quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

DESPEDIDA


»Mesmo não tendo sido ouvida
É para sempre a despedida »
(N. Mihalkov, paráfrase)

Amigos, a canção chega a seu ponto
final. Adeus. Meu túmulo está pronto.
Poderia ter tido mais talento
ou trabalhado mais. Não deu. Lamento.
Se bem que acontecer desta maneira
seja um azar, admito, embora queira
viver mais, que bastou : não vale a pena
queixar-me de uma vida bela e plena.
Como esmeralda e jaspe no veludo,
meses preciosos ainda são, contudo,
gemas que ofuscam meu olhar contente;
cada aurora e manhã ainda é um presente.
Desfruto o que me resta e, glutão frente
a um gordo steak, roerei enquanto posso

meus derradeiros dias rente ao osso.

GYÖRGY PETRI
Tradução : Nelson Ascher

ESQUEÇA


Não diga que é o fim.
(Fim, afinal, do quê,
se é que tem fim de fato?)
Não diga coisa alguma
-- Algo melhor que não
Dizer coisa com coisa.
Esqueça que viveu
E tudo o que já quis.
Não é mais relevante.
Desacostume-se de ser :
Não viver é melhor.



 GYÖRGY PETRI

Tradução : Nelson Ascher

QUE PENA

  
Que pena morrer justo quando
as coisas vinham melhorando,
mas não faz mal, reunindo em breve
chuva estival, restos de neve,
ramas com cheiro de aguardente
no outono, irei, sem que o lamente,
mesclar-me às folhas, água, argila :
a encosta aguarda-me tranquila ;
quanto ainda falta e estarei junto
de Lilla e Maya é o que pergunto.
(Eu desceria à cova pronta-,
mente, mas quem vai tomar conta
de Mari ou dar-lhe flor, assim
que os vermes nutram-se de mim?)

GYÖRGY PETRI

Trad : Nelson Ascher