domingo, 30 de outubro de 2016

Euclides da Cunha


Antropólogo descreve "era das identidades múltiplas"


Em entrevista à DW-WORLD.DE, Constantin von Barloewen fala das diferenças culturais entre as Américas, descreve o ensaio como gênero literário latino-americano por excelência e aposta numa nova sociedade intercultural.

Grandes cidades européias: identidades múltiplas são a regra

Constantin von Barloewen é professor de Antropologia Comparada da Escola Superior de Design e Artes de Karlsruhe. Nascido em 1952 em Buenos Aires, cresceu na Argentina e na Alemanha, deu aulas em várias universidades da Europa e dos EUA e vive atualmente em Paris.

É autor de diversos livros, como Clown. Por uma Fenomenologia do Tropeço (Clown. Zur Phänomenologie des Stolperns), História da Civilização e Modernidade na América Latina (Kulturgeschichte und Modernität Lateinamerikas) e o recém-publicado na Alemanha Antropologia da Globalização (Anthropologie der Globalisierung). Leia abaixo a íntegra da entrevista com o escritor.

DW-WORLD.DE: Em seu livro Antropologia da Globalização, o senhor afirma que a cultura latino-americana se distingue essencialmente da norte-americana, seja na visão da morte, da natureza ou mesmo nas relações entre os gêneros. O diálogo entre essas culturas é possível?

Constantin von Barloewen: Esse diálogo é, no mínimo, bastante difícil, porque todas as constantes antropológicas – se é que se pode dizer assim – entre as culturas latino e norte-americana são completamente distintas. A América Latina se caracterizou até o século 19 pela Escolástica católica, muito metafísica, espiritual e transcedental. Esse transcedentalismo se opõe à tradição cultural norte-americana pragmática, empírica, lógica e analítica.

Quando foram fundadas as primeiras universidades na América Latina, no fim do século 15 e início do 16, no México e no Peru, que formações eram oferecidas? Além de Medicina, estudava-se Teologia, Filosofia, Ciências Humanas. E quase nenhuma ciência natural ou empírica. Ao contrário da América do Norte, onde, quando da fundação das primeiras universidades (Harvard, Princeton, Yale, etc), cem anos depois da América do Sul, foram oferecidas, de início, formações em Física e Química, por exemplo – ciências úteis e aplicáveis.

Constantin von Barloewen: diferenças culturais em foco

Obviamente a diferença hoje não é tão clara como no início do período coloonial, isso é claro. Mas se você pensa nos mal-entendidos, ou melhor, na falta de compreensão da administração norte-americana em relação à América Latina, essas diferenças ainda são visíveis. A falta de compreensão da América do Norte frente à América do Sul não se dá somente devido a fatores econômicos ou políticos, mas é, do ponto de vista antropológico, resultado de uma história cultural, de vários séculos, completamente distinta entre as duas partes do continente.

Hoje, porém, a América Latina mobiliza-se cada vez mais através do Mercosul, por exemplo, ou na oposição à Alca, a zona de livre comércio. Os sul-americanos simplesmente não querem mais ser apenas mercados receptores dos produtos norte-americanos. Hoje, forma-se cada vez mais uma identidade latino-americana frente à hegemonia norte-americana.

Na sua opinião, o culto ao vencedor não faz parte da cultura latino-americana como faz da norte-americana. O senhor diz que a América Latina, ao contrário, cultua mais a "dignidade do derrotado". Poderia citar exemplos concretos que comprovem esse hipótese?

Quando você toma os conceitos de pobreza e dignidade como constantes antropológicas, há de se lembrar, por exemplo, das grandes obras de Diego Velásquez [pintor espanhol, 1599–1660], nas quais um derrotado ou um pobre ainda pode manter sua dignidade, mesmo não sendo materialmente rico. Isso seria impensável na cultura norte-americana, que preza os grandes números, a vitória, o sucesso material.

O senhor descreve uma certa "falta de lugar" do latino-americano, que, entre outros, seria visível na literatura do continente. Poderia citar exemplos?

Penso nas primeiras obras de Ortega y Gasset. Ele esteve em 1917 pela primeira vez na América Latina, viajou pela Argentina e escreveu maravilhosamente sobre os "horizontes abertos", que o impressionaram muito. Penso também em Octavio Paz com seu Labirinto da Solidão, em Borges com seu conto maravilhoso O Sul. E penso também em filmes como os de Fernando Solanas sobre o sul ou de Carlos Sorín, diretor argentino, com seu belíssimo O Cachorro (Bombón, el perro). Essa falta de lugar, que é sempre associada ao sul, é específica da literatura e da arte latino-americanas.

O senhor descreve o ensaio como sendo uma forma de expressão latino-americana por excelência. Esse pensador ensaísta não existe da mesma forma no Velho Mundo?

João Guimarães Rosa: um entre os vários diplomatas-escritores latino-americanos

É claro que existem exemplos europeus de pensadores. No entanto, a especificidade do latino-americano está nessa coesão do pensamento entre literatura, política e ciência, na mistura dessas três formas e também na relação com questões sociais, com questionamentos sobre a justiça. Carlos Fuentes, Octavio Paz, Pablo Neruda, Miguel Ángel Asturias ou Guimarães Rosa (este último no Brasil) – foram diplomatas. Todos, de certa forma, oscilavam entre a política e a literatura. Ou seja, mesmo diante de todos os exemplos europeus, continuo a acreditar que este tipo de pensador é uma especificidade latino-americana.

Seus textos em Antropologia da Globalização se aproximam muito da forma do ensaio. Suas descrições da pequena comunidade de Sosua, na República Dominicana, chega a se assemelhar a um roteiro cinematográfico. O senhor acredita que redige seus textos desta forma devido às suas raízes latino-americanas?

Com certeza. Embora seja preciso dizer que o caráter literário do texto sobre Sosua foi uma opção consciente. Quando estive na Universidade de Harvard, em 1982, fui convidado a ir à República Dominicana. Sosua era, naquela época, uma província completamente desconhecida, cheia de imigrantes judeus. Hoje, o lugar se tornou, infelizmente, quase um ponto turístico.

De forma geral, acredito que a inteligência intuitiva é muito superior e se aproxima, no fim das contas, mais da empiria. Não acredito na chamada objetividade científica nas ciências humanas, como a conhecemos nas ciências naturais. A inteligência intuitiva é para mim, como antropólogo, muito importante.

O senhor afirma em seu livro acreditar que a América Latina pode se tornar "um exemplo, no futuro, da superação das cancelas religiosas ou raciais" para o resto do mundo. No entanto, em vários países, como no Brasil, o racismo é inerente à sociedade.

'Antropologia da Globalização', de Constantin von Barloewen

Tenho consciência de que o Brasil não é, de forma alguma, apenas a democracia étnica descrita com um excesso de otimismo por Gilberto Freyre nos anos 1930. Por outro lado, não acredito mais num mundo sob a hegemonia norte-americana, mesmo quando eles insistem em espalhar canhões, como fizeram no Iraque.

Acredito num mundo multipolar, num mundo de arquipélagos, como a América Latina já conhece há muito tempo. A América Latina é caracterizada por uma lógica híbrida (talvez seja possível explicar desta forma), onde o logos e o mito se unem e onde não há lugar para um logocentrismo puro, para o racionalismo e para o utilitarismo como na América do Norte.

O senhor diz acreditar na "incompatibilidade entre a cultura latino-americana e as exigências de uma civilização tecnológica“. O que o senhor quer dizer exatamente com isso?

A compatibilidade entre tecnologia e cultura é distinta nas Américas do Norte e Latina. Da mesma forma como a esprititualidade também é uma outra, o que leva a uma ética de trabalho também distinta. O caráter retórico da Constituição democrática ilustra a situação. Na América Latina, copiou-se muito da Europa, mas tudo aquilo era só papel, maculatura.

O continente tem, até hoje, uma relação debilitada com a modernindade. E as constituições têm, com freqüência, até hoje, um caráter meramente retórico, sem que haja uma identidade entre Constituição e realidade. É como uma cobertura sobre o bolo. O bolo é a herança cultural dos 400 anos. A modernidade é apenas a calda que cobre, mas não chega a adentrar o bolo.

Há em determinadas regiões da América Latina uma forma circular de lógica e uma outra forma de racionalismo, outras metáforas antropológicas. Pacha mama, a mãe natureza, tem outros significados. A natureza não está lá para ser militarmente subjugada, como na América do Norte, mas o homem precisa se curvar à ela, devido a seu caráter sagrado. A modernidade, neste caso, é, para mim, o mesmo que violentar a tradição cultural.

O senhor defende uma identidade que seja fortemente permeada pela interculturalidade. As tendências políticas na Europa, pelo menos em relação ao não-europeu, parecem seguir outro caminho. Como o senhor vê essa situação?

Obama: sinal de mudanças de paradigmas

Acredito que haja cada vez mais gente que não tem mais uma raiz, mas sim um entrelaçamento de raízes e identidades. Vivemos numa civilização na qual há cada vez mais pessoas viajando – através do turismo, viajar se tornou relativamente barato. É possível pertencer a diversas culturas ao mesmo tempo.

Há identidades múltiplas e o homem não será nunca mais membro de uma determinada cultura. Um habitante da Indonésia, por exemplo, pode ser ao mesmo tempo muçulmano, cidadão indonésio e amante da música clássica ocidental. Um japonês pode facilmente amar os filmes neo-realistas italianos.

Na civilização atual, temos automaticamente várias identidades. Este é o ponto: a identidade intercultural é sempre mais do que uma ou outra identidade. Ela é um terceiro fator, algo novo muito mais abrangente, porque abarca em si várias identidades e tradições culturais distintas.

O senhor cita Relato de um Certo Oriente, romance do escritor brasileiro Milton Hatoum, como uma obra de traços transculturais, onde se cria uma ponte entre Ocidente e Oriente. Tais cenários híbridos são também possíveis no chamado Velho Mundo?

Acho que sim. Quando você pensa nos milhões de africanos do norte do continente que vivem hoje na França, ou nos paquistaneses e hindus em Londres ou nos mexicanos na América do Norte, percebe que está havendo uma deslocamento elementar.

A provável eleição de Barack Obama à Presidência dos EUA é somente a expressão dessa mudança de paradigmas, dessa nova atribuição de significado do mundo multipolar. Obama como negro na Presidência iria simbolizar uma nova civilização. Uma mudança geopolítica de paradigmas não apenas na economia, mas também em toda a postura étnica dos EUA. Ele pode se transformar no rosto antropológico de uma nova civilização mundial.

Autoria Soraia Vilela

Assuntos relacionados Brasil, América Latina, Venezuela
Palavras-chave Constantin von Barloewen, globalização, antropologia, América Latina, Brasil, história, livro, publicação, socieade

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O imaginário da globalização


O discurso político aposta na globalização como solução dos problemas crônicos da UE. Mas na opinião pública alemã e nas análises sociológicas, globalização ainda desencadeia visões apocalípticas do futuro.
Manifestantes em Munique, em fevereiro último

Para a maior parte das pessoas do mundo, a globalização não passa de uma miragem, longe de ser realidade: esta é a tese do economista francês Daniel Cohen.

Por um lado, os países ricos se confrontariam com outras sociedades sobretudo através da televisão e de férias exóticas, enquanto os países pobres seriam bombardeados com imagens de uma riqueza de que não dispõem.

Em Mondialisation et ses ennemis (2004), Cohen argumenta que a globalização de hoje, na verdade, é imóvel. Afinal, os imigrantes perfazem atualmente apenas 3% da população mundial, enquanto em 1913 este índice era de 10%.

O mal necessário

Mesmo assim, a imagem da globalização que se cristaliza na opinião pública alemã é fortemente vinculada ao temor de deslocamentos drásticos e da ameaça de uma mobilidade descontrolada.
Protesto de agricultores alemães e franceses contra a redução da taxação alfandegária de produtos agrícolas, dezembro de 2005

O discurso político europeu tenta propagar que a única saída para problemas econômicos crônicos da União Européia seria se adaptar com maior flexibilidade aos desafios da globalização. Mesmo assim, os países-membros tendem nitidamente para o nacionalismo econômico, bloqueando estratégias de liberalização até dentro da comunidade.

Em um recente simpósio sobre empresa, Estado e globalização, realizado em Berlim, o historiador Gerald Feldman defendeu a elaboração de um cronograma europeu para a solução de problemas como desemprego e imigração. A abordagem da imigração como um problema marca um debate público que voltou a se inflamar há alguns meses com o temor de um "choque de civilizações" entre Ocidente e o mundo islâmico.

Alemães-alemães em extinção

Na Alemanha, esta discussão culminou em visões apocalípticas sobre o futuro da sociedade, teoricamente ameaçada pela baixa taxa de natalidade da população puramente alemã e o crescimento das famílias imigradas.

Em 'Complô de Matusalém', livro de 2004, Schirrmacher tratava do envelhecimento da população
No livro recém-publicado Minimum – Vom Vergehen und Neuentstehen unserer Gemeinschaft (Minimum – Do Desaparecimento e Ressurgimento da nossa Comunidade), o jornalista e editor-chefe do Frankfurter Allgemeine Zeitung, Frank Schirrmacher, esboçou o futuro de uma sociedade em as pessoas terão poucos ou nenhum parente de sangue, em decorrência do envelhecimento demográfico e dos múltiplos efeitos da globalização.
A tese do jornalista recebeu críticas por promover visões sensacionalistas hostis a uma sociedade multicultural, mas veio a calhar para a política restritiva de imigração e o programa coercivo de integração do governo democrata-cristão e social-democrata em Berlim.

"Em 2010 haverá tantos estrangeiros quanto jovens alemães": este o título de uma entrevista da subsecretária de Estado Maria Böhmer, encarregada do governo federal para assuntos de integração, ao jornal popular Bild.

A democrata-cristã prevê que, daqui a quatro anos, o índice de pessoas com menos de 40 anos provindas "de um contexto de migração", em grande parte sem qualificação profissional, chegará a 50% nas cidades grandes. A projeção deste cenário como fracasso da sociedade multicultural desencadeou inúmeras críticas na imprensa alemã.

Estado nacional, não social

O temor de que as identidades locais se dissolvam em decorrência da globalização levou a uma nova defesa e legitimação do Estado nacional. Para o sociólogo Ralf Dahrendorf, defensor do liberalismo político, a atual "moda" de minimizar a importância do Estado nacional diante da formação de blocos econômicos regionais e de instituições globais é errônea e até perigosa.

"Apesar da contínua busca de novas identidades – européias, latino-americanas e outras – e apesar das várias referências a uma nova cidadania mundial ou até uma 'sociedade global de cidadãos', a maioria das pessoas se sente em casa em seu país, num Estado nacional a que eles pertencem como cidadãos", afirmou o sociólogo em artigo publicado no diário conservador Die Welt.

Tradições políticas extra-nacionais, como o Estado social europeu, estão sendo questionadas como construção. Num recente simpósio sobre globalização e cultura social, o teórico de cultura econômica Joachim Zweynert argumentou que uma cultura social comum da Europa seria apenas uma reação à crise em que se encontra o continente: "Toda discussão sobre um modelo social europeu é uma mera tentativa das elites de encontrar sustentação diante dos desafios da globalização".

O 3º Mundo não é longe daqui?

O temor da dissociação das fronteiras nacionais, culturais e étnicas vem acompanhado da apreensão por uma possível globalização do terceiro-mundismo. Para o sociólogo e historiador Reinhart Koessler, o subdesenvolvimento já perdeu o vínculo territorial e deixou de ser privilégio do Terceiro Mundo.

Sem-teto na Alemanha

"Os excluídos, discriminados e abandonados das inner cities da América do Norte e dos banlieues de Paris – assim como aqueles que vivem nas amplas regiões da África, América Latina e Sudeste Asiático desvinculadas do mercado mundial – são confrontados com uma realidade impiedosa semelhante: quem depende – para sua sobrevivência – de ser inserido no contexto de aproveitamento capitalista está em desvantagem se não conseguir realizar a exploração de sua própria mão de obra", afirmou o sociólogo em artigo publicado no diário berlinense taz.

Comparações do gênero dão a pensar por sua falta de parâmetros reais. E talvez corroborem a opinião de Daniel Cohen de que, nos países ricos, a globalização é – de fato – sobretudo imaginária.

Sensibilidade islâmica e massas movidas a mídia

Intelectuais atuantes na Alemanha comentam a onda de violência desencadeada pelas polêmicas charges de Maomé. A dinâmica da mídia é tão poderosa no contágio das massas, que nem importa mais qual tenha sido o motivo do conflito. 



Autoria Simone de Mello

Assuntos relacionados Lago de Constança, Mercedes-Benz, Baden-Württemberg, Camarote.21, Cerveja, Alemanha
Palavras-chave globalização, alemanha, opinião, pública, sociologia, subdesenvolvimento, terceiro mundo

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Emigrante che vieni Emigrante che vai (Canti popolari)

Diversidade cultural nas escolas é relevante para as aulas de História


A percentagem de filhos de imigrantes nas escolas alemãs é cada vez maior. Especialistas avaliam o quanto essa diversidade cultural e religiosa influencia as aulas de história.

Alunos de diferentes origens dão contribuições distintas nas aulas de História

A partir dos anos 1950, a Alemanha recebeu, durante várias décadas, o que se convencionou chamar de "trabalhadores convidados" (Gastarbeiter). Muitos deles acabaram ficando no país. Hoje, nas grandes cidades alemãs, é comum encontrar salas de aula com grande número de descendentes de imigrantes.
Num estudo realizado com recursos da Fundação Körber, de Hamburgo, especialistas avaliaram quais são as influências das diversas tradições culturais e religiosas para as aulas de história na Alemanha.

"Saltamos da Revolução Francesa para o período nazista, quer dizer, antes passamos rapidamente pela República de Weimar, mas ficou faltando tudo o que aconteceu entre uma coisa e outra. Não sei como a Europa se desenvolveu nessa época. O mesmo acontece com a minha própria história. Sou de origem turca, mas não estudei a história do Império Otomano", conta Hakan, estudante do Instituto Asiático-Africano da Universidade de Hamburgo.

Distância da realidade

Prisioneiros a caminho do campo de extermínio de Treblinka: perseguição aos judeus é tema recorrente nas aulas de História

A mesma crítica é feita por outro estudante, Bilal, filho de libaneses. Segundo ele, Hitler e a história do nazismo foram tratados nas aulas de História durante muitos anos, fazendo com que a abordagem do tema se tornasse cada vez mais distante da realidade.

"As aulas foram ficando cada vez mais objetivas, mais frias. Foi se perdendo a relação humana com o assunto, porque se repetia demais cada detalhe. Chega um ponto em que a história do nazismo se torna simplesmente um tema a ser obrigatoriamente tratado, mas as tragédias que se escondem por trás não são mais mencionadas, de tanto que o assunto é mastigado. É como quando você vê um filme muitas vezes e perde a relação com ele. Aí você não quer mais ver o filme pela vigésima vez", comenta o estudante.

Abordagem contemporânea

O período nazista e o extermínio de seis milhões de judeus é um dos temas centrais das aulas de História na Alemanha. O extremismo político e o antissemitismo entre jovens muçulmanos no país fazem com que o assunto, hoje, receba um destaque ainda maior.

Sebastian Marcks, professor de História na escola Johannes Brahms, no norte do estado de Schleswig-Holstein, não acredita que os temas tratados nas aulas de História deveriam ser outros; a forma de abordá-los, sim, é que deveria mudar. Filmes, jogos ou romances históricos poderiam, segundo ele, servir de base para uma aula de História mais moderna. Neste sentido, é preciso prestar atenção somente na veracidade dos fatos. E corrigir as abordagens errôneas durante as aulas.

Histórias pessoais

Em suas aulas sobre o nazismo, Marcks não faz seus alunos seguirem à risca os livros de história. No centro de seu curso estão, muito mais, as lembranças pessoais, ou seja, "histórias contadas".

Quando o assunto na sala eram os testemunhos da Segunda Guerra e dos anos do pós-guerra, "os alunos se mantiveram muito retraídos, até superarem um bloqueio inicial. Alguns tinham um parente, às vezes um avô, a quem podiam fazer perguntas. Mas outros não tinham. Foi quando os aconselhei a ir até um asilo de idosos ou dar uma olhada na vizinhança. Mesmo sem muito entusiasmo no começo, eles acabaram indo e os resultados foram ótimos. Eles gravaram entrevistas e nós produzimos um programa de rádio com esse material. Ou seja, esse é um tipo de aula voltada para a realização de um produto", explica o professor.

Diversidade de informação

Escola com alunos de várias origens: histórias também diversas

O historiador Rainer Ohliger escreveu, junto com Viola Georgi, professora de Educação Intercultural da Universidade Livre de Berlim, o livro Crossover Geschichte (História crossover).

Neste, os autores apontam as falhas de dar aulas de História hoje, como se fosse 50 ou 60 anos atrás. Naquele tempo, a maioria dos estudantes estava, há várias gerações, enraizada na Alemanha. Numa sala de aula hoje estão sentados, muitas vezes, escolares com pais vindos de 20 nações diferentes ou mais.

Histórias sobrepostas

"Isso implica uma maior diversidade nas aulas de História", analisa Ohliger. "Os alunos trazem mais histórias, as informações não são mais uniformes como eram há 30, 40 ou 100 anos, quando as histórias iam sendo passadas de pai para filho, sem que mudasse muita coisa. E eram histórias sempre parecidas com as dos outros colegas também. Hoje, as histórias das famílias são diferentes; a forma de contá-las e os contextos nos países de origem dos pais desses alunos também são distintos. E ainda há a história da própria migração, que desempenha um papel importante. Daí surge um mosaico no qual se sobrepõem muitas histórias, interpretações e formas de narrar, o que acaba gerando algo novo", completa o especialista.

Não seria o caso, todavia, de jogar o livro de história do avô no lixo. A Segunda Guerra e o período nazista são um capítulo da história alemã que não se apagou automaticamente nem para sempre depois de 1945. Estudantes, professores e pesquisadores precisam, contudo, atualizar a forma de tratar do assunto. Só assim os jovens – sejam eles descendentes de migrantes ou não – poderão reconhecer como as lições do passado são importantes para o presente e para o futuro.

Autora: Ute Hempelmann

Revisão: Simone Lopes

Acordo para levar mão de obra turca à Alemanha completa 55 anos

Grupo de 55 trabalhadores turcos chega à Alemanha em novembro de 1961
Deutschland türkische Gastarbeiter 1961 (picture-alliance/dpa/W. Hub)

Após a Segunda Guerra, a produção na Alemanha Ocidental cresceu tanto que havia mais trabalho do que mão de obra. Em 30 de outubro de 1961, um acordo com a Turquia buscou resolver o problema.


Há 55 anos, em 30 de outubro de 1961, era assinado na então capital Bonn o chamado "Acordo de recrutamento" entre a Alemanha e a Turquia. Seu objetivo era trazer turcos saudáveis e solteiros para trabalhar na Alemanha, num tratado bilateral que, nas décadas seguintes, iria mexer profundamente na demografia alemã.

Os termos incluíam o pagamento da passagem e despesas de viagem até a Alemanha. O bilhete de volta para a terra natal, por outro lado, caberia ao empregador alemão – porém não em todos os casos. Assim rezava o "Regulamento da contratação de empregados turcos para a República Federal da Alemanha".

Dupla vantagem

Antes, a Alemanha já havia firmado acordos de recrutamento de mão de obra com a Itália (1955) e a Espanha (1960). Depois da Turquia, e até 1968, vieram Marrocos, Portugal, Tunísia e a então Iugoslávia.
 Deutschland türkische Gastarbeiter 1960/70 (picture-alliance/CPA Media Co. Ltd)
Ministro turco do Trabalho, Ali Naili Erdem (esq.), visita a Ford na Alemanha, 1964
Durante o assim chamado "milagre econômico", o país precisava de reforço operário. Em seguida à Segunda Guerra Mundial, a produção na Alemanha Ocidental crescera tanto que havia mais trabalho do que mão de obra nas fábricas e minas.

O acordo de 1961 permitiu à Alemanha Ocidental abrir uma sucursal da agência alemã de trabalho em Istambul. Os empregadores alemães podiam comunicar a essa central suas necessidades concretas de trabalhadores. A agência, por sua vez,  recebia as candidaturas, fazia uma seleção preliminar e organizava a apresentação dos trabalhadores.

O grande afluxo de interessados em trabalhar na Alemanha tinha duas vantagens para a Turquia: eles eram bem pagos, e geralmente enviavam dinheiro para suas famílias no país natal. Além disso, através da nova atividade, os operários se qualificavam profissionalmente, podendo mais tarde levar esses conhecimentos de volta para a Turquia.

Hóspedes por tempo limitado

A atuação dos contratados turcos deveria ser por prazo limitado. Assim, da mesma forma que seus colegas italianos, gregos ou espanhóis, eles eram chamados de gastarbeiter (trabalhadores convidados). Após dois anos, deveriam voltar para o país de origem, sendo substituídos por novos candidatos, uma medida que visava evitar a imigração. De início, a vinda da família também era proibida.


Por desejo dos empregadores, a nova versão do acordo com a Turquia, de 1964, suspendeu a restrição de dois anos de permanência. Era demasiado caro e trabalhoso repetidamente trazer e treinar novos operários. Mais tarde, passou-se a também permitir que trouxessem suas famílias para a Alemanha.

Porém o milagre econômico alemão foi cortado pela crise econômica no início da década de 1970, desencadeada pela crise mundial do petróleo. Em 1973,suspendeu-se o recrutamento de trabalhadores convidados: neste meio tempo, 2,7 milhões de turcos haviam se candidatado ao trabalho na Alemanha Ocidental. Contudo, apenas cerca de 750 mil vieram de fato e, segundo estimativas, a metade deles permaneceu no país.

Opções forçadas

Hoje, os turcos constituem o maior grupo de imigrantes da Alemanha: aqui vivem pelo menos 3 milhões de pessoas nascidas na Turquia ou de ascendência turca. Destas, 800 mil possuem nacionalidade alemã.
Mas os turcos não podem manter dupla cidadania, por isso, os que nasceram na Alemanha e possuem ambas as nacionalidades têm que optar por um dos dois passaporte até os 23 anos de idade.
Apesar do grande número de operários recrutados que optaram por viver aqui, a Alemanha só foi declarada país de imigração de fato através das leis de cidadania do ano 2000 e da lei de imigração de 2005.
Relíquias da Guerra Fria


Data 30.10.2016
Autoria Klaudia Prevezanos (ms)


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Em Juiz de Fora, muita gente manipulada pela mídia reelegeu o candidato do PMDB, não porque suas propostas fossem melhores ou seu mandato seja eficiente, mas por um tal de ódio ao PT. O que mais se lia nas redes sociais era sobre esse ódio. Então o ódio não deixou que a candidata do PT vencesse, não foi o programa dela, foi o ódio, o ódio burro, o ódio da ignorância. Mesmo com projetos para a saúde e educação muito superiores ao quem vem sendo feito (aliás, não feito) na cidade, o ódio venceu. Não se votou pensando naqueles que precisam das unidades de saúde do município, das creches ou das escolas. Penso que ser limitado é isso, é não conseguir ir além de si mesmo, é não saber pensar socialmente na hora de um voto, é não saber cidadania ,é ser levado pelo ódio da ignorância.

Lázara Papandrea

O NOVO DE NOVO !!!!!!

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E não é que os ventos renovadores da política nacional parece que vieram para ficar de vez ? O novo, a renovação tão reclamada pelo povo vestido de palhaç.....quero dizer de patriota verde e amarelo que invadiu as ruas , praças e avenidas chegou e chegou com força total.
Porto Alegre na vanguarda do atraso elege Nelson Marchezan Jr, um neófito na política, novinho e que nem sabia o que era isso até o outro dia. prova é que seu pai foi deputado da ARENA partido da sustentação do golpe de 64 e foi líder do governo ultimo governo golpista daquele período , o do General Figueiredo.
Portanto as credenciais do indigitado falam por si, nem precisa escrever mais nada e só nos resta parabenizar esse povo maravilhoso da capital gaúcha pela sua excelente e renovadora escolha pois nada faz mais sentido do que eleger um filho golpista de um pai golpista.
Mais uma vez parabéns povo gaúcho, parabéns povo brasileiro que mais uma vez deu provas ao criador que foi uma excelente escolha dele em não colocar vulcões, terremotos, maremotos e tsunamis por aqui, com esse povo somos um país totalmente auto suficiente em catástrofes .

Amém !!!!!

Rubem Gonzalez

REFLEXÃO, A QUENTE, DE UM MILITANTE DE ESQUERDA INDIGNADO

Milton Temer

REFLEXÃO, A QUENTE, DE UM MILITANTE DE ESQUERDA INDIGNADO - Tristes tempos. Terminado o segundo turno, que ninguém me venha mais com a vitória do “ninguém”. Voto nulo e voto branco, queiramos ou não, só garantem a vitória de quem ganhou.
E quem ganhou foi a direita.
O retrocesso e até o obscurantismo se instalam pelo voto popular. Os golpistas festejam, e já estão aí as manchetes dizendo que o governo golpista saiu das urnas referendado.
Como explicar isso depois de 14 anos da eleição de líder sindical, e de seu partido definido como classista, dos trabalhadores, socialista?
Ouso dizer, e que ninguém me venha de borzeguins ao leito achando que não é hora de comentar, que mergulhamos nesse cenário trágico exatamente por conta deste combinado Presidente eleito/cúpula do neoPT não ter tido a coragem política de por em prática nada daquilo que justificou sua esperançosa chegada ao Planalto.
Pelo contrário.
Traiu o que marcava sua caminhada quase heroica de duas décadas na oposição aos governos neoliberais e se instalou, não para desconstruir, mas, sim, par dar continuidade ao que antes condenava.
Neste último período, então, chegamos ao alambrado da vilania, quando não da traição vil, pela vilania do estelionato eleitoral de Dilma Roussef.
Estelionato, ademais, que terminou por concorrer de forma intensa com a audácia de uma direita absolutamente bandalha - porque muito mais corrupta, oportunista e desqualificada, do que propriamente ideológica.
Veto à Auditoria da Divida que o PSOL conseguiu fazer aprovar no Congresso; sanção da Lei Antiterror, hoje principal instrumento de repressão do clone pindorama de Mussolini; acordo para o primeiro passo do projeto criminoso de entrega do Pré-Sal, proposto por José Serra; para além das tentativas de “ajuste”, via Levy e Nelson Barbosa, na linha do que o economista referencial de Lula, o banqueiro tucano Henrique Meirelles, ora implementa ritmo acelerado.
Está aí uma penca de rendições humilhantes que não impediram que a direita mais reacionária rompesse o Pacto Conservador de Alta Intensidade que mantinha com o lulopragmatismo.
O resultado não poderia ser outro, senão a tragédia concretizada nessa ascensão brutal do retrocesso político e social .
Uma tragédia que lamentavelmente não se restringiu aos responsáveis pela desmoralização de suas bandeiras.
Frustrou também os esforços do PSOL, no Rio, em Belém e em Sorocaba.
Que essa cúpula petista seja rapidamente varrida, para que a esquerda possa reiniciar sua afirmaçãoo de valores reformistas e revolucionários.
PS - Não culpo eleitores que optaram pelo obscurantismo no Rio. Que ele realize, na própria vida, a responsabilidade pela eleição de um perigoso reacionário, apóstolo do mais abjeto obscurantismo. E daí tire as consequências. Deposito minhas esperanças na lucidez, na coragem e na combatividade dos que sufragaram Marcelo Freixo

Luta que Segue!! Pois Moer no Áspero é nossa sina

Eleições municipais


Quem perdeu?
São todos presos, todos pretos, todas mulheres, são todos pobres, todo poetas todos loucos e miseráveis.

Vida que segue.

Jose Carlos Sucupira

A direita passou o rodo nas eleições municipais. Será que deveriam mesmo comemorar?
Agora vão ter que governar sem grana para cumprir as muitas promessas e provar que são a solução.
Vão ter que fazer a mágica de defender estado mínimo e ao mesmo tempo garantir a melhoria dos serviços públicos.
E a gente só de boa, trabalhando a base, tomando as ruas e construindo o momento do retorno; dessa vez pra ficar.

2018 promete!

Fernando Lopez
No Rio de Janeiro, somando os ausentes com os votos nulos e brancos, quase 40% dos eleitores abriram caminho para a vitória de Crivella. Sem mencionar o perfil assustador da Câmara de Vereadores. O Rio de Janeiro é uma distopia em movimento. 2016 tem sido um ano dos mais sombrios de que tenho memória. E olha que nasci no primeiro ano da ditadura. Em 1965. Familiares e pessoas muito próximas foram exiladas. Torturadas. Assassinadas. A homofobia levou meu talentoso tio-irmão. Mas hoje sinto o peso da volta de algo que já imaginava pertencer ao passado longínquo. Doce inocência. Quanta ingenuidade. Fascistas proliferam por todos os lados. Os que lutam por um mundo melhor são acusados de arrogantes, até pelos seus pares. Mundo estranho. A intolerância reina soberana. Hoje a democracia e o Estado de direito não passam de formalismo retórico. Mas estamos todos imobilizados discutindo filigranas ideológicas enquanto o Brasil é tomado de assalto pelas elites de ocasião. Com nossa falta de reação, deixamos que se destruísse rapidamente um país. Todas as redes de proteção social estão sendo desmanteladas. Princípios mínimos de dignidade e cidadania já não fazem mais parte do nosso cotidiano. Capitulamos. E nos tornamos meros destroços humanos. Despojos descartáveis para o banquete voraz dos devoradores da vez: Temers, Dórias, Grecas, Marchezans, Moros, Moraes, Serras, Aécios e Crivellas. Até Donald Trump nos assombra. A lista é sem fim. A dor é imensa. Faço uma pausa. O amanhã escurece. A tarde se esquece. A noite é tão longe. Outro mês se aproxima. Não me lembro dos últimos novembros. Quantos sóis delicados, céus azulados? Quantas nuvens aflitas, chuvas amargas? Sinto falta de novos setembros... Ah, se eu pudesse apagar todos os dezembros! Por hora, meus inimigos venceram. Os restos de mim pedem descanso.


Ulysses ferraz
" Я, как стакан,хрупок и тонкостенен. Я многогранен, как
стакан".

(Венедикт Ерофеев)

При всей эксцентричности и как будто крайней субъекти-
вности, его потусторонняя точка зрения близка к тому, что
называют "голосом совести". Не знаю, какие у него были
отношения с самим собой, то есть ставил ли он себя перед
тем судом,какому подвергал происходящее. Но его
обыкновенно безапелляционные суждения почему-то прини-
мались без сопротивления. Почему-то мы признавали за ним
власть судить так решительно. Чем-то это было оплачено.

(Ольга Седакова.Из воспоминаний)

Признанный гений творческой свободы- Венедикт Ерофеев
родился 24 октября 1938 года