, o Programa Lixo que não é lixo, em 1989.
De acordo com a jornalista e doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Myrian Del Vecchio de Lima, a ideia politicamente correta acabou sensibilizando a população, fazendo com que a iniciativa desse resultado.
“A campanha do Lixo que não é lixo foi bem interessante. Trata-se de um “case’ histórico que despertou nas pessoas a consciência para a preservação do meio ambiente”, relata.
Vinte e um anos depois do projeto, a manutenção deste trabalho ainda continua firme na capital. Contudo, a doutora acredita que a cidade poderia ter avançado muito mais neste processo.
“A gente faz mais a parte simples, que é separar o lixo seco (reciclável) do molhado (orgânico). Acredito que poderíamos fazer algo um pouco mais avançado, como deixar um espaço exclusivo para cada material. Outra questão é que o pessoal não faz a devida limpeza na embalagem antes de descartá-la. Se isso não for feito, o material acaba perdendo valor e, em alguns casos, nem pode ser reciclado”, revela.
Como exemplo a ser seguido, a jornalista cita o caso da Alemanha, do Canadá e dos Estados Unidos. “A Alemanha é considerada o País mais avançado no que tange à coleta seletiva e à reciclagem. Canadá, embora conte com uma população bem menor que a do Brasil, também obtém ótimos resultados, assim como os Estados Unidos que, mesmo sendo um país extremamente consumista, faz um bom trabalho”, comenta.
Para Lima, porém, tão importante quanto a ideia de seleção do lixo e reciclagem é a de conscientizar a população para evitar o consumo exagerado dos produtos. “Um detalhe que constatei é o de que não existem campanhas para orientar as pessoas para frear o consumo e, principalmente, aumentar a vida útil de aparelhos eletrônicos, em especial celulares e computadores, que são substituídos com muita velocidade, gerando o que se chama de lixo eletrônico. Isso está se tornando um problema ambiental sério, pois possuem componentes tóxicos, como chumbo e cádmio. Por isso, que não dá para dispensá-los como lixo comum, até porque tem muita coisa ali que é reciclável”, alerta.
Assim como o lixo eletrônico, a doutora avisa que outros materiais tóxicos para a natureza podem ser reaproveitados. “Um bom exemplo disso é o óleo de cozinha. Se ele for reciclado, pode se transformar em produtos de limpeza, como sabão. Do contrário, se ele for descartado sem cuidado, vai entupir tubulações e, se cair na rede pluvial, contaminará a água. Pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes, que contém metais pesados, também podem ser reciclados. A exceção fica por conta do lixo hospitalar, que necessita de uma série de cuidados, coleta diferenciada e vai para aterros especiais, e lixo do banheiro, pois o papel higiênico, fralda e absorvente íntimo estão bem contaminadas”, salienta.
ONG da capital trabalha com material eletrônico
Uma organização não-governamental (ONG) de Curitiba vem trabalhando em uma medida interessante para o lixo eletrônico. O Instituto Brasileiro de Ecotecnologia (Biet) vem promovendo ações interdisciplinares de educação ambiental e inserção social por meio da reutilização, reciclagem, destruição e disposição final destes produtos.
De acordo com o engenheiro civil e presidente do conselho administrativo do Biet, Maurício Beltrão Fraletti, o instituto surgiu de outro projeto seu, a Robótica sem Mistério, no ano de 2003.
“Comecei a receber bastante ofertas do que eu chamo de e-lixo quando foi criada a Robótica sem Mistério. Por ter ciência de que é um problema sério e de não me conformar em ver tais materiais em aterros sanitários, passei a usar as peças na robótica e assim nasceu o Biet. Desde então, fizemos diversas parcerias com governos estadual e municipal, iniciativa privada e a sociedade como um todo. Recentemente recebemos materiais vindos da Cargil, Bosch e da Ordem dos Advogados do Brasil seção Paraná (OAB-PR)”, conta.
O Biet conta com um centro no bairro Sítio Cercado e outros municípios já demonstraram interesse em abrir estes espaços. “Recebemos convites para levar o projeto para Colombo, São José dos Pinhais, Campo Largo e Araucária (todos na Região Metropolitana de Curitiba RMC). Vamos abrir um centro em uma escola pública de Ponta Grossa (Campos Gerais) e realizamos oficinas pelo Estado por meio do programa Paraná em Ação”, diz Fraletti.
A ação do Biet consiste em receber o e-lixo, testar os equipamentos, um a um, e o que funcionar é separado e o que está estragado é desmontado. “O que ainda puder ser utilizado, nós utilizamos no nosso centro e doamos para alguma outra instituição, mas com o compromisso de devolução após o produto não ter mais funcionamento. Por exemplo, um monitor queimou de vez. A gente pega o que estragou e substitui por outro que pode ser utilizado. O material inutilizado será reciclado e vai ser destinado para as oficinas de robóticas e para a confecção de novos produtos”, salienta.
A única coisa que falta para a ONG é o de conseguir fazer a reciclagem total dos computadores, conforme conta o presidente do Biet. “Estamos buscando ajuda nas universidades para descobrir como resolver a questão que envolve os metais pesados nos computadores”, afirma.
Para doar um equipamento eletrônico para o Biet, é preciso agendar antes. Os telefones de contato são (41) 3289-8856 e (41) 9932-0168 ou pelo e-mail falecom@biet.org.br. Mais informações da ONG pelo site www.biet.org.br.
Programa
Não são apenas plásticos, metais e papéis que vão para o programa de reciclagem da Prefeitura de Curitiba. Segundo a gerente de limpeza do Departamento de Limpeza Público, Gisele Martins dos Anjos, o lixo eletrônico e o tóxico também são recolhidos.
A gerente diz ainda que no caso dos eletro-eletrônicos, a reciclagem não é feita pela prefeitura. “É feito apenas uma pré-triagem dos materiais e as peças são leiloadas para empresas que trabalham com esse tipo de reciclagem”, avisa.
Paraná aplica há sete anos a responsabilidade solidária
O governo do Paraná, por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), vem aplicando há sete anos a Lei Federal número 6938/81 que, entre outras coisas, aborda a questão da responsabilidade solidária. O que seria isso? Significa que a empresa cuja logomarca da embalagem está presente num determinado produto é responsável pelo destino final do mesmo.
O coordenador de resíduos sólidos da Sema, Laerty Dudas, diz que para que a lei funcione plenamente, é necessário uma mudança nos hábitos da população. “Vamos tomar como exemplo a questão dos computadores. Estamos sempre conversando com as empresas e elas não se negam a fazer a chamada logística inversa (que vai do consumidor até o fabricante). Entretanto, elas pedem a nota fiscal da mercadoria. Infelizmente, não temos esse hábito de guardar notas fiscais, que é fundamental para que o fabricante descaracterize o produto ao receber”.
No caso das lâmpadas fluorescentes, o diálogo vem sendo mais extenso, conforme explica o coordenador. “Antes eles não queriam nem saber de dar o destino do produto após o seu uso. Hoje já há um canal de diálogo.
Já existe uma lei estadual que informa que a responsabilidade de recolher a lâmpada após o uso é de responsabilidade do fabricante ou do importador”, informa.
Dudas conta que foi conversado com a Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux) e com a Associação Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminação (Abilumi) para que encontrem uma solução para este problema. “Em abril deste ano, foi feita uma reunião dos municípios que mais geram resíduos no Paraná, chamados de G-22.
Eles têm um passivo de 260 mil lâmpadas estocadas, o que é um agravante, pois trata-se de um material que contém mercúrio, tóxico para o ser humano. A Abilux ficou de retirar esse passivo ambiental e dar um fim a ele. A Abilumi recebeu um prazo final até o dia 30 de junho deste ano, para apresentar um projeto para solucionar este impasse”, conta.
Flávio Laginski
fonte: http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news
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