segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A palavra escava a madeira, entra
na água, relâmpago enterrado no
ar castanho, palmas esculpidas,
banho de osso e lentamente extrai
a dádiva dos seios macilentos, ímã
dos fogos assimétricos. Vozes mer-
gulhadas mansamente no amarelo.


Arturo Gamero
As unhas crescendo na parede
das casas, os pássaros saindo
pela boca com o sexo das
sombras tocando
na vidraça,
a urina nas cadeiras
penduradas pelo entardecer.


Arturo Gamero
minha especialidade é viver -- era a legenda
de um homem (que não tinha renda
porque não estava à venda)

olhar à direita -- replicaram num segundo
dois bilhões de piolhos púbicos do fundo
de um par de calças (moribundo)

e. e. cummings

Tradução: Augusto de Campos


olho de lince

quem fala que sou esquisito hermético
é porque não dou sopa estou sempre elétrico
nada que se aproxima nada me é estranho
fulano sicrano beltrano
seja pedra seja planta seja bicho seja humano
quando quero saber o que ocorre à minha volta
ligo a tomada abro a janela escancaro a porta
experimento invento tudo nunca jamais me iludo
quero crer no que vem por aí beco escuro
me iludo passado presente futuro
urro arre i urro
viro balanço reviro na palma da mão o dado
futuro presente passado
tudo sentir total é chave de ouro do meu jogo
é fósforo que acende o fogo de minha mais alta razão
e na sequência de diferentes naipes
quem fala de mim tem paixão


[olho de lince | waly salomão]