domingo, 7 de agosto de 2011

POEMAS SÃO COMO VITRAIS PINTADOS

Poemas são como vitrais pintados !

Se olharmos da praça para a igreja,

Tudo é escuro e sombrio;

E é assim que o Senhor Burguês os vê.

Ficará agastado ? – Que lhe preste !...

E agastado fique toda a vida !





Mas – vamos ! – vinde vós cá para dentro,

Saudai a sagrada capela !

De repente tudo é claro de cores:

Súbito brilham histórias e ornatos;

Sente-se um presságio neste esplendor nobre;

Isto, sim, que é pra vós, filhos de Deus !

Edificai-vos, regalai os olhos !


Johann Wolfgang von Goethe
Tradução: Paulo Quintela

ESCADAS

Escadas de caracol
Sempre
São misteriosas; conturbam...
Quando as desce, a gente
Se desparafusa...
Quando a gente as sobe
Se parafusa
– o peito
estreito –
o teto descendo
Descendo descendo como nas histórias de imortal horror !
Mas de que jeito,
Mas como pode ser.
Morrer cair rolar por uma escada de parafuso ?
Além disso não têm, pelo dizem nenhuma acústica...
Oh ! Não há como as escadarias daqueles antigos
edifícios públicos
Para ser assassinado...
Porém não fiques tão eufórico,
– nem tudo são rosas:
Há,
No sonho das velhas casas de cômodos onde moras,
Passos que vêm subindo degrau por degrau em
direção ao teu quarto
E 'sabes' que é um fantasma chamejante e fosfóreo
– o corpo todo feito de inconsumíveis labaredas verdes !
O melhor
Mesmo
É fechar os olhos
E pensar numa outra coisa...
Pensa, pensa
– o quanto antes !
Naquelas podres escadas de madeira das casas pobres
– escurinho dos teus primeiros aconchegos...
Pensa em cascatas de risos
Escada a baixo
De crianças deixando a escola...
Pensa na escada do poema
Que tu
comigo
vem descendo
agora...
(Hoje em dia todas as escadas são para descer)
Mas não ! Este poema não é
Nenhum
Abrigo
Antiaéreo...
Ah, tu querias que eu te embalasse !?
Eu estava, apenas, explorando uns abismos...
 
Mário Quintana

ARQUITETURA FUNCIONAL

Para Fernando Corona e Antonieta Barone




Não gosto da arquitetura nova
Porque a arquitetura nova não faz casas velhas.
Não gosto das casas novas
Porque as casas novas não têm fantasmas.
E, quando digo fantasmas, não quero dizer essas assombrações vulgares
Que andam por aí...
É não-sei-quê de mais sutil
Nessas velhas, velhas casas,
Como, em nós, a presença invisível da alma... tu nem sabes
A pena que me dão as crianças de hoje !
Vivem desencantadas como uns órfãos:
As suas casas não tem porões nem sótãos,
São umas pobres casas sem mistério.
Como pode nelas vir morar o sonho ?
O sonho é sempre um hospede clandestino e é preciso
(Como bem sabíamos)
Ocultá-lo das visitas
(Que diriam elas, as solenes visitas ?)
É preciso ocultá-lo das outras pessoas da casa.
É preciso ocultá-lo dos confessores,
Dos professores,
Até dos Profetas
(Os Profetas estão sempre profetizando outras cousas...)
E as casa novas não tem ao menos aqueles longos,
intermináveis corredores
Que a lua vinha às vezes assombrar !




Mário Quintana


Fonte: Revista Viver Cidades
Era desejo?-credo!De tísicas ?
Por histeria...quem sabe lá ?
A dama tinha caprichos físicos
era uma estranha vulgívaga
Ao pobre amante que a queria,
se furtava sarcástica
com uns perjurava, com outros fria,
Com outros má.

Manuel Bandeira

Envelhecer

Antes todos os caminhos iam
Agora todos os caminhos vêm
A casa acolhedora, os livros poucos
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.

Mário Quintana

Pudor

A teus dotes qual mais encantador
tu ajuntas, amável criatura
Um para mim de todos o maior,
e que até embeleza a formosura:
o pudor.

Safo
Esta iglesia no tiene campanarios votivos
no tiene candelabros, ni ceras amarillas
no necessita el alma de vitrales ogivos
para besar las hostias y rezar de rodillas.

Pablo Neruda
Eu sou carvão !
e tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina patrão.

José Craveirinha
Graniza tánto, como para que yo recuerde
y acreciente las perlas
que he recogido del hocico mismo
de cada tempestad.

Cezar Vallejo

Sobre a morte

Morrer é um mal.Os deuses
que estabeleceram esta lei morreriam também
se morrer fosse um bem.

Safo

The Wast Land

Deixando atrás de mim a árida planície
terei ao menos minhas terras posto em ordem ?
A ponte de Londres está caindo, caindo, caindo
Pois s'ascose nel foco che gli affina
quando fiam uti chelidom ó andorinha, andorinha
com fragmentos tais foi que escorei minhas ruínas
pois então vos conforto. Jerônimo outra vez enlouqueceu.
Datta.dayadhvam.damyata
shantih shantih shantih

T.S.Eliot