segunda-feira, 25 de julho de 2016

Teoría de la acción comunicativa I

JÜRGEN HABERMAS. 

Enlace: http://www.olimon.org/…/habermas-teoria-de-la-accion-comuni…

Habermas propone un modelo que permite analizar la sociedad como dos formas de racionalidad que están en juego simultáneamente: la racionalidad sustantiva del mundo de la vida y la racionalidad formal del sistema, pero donde el mundo de la vida representa una perspectiva interna como el punto de vista de los sujetos que actúan sobre la sociedad, mientras que el Sistema representa la perspectiva externa, como la estructura sistémica (la racionalidad técnica, burocratizada-weberiana, de las instituciones).
Habermas estudia a la sociedad como un conglomerado de sistemas complejos, estructurados, donde el actor desaparece transformado en procesos (sistema-racional-burocrático), y por otro lado, también incluye el análisis sociológico que da primacía al actor, como creador. Habermas en Teoría de la Acción Comunicativa, refiere que al elegir un determinado concepto sociológico de acción, nos comprometemos con determinadas presuposiciones ontológicas.


A piedade



Roberto Piva

Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento

abatido na extrema paliçada

os professores falavam da vontade de dominar e da

luta pela vida

as senhoras católicas são piedosas

os comunistas são piedosos

os comerciantes são piedosos

só eu não sou piedoso

se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria

aos sábados à noite

eu seria um bom filho meus colegas me chamariam

cu-de-ferro e me fariam perguntas: por que navio

boia? por que prego afunda?

eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as

estátuas de fortes dentaduras

iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos

pederastas ou barbudos

eu me universalizaria no senso comum e eles diriam

que tenho todas as virtudes

eu não sou piedoso

eu nunca poderei ser piedoso

meus olhos retinem e tingem-se de verde

Os arranha-céus de carniça se decompõem nos pavimentos

os adolescentes nas escolas bufam como cadelas asfixiadas

arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através


dos meus sonhos

A origem



Konstantínos Kaváfis

Consumara-se o prazer ilícito.

Ergueram-se ambos do catre humilde.

À pressa se vestiram, sem falar.

Saíram separados, furtivamente;

e, ao caminhar inquietos pela rua,

como que receavam que algo neles traísse

em que espécie de amor há pouco se deitavam.

Mas quanto assim ganhou a vida do poeta!

Amanhã, depois, anos depois, serão

escritos os versos de que é esta a origem.

(tradução de Jorge de Sena)


[Com vinho, dizendo que é vinho, enche-me a taça]


Abū Nuwās al-Ḥasan ibn Hānī al-Ḥakamī

Com vinho, dizendo que é vinho, enche-me a taça,

Pois beber furtivamente não há quem me faça.

Pobre e maldito é o tempo em que sóbrio fico,

Mas quando trôpego pelo vinho torno-me rico.

Não escondas por temor o nome do bem-amado;

O prazer verdadeiro nunca deve ser ocultado.

(tradução de Paulo Azevedo Chaves)


Eros



fragmento de Safo de Lesbos

[queima-nos]

#

Poema 99

Caio Valério Catulo

Um selinho mais doce que doce ambrosia,

Juvêncio, te roubei quando brincavas.

Mas não impunemente: pois da cruz mais alta

me vejo, há uma hora ou mais, pendido

pedindo-te perdão, e sem que minhas lágrimas

consigam aplacar a tua ira.

Assim que te beijei, teus dedos delicados

te lavaram o lábio com gotículas,

de modo que do meu no teu não resta nada,

pois julgaste ser mijo, não saliva.

Desde então me castigas com um amor negado,

e de tantas maneiras me excrucias,

que vejo, então, mudado o beijo de ambrosia

em amargor pior que o mesmo amargo;

por um selinho amor assim me castigou:

o que faria, ai, ai, se fossem dois?

(tradução de Érico Nogueira)


Carta a um contemporâneo do outro lado da trincheira



“Porque eu, meu filho, eu só tenho a fome. E esse modo instável
de pegar uma maçã no escuro, sem que ela caia.”
Clarice Lispector, A Maçã no Escuro (1951)

Meu querido amigo, espero que esta o encontre bem, assim como os seus. Quem dera nos víssemos com a mesma frequência que nossos contemporâneos se lançam a polêmicas. Mas as últimas me trouxeram de novo uma questão à mente, algo com o qual não consigo me acostumar, uma coisa estranha que afeta tanto o campo a que dizem que você pertence, a chamada direita, e aquele a que dizem que pertenço, a tal esquerda. Em primeiro lugar, a forma como cada campo sempre escolhe nivelar o outro por baixo, pelos piores exemplos, para facilitar sua vitória argumentativa, que talvez seja sempre pírrica.

Veja por exemplo estas homenagens que pipocaram na Rede pelos nove anos de morte de Bruno Tolentino, que estou certo as merece como qualquer outro intelectual brasileiro que tenha defendido aquilo em que acreditava to the best of his or her abilities. A maneira como o seu campo acusa algumas de nossas preocupações políticas no campo literário como sendo “extra-literárias”, não tendo nada a ver com poesia de fato e, no entanto, não consegue deixar de apelar sempre a valores morais para celebrar seus heróis. Li vários apelos ao “projeto civilizatório” de Tolentino, com elogios morais a sua pessoa, e asserções sobre sua obra sem muita análise literária. São os valores que o guiaram que parecem contar.

Estou certo que é muito possível que Bruno Tolentino venha ainda a ocupar seu espaço. Obviamente já o ocupa, se tantos o elogiam e o reivindicam como influência. Mas o que parece estar em jogo, como sempre, é uma questão de hegemonia ideológica. É claro que vocês jamais veriam desta forma, já que “ideologia” é a sempre a doença do campo adversário.

Nem Shakespeare nem Balzac impediram o projeto colonizador genocida da Grã-Bretanha e da França. É óbvio que seria uma estultícia esperar isso deles. Mas é o que estes clamores civilizatórios muitas vezes parecem implicar. Ah, se ao menos lêssemos mais Shakespeare e Balzac, seríamos então mais civilizados! Estes gritos “contra a barbárie contemporânea”. A barbárie sempre esteve entre nós, muitas vezes, talvez a maioria, liderada pelos bem-pensantes. Como nas páginas de Jean Améry, quando ele escreve:

“… uma pequena pressão da mão que controla o aparelho é suficiente para transformar a outra – junto com sua cabeça, na qual talvez estejam arquivados Kant e Hegel, e todas as nove sinfonias, e O Mundo como Vontade e Representação – num leitão guinchante no matadouro.”

popol vuhSe nosso projeto, sendo honestos, é “civilizatório” (ainda que Machado de Assis e Clarice Lispector, cada qual a sua maneira, já nos tenham alertado contra tal ilusão), não seria muito mais efetivo tentar, sem abrir mão de Shakespeare e Balzac, também uma abertura ao Outro, a outros projetos de civilização, dos poetas chineses da Dinastia Tang aos griots africanos, das cosmogonias ameríndias aos grandes poemas escondidos de nós em línguas não oficiais? E, se mencionamos os chineses, não nos significará um enriquecimento das possibilidades do minimalismo, conhecer tanto os haikais clássicos dos chineses quanto os landays anônimos das mulheres afegãs, uma tradição viva ainda hoje? Não só A Odisseia, mas também o Popol Vuh? Não apenas os grandes homens brancos, mas também as grandes mulheres brancas e negras? Homossexuais como Kaváfis, Villaurrutia e Pasolini, para quem a sexualidade era central em seus projetos líricos? Reconhecermos que nós mesmos vivemos em uma terra de culturas milenares, que tem muito mais línguas e tradições que apenas a lusófona? O que há de tão bárbaro nesta reivindicação?

Por fim, nossa lealdade está com a poesia ou com o cânone? Até quando vão confundir os dois? E que fetiche é este por um Ocidente imaginário, que tem tanto sangue manchando as mãos, escondidas sob as luvas? Um Ocidente que causou tanta destruição em nossa própria terra? Já não deveríamos saber muito bem a que nos levou o projeto civilizatório do Ocidente?

A última coisa que quero nestes dias é me entregar a polemicazinhas de machos-alfa que não conseguem sair da rinha e do ringue, feito os velhinhos Ferreira Gullar e Augusto de Campos, constrangendo-se em público. Mas, ou somos todos um pouco mais honestos sobre a maneira como nossas ideologias e conflituosos projetos civilizatórios guiam nossas leituras e nossa escrita, ou essas discussões todas serão sempre tingidas de desonestidade.

E, pois bem, se minha recusa do projeto civilizatório tal qual vem sendo praticado no Ocidente pelos últimos 600 anos – digamos desde 1348, data da Grande Praga que dizem ter destruído a cultura trovadoresca–, não tenho o menor problema com que chamem o meu projeto e minha ideologia de anti-civilizatória.

Por fim, talvez desconexo disso tudo, mas nem tanto, me despeço de meu grande amigo, querido contemporâneo exato, por quem nutro a admiração que você por sua vez nutre por Bruno Tolentino, recomendando a você e aos seus a leitura de Os Anéis de Saturno, de W.G. Sebald, outro que nos alerta sobre nossas ilusões civilizatórias.

Com o abraço fraterno e leal, sabendo que poderei esconder-me em sua casa quando vier a Guerra Civil, tal qual Federico García Lorca escondeu-se na de Luis Rosales,

teu Ricardo.


Contra Capa. Deutsche Welle

O campo minado da língua alemã



Na semana passada, em conversa ao telefone com a romancista e poeta alemã Odile Kennel, com quem tenho a sorte de contar como tradutora, ela soltou a frase: “A língua alemã é um campo minado.” Estávamos discutindo sua tradução para o alemão de um artigo meu, escrito em português e que sairia em um jornal alemão, no qual fui convidado a falar sobre poesia e política. Tentávamos encontrar uma maneira de contornar as implicações nada salutares, em alemão, para uma palavra tão simples em suas implicações em português: “comunidade”. Se usássemos Gemeinde, caía-se em território da religião. Já Gemeinschaft poderia ecoar conceitos manchados pelo nazismo. Acabamos usando Gemeinwesen, por sugestão de Rainer Moehl, que no entanto tem um caráter mais abstrato do que comunidade em português. Escrever em português tendo que prever possíveis problemas de implicação política em alemão é enlouquecedor.

Richard-Pekrun
Léxico sobre o idioma alemão “Das Deutsche Wort”, de Richard Pekrun

Pense em dois exemplos: ao discutirmos política em português é comum que palavras como “terra” e “povo” sejam invocadas. Em alemão, estas palavras estão talvez indelevelmente manchadas pela ideologia nazista. Há ainda outras questões, de contexto histórico. Certa vez, conversando com um amigo alemão, ele ficou furioso que eu defendesse um maior “isolacionismo” norte-americano. Não demorou para que eu percebesse que a escolha desta palavra tinha implicações completamente diferentes para ele, alemão, do que tinha para mim, brasileiro. Para um alemão, o isolacionismo havia significado a entrada tardia dos Estados Unidos na Segunda Guerra, e uma maior demora possível na derrota nazista. Portanto, uma ideia de “intervencionismo” americano, para um alemão, evoca majoritariamente aspectos políticos positivos. Significa a derrota de Hitler e traz à mente imagens como a da ponte aérea de alimentos que abasteceu a Berlim Ocidental durante o bloqueio soviético. Para um brasileiro ou latino-americano de onde ditaduras sangrentas haviam sido instaladas com a ajuda dos Estados Unidos, este intervencionismo tem praticamente apenas implicações negativas.

Estas preocupações são claras e constantes para escritores alemães. Há os que trabalham justamente nesta linha fina. Ler W.G. Sebald em alemão é muito diferente de o ler em qualquer outra tradução, por excelente que seja, porque este trabalho dentro da língua, o de implicações, só pode ser compreendido em alemão e por alemães. Em seu livro Jubeljahre, o jovem poeta berlinense Max Czollek voltou a uma ideia de desnazificação da língua em alguns dos poemas, trazendo especificamente algumas destas palavras manchadas, propositalmente, para o corpo do texto. Este é talvez um dos últimos estágios na apredizagem de uma língua: a de perceber estes meandros sutis. Requer um conhecimento amplo não apenas da História do país, mas dos textos e da linguagem que formam esta História. Há 14 anos em Berlim, apenas nos últimos anos estas sutilezas começaram a ficar mais claras para mim. A língua alemã segue sendo, por ora, um campo minado.


Contra Capa. Deutsche Welle
"Estabelecei a crítica, mas a crítica fecunda, e não a estéril, que nos aborrece e nos mata, que não reflete nem discute, que abate por capricho ou levanta por vaidade; estabelecei a crítica pensadora, sincera, perseverante, elevada - será esse o meio de reerguer os ânimos, promover os estímulos, guiar os estreantes, corrigir os talentos feitos; condenai o ódio, a camaradagem e a indiferença — essas três chagas da crítica de hoje; ponde, em lugar deles, a sinceridade, a solicitude e a justiça — e só assim que teremos uma grande literatura."
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- Machado de Assis, em "Diário do Rio de Janeiro" 8 out.1865.
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Leia mais: http://goo.gl/WzWHFt

Uma semana de rememorações – e do Prêmio Camões a Raduan Nassar




Esta foi uma semana de rememorações, de trabalho de memória coletiva. Os 40 anos do suicídio de Dora Lara Barcelos em Berlim no dia 01/06. O aniversário de Ana Cristina Cesar no dia 2, quando teria completada 64 anos, o que gerou algumas tenativas de releitura de seu legado nas redes sociais. Mas houve também um motivo de comemoração, ainda que tampouco unânime. Na segunda-feira, foi anunciado que o Prêmio Camões 2016 vai para Raduan Nassar, brasileiro de Pindorama, estado de São Paulo, nascido em 1935. Um dos autores brasileiros mais celebrados dos últimos 20 anos, seus dois principais livros (ele publicou apenas 3), Lavoura Arcaica (1975) e Um copo de cólera (1978), já foram transformados em filmes – a filmagem de Lavoura Arcaica por Luiz Fernando Carvalho, em 2001, foi amplamente premiada–, e recentemente traduzidos para o inglês e editados na coleção Modern Classics da Penguin, unindo-se por lá aos brasileiros Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade. Ancient Tillage é o título da tradução de Karen Sotelino para o primeiro livro, e A cup of rage, o da tradução de Stefan Tobler para o segundo.

Criado em 1988 pelos Governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões já foi dado a autores brasileiros como João Cabral de Melo Neto (o primeiro a um brasileiro, em 1990), Jorge Amado (1994), Lygia Fagundes Telles (2005) e Dalton Trevisan (2012). Time de pesos pesados. Entre os portugueses, Miguel Torga recebeu o da primeira edição, em 1989, assim como José Saramago (1995), Maria Velho da Costa (2002) e, no ano passado, Hélia Correia. Brasileiros e portugueses foram premiados na maior parte das edições, mas o prêmio ajudou a trazer-nos notícias de alguns importantes escritores da África lusófona, como o moçambicano José Craveirinha (1991), o angolano Pepetela (1997) e o cabo-verdiano Arménio Vieira (2009).

É o prêmio mais importante da língua. O que faz a importância de um prêmio não é o valor monetário, a imprensa, ou algo que o valha. O que faz a importância de um prêmio é justamente a importância inquestionável dos que o recebem. Não é o prêmio que traz prestígio ao autor, mas o autor que traz prestígio ao prêmio. Neste aspecto, pode-se dizer, sim, que o Camões é o mais importante da língua. Desde sua criação, o prêmio tem sido consistente – se comparado aos fiascos recentes do Prêmio Jabuti no Brasil – e foi dado em vários anos a verdadeiros grandes escritores (com uma única exceção, em minha opinião, cujo nome não vem ao caso).

No entanto, é preciso dizer algo. Há pouco tempo, discutia nas redes sociais com o poeta e crítico Eduardo Sterzi como é absurdo, por exemplo, que um poeta português como Manuel António Pina (1943-2012), galardoado com o prêmio em 2011, jamais tenha sido propriamente editado no Brasil. Não sei qual é a situação editorial de Raduan Nassar em Portugal, Moçambique ou Angola. Mas, em vez de pelejarmos por nossas discórdias ortográficas, não seria muito mais efetivo para unir os lusófonos, que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) cuidasse para que ao menos os autores que ganham o Camões fossem editados e distribuídos de forma decente em todos os países de língua portuguesa?

Parabéns ao Raduan Nassar. Aquela cena final de Lavoura Arcaica e alguns dos impropérios trocados pelas personagens de Um copo de cólera jamais me deixarão.


Data sexta-feira 03.06.2016 | 13:53

Contra Capa. Deutsche Welle