segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Terra que espera



Galeano - 6 de janeiro
 No ano de 2009, a Turquia devolveu a nacionalidade negada a Nazim Hikmet e reconheceu, finalmente, que era turco seu poeta mais amado e mais odiado.
Ele não pôde ser informado da boa-nova: tinha morrido, fazia meio século, no exílio, onde havia passado a maior parte da sua vida.
Sua terra esperava por ele, mas seus livros estavam proibidos, e ele também. O desterrado queria voltar:
"Ainda me restam coisas por fazer.
Me reuni com as estrelas, mas não consegui contá-las.
Tirei água do poço, mas n!ao pude oferecê-la."
Não voltou jamais.


'Amare senza riserve mentali è un lusso che si paga, si paga, si paga...''


Cesare Pavese


No começo os devotos príncipes mandavam
benzer a terra, o grão, o arado, e praticar
o rito das medidas e dos sacrifícios
da raça dos mortais - sequiosos que eram
de terem o governo justo do Invisível
que mantem sempre sol e lua em equilíbrio
e cujas figuras de eterno resplendor
desconhecem o mundo da morte e da dor.

A sagrada linhagem dos filhos de deuses
há muito se extinguiu: os homens estão sós
na voragem do gozo e dor, longe do Ser,
num eterno devir sem benção nem medida.
Entretanto a intuição da verdadeira vida
não morre, e é nosso ofício, em meio à decadência,
por meio de signos, de símbolos e canto,
promover a observância do santo respeito.

É possível que a treva algum dia termine,
é possível que o tempo um dia volte atrás
e que torne a reger-nos o Sol como um deus
a tornar-nos das mãos as nossas oferendas.

(Hermann Hesse)