segunda-feira, 21 de abril de 2014
A lua e o tempo; Tratado de história das religiões
"O Sol permanece sempre igual, sem qualquer espécie de
'devir'. A Lua, em contrapartida, é um astro que cresce, decresce e desaparece,
um astro cuja vida está submetida à lei universal do devir, do nascimento e da
morte. Como o homem, a Lua tem uma 'história' patética, porque a sua
decrepitude, como a daquele, termina na morte. Durante três noites o céu
estrelado fica sem lua. Mas esta 'morte' é seguida de um renascimento: a 'lua
nova'. O desaparecimento da Lua na obscuridade , na 'morte', nunca é
definitivo. Segundo um hino babilônico dirigido a Sin, a Lua é 'um fruto que
cresce por si mesmo'. Ela renasce da sua própria substância, em virtude do seu
próprio destino.
"Este eterno retorno às suas formas iniciais, esta
periodicidade sem fim fazem com que a Lua seja, por excelência, o astro dos
ritmos da vida. Não é, pois, de surpreender que ela controle todos os planos
cósmicos regidos pela lei do devir cíclico: águas, chuva, vegetação,
fertilidade. As fases da Lua revelaram ao homem o tempo concreto, distinto do
tempo astronômico, que só posteriormente foi descoberto. O sentido e as
virtudes mágicas das fases da Lua eram já definitivamente conhecidos na época
glaciária. Encontramos o simbolismo da espiral, da serpente e do raio -
derivados todos da intuição da Lua considerada como norma da mudança rítimica e
da fertilidade - nas culturas da região glaciária da Sibéria. O tempo concreto
era, sem dúvida, medido por meio das fases da Lua. E, ainda nos nossos dias,
certos povos nômades que vivem da caça e da recolecção (Jaeger-und Sam mlervölker)
só utilizam o calendário lunar. A mais antiga raiz indo-ariana relativa aos aos
astros é a que designa a Lua: é a raiz me, em sânscrito mâmi, 'eu meço'. A Lua
é o instrumento de medida universal. Toda a terminologia relativa à Lua nas
línguas indo-europeias deriva desta raiz: mâs (sânscrito), mâh (avéstico), mah
(velho prussiano), menu (lituano), mêna (gótico), méne (grego), mensis (latim).
Os germanos mediam o tempo segundo a noite. Vestígios desta medida arcaica
encontram-se ainda nas tradições populares europeias: certas festas são
celebradas de noite, como por exemplo, a noite Natal, de Páscoa, de
Pentecostes, de S. João, etc.",
-----Mircea Eliade,
AQUELE OUTRO
Mário de Sá-Carneiro
O dúbio mascarado, o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito;
O Rei-lua postiço, o falso atónito;
Bem no fundo, o cobarde rigoroso...
Em vez de Pajem, bobo presunçoso.
Sua alma de neve, asco dum vómito...
Seu ânimo, cantado como indómito,
Um lacaio invertido e pressuroso...
O sem nervos nem ânsia, o papa-açorda...
(Seu coração talvez movido a corda...)
Apesar de seus berros ao Ideal.
O corrido, o raimoso, o desleal,
O balofo arrotando Império astral,
O mago sem condão, o Esfinge gorda...
A PÁSCOA E OS HOMENS
Carlos Heitor Cony
Nos domingos de Páscoa, como o de hoje, lá no seminário onde
estudei, acordávamos com o coro da “Cavalleria Rusticana”, “Inneggiamo il
Signore è risorto”, um dos mais famosos da lírica de todos os tempos. No rude
cenário de uma aldeia siciliana, o povo se reúne e louva o Senhor, que subiu à
glória do céu. Mal termina o coro pascal, num duelo por causa de mulher, um
homem mata outro.
Não é por falta de exemplos e melodias que a humanidade,
desde Caim, segundo a Bíblia dos judeus e cristãos, convive com a violência e
os baixos instintos, como o ciúme, a cobiça e a inveja. Os momentos de glória
passam depressa e depressa são esquecidos.
Santo Agostinho, falando sobre as prostitutas, e em parte as
absolvendo, dizia que elas sofriam a “nostalgia da virtude”. Creio que também
exista uma nostalgia do vício. Não podemos passar sem um vilão, um demônio no
qual podemos descarregar nossas culpas por causa da perdida inocência.
Deixando de lado outras considerações, vamos aos fatos de
nosso cotidiano, que também pode ser considerado rústico como a ópera de
Mascagni, baseada em peça de Giovanni Verga.
Inútil arrolar os vilões, o assassino nos Estados Unidos que
sem mais nem menos invade escolas e mata jovens alunos. Em termos prosaicos,
aqui no Brasil não podemos passar sem um vilão público, seja Ricardo Teixeira,
seja Carlos Cachoeira.
Isso sem falar no satã da vez, um senador que atuava como um
Catão, denunciando e cobrando moralidade na vida pública.
O que tem a Páscoa com nossas misérias? Somos diariamente
açoitados e crucificados. “Ecce homo”, num vastíssimo plural: eis os homens!
Mesmo assim, e apesar das evidências em contrário, pensamos que um dia
poderemos subir à glória do céu.
Ovos de páscoa decorados
A respeito das grafias e pronúncias diferentes dos ovos de
Páscoa decorados por descendentes de polacos e ucranianos, no Paraná,
necessário esclarecer que:
PISANKA é um ovo de galinha (em geral) decorado, ou escrito
(como no verbo polaco).
Em idioma polaco, a palavra Pisanka tem origem no verbo
PISAĆ (pronuncia-se píssatch), ou ESCREVER em português.
PISANKA, pronuncia-se piSSÁNca, no singular, e como palavra
paroxítona, ou seja, a sílaba forte, é a penúltima.
No plural, atendendo as regras da declinação gramatical fica
PISANKI (pronuncia-se piSSÁnqui). Como a tradição destes ovos decorados é comum
aos povos eslavos, em ucraniano (ruteno) a pronúncia do verbo e do objeto
decorado, diferem um pouco: PYSANKA, ou em alfabeto cirílico: писанка (no
singular) e PYSANKY no plural.
A troca das letras I no polaco pelo Y no ucraniano produz
também uma pequena diferença de pronúncia, enquanto o I é marcadamente um I
tônico (como em português), o Y assume uma pronúncia entre os sons de I e E
(tanto em polaco, como em ucraniano). Em português pela dificuldade de se
pronunciar esse som, transforma-se este Y eslavo em som de E em português.
Enquanto, a comunidade ucraniana no Paraná grafou, em
português, a pronúncia ucraniana, deslocando a sílaba forte para a
antepenúltima, o PYSANKA, ficou sendo PÊSSANKA, ou seja, no singular... e
acrescentou o S de português para o plural PÊSSANKAS, embora o plural em
ucraniano seja Pysanky, o que daria uma pronúncia de PÊSSANKÊ.
Já a comunidade polaca do Paraná, mantém a pronúncia e a
grafia polaca para os mesmos ovos decorados em português, ou seja, PISANKA (com
pronúncia de piSSÁNca no singular), e PISANKI, no plural. Ou seja, a grande
diferença de PÊSSANKAS para PISANKI no Paraná é apenas uma questão de
diferenças idiomáticas, entre polaco e ucraniano.
Pois como estes ovos decorados, de origem pagã, são comuns
aos povos eslavos, eles assumem grafias e pronúncias diferentes, mas ainda
assim, muito próximas. Para os bielorrussos é пісанка, ou pisanka; para os
búlgaros é писано яйце, ou pisano yaytse; para os croatas pisanica
(pronuncia-se pissanitssa); para os tchecos, kraslice (pronuncia-se
craslitsse); para os russos расписанное яйцо, ou "rаspisannoe
yaitsо"; para os sérvios pisanica (pronuncia-se pissanitssa), para os
eslovacos, kraslica (pronuncia-se craslitssa); para os eslovenos, pisanica,
pirhi ou remenke) e para os sorábios (povo eslavo de origem luzaciana que vive
na Alemanha), jejka pisać (pronuncia-se ieica pissatch). E até para os
húngaros, lituanos e romenos que não são eslavos, a tradição denomina os ovos,
em húngaro como hímestojás, em lituano como margutis e em romeno como ouă
vopsite, incondeiate orimpistrite.
Para saber mais sobre os símbolos e desenhos nos ovos
decorados eslavos de Páscoa leia no meu blog: http://iarochinski.blogspot.com.br/2013/03/pisanki-cia-simbolos-polacos-de-pascoa.html
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