domingo, 11 de junho de 2017

Sérgio Braga______________Constatações de um grupo focal entre os cidadãos de bem. Esta semana fiz um curso de reciclagem no Detran, muito bom por sinal, e aproveitei para fazer uma espécie de "grupo focal" com o cidadão mediano infrator de trânsito sobre o processo político brasileiro contemporâneo. Dentre outras coisas que aprendi no curso, destaco as seguintes: (1) o discurso "anti-golpe" e do "estado de exceção" do oficialato petista não tem a menor aderência no eleitor mediano. Muitos consideram que se trata apenas de uma estratégia do PT para vitimar-se e unificar a "esquerda" em torno de si mesmo e do "lulismo", conservando sua hegemonia sobre o que resta de esquerdistas. O cidadão de bem considera que estamos vivemos numa democracia, embora corrupta, e que o impedimento de Dilma foi legal e legítimo, provocado pelas trapalhadas da própria presidenta e de Lula; (2) as acusações contra Aécio e outros tucanos de alto calibre impactaram fortemente o cidadão de bem, que se mostra perplexo e revoltado com as acusações. Entretanto, um argumento frequentemente utilizado é o de que "Nós punimos nossos corruptos e não os protegemos como os petistas"; (3) O cidadão de bem não tem a menor simpatia por Temer, mas considera que ele chegará até o final do governo, já que não há alternativas melhores colocados no presidente momento. O apoio à Lava Jato e aos "menudos de Curitiba" permanece forte, mas parece estar arrefecendo o ânimo de participar de manifestações públicas de apoio à mesma. (4) A raiva contra o PT também continua forte, mas estranhamento alguns outros esquerdistas são poupados e possuem menções positivas, tais como Aldo Rebelo, Flávio Dino e alguns outros. São apenas constatações sem o menor viés normativo, esclareço.

 Pois é, também me surpreendeu essa menção positiva, pois eu julgava que todas os comunistas comiam criancinhas. Entretanto, outros "vermelhos" também tiveram menção positiva, tais como Raul Jungman (muitos o consideram comunista, por ser do PPS), Chico Alencar etc. Marcelo FReixo é considerado um petralha enrustido (rs)...

Márcio Cunha Carlomagno_____________________ Estou impressionado com o cidadão mediano conhecer estes nomes, como Rebelo, Dino e Jungmann. Cá entre nós, não me parece que sejam exatamente "líderes nacionais" ou tenham forte apelo midiático fora de seus estados de origem.
Adriano Codato A Causa Operária continua sendo o único farol de racionalidade em meio a esse caos de paradigmas epistêmicos...

Adriano Codato http://causaoperaria.org.br/.../o-segundo-dia-julgamento.../

Adriano Codato Está aí uma análise que o professor Sérgio Braga assinaria.

Sérgio Braga Adriano Codato Eu preferiria dizer que são grupos estatutários weberianos ("elites burocráticas") orientados por interesses próprios de aquisição de status social e potência de mando (rs). Já está mais do que na hora de organizar uma dissidência desse nosso PCO aí, prof....
Adriano Codato Quem sabe um grupo de leitura de "Economia e Sociedade"?! ;)

Sérgio Braga Adriano Codato Depois da releitura de Talcott Parsons essa obra se tornou obsoleta. 

Firmino José Torres Ribeiro Sérgio Braga , deve ser o PCdo B do Ratinho, que abandonou o marxismo e aderiu ao queijo da burguesia

Dennison de Oliveira Parece ser uma amostra significativa. No mais é espantoso como a petralhada segue ignorando ou fazendo de conta que consegue ignorar o asco e repulsa que despertam entre pessoas comuns, em tudo similar à rejeição devotada aos milicos ao fim do regime deles

Sérgio Braga Também tenho essa impressão, Prof. Dennison de Oliveira, mas só o tempo dirá se ela é verdadeira. Espero que estejamos enganados. Agrego também a rejeição da população aos regimes do leste europeu e aos partidos comunistas a eles atrelados no final dos anos 80. Pelos meus cálculos, são necessárias três derrotas eleitorais consecutivas para que políticos desalojados do poder sofram um choque de realidade. Ainda faltam duas, portanto...

Camilo De Oliveira Aggio O cidadão de bem curitibano. Tratam-se de seres políticos bem singulares neste momento.



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construção do Paraná Europeu

Ricardo Costa de Oliveira___________Uma das pesquisas atualmente desenvolvidas no Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP-UFPR) é sobre a "construção do Paraná Europeu", de Leonardo Micheleto. Duas obras são essenciais: A Terra do Futuro, de Nestor Vitor (1913) e O Brasil Diferente, de Wilson Martins (1955). 

São "quase discursos oficiais", autorizados e subvencionados pelos interesses do poder estabelecido. Dentro da metodologia de investigação elaborada pelo NEP, uma sociologia política crítica dos intelectuais paranaenses tematiza os conceitos de classe social, espírito de família e genealogia, vide a importante obra de Maria Julieta Weber Cordova (Bento, Brasil e David: O discurso regional de formação social e histórica paranaense). Nestor Vitor era nascido em Paranaguá, com suas origens sociais, familiares e trajetória relativamente conhecidas. A novidade é que as origens de Wilson Martins, dado como nascido em São Paulo em 1921, eram invisibilizadas e serão decifradas, bem como a sua agenda social e política esclarecidas. O pai de Wilson Martins era professor de português e foi advogado provisionado em São Paulo. Veio fugindo da polícia e da justiça paulista para o Paraná. Aqui teve inserções profissionais, políticas e foi preso para ser julgado em São Paulo. O pai de Wilson Martins, Himelino Martins, nascido em Portugal, foi acusado na imprensa local de ter sido "polygamo, falsificador e sátiro". Como pode um filho de um imigrante português, brasileiro de primeira geração, como Wilson Martins, ter construído uma ideologia invisibilizando a experiência colonial portuguesa, os índios, africanos, negros e a própria centralidade da escravidão no Paraná, ao concluir "O Brasil Diferente: "Assim é o Paraná. Território que, do ponto de vista sociológico, acrescentou ao Brasil uma nova dimensão, a de uma civilização original construída com pedaços de todas as outras. Sem escravidão, sem negro, sem português e sem índio, dir-se-ia que a sua definição não é brasileira. Inimigo dos gestos espetaculares e das expansões temperamentais, despojado de adornos, sua história é a de uma construção modesta e sólida e tão profundamente brasileira que pôde, sem alardes, impor o predomínio de uma ideia nacional a tantas culturas antagônicas. E que pôde, sobretudo, numa experiência magnífica, harmonizá-las entre si, num exemplo de fraternidade humana a que não ascendeu a própria Europa, de onde elas provieram. Assim é o Paraná.

(MARTINS, W. Um Brasil diferente: ensaio sobre fenômenos de aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A Queiroz, 1989. p. 446.). Ideologias oficiais e burguesas, relativizando o racismo, a desigualdade social, estrutural e histórica protagonizada por algumas das mesmas famílias da classe dominante tradicional há séculos.

A Construção do Paraná "Europeu" | Micheleto | Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses da UFPR
A Construção do Paraná "Europeu"
REVISTAS.UFPR.BR

Uma das pesquisas atualmente desenvolvidas no Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP-UFPR) é sobre a "construção do Paraná Europeu", de Leonardo Micheleto. Duas obras são essenciais: A Terra do Futuro, de Nestor Vitor (1913) e O Brasil Diferente, de Wilson Martins (1955). São "quase discursos oficiais", autorizados e subvencionados pelos interesses do poder estabelecido. Dentro da metodologia de investigação elaborada pelo NEP, uma sociologia política crítica dos intelectuais paranaenses tematiza os conceitos de classe social, espírito de família e genealogia, vide a importante obra de Maria Julieta Weber Cordova (Bento, Brasil e David: O discurso regional de formação social e histórica paranaense). Nestor Vitor era nascido em Paranaguá, com suas origens sociais, familiares e trajetória relativamente conhecidas. A novidade é que as origens de Wilson Martins, dado como nascido em São Paulo em 1921, eram invisibilizadas e serão decifradas, bem como a sua agenda social e política esclarecidas. O pai de Wilson Martins era professor de português e foi advogado provisionado em São Paulo. Veio fugindo da polícia e da justiça paulista para o Paraná. Aqui teve inserções profissionais, políticas e foi preso para ser julgado em São Paulo. O pai de Wilson Martins, Himelino Martins, nascido em Portugal, foi acusado na imprensa local de ter sido "polygamo, falsificador e sátiro". Como pode um filho de um imigrante português, brasileiro de primeira geração, como Wilson Martins, ter construído uma ideologia invisibilizando a experiência colonial portuguesa, os índios, africanos, negros e a própria centralidade da escravidão no Paraná, ao concluir "O Brasil Diferente: "Assim é o Paraná. Território que, do ponto de vista sociológico, acrescentou ao Brasil uma nova dimensão, a de uma civilização original construída com pedaços de todas as outras. Sem escravidão, sem negro, sem português e sem índio, dir-se-ia que a sua definição não é brasileira. Inimigo dos gestos espetaculares e das expansões temperamentais, despojado de adornos, sua história é a de uma construção modesta e sólida e tão profundamente brasileira que pôde, sem alardes, impor o predomínio de uma ideia nacional a tantas culturas antagônicas. E que pôde, sobretudo, numa experiência magnífica, harmonizá-las entre si, num exemplo de fraternidade humana a que não ascendeu a própria Europa, de onde elas provieram. Assim é o Paraná.
(MARTINS, W. Um Brasil diferente: ensaio sobre fenômenos de aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A Queiroz, 1989. p. 446.). Ideologias oficiais e burguesas, relativizando o racismo, a desigualdade social, estrutural e histórica protagonizada por algumas das mesmas famílias da classe dominante tradicional há séculos.

A Construção do Paraná "Europeu" | Micheleto | Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses da UFPR
A Construção do Paraná "Europeu"
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Walmir Braga Júnior _____________________Um tema muito legal e que desafia a todos nós. Por sua enorme eficácia e penetração social, o mito de uma Curitiba europeia é o mais importante da história paranaense. Em minha dissertação, ao eleger como um dos níveis de análise a história de Curitiba, também esbarrei nele. Fiz duas observações: 1) como o mito foi moldado de modo a aproximar-se do self made man norte-americano, ao eleger o alemão protestante como símbolo da identidade paranaense; e 2) como, nos anos 1920, sua caracterologia irá se opor diametralmente a certos elementos valorizados em São Paulo (o que faz com que o "tipo paranaense" e Macunaíma sejam o diametral oposto um do outro). É interessante ver como esse mito sempre volta, aliando-se a grandes interesses políticos e econômicos. Nas entrevistas com Jaime Lerner e Greca sobre Poty, ele veio a contrabando. O estudo sobre o mito e sua caracterologia merecem ser aprofundados.

João Simões Lopes Filho ______________________Seria interessante um entendimento de como se formam grandes áreas socio-culturais dentro do Brasil e como cada unidade da federação constrói sua própria identidade, com o adicional de como essa identidade é vista pelas outras. Daí surgem estereótipos como o carioca, o paulista, o mineiro, o cearense, o nordestino, o caipira, etc.

A gente nota por exemplo uma sobreposição de duas grandes áreas "culturais" (me foge agora um termo mais adequado): o Brasil Bandeirante que de certa forma cobre quase todo o interior do Sul e Sudeste, e avança sobre o Centro-Oeste e vem colonizando áreas agrícolas de Rondônia, Pará e Roraima. É o país dos fazendeiros, dos sertanejos. Outra é a do Brasil Sulino Europeizado, que une a Região Sul, inclusive seus centros urbanos, avança para São Paulo e Mato Grosso. Na área urbana de São Paulo a identidade europeizada mais reforçada é a italiana que alemã. O importante dessa europeização brasileira sulista é que ela é fervorosamente anti-portuguesa, anti-ibérica e anti-latino-americana. Talvez chegue no Rio de Janeiro apenas em redutos de elite, eventualmente com raízes sulistas, ou em descendentes de imigração europeia mais recente. Esse Brasil Europeizado rejeita o ibérico, o latino-americano, o africano, o índio, o favelado, o nordestino, e em certa medida, o carioca como estereótipo do favelado-miscigenado-sambista.

Por outro lado há um certo Brasil Sulista Praiano, que vai do Espírito Santo até Rio Grande, que de certa forma rejeita o elemento "caipira" e também pode em sua elite almejar uma Europeização.