sábado, 27 de abril de 2013

SOBRE O APEGO À FAMÍLIA.


Priscila Merizzio


Na minha idade (27 anos), soa meio condenável socialmente ser apegada à família. Estes dias escutei de um amigo, mais novo, que a fulana de tal é dependente da mãe, porque liga para ela quase toda semana pedindo orientações. A fulana mora em outra cidade, se sustenta, tem vida própria, mas sempre recorre aos pais. Eu mesma, quando era adolescente, achava que maturidade era sair de casa e falar pouco com os pais, com os irmãos, cuidando de si com autonomia e completo desapego (beirando a displicência, na verdade). Não estou fazendo apologia à dependência desmedida da família, ao parasitismo, sugação financeira e emocional dos pais. Mas qual é o problema ligar para conversar com sua madrinha, sobrinho, trocar e-mails com os irmãos? O homem moderno está com uns conceitos que, de longe, parecem de independência mas são, na verdade, de indiferença. Minha noção de família está completamente arraigada à noção de união, camaradagem, compreensão, apoio. Brigas são frequentes, lógico, como em qualquer relação de extrema convivência. Pra mim, é muito normal, às vezes, ligar pra minha irmã porque tive um pesadelo muito pesado, desabafando, ou esperar minha mãe chegar em casa, vestirmos pijamas e assistirmos a um filme juntas, debaixo das cobertas, comendo pizza e conversando durante o filme. E, depois, eu dormir na sua cama, como em um acampamento cigano. Minha irmã tem 30 e poucos anos, é casada, mora em outra cidade, é mãe, também. E o mais engraçado é que, quando meu sobrinho nasceu, ela se aproximou muito mais de nós, mãe e irmã. Além de ser amorosa e presente a seu marido, filho, cunhados, nora. Hoje, não há um dia em que não converse com minha mãe. Uma vez, uma manicure me disse algo, que nunca mais esqueci. Enquanto ela fazia minhas unhas, comentei que ainda moro com a minha mãe (motivos mil). Falei meio que me desculpando socialmente por isso, adiantando que eu deveria estar dividindo apartamento com alguma amiga. E ela me disse: “Minha mãe morreu há 10 anos. Eu tenho, hoje, quarenta anos. E sinto falta da minha mãe todos os dias. Ela é a pessoa que mais me faz falta. Que delícia poder morar com sua mãe”. Sou canceriana. E, além de tudo, um sangue italiano fortíssimo. Aquela manicure tem razão, sabem? O que levamos, senão o afeto que sentimos pelas pessoas, especialmente pela família, essa ligação forte e estranha, que nos ensina a fazer o impossível, por amor?


O que corrompe: Nos primeiros meses do dominio nacional-socialista / um trabalhador de uma pequena localidade na fronteira checa / foi condenado à prisão por distribuir panfletos comunistas. / Como um de seus cinco filhos havia já morrido de fome / não agradava ao juiz envia-lo para a cadeia por muito tempo. / Perguntou-lhe então se ele não estava talvez / apenas corrompido pela propaganda comunista. / Não sei o que o senhor quer dizer, disse ele, mas meu filho / foi corrompido pela fome.
(Bertold Brecht)

Terrorismo


"Terrorismo é o seguinte: indústrias ocidentais, marcas de renome, empregarem mão de obra praticamente escrava em países como Bangladesh, onde morreram ontem mais de 300 pessoas que trabalhavam na indústria têxtil dessas marcas, que as dondocas e os dondocos vão comprar nos shoppings sem ter ideia de como essas roupas são produzidas. Mas quem vai ocupar durante mais tempo a primeira página dos nossos jornais escrotos? Os 3 americanos mortos ou os 300 bengalis!? Sim, é uma pergunta retórica."

 Marcos Bagno.



 ''A forma inteligente de manter as pessoas passivas e obedientes é limitar estritamente o espectro do que seja uma opinião aceitável , e assim permitir o debate muito vivo dentro desse espectro .... "
-Noam Chomsky

"La façon intelligente de garder les gens passifs et obéissants est de limiter strictement l'éventail des opinions acceptables, mais de permettre un débat très animé au sein de ce spectre - et même de favoriser les avis les plus critiques et les plus dissidents. Cela donne aux gens le sentiment que la libre pensée a cours, alors que tout le temps les présupposés du système sont renforcées par les limites mises sur l'ensemble du débat."
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C'est vrai... Mais je me demande parfois si les manipulateurs ne finissent pas par être eux-mêmes conditionnés par leurs motivations, étant de la sorte poussés (ou obligés) à agir comme ils le font.
De la naissance à leur âge adulte et responsable, n'ont-ils pas été programmés par l'entourage ambiant, pour agir comme ils le font ?
Leur arrivisme ou leur ambition fait partie d'un engrenage dont ils ne sont plus maîtres.
D'une certaine manière, " ils obéissent " à leur formatage.
La liberté existe-t-elle vraiment ?...
Noam Chomsky (citação em francês): "a forma inteligente de manter as pessoas passivas e obedientes é limitar estritamente o espectro da opinião aceitável, mas permitir que muito animada dentro deste espectro - debate e promover ainda mais críticos e mais divergentes opiniões. Isso dá às pessoas a impressão de que o livre de classes de pensamento, enquanto o tempo todo, que os pressupostos do sistema são reforçados por limites impostos em todo o debate." ................................................................................................ É verdade... Mas eu às vezes pergunto se os manipuladores não acabar-se condicionada por suas motivações, sendo então empurrado (ou forçado) a agir como eles fazem. Do nascimento à idade adulta e responsável, será que eles não foram programadas pelo ambiente, agir como eles fazem? Sua carreirismo ou sua ambição faz parte de uma engrenagem que são não mais mestres. De certa forma, "obedecer" sua formatação. Liberdade realmente existe?...Michel Lambert

Leitura



A leitura, evidentemente, não termina com o reconhecimento das formas visuais das palavras. Seria mais exato dizer que é nesse momento que ela começa. A linguagem escrita destina-se a comunicar não apenas o som das palavras, mas também seu significado, e a área de formação visual das palavras tem conexões íntimas com as áreas cerebrais da audição e da fala, com as áreas intelectuais e executivas e também com as áreas úteis à memória e à emoção. A área de formação visual das palavras é um nodo essencial em uma complexa rede cerebral de conexões recíprocas - uma rede que parece existir apenas no cérebro humano.

[SACKS, Oliver. O olhar da mente. Tradução Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 64]


"Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre ombros possantes, aclarada pelo olhar desassombrado e forte: e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias."

“trecho de Euclides da Cunha – Os sertões.”

Escrever


"Escrever é entregar-se ao fascínio da ausência de tempo. Neste ponto, estamos abordando, sem dúvida, a essência da solidão."

 [Maurice Blanchot, 1907-2003, in O Espaço Literário, Editora Rocco, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2011]