Priscila Merizzio
Na minha idade (27 anos), soa meio condenável socialmente
ser apegada à família. Estes dias escutei de um amigo, mais novo, que a fulana
de tal é dependente da mãe, porque liga para ela quase toda semana pedindo
orientações. A fulana mora em outra cidade, se sustenta, tem vida própria, mas
sempre recorre aos pais. Eu mesma, quando era adolescente, achava que
maturidade era sair de casa e falar pouco com os pais, com os irmãos, cuidando
de si com autonomia e completo desapego (beirando a displicência, na verdade).
Não estou fazendo apologia à dependência desmedida da família, ao parasitismo,
sugação financeira e emocional dos pais. Mas qual é o problema ligar para
conversar com sua madrinha, sobrinho, trocar e-mails com os irmãos? O homem moderno
está com uns conceitos que, de longe, parecem de independência mas são, na
verdade, de indiferença. Minha noção de família está completamente arraigada à
noção de união, camaradagem, compreensão, apoio. Brigas são frequentes, lógico,
como em qualquer relação de extrema convivência. Pra mim, é muito normal, às
vezes, ligar pra minha irmã porque tive um pesadelo muito pesado, desabafando,
ou esperar minha mãe chegar em casa, vestirmos pijamas e assistirmos a um filme
juntas, debaixo das cobertas, comendo pizza e conversando durante o filme. E,
depois, eu dormir na sua cama, como em um acampamento cigano. Minha irmã tem 30
e poucos anos, é casada, mora em outra cidade, é mãe, também. E o mais
engraçado é que, quando meu sobrinho nasceu, ela se aproximou muito mais de
nós, mãe e irmã. Além de ser amorosa e presente a seu marido, filho, cunhados,
nora. Hoje, não há um dia em que não converse com minha mãe. Uma vez, uma
manicure me disse algo, que nunca mais esqueci. Enquanto ela fazia minhas
unhas, comentei que ainda moro com a minha mãe (motivos mil). Falei meio que me
desculpando socialmente por isso, adiantando que eu deveria estar dividindo
apartamento com alguma amiga. E ela me disse: “Minha mãe morreu há 10 anos. Eu
tenho, hoje, quarenta anos. E sinto falta da minha mãe todos os dias. Ela é a
pessoa que mais me faz falta. Que delícia poder morar com sua mãe”. Sou
canceriana. E, além de tudo, um sangue italiano fortíssimo. Aquela manicure tem
razão, sabem? O que levamos, senão o afeto que sentimos pelas pessoas,
especialmente pela família, essa ligação forte e estranha, que nos ensina a
fazer o impossível, por amor?