O camponês sem terra
Detém a charrua
E pensa em colheitas
Que nunca serão suas.
José Paulo Paes.
seleção de Davi Arrigucci Jr.
Global.SP:1998
domingo, 9 de janeiro de 2011
Notas num diário
Nada mais decorativo que a metafísica do silêncio
SOBRE O TEXTO
Este é o primeiro dos seis trechos do diário de Ricardo Piglia que serão publicados com exclusividade pela Ilustríssima. Autor de “Dinheiro Queimado” e professor na Universidade de Princeton, o escritor divide seu tempo entre a Argentina e os EUA. Seu novo livro, “Branco Noturno”, será lançado pela Cia. das Letras em junho.
RICARDO PIGLIA
tradução PAULO WERNECK
SEGUNDA Passo a noite internado no Hospital de Princeton. Enquanto espero o diagnóstico, sentado na sala de espera, vejo entrar um homem que mal consegue se locomover.
Descrevê-lo. Perguntam-lhe seus dados, mas ele vacila, pede desculpas, está bem desorientado, diz que não consegue assinar. É um ex-alcóolatra que teve uma recaída e passou dois dias perdido nos arredores de Trenton, dormindo na rua. Antes de despachá-lo para a clínica de reabilitação precisam desintoxicá-lo. Logo chega seu filho, vai até o balcão, preenche uns formulários.
O homem, a princípio, não o reconhece, mas por fim se ergue, pousa a mão na nuca do filho e fala com ele, e fala em voz baixa, bem de perto. O rapaz o escuta como se estivesse ofendido. O homem volta a sentar-se, muito abatido. Na dispersão idiomática típica desses lugares, um enfermeiro porto-riquenho explica a um padioleiro negro que o homem perdeu os óculos e não consegue enxergar. “The old man has lost his ‘espejuelos’”, diz, “and he cannot see nothing.” Extraviada, a palavra espanhola brilha feito uma luz na noite.
QUARTA Ele me contou que tinha sido preso por estelionato e me contou que seu pai era adestrador no hipódromo e que teve azar nas corridas. Dois dias depois, apareceu de novo e tornou a se apresentar, como se nunca tivesse me visto. Sofre de uma imperfeição indefinida que lhe afeta o sentido da realidade. Está perdido num movimento contínuo que o obriga a pensar para deter a confusão. Pensar não é lembrar, pode-se pensar mesmo tendo perdido a memória. (Venho sabendo disso por mim mesmo, já faz alguns anos: só lembro o que está escrito no Diário). Mesmo assim, não esquece a linguagem. O que precisa saber, encontra na web. A informação narrativa está fora da trama. Um novo tipo de romance seria então possível. “Precisamos”, dizia Gombrowicz, “de uma linguagem para nossa ignorância.” Essa poderia ser a epígrafe.
DOMINGO Até que enfim conheço um detetive particular. Ralph Anderson, Ace Agency. Kitty o contratou para encontrar sua mãe, que a abandonou aos seis anos. Ralph a localizou em Atlanta, na Geórgia. Tinha mudado de nome, morava no centro da cidade, trabalhava numa revista de moda. Kitty não se animou a ir vê-la, mas ficou amiga do detetive.
Muitos de seus clientes procuram parentes perdidos e depois decidem não ir encontrá-los. Ralph mora num apartamento perto de Washington Square. Embaixo, ao entrar no prédio, controle na porta, detector de metais, câmeras. Ralph está à nossa espera, na saída do elevador. Deve ter uns trinta anos, óculos redondos, cara de raposa. Mora num cômodo de pé-direito alto, quase vazio, com janelões dando para a cidade. Tem quatro computadores dispostos em círculo numa ampla escrivaninha, sempre ligados, com arquivos abertos e vários sites ativos. “Sair na rua já não faz mais falta”, diz. “O que precisamos buscar é isso aí.”
Fuma um “joint” atrás do outro, toma ginger ale, mora sozinho. Investiga a morte de três soldados negros de um batalhão de infantaria em serviço no Iraque; na maioria, oficiais e suboficiais texanos. Um agrupamento de parentes de soldados afro-americanos o contratou para investigar. Têm certeza de que foram assassinados. Se Ralph não conseguir provar, vão para a Justiça. Ele nos mostra as fotos dos jovens soldados negros, os três olham a câmera de frente, sem sorrir. Depois, fomos jantar num chinês.
QUINTA Curiosamente ninguém parece ter reparado que não foi T.W. Adorno o primeiro a estabelecer uma relação entre o futuro da literatura e os campos de extermínio nazistas. Em 1948, Brecht, em suas “Conversas com Jovens Intelectuais”, já havia formulado o problema. “Os acontecimentos em Auschwitz, no gueto de Varsóvia e em Buchenwald não admitem, indubitavelmente, descrição alguma, em nenhuma forma literária. Na verdade, a literatura não está preparada para tais acontecimentos, mas não desenvolveu nenhum meio para eles.”
Depois, Adorno se referiu ao mesmo assunto em seu ensaio de 1955 “Crítica da Cultura e Sociedade”, no qual, como se sabe, escreve: “A crítica cultural se encontra diante do último degrau da dialética de cultura e barbárie: depois do que aconteceu no campo de Auschwitz, escrever um poema é um ato de barbárie, e esse ato corrói até mesmo o conhecimento que indica por que hoje se tornou impossível escrever poesia.”
Brecht não apregoa a impossibilidade de seu trabalho nem aceita a culpa histórica que os críticos culturais sempre atribuem à literatura; apenas se refere às dificuldades técnicas que fundam as relações entre experiência e informação. Alguns anos antes, em seu “Diário de Trabalho”, em 16 de setembro de 1940, ele escreveu: “Seria incrivelmente difícil descrever o estado de ânimo com que sigo na rádio, de manhã, a batalha da Inglaterra, e depois vou escrever ‘Sr. Puntilla’. Esse fenômeno demonstra como é possível continuar a elaborar os trabalhos literários. De Puntilla não me importa quase nada; da guerra, tudo; sobre Puntilla posso escrever quase tudo; sobre a guerra, nada. Não quero dizer ‘não me é lícito’, quero propriamente dizer ‘no sono in grado’, não sou capaz. É interessante ver até que ponto a literatura, como atividade, como prática, está longe dos centros em que se desenrolam os acontecimentos dos quais tudo depende [...]“.
Como os “mass media” sempre estão dispostos a profetizar o fim da cultura, a tese de Adorno encontrou rápida difusão. Não há nada mais decorativo que a metafísica do silêncio e do fim da linguagem. Bertolt Brecht, por sua vez, tinha astúcia suficiente para fazer perguntas que não agradavam a ninguém e para escrever a melhor poesia lírica da língua alemã de sua época.
SEGUNDA Com a proliferação de romances encontrados entre os papéis -nos arquivos do computador- de famosos escritores mortos (Bolaño, Cabrera Infante, Nabokov etc.), um grupo de escritores decidiu ganhar a vida escrevendo romances póstumos. Depois de várias reuniões, decidiram escrever o romance póstumo de Samuel Beckett, “Moran”, uma continuação da trilogia.
Com o manuscrito, devem inventar uma forma como o livro tenha sido encontrado. Beckett levou o romance a seu psicanalista, Winnicott, que o aconselhou a não publicá-lo.
Aliviado, Beckett precipitou-se escada abaixo e esqueceu o manuscrito. Anos depois, um jovem pesquisador da Universidade da Califórnia em Irvine descobriu o romance no arquivo confidencial de Winnicott [em Londres]. Negociam diretamente com os agentes literários e, depois de combinar o adiantamento de direitos, entregam o livro etc.
SÁBADO Todo dia vejo o velho que sai de casa e caminha devagar pela neve até a beira da lagoa. A bruma de sua respiração é feito uma névoa no ar transparente. Conversamos várias vezes ao nos cruzarmos no caminho da entrada, ele mora sozinho, a mulher morreu no ano passado, lecionou física aqui em Princeton nos anos 50 e agora está aposentado, não tem filhos, chama-se Karl Unger e é um exilado alemão.
Quando chegam os patos selvagens, ouve-se primeiro um ruído tênue, como se alguém sacudisse um pano molhado no céu. Quase imediatamente começam-se a ouvir os grasnidos e veem-se os patos vindo, voando em fila indiana, depois formando um V no fundo do bosque. Dão duas voltas sobre a lagoa até lançarem-se na direção da água congelada, e, quando a tocam, patinam com as asas abertas e o pescoço contra o gelo. Voltam caminhando estabanados, arrastando-se, alguns permanecem quietos, com as patas feito ossos mortos na geada. Vivem no presente puro e a cada manhã se espantam ao se chocarem contra o gelo. Perderam o senso de orientação. Buscam as águas cristalizadas do lago de onde teriam que iniciar a migração para as terras cálidas.
Cada vez que vejo o professor sair do jardim e atravessar a neve para chegar até a lagoa e alimentar os patos selvagens que estão morrendo de frio, sei que começa outro dia, que será igual ao anterior
Fonte :Ilustríssima. folha de São Paulo 09/01/ 11
SOBRE O TEXTO
Este é o primeiro dos seis trechos do diário de Ricardo Piglia que serão publicados com exclusividade pela Ilustríssima. Autor de “Dinheiro Queimado” e professor na Universidade de Princeton, o escritor divide seu tempo entre a Argentina e os EUA. Seu novo livro, “Branco Noturno”, será lançado pela Cia. das Letras em junho.
RICARDO PIGLIA
tradução PAULO WERNECK
SEGUNDA Passo a noite internado no Hospital de Princeton. Enquanto espero o diagnóstico, sentado na sala de espera, vejo entrar um homem que mal consegue se locomover.
Descrevê-lo. Perguntam-lhe seus dados, mas ele vacila, pede desculpas, está bem desorientado, diz que não consegue assinar. É um ex-alcóolatra que teve uma recaída e passou dois dias perdido nos arredores de Trenton, dormindo na rua. Antes de despachá-lo para a clínica de reabilitação precisam desintoxicá-lo. Logo chega seu filho, vai até o balcão, preenche uns formulários.
O homem, a princípio, não o reconhece, mas por fim se ergue, pousa a mão na nuca do filho e fala com ele, e fala em voz baixa, bem de perto. O rapaz o escuta como se estivesse ofendido. O homem volta a sentar-se, muito abatido. Na dispersão idiomática típica desses lugares, um enfermeiro porto-riquenho explica a um padioleiro negro que o homem perdeu os óculos e não consegue enxergar. “The old man has lost his ‘espejuelos’”, diz, “and he cannot see nothing.” Extraviada, a palavra espanhola brilha feito uma luz na noite.
QUARTA Ele me contou que tinha sido preso por estelionato e me contou que seu pai era adestrador no hipódromo e que teve azar nas corridas. Dois dias depois, apareceu de novo e tornou a se apresentar, como se nunca tivesse me visto. Sofre de uma imperfeição indefinida que lhe afeta o sentido da realidade. Está perdido num movimento contínuo que o obriga a pensar para deter a confusão. Pensar não é lembrar, pode-se pensar mesmo tendo perdido a memória. (Venho sabendo disso por mim mesmo, já faz alguns anos: só lembro o que está escrito no Diário). Mesmo assim, não esquece a linguagem. O que precisa saber, encontra na web. A informação narrativa está fora da trama. Um novo tipo de romance seria então possível. “Precisamos”, dizia Gombrowicz, “de uma linguagem para nossa ignorância.” Essa poderia ser a epígrafe.
DOMINGO Até que enfim conheço um detetive particular. Ralph Anderson, Ace Agency. Kitty o contratou para encontrar sua mãe, que a abandonou aos seis anos. Ralph a localizou em Atlanta, na Geórgia. Tinha mudado de nome, morava no centro da cidade, trabalhava numa revista de moda. Kitty não se animou a ir vê-la, mas ficou amiga do detetive.
Muitos de seus clientes procuram parentes perdidos e depois decidem não ir encontrá-los. Ralph mora num apartamento perto de Washington Square. Embaixo, ao entrar no prédio, controle na porta, detector de metais, câmeras. Ralph está à nossa espera, na saída do elevador. Deve ter uns trinta anos, óculos redondos, cara de raposa. Mora num cômodo de pé-direito alto, quase vazio, com janelões dando para a cidade. Tem quatro computadores dispostos em círculo numa ampla escrivaninha, sempre ligados, com arquivos abertos e vários sites ativos. “Sair na rua já não faz mais falta”, diz. “O que precisamos buscar é isso aí.”
Fuma um “joint” atrás do outro, toma ginger ale, mora sozinho. Investiga a morte de três soldados negros de um batalhão de infantaria em serviço no Iraque; na maioria, oficiais e suboficiais texanos. Um agrupamento de parentes de soldados afro-americanos o contratou para investigar. Têm certeza de que foram assassinados. Se Ralph não conseguir provar, vão para a Justiça. Ele nos mostra as fotos dos jovens soldados negros, os três olham a câmera de frente, sem sorrir. Depois, fomos jantar num chinês.
QUINTA Curiosamente ninguém parece ter reparado que não foi T.W. Adorno o primeiro a estabelecer uma relação entre o futuro da literatura e os campos de extermínio nazistas. Em 1948, Brecht, em suas “Conversas com Jovens Intelectuais”, já havia formulado o problema. “Os acontecimentos em Auschwitz, no gueto de Varsóvia e em Buchenwald não admitem, indubitavelmente, descrição alguma, em nenhuma forma literária. Na verdade, a literatura não está preparada para tais acontecimentos, mas não desenvolveu nenhum meio para eles.”
Depois, Adorno se referiu ao mesmo assunto em seu ensaio de 1955 “Crítica da Cultura e Sociedade”, no qual, como se sabe, escreve: “A crítica cultural se encontra diante do último degrau da dialética de cultura e barbárie: depois do que aconteceu no campo de Auschwitz, escrever um poema é um ato de barbárie, e esse ato corrói até mesmo o conhecimento que indica por que hoje se tornou impossível escrever poesia.”
Brecht não apregoa a impossibilidade de seu trabalho nem aceita a culpa histórica que os críticos culturais sempre atribuem à literatura; apenas se refere às dificuldades técnicas que fundam as relações entre experiência e informação. Alguns anos antes, em seu “Diário de Trabalho”, em 16 de setembro de 1940, ele escreveu: “Seria incrivelmente difícil descrever o estado de ânimo com que sigo na rádio, de manhã, a batalha da Inglaterra, e depois vou escrever ‘Sr. Puntilla’. Esse fenômeno demonstra como é possível continuar a elaborar os trabalhos literários. De Puntilla não me importa quase nada; da guerra, tudo; sobre Puntilla posso escrever quase tudo; sobre a guerra, nada. Não quero dizer ‘não me é lícito’, quero propriamente dizer ‘no sono in grado’, não sou capaz. É interessante ver até que ponto a literatura, como atividade, como prática, está longe dos centros em que se desenrolam os acontecimentos dos quais tudo depende [...]“.
Como os “mass media” sempre estão dispostos a profetizar o fim da cultura, a tese de Adorno encontrou rápida difusão. Não há nada mais decorativo que a metafísica do silêncio e do fim da linguagem. Bertolt Brecht, por sua vez, tinha astúcia suficiente para fazer perguntas que não agradavam a ninguém e para escrever a melhor poesia lírica da língua alemã de sua época.
SEGUNDA Com a proliferação de romances encontrados entre os papéis -nos arquivos do computador- de famosos escritores mortos (Bolaño, Cabrera Infante, Nabokov etc.), um grupo de escritores decidiu ganhar a vida escrevendo romances póstumos. Depois de várias reuniões, decidiram escrever o romance póstumo de Samuel Beckett, “Moran”, uma continuação da trilogia.
Com o manuscrito, devem inventar uma forma como o livro tenha sido encontrado. Beckett levou o romance a seu psicanalista, Winnicott, que o aconselhou a não publicá-lo.
Aliviado, Beckett precipitou-se escada abaixo e esqueceu o manuscrito. Anos depois, um jovem pesquisador da Universidade da Califórnia em Irvine descobriu o romance no arquivo confidencial de Winnicott [em Londres]. Negociam diretamente com os agentes literários e, depois de combinar o adiantamento de direitos, entregam o livro etc.
SÁBADO Todo dia vejo o velho que sai de casa e caminha devagar pela neve até a beira da lagoa. A bruma de sua respiração é feito uma névoa no ar transparente. Conversamos várias vezes ao nos cruzarmos no caminho da entrada, ele mora sozinho, a mulher morreu no ano passado, lecionou física aqui em Princeton nos anos 50 e agora está aposentado, não tem filhos, chama-se Karl Unger e é um exilado alemão.
Quando chegam os patos selvagens, ouve-se primeiro um ruído tênue, como se alguém sacudisse um pano molhado no céu. Quase imediatamente começam-se a ouvir os grasnidos e veem-se os patos vindo, voando em fila indiana, depois formando um V no fundo do bosque. Dão duas voltas sobre a lagoa até lançarem-se na direção da água congelada, e, quando a tocam, patinam com as asas abertas e o pescoço contra o gelo. Voltam caminhando estabanados, arrastando-se, alguns permanecem quietos, com as patas feito ossos mortos na geada. Vivem no presente puro e a cada manhã se espantam ao se chocarem contra o gelo. Perderam o senso de orientação. Buscam as águas cristalizadas do lago de onde teriam que iniciar a migração para as terras cálidas.
Cada vez que vejo o professor sair do jardim e atravessar a neve para chegar até a lagoa e alimentar os patos selvagens que estão morrendo de frio, sei que começa outro dia, que será igual ao anterior
Fonte :Ilustríssima. folha de São Paulo 09/01/ 11
Adormecidos
Engraçado como tem gente que sente falta de si mesmo. Saudade vazia que nem mesmo o espelho do banheiro consegue acalmar. É uma sensação de ausência. Essa gente vive a procurar sinais que provem a existência, o violento transformar da alegria em tristeza, o acordar do tempo e a natureza que se faz assumida trem da vida e leva todos nós. É como se sentir anestesiado. O corpo existe, mas falha a voz e a verdade não passa de um contratempo. Como provar que ainda se está ali? Na sala de estar, no quarto do filho, na casa de amigos? Como voltar a se sentir vivo? Tonalizar fios brancos, enfeitar a casa para um bando e fazer digno o realçar das incertezas? Não há nada mais triste do que a busca de si mesmo e ver que tudo se foi. Já se partiu, corpo ausente e agora o ser que habita a gente não passa de uma obra decadente que o tempo esqueceu de enterrar. Melhor viver logo o dia de aniversário e se deixar envelhecer. A perda maior é o esquecer de si mesmo. A gente se esquece no rosto de alguém, vivendo outra vida, lavando calçadas ou apagando marcas, cauterizando outras dores enquanto há fome de tanto e por tudo que se sente. A gente precisa viver. À tortura ou à plena felicidade absurda. É bem melhor que se viva. Antes mesmo que o cenário mude e a saudade se torne moribunda. Não há saudade maior do que essa que a gente sente de si mesmo. A gente, de repente, se torna o produto com prazo vencido.
Letícia Palmeira
– Escritoras Suicidas
Letícia Palmeira
– Escritoras Suicidas
POEMAS ESCRITOS NA UNHA
Chuva de arame farpado.
Os céus
baixaram-se ao nosso nível.
Haverá garganta
para gritar mais tarde
o que agora calamos?
Engole a tua língua!
Com ela podes saciar-te:
mas somente uma vez.
Domingo de Ramos.
Burro temos, mas, de Cristo,
não temos o espírito.
Ó provincianismo!
Também Mefistófeles, de pé espalmado,
é funcionário público.
Cuidado com o passado!
Ele pode embebedar-te, nunca te saciará .
SÁNDOR KÁNYÁDI
Os céus
baixaram-se ao nosso nível.
Haverá garganta
para gritar mais tarde
o que agora calamos?
Engole a tua língua!
Com ela podes saciar-te:
mas somente uma vez.
Domingo de Ramos.
Burro temos, mas, de Cristo,
não temos o espírito.
Ó provincianismo!
Também Mefistófeles, de pé espalmado,
é funcionário público.
Cuidado com o passado!
Ele pode embebedar-te, nunca te saciará .
SÁNDOR KÁNYÁDI
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