quinta-feira, 12 de julho de 2018


Imaginar-se como elemento necessário na ordem do universo equivale, para nós, gente de boas leituras, àquilo que é a superstição para os iletrados. Não se muda o mundo com ideias. As pessoas com poucas ideias estão menos sujeitas ao erro, seguem aquilo que todos fazem, não incomodam ninguém, têm sucesso, enriquecem e alcançam boas posições, como deputados, condecorados, homens de letras renomados, acadêmicos, jornalistas. Pode-se ser idiota quando se cuida tão bem dos próprios interesses? O idiota sou eu, que quis lutar contra moinhos de vento."

Umberto Eco, 'O cemitério de Praga, p.194-195.


Jesus nasceu sem teto, trabalhou como carpinteiro




Jesus nasceu sem teto, trabalhou como carpinteiro numa humilde aldeia da Galileia, periferia da Palestina. Em seu ministério, conviveu com ladrões, corruptos e prostitutas. Não ligava muito para os preceitos religiosos, pois "trabalhava" no sábado, curando os aflitos e oprimidos. Por fim, condenado pelo Império, é executado entre dois ladrões, na ignomínia de uma cruz. Agora, dizer-se seguidor desse cara e ser intolerante para com toda diferença, é uma contradição que nunca vai entrar na minha cabeça.

Otto Leopoldo Winck

Ser escritor não é vocação


Ser escritor não é vocação, chamado divino ou destino. Ser escritor é decisão. Em determinado momento da vida, geralmente depois da leitura de livros ou de um livro em especial, alguém decide ser escritor. E em cima dessa decisão, outras decisões são tomadas: um certa disciplina de leituras, estudo de línguas, determinada faculdade ou profissão -- tudo em função de favorecer a opção fundamental: tornar-se escritor. O escritor poderá a vir trabalhar como publicitário, jornalista, professor, advogado, o escambau, mas essa 'profissão' sempre será subsidiária diante da decisão maior de ser escritor. Ele pode até passar anos sem escrever, mas estará sempre acumulando forças para o grande livro que escreverá um dia. Mesmo quando ele está vivendo, ele não vive simplesmente pela vida. Ele vive para acumular experiências para enriquecer sua escritura. Nesse sentido ele vampiriza-se a si mesmo e aos outros. Ele pode estar na maior fossa, sozinho num quarto de hotel ou numa estação deserta, depois que seu amor o deixou -- e mesmo em meio a dor ele estará pensando: como posso transformar isso num poema ou na cena de um romance?
Assim, tornar-se escritor não é necessariamente decidir-se a escrever livros, mas orientar a sua vida de tal maneira que o objetivo de vir a escrever livros não seja prejudicado. Boa parte da energia libidinal do escritor será canalizada para este objetivo, às vezes a tal ponto que faltará energia para outras áreas vitais. Não é que o escritor esteja condenado a ser um fracassado na vida, mas suas energias estão voltadas de tal maneira para sua decisão que chegam a faltar em outras áreas, muitas vezes mais necessárias na luta cotidiana pela vida. Quem não entende isso, não sente isso, pode até escrever livros e ser reconhecido socialmente como escritor, mas nunca o será de fato. Muitos podem alegar que há aqui uma certa herança do cristianismo e de suas ideias de sacrifício e abnegação. Não nego. A literatura não é um evento solto no ar da não-história. A literatura é fruto de uma longa construção histórica que teve suas raízes lá na Grécia antiga e cuja configuração atual se determinou em algum momento entre os séculos XIX e XX. Faz parte dessa construção a ideia de que o escritor é um santo sem fé num mundo sem deuses cujo último sucedâneo do sagrado não é necessariamente o fetichismo do livro literário mas o própria decisão de tornar-se escritor. E se a literatura perdeu sua relevância no mundo contemporâneo, este gesto só se reveste de maior heroísmo ainda. E só o herói é belo.

Otto Leopoldo Winck


Ditadura judicial


Ditadura judicial escancarada depois dos salamaleques político-jurídicos de Moro hoje, em férias e no exterior. O crime anterior e nunca punido da interceptação telefônica fez pós-graduação e aumentou de escala golpista. O poder judiciário foi integralmente sequestrado pela gangue de Moro. As manobras e atos discricionários de Moro e Gebran hoje foram mais rasteiros, autoritários e personalizados do que em qualquer outro momento da história jurídica brasileira. Os atos institucionais da última ditadura do Chico Ciência, Francisco Campos, pelo menos se revestiam de formas de golpismo mais institucionalizado que o do bando de tiranetes chicaneiros e rábulas de direito(a) que assaltaram o judiciário contemporâneo. O golpismo judicial aberto afundará ainda mais a crise política.

RCO

Novo Ministro do Trabalho do governo golpista


Caio Luiz de Almeida Vieira de Mello - Novo Ministro do Trabalho do governo golpista de Temer. Rodei a teoria do nepotismo rapidamente para ver quais os vínculos familiares do Desembargador Aposentado do Trabalho, Caio Luiz de Almeida Vieira de Mello , ex-vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais. Filho do ex-ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Desembargador Luiz Philippe Vieira de Mello, Caio Luiz de Mello começou a trabalhar no Tribunal do Trabalho aos 19 anos, já nascem trabalhando nas instituições dos pais pelo nepotismo e chegou a vice-presidente do órgão. Irmão de Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, atual Ministro do Tribunal Superior do Trabalho. Neto do Dr. Accácio de Almeida, figura de grande projeção em Caxambu – MG, primo do Vereador de Caxambu, Clóvis de Almeida. O novo Ministro do Trabalho operava como consultor do poderoso escritório jurídico Sérgio Bermudes, o mesmo de Guiomar Feitosa Lima Mendes, mulher do ministro do STF, Gilmar Mendes e da antiga oligarquia Feitosa do Ceará. O que eu falo, a sobrevivência do golpista Temer se deu pelo apoio da classe dominante tradicional e suas oligarquias familiares regionais aptas ao bom extrativismo estatal neste governo golpista.

RCO

O nazifascismo tinha seus deputados


O nazifascismo tinha seus deputados, jornalistas, juristas, policiais, militares e empresários, mas a grande narrativa original que fica sempre é a da universidade e da teoria crítica. Para um golpe não adianta ter somente o apoio e o discurso ideológico superficial de políticos, da mídia, do judiciário, de policiais, de associações comerciais e de academias de lutadores. Quem define o que é um golpe é a universidade nas suas áreas centrais das humanidades e educação. Não foram juristas e magistrados alemães, como o juiz Roland Freisler, um tipo reforçado de juiz Moro, que definiram o golpe e o regime, mas sim os cientistas sociais de grupos como a “Escola de Frankfurt”, que alertaram e denunciaram a inevitável queda e ruína das falsas ilusões do projeto antidemocrático dos golpistas. Como as mentiras de um projeto de salvação nacional de direita sempre acabam no mais corrupto e tirânico regime até serem derrubados, mais cedo ou mais tarde, pelas forças progressistas e democráticas da verdade e da liberdade.

RCO


Faz 54 anos que eventos ocorrendo em 31/04/1964 culminam em 1/04/1964 no Golpe (civil/empresarial-militar)que nos levou a uma ditadura, retirando do poder o presidente João Goulart. Repressão, autoritarismo, mortes, tortura, corrupção escondida, vigilância dos vizinhos, a desigualdade aumentou sim, vão ler... e só em 2011 tivemos a instalação da Comissão da Verdade.
É para lembrar.
É para entender que esconderam os efeitos nocivos desse período, que não se produziu vergonha coletiva pelas ações da ditadura, é para lembrar que se escondiam cadáveres, que censuravam informações, lembrar do AI 5 que cassou mandatos e acabou com garantias do habeas corpus... teve muita perseguição àqueles que pensavam diferente e que mostrou a mesquinharia das delações, muitas , muitas vezes não verdadeiras, mas agradavam a versão da SNI ( Serviço Nacional de Informações da Ditadura)...
Ditadura nunca mais!
A exemplo da Argentina era isso que deveríamos estar lembrando, tortura nunca mais, ditadura nunca mais, extermínio nunca mais...
Mas para um país que tem dificuldade de aceitar as consequências nefastas da escravidão até hoje, do genocídio indígena, imagina refletir sobre ditadura ...

Louise Ronconi de Nazareno