sábado, 13 de julho de 2013

Cultura e Civilização

Gilberto Gil

a cultura
a civilização
elas que se danem
ou não

somente me interessam
contanto que me deixem meu licor de jenipapo
o papo
das nites de são joão
somente me interessam
contanto que me deixem meu cabelo belo
meu cabelo belo
como a juba de um leão
contanto que me deixem
ficar na minha
contanto que me deixem
ficar com minha vida na mão
minha vida na mão
minha vida

a cultura
a civilização
elas que se danem
ou não

eu gosto mesmo
é de comer com coentro
eu gosto mesmo
é de ficar por dentro
como eu estive algum tempo
na barriga de claudina
uma velha baiana
cem por cento





Poemas do moçambicano José Craveirinha

SEM ALMA

Recuso
meu corpo.

Companheiro desolado
ele foge de sua alma
quando por instantes
a ternura do diabo
me toma.

José Craveirinha.


GULA

Uivam
as suas maldições
as insidiosas hienas
própria sanha.

Rituais
de tão escabrosa gulodice
que até nos esfomeados
aldeões da tragédia
a gula dos quizumbas
se baba nas beiças
das catanas,
dos machados.

José Craveirinha


A BOCA

Jucunda boca
deslabiada a ferozes
júbilos de lâmina
afiada.

Alva dentadura
antónima do riso
às escancaras desde a cilada.

Exotismo de povo flagelado
esse atroz formato
da fala.


 SUELTO

No laboratório
o lobo dirige a radioatividade
e concentra o cobalto.

Na igreja
pequenos esqueletos juntam
no catecismo os metacarpos
e rezam.

José Craveirinha


DE PROFUNDIS

Possessos de sangue
em abrenúncios
de gritos

Ao rosnar
da súcia,
em de profundis de facas.


José Craveirinha

José Craveirtinha -- Antologia Poética", organizado por Ana Mafalda Leite e publicado pela editora da Universidade Federal de Minas Gerais, na coleção "Poetas de Moçambique".

Fonte: Cláudio Daniel

DE SOLO IMAGINARME



De sólo imaginarme que tu boca
pueda juntarse con la mía, siento
que una angustia secreta me sofoca,
y en ansias de ternura me atormento…

El alma se me vuelve toda oído;
el cuerpo se me torna todo llama
y se me agita de amores encendido,
mientras todo mi espíritu te llama.

Y después no comprendo, en la locura,
de este sueño de amor a que me entrego;
si es que corre en mis venas sangre pura,
o si en vez de la sangre corre fuego…


Alice Lardé de Venturino, mujer pionera, fiel creyente de la importancia de educar a la mujer. Se sobrepuso a la idiosincrasia de su época y su postura la hizo seguir adelante e interesarse por las ciencias como prueba que las mujeres pueden incursionar en cualquier campo. Sin duda un hermoso ejemplo de que la perseverancia, la constancia y la voluntad deben ser nuestras principales herramientas para seguir adelante.

Nombre: Alice Lardé de Venturino.
Nacimiento: San Salvador, 29 de junio de 1895.

Fallecimiento: San Salvador, 13 de octubre de 1983.

Memória de Elefante

"(...) O psiquiatra pensou que toda a gente nesse dia queria separar de um dos últimos presentes que a mulher lhe dera no desejo inútil de melhorar sua aparência de noivo de província congelado numa postura hirta de fotografia de feira: desde a adolescência que trazia consigo, colado à assimetria das feições, o ar postiço e triste dos mortos de família nos álbuns de retratos, de sorrisos diluídos pelo iodo do tempo. Meu amor, falou dentro de sim mesmo apalpando a gravata, sei que isto não alivia nem ajuda mas de nós dois fui eu o que não soube lutar: e vieram-lhe à memória longas noites na praia desfeita dos lençois, a sua língua desenhando devagar contornos de seios iluminados de uma rede de veias pela primeira luz da aurora, o poeta Robert Desnos a agonizar de tifo num campo de prisioneiros alemão murmurando É a minha manhã mais matinal, a voz de John Cage a repetir Every something is an echo of nothing, e a forma como o corpo dela se abria em concha para o receber, vibrando tal as folhas dos cumes dos pinheiros agitados por um vento invisível e tranquilo.

(...) Amo-te tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne que és feita, se o nosso casamento definhou de mocidade como outros de velhice, se depois de ti a minha solidão incha do teu cheiro, do entusiasmo dos teus projectos e do redondo das tuas nádegas, se sufoco da ternura de que não consigo falar, aqui neste momento, amor, me despeço e te chamo sabendo que não virás e desejando que venhas do mesmo modo que, como diz Molero, um cego espera os olhos que encomendou pelo correio"

 Lobo Antunes

NANAS DEL PAN


NANAS DEL PAN

No pidas pan, mi niño,
que no tenemos,
yo te contaré un cuento
mientras te duermo:

Un papá sin trabajo
se fue del pueblo,
a correr los caminos
tras tu sustento.

Como no lo encontró
llamó a la puerta,
y recogió sus cosas
y su escopeta.

Lo buscan los civiles
por todas partes,
han quedado sin pan
curas y alcaldes.

Muchos papás se esconden
allá en los montes,
me lo ha dicho el arroyo:
vendrá ésta noche.

Duérmete tú, mi niño,
duerme tranquilo,
que tu padre defiende
tu pan a tiros.

.-Pepe Balmón
.-Ex preso político del PCE(r).
.-Soria, Noviembre-78



L'unico vero viaggio, l'unico bagno di giovinezza sarebbe non andare verso nuovi paesaggi, ma avere altri occhi, vedere l'universo con gli occhi di un altro, di cento altri, vedere i cento universi che ciascuno vede, che ciascuno è .


Marcel Proust

A viagem só real, o único banho de juventude não iria para novas paisagens, mas tem outros olhos, ver o universo através dos olhos do outro, de cem outros, Ver os cem universos que cada um vê, que cada um é.


Marcel Proust

Ti piace l’amore?

" Ti piace l’amore?
Non lo so.
Ora ce l’hai?
Sì, mi sono accorto di avercelo. E’ cominciato dalla mano, la prima volta che me l’hai tenuta. Mantenere è il mio verbo preferito.
Sei innamorato di me?
Ho cominciato dalla mano che si è innamorata della tua quando me l’hai tenuta. Poi si sono innamorate le ferite che si sono messe a guarire alla svelta.
Allora, ti piace l’amore?
E’ pericoloso. Ci scappano le ferite. Non è una serenata al balcone, somiglia a una mareggiata di libeccio, strapazza il mare sopra, lo rimescola sotto. Non lo so se mi piace."


Erri De Luca