sábado, 24 de setembro de 2011

Pilippe Jaroussky & Friends Je m'voyais de'ja', Charles Aznavour

Je m’voyais déjà

A dix huit ans j’ai quitte ma province

Bien décide a empoigne la vie

Le coeur léger et le bagage mince

J’étais certain de conquérir Paris



Chez le tailleur le plus chic j’ai fait faire

Ce complet bleu qu’était du dernier cri

Les photos, les chansons et les orchestrations

Ont eu raison de mes économies



Je me voyais déjà en haut de l’affiche

En dix fois plus gros que n’importe qui mon nom s’étalait

Je me voyais déjà adule et riche

Signant mes photos aux admirateurs qui se bousculaient

J’étais le plus grand des grands fantaisistes

Faisant un succès si grand que les gens m’acclamaient debout

Je me voyais déjà cherchant dans ma liste

Celle qui le soir pourrait par faveur se pendre a mon cou



Mes traits ont vieilli sous mon maquillage

Mais la voix est la, le geste est précis et j’ai du ressort

Mon coeur s’est aigri un peu, en prenant de l’âge

Mais j’ai des idées, je connais mon métier et j’y crois encore



Rien que sous mes pieds, de sentir la scène

De voir devant moi un public assis, j’ai le coeur battant

On m’a pas aide, je n’ai pas eu de veine

Mais au fond de moi, je suis sur au moins que j’ai du talent



Mon complet bleu, il y a trente ans que je le porte

Et mes chansons ne font rire que moi

Je cours le cachet, je fais du porte a porte

Pour subsister, je fais n’importe quoi



Je n’ai connu que des succès faciles

Des trains de nuit et des filles a soldats

Les minables cachets, les valises a porter

Les petits meubles et les maigres repas



Je me voyais déjà en photographie

Au bras d’une star, l’hiver dans la neige, l’été au soleil

Je me voyais déjà racontant ma vie

L’air desabuse a des débutants friands de conseils

J’ouvrais calmement les soirs de première

Mille télégrammes de ce tout paris qui nous fait si peur

Et mourant de trac devant ce parterre

Entrer sur la scène sous les ovations et les projecteurs



J’ai tout essaye pourtant pour sortir du nombre

J’ai chante l’amour, j’ai fait du comique et de la fantaisie

Si tout a rate pour moi, si je suis dans l’ombre

Ce n’est pas de ma faute, mais celle du public qui n’a rien compris



On ne m’a jamais accorde ma chance

D’autres ont réussi avec peu de voix et beaucoup d’argent

Moi j’étais trop pur ou trop en avance

Mais un jour viendra je leur montrerai que j’ai du talent!



 Charles Aznavour

The ballad of the lonely masturbator

The end of the affair is always death.

She’s my workshop. Slippery eye,

out of the tribe of myself my breath

finds you gone. I horrify

those who stand by. I am fed.

At night, alone, I marry the bed.



Finger to finger, now she’s mine.

She’s not too far. She’s my encounter.

I beat her like a bell. I recline

in the bower where you used to mount her.

You borrowed me on the flowered spread.

At night, alone, I marry the bed.



Take for instance this night, my love,

that every single couple puts together

with a joint overturning, beneath, above,

the abundant two on sponge and feather,

kneeling and pushing, head to head.

At night alone, I marry the bed.



I break out of my body this way,

an annoying miracle. Could I

put the dream market on display?

I am spread out. I crucify.

My little plum is what you said.

At night, alone, I marry the bed.



Then my black-eyed rival came.

The lady of water, rising on the beach,

a piano at her fingertips, shame

on her lips and a flute’s speech.

And I was the knock-kneed broom instead.

At night, alone, I marry the bed.



She took you the way a woman takes

a bargain dress off the rack

and I broke the way a stone breaks.

I give back your books and fishing tack.

Today’s paper says that you are wed.

At night, alone, I marry the bed.



The boys and girls are one tonight.

They unbutton blouses. They unzip flies.

They take off shoes. They turn off the light.

The glimmering creatures are full of lies.

They are eating each other. They are overfed.

At night, alone, I marry the bed.



BALADA DA MASTURBADORA SOLITÁRIA

O final de um caso é sempre a morte.

Ela é a minha oficina. Olho escorregadio,

fora da tribo de mim mesma o meu fôlego

encontra-te ausente. Escandalizo

os que estão presentes. Estou saciada.

De noite, só, caso-me com a cama.



Dedo a dedo, agora é minha.

Ela não está demasiado longe. Ela é o meu encontro.

Toco-a como um sino. Reclino-me

no caramanchão onde costumavas montá-la.

Possuíste-me na colcha florida.

À noite, só, caso-me com a cama.



Toma por exemplo esta noite, meu amor,

em que cada casal mistura

com uma reviravolta conjunta, para baixo, para cima,

o dois abundante sobre esponja e pena,

ajoelhando-se e empurrando, cabeça contra cabeça.

De noite, só, caso-me com a cama.



Desta forma escapo do meu corpo,

um milagre irritante. Podia eu

colocar o mercado dos sonhos em exibição?

Espalho-me. Crucifico.

Minha pequena ameixa, dizias tu.

Á noite, só, caso-me com a cama.



Então chegou a minha rival de olhos escuros.

A dama de água, erguendo-se na praia,

um piano nas pontas dos dedos, vergonha

nos seus lábios e uma voz de flauta.

Entretanto, passei a ser a vassoura usada.

Á noite, só, caso-me com a cama.



Ela agarrou-te como uma mulher agarra

um vestido de saldo de uma estante

e eu parti da mesma forma que uma pedra parte.

Devolvo-te os teus livros e a tua cana de pesca.

No jornal de hoje dizem que és casado.

Á noite, só, caso-me com a cama.



Rapazes e raparigas são um esta noite.

Desabotoam blusas. Abrem fechos.

Descalçam sapatos. Apagam a luz.

As criaturas bruxuleantes estão cheias de mentiras.

Comem-se uns aos outros. Estão repletos.

Á noite, só, caso-me com a cama

Anne Sexton.

Quando o homem entra na mulher

Quando o homem

entra na mulher,

como a rebentação

batendo na costa,

uma e outra vez,

e a mulher abre a boca de prazer

e os seus dentes brilham

como o alfabeto,

Logos aparece ordenhando uma estrela,

e o homem

dentro da mulher

ata um nó,

de modo que nunca mais

possam voltar a separar-se

e a mulher

trepa a uma flor

e engole o seu pecíolo

e Logos aparece

e solta os seus rios.



Este homem,

esta mulher

com o seu duplo desejo

tentaram atravessar

a cortina de Deus

e conseguiram-no por um instante,

embora Deus

na Sua perversidade

desate o nó.



WHEN MAN ENTERS WOMAN

When man

enters woman,

like the surf biting the shore,

again and again,

and the woman opens her mouth in pleasure

and her teeth gleam

like the alphabet,

Logos appears milking a star,

and the man

inside of woman

ties a knot

so that they will

never again be separate

and the woman

climbs into a flower

and swallows its stem

and Logos appears

and unleashed their rivers.



This man,

this woman

with their double hunger,

have tried to reach through

the curtain of God

and briefly they have,

though God

in His perversity

unties the knot.

Anne Sexton

Em missão, de Dacar a Bissau

O avião-táxi me apeia em Bissau,
vindo de ambíguo mar-areia.
Apeio;já nado o ar Recife;
súbito, a gota de uma igreja !

Igreja mais extraordinária:
do fio insosso das modernas,
rente à avenida, salva-a porém
a praça que a espaldas dela.

Ali reencontrei a alma úmida
das casas de porta e janela,
de um tijolo amadurecido
a sombra -poço de mangueiras.

João Cabral de Mello Neto
in:O artista inconfessável, Rio de Janeiro, Objetiva,2007.

"Acorda João! O sol já está alto! Maria já fez o café..."