No livro 'Um mestre na periferia do capitalismo', Roberto
Schwarz aventa que Brás Cubas, longe de um alter-ego de Machado Assis, é na
verdade um emblema da elite brasileira da época. Os latifundiários
escravagistas mandavam seus filhos estudarem na Europa. De lá, voltavam cheios
de ideias liberais e progressistas. No entanto, ao pensar em mudar as práticas
arcaicas de seus pais, logo se davam conta de que seus privilégios -- entre
eles o de estudar na Europa -- eram frutos justamente dessas práticas arcaicas:
o latifúndio, a monocultura e a exploração da mão-de-obra escrava. Assim,
nossos fazendeiros bacharéis viviam uma esquizofrenia política: cabeça liberal,
pés escravocratas; discurso moderno, práxis arcaica.
Assim é o ministro da Suprema Corte Roberto Barroso. Adora
falar em pacto civilizatório e em criticar os atrasos de nossos costumes
políticos. No entanto, ele mesmo é o melhor exemplo dos herdeiros de Brás
Cubas: na boca, liberalismo de almanaque, porém suas decisões não só reforçam
como ampliam o fosso entre os filhos da Casa Grande e o filhos da Senzala.
Só que Roberto Barroso é ainda pior que Brás Cubas. Como o defunto
autor da obra mestra de Machado Assis, é cheio de um discurso escorregadio,
empolado, pedante, vazio.
Falta-lhe, todavia, o humor e a ironia fina de Brás Cubas.
Nossa elite, infelizmente, não só não evoluiu como ainda piorou.
Saudades do Brás -- ao menos ele era honesto no seu cinismo.
Otto Leopoldo Winck
(Texto de um ano atrás.)