terça-feira, 9 de abril de 2019

GRITO MUDO...





Passo... deixo-te a vez.
Quem sabe teu grito
consiga, modo infinito,
ecoar pelas paredes dos quartos
das casas e das coisas entrincheiradas
em nossos próprios interiores?

A felicidade talvez seja mais vibrante
no exato instante,
em que o nosso senso pensa, modo intenso,
que ela não existe.
E aí o que persiste?
Simplesmente aquela vontade
de mirar as flores multicores,
dos jardins fadados a desaparecer.

Um grito mudo...
uma solidão pernóstica
dando vazão a uma ilógica
vontade de fazer-ser não perceber.

Um grito mudo
que representa o tudo
do imenso nada,
onde a grande maioria
- no que se faz abrumado dia -
sonha, chora e vive...

Josemir Tadeu Souza    

 13 de setembro de 2011 09:41



VIESTE




Vieste qual trovão em noite escura
Iluminando a senda em alto brado
Aonde havia o medo emoldurado
Cenário que deveras nos tortura

Chegaste num rompante e da loucura
Do amor se fez um tempo anunciado
Em glória e pesadelo gozo e enfado
Doçura se inundando em amargura.

Assim ao te sentir tão inconstante
O sonho se desfez no mesmo instante
Em que se torna viva esta saudade

E sendo-te fiel, porém nem tanto
Agora em meio à luz e ao desencanto
Diverso sentimento já me invade.
Marcos Loures

XAMÃ




Meu corpo indizível acordou mais cedo hoje,
querendo fazer o caminho das rosas
apesar de tocar os espinhos....
... Lancei meu olhar à terra em transe
onde jaz matança,extinçao,sêca ...
Amanheci procurando na solidão sem mágoa,
e atraves de minha limitada visão ,
algo que me unisse de volta à origem de tudo....
Aquele que enxerga no escuro
voando em espaçonaves imaginárias
para universos internos,sem mêdo,
aquele que me enfeiçou com seu sonho,
foi ele quem me abriu a porta para a comunicação.
Agora vagueio por bosques internos entregando-me ao ofício
de conhecer outros mundos e ancestrais deleites...
Meus rituais não sao os da pagelança,nem de passagens:
sou aprendiz das trevas e da luz,da troca de palavras e miragens...
Ando buscando contato com os minerais,animais,vegetais
e,apesar de duvidarem da minha sanidade,quero mais!
Procurando unguentos benfazejos que saem de meus porões
e buscam vida numa frágil folha de papel,
virei tambem especialista do invisível.
E,partindo do pressuposto de que na vida nada nos é dado
tudo é aprendido,
busquei no longiquo país do imaginário
nas mandalas de luz
nas rodas de fogo
nos rituais de iniciação
na tristeza e na dor
na paixão,alegria e na contemplação
o elo que me devolverá à natureza.
Suspeito que jamais serei uma xamã,
mas parece que virei poeta...

MARCIA TIGANI_


SETEMBRO 2011


DOR




O olhar marcado
Sobrevoava o horizonte
Abria-se fissuras
De sangue
No coração.
Espinhos atravessavam-se
No peito
Tensão...
O brilho radiante
Do sol já não mais
O invadia
A tristeza, insistia.
Ela, logo ela,
Que via a vida
Com paixão
Descontrolou-se
Emudeceu.
E, num suspiro profundo,
Um sussurro a implorar de coração:
- Cante-me, cante-me
Mais uma vez...
Somente uma vez...
Nossa última canção.

Nara Freitas



Todo poeta é um ser itinerante, ele paira sobre vários estilos, vários galhos, atravessa rios, mares, pontes..seja lá o que for..sempre se encaixa...dá um jeito e se submete...à escrita é claro..a escrita poetizada, poetizante, refinada e claro..BELA! 


Giselle Serejo.

4 de setembro de 2011 12:56

OS SINOS




QUEM
NÃO
TEM
BENS

BEM
NÃO
TEM
NÃO

TEM
NÃO
TEM

NÃO
TEM
NÃO

Waldo Motta   


 27 de agosto de 2011 21:01

CANÇÃO DO MIGRANTE



Tenho saudades da terra onde nasci
Dos seus rios , vales e montanhas
Da minha casa e do meu povo
Do cheiro do cacau e das pedras preciosas

Por terras estranhas estou a vagar
Aqui encontrei meu amor, sofro minhas dores
São quase quatro décadas longe de ti
Guardo na memória cada lembrança do passado

O quê seria de mim, sem suas raízes
O quê será de mim, com tantas saudades
O quê será de ti minha amada Macarani
Sem o retorno de seu filho pródigo

(Manoel Hélio)

DESOBJETO OU A ANTIMATÉRIA





No meio do quintal acima do varal tinha um belo pente,
O pente no quintal se esforçava para não ser belo pehte.
Estava próximo de ser apenas folha dentada for formigas.
Junto com caramujos, todos oa sapos e as suas queridas.
Bactérias e o tempo roeram sua vísceras e esse estrupício.
Mas quem pode afirmar que o pente é um organismo vivo?

Faltrava ao pente coluna vertebral, costelas e uma medula.
Não se poderia dizer que o objeto era um pente ou medusa.
Grampos deram local a cachos de cores meio vede musgo.
Cães e moribundos aproveitavam e mijavam no lusco fusco.
Parecia que o pente perdera sua personalidade e desobjeto.
Nem as carolas sentiam falta de um calafrio, tesão ou afeto.

O poeta destro deparou com a cena e viu o estágio terminal.
O pente nem se quisesse poderia passar como objeto tal.
Já estava incorporado ao universo como partícula, átomo.
Ou então dizem os poetas rio, osso, montanhas, ou lagarto.


Eduardo Ribeiro Toledo             

 20 de agosto de 2011 16:20

Tábula





Falo,
minha arte
comunica

Não quero preencher teus olhos
com místicas magas
mitológicas sereias
belas fadas

Nem quero
formular ritos
de um mosto mortal

Dito o escrito
em lama de vulcão
magma sonoro
terra candente
tal o turbilhão de águas primordiais
que anteviu a geração de tudo pela palavra

Venho romper teus tímpanos
vazar teu solo
encontrar o irrequieto centro
de teu desejo
convocar-te à paz nenhuma

Esta lábia
pronuncitada
baboseiras não baba

Pousa bálsamo versado
de um doce nardo

É verbo retado
transgressor de meus acomodados:
– ah! isso não tem jeito,
é sempre assim mesmo!

Eis meu dote
que dôo com graça

Sou nomeado favo monteiro
rico protetor e guerreiro
noviluminário do oeste

E antes que torne a mim:

– Aleijado, até aqui, não rasteje!

Fabio Freire       

20 de agosto de 2011 13:57