sábado, 6 de setembro de 2014

Canção de Muito Longe

De Mario Quintana.

Foi por cau-sa-do-bar-quei-ro
E todas as noites, sob o velho céu arqueado de bugigangas,
A mesma canção jubilosa se erguia.
A canoooavirou
Quemfez elavirar? uma voz perguntava.
Os luares extáticos...
A noite parada...
Foi por causa do barqueiro,

Que não soube remar.

El Hombre Imaginario


El hombre imaginario
vive en una mansión imaginaria
rodeada de árboles imaginarios
a la orilla de un río imaginario
De los muros que son imaginarios
penden antiguos cuadros imaginarios
irreparables grietas imaginarias
que representan hechos imaginarios
ocurridos en mundos imaginarios
en lugares y tiempos imaginarios
Todas las tardes imaginarias
sube las escaleras imaginarias
y se asoma al balcón imaginario
a mirar el paisaje imaginario
que consiste en un valle imaginario
circundado de cerros imaginarios
Sombras imaginarias
vienen por el camino imaginario
entonando canciones imaginarias
a la muerte del sol imaginario
Y en las noches de luna imaginaria
sueña con la mujer imaginaria
que le brindó su amor imaginario
vuelve a sentir ese mismo dolor
ese mismo placer imaginario
y vuelve a palpitar

el corazón del hombre imaginario

Nicanor Parra

Moscow - what a giant.


М.И. Цветаева. "Москва! Какой огромный...". Стихотворение. Автограф в тетради. Ф.1190. Оп.2. Ед.хр.1. РГАЛИ

Marina Tsvetaeva 'Moscow - what a giant...'. Poem. Autograph. F.1190. Ind.2. Folder 1. RGALI

Москва! Какой огромный
Странноприимный дом!
Всяк на Русибездомный.
Мы все к тебе придём.
Клеймо позорит плечи,
За голенищемнож.
Издалека -далече
Ты всё же позовёшь.
На каторжные клейма,
На всякую болесть
Младенец Пантелеймон
У нас, целитель, есть.
А вон за тою дверцей,
Куда народ валит, —
Там Иверское сердце,
Червонное, горит.
И льётся аллилуйя
На смуглые поля.
Я в грудь тебя целую,
Московская земля!
1916
Из цикла «Стихи о Москве»
Moscow - what a giant
And strangely-mannered home!
In Russia all are homeless.
We all to you will come.
A knife behind a boot-leg,
A shoulder brand in shame.
From far away us all
You will call all the same.
Upon the penal brandings,
On every kind of ill -
A baby Panteleimon
We have, O man who heals,
And there behind that door,
Where all the people pour -
There the fine golden heart
Is burning of Iver.
And "Halleluiah" pours
Upon the fields grown tan.
I kiss you in the bosom,
O the Moscow land!
translated by Ilya Shambat

#‎Tsvetaeva_rgali

fonte : Russian State Archive of Literature and Art

Cogito


eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.
- Torquato Neto, em "Os cem melhores poemas brasileiros do século", [seleção e organização Ítalo Moriconi]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 269.

trecho "Morte e Vida Severina".

"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."
- João Cabral de Melo Neto, trecho "Morte e Vida Severina".

CANSAÇO


O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
9-10-1934

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 64.

Canto I - Fundação da Ilha


I
Um barão assinalado
sem brasão, sem gume e fama
cumpre apenas o seu fado:
amar, louvar sua dama,
dia e noite navegar,
que é de aquém e de além-mar
a ilha que busca e amor que ama.
Nobre apenas de memórias,
vai lembrado de seus dias,
dias que são histórias,
histórias que são porfias
de passados e futuros,
naufrágios e outros apuros,
descobertas e alegrias.
Alegrias descobertas
ou mesmo achadas, lá vão
a todas as naus alertas
de vária mastreação,
mastros que apontam caminhos
a países de outros vinhos.
Esta é a ébria embarcação.
Barão ébrio, mas barão,
de manchas condecorado;
entre o mar, o céu e o chão
fala sem ser escutado
a peixes, homens e aves,
bocas e bicos, com chaves,
e ele sem chaves na mão.
- Jorge de Lima, em "Invenção de Orfeu". Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 27.
http://www.elfikurten.com.br/2014/03/jorge-de-lima.html