quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Desapareceu




Ninguém o esquece - todos o procuram
Perguntam-nO às esquinas aos soluços
Perguntam-nO à garoa e às rosas claras
Vão a S. Paulo Vão a Lopes Chaves
Perguntam-nO às manhãs Folheiam livros
Rondam retratos falam e reúnem-se
Os oradores engulham seu nome
O sorriso parou em muitas faces
Os amigos estranham seu silêncio
proclamam que desceu para os infernos
A cidade procura-O entre o frio
Ele partiu - Não chores Josefina
este vazio de carícia e ausência
O Mário foi-se embora pra Pasárgada

 Bandeira Tribuzi

(p. 64)


Soneto

O tempo cansou a vida
a vida se abandonou
o abandono não bastou
e uma florzita se lamenta
Secou a fonte que existia
a madrugada emurcheceu
o pão faltou
e o pensamento
Depois ruíram as casas
as famílias a tradição
sobrou um rato para Drummond cantar
O poema de Drummond salvou um homem
o homem amou e reconstruiu a vida
qual a raiz da vida: o rato ou Drummond?

 Bandeira Tribuzi

(p. 64-65)


Soneto

Amo-te e basta Pequeninos
vamos os dois de mãos dadas e
com a metade da vida que sabemos
construímos a terceira real e certa.
Depois minha mão busca em tua cintura
resposta para a angústia metafífica
que resiste apesar-de E surpreende
uma criança duvidar de ceticismo
Vem de teus olhos tal ternura ou malícia
que vou por uma estrada cambaleando
e como é doce não saber da vida
Ou então permaneço quão diverso
daquele que minha mãe teve coragem
de parir para ti um certo dia 

 Bandeira Tribuzi

(p. 65)


Soneto

Um homem desceu ao mundo
na Piedade
com duas fábricas ao lado
e a cidade depois da curva
No dia em que ele nasceu
um automóvel descuidado
matou Antônio
(Ficar até ao fim é privilégio)
O homem passou da curva
e das fábricas ao lado
para dar o seu recado
Mas o Diário de Notícias precisava necrológio.
Daí que ele morresse simultâneo
ao surgir de outro para a continuação
(p. 65-66)

(Tribuzi, Bandeira. Obra Poética. São Paulo: Ed. Siciliano, 2002.)

Entrego minha alma ao céu de Abril e à rebeldia.
Descanso meus passos na sombra perdida no vão da memória.
Meus braços repousam em teu corpo claro e azuis pensamentos
florescem dos olhos afeitos enfim à feição do milagre.
O silêncio surge: - farrapo de nuvem cor-de-rosa e débil
e o ouvido apreende a canção sem rumor que em teu rosto perpassa.
Maria claríssima de carne completa Meu corpo duplo
se perde em teus olhos teus seios teus lábios se encontra em teu sexo

Bandeira Tribuzi
(p. 47)

Opiniões biográficas & críticas sobre o poeta Bandeira Tribuzi

Bandeira Tribuzi é o nome literário de José Tribuzi Pinheiro Gomes, que nasceu em São Luís, Maranhão, Brasil, em 2 de fevereiro de 1927, cidade-ilha em que também morreu, no dia 8 de setembro de 1977, aos 50 anos. Filho do português Joaquim Pinheiro Ferreira Gomes e da maranhense Amélia Tribuzi Pinheiro Gomes.

Fonte: guesaerrante