domingo, 27 de janeiro de 2013
[O que dizíamos um ao outro não delineava exatamente uma conversa e sim um amálgama de enigmas, de vozes refratárias, pois recorríamos à nossa língua materna, que para o outro nada mais era senão sons sem sentido, palavras que passam por um prisma invisível, melodia pura tragada pelo vento morno, sons lançados na atmosfera e engolfados pela bruma; o chuvisco incessante, nos sonhos.]
Milton Hatoum
Relato de um certo Oriente
pag 60 edição CompanhiaDeBolso
Coisas que andam no ar
“Foi uma coisa que me passou pela cabeça”, costuma-se
dizer. E agrada-me esta expressão. Uma coisa que nos passa pela cabeça me
parece muita mais universal e portanto mais verdadeira do que uma coisa que nos
saem da cabeça.
- Mario Quintana, in: Da Preguiça como Método de
Trabalho, 1987.
Nas épocas em que o Diabo
prosperava, o pânico, o horror, as desordens eram males que gozavam de proteção
sobrenatural: sabia-se quem os provocava, quem presidia sua expansão; hoje,
abandonados a si mesmos, transformam-se em “dramas interiores” ou degeneram em
“psicoses”, em patologia secularizada.
Cioran
Cioran
Entre as múltiplas virtudes de Chuang-Tsê
estava a habilidade para desenhar. O rei pediu-lhe que desenhasse um
caranguejo.Chuang-Tsê disse que para fazê-lo precisaria de cinco anos e uma
casa com doze empregados. Passados cinco anos, não havia sequer começado o
desenho. "Preciso de outros cinco anos", disse Chuang-Tsê. O rei
concordou. Ao completar-se o décimo ano, Chuang-Tsê pegou o pincel e num
instante, com um único gesto, desenhou um caranguejo, o mais perfeito
casranguejo que jamais se viu.
(Do livro Seis Propostas para o Próximo Milênio,
Sobre Rapidez, de Italo Calvino,1990)
Assinar:
Postagens (Atom)