segunda-feira, 7 de janeiro de 2013



No começo os devotos príncipes mandavam
benzer a terra, o grão, o arado, e praticar
o rito das medidas e dos sacrifícios
da raça dos mortais - sequiosos que eram
de terem o governo justo do Invisível
que mantem sempre sol e lua em equilíbrio
e cujas figuras de eterno resplendor
desconhecem o mundo da morte e da dor.

A sagrada linhagem dos filhos de deuses
há muito se extinguiu: os homens estão sós
na voragem do gozo e dor, longe do Ser,
num eterno devir sem benção nem medida.
Entretanto a intuição da verdadeira vida
não morre, e é nosso ofício, em meio à decadência,
por meio de signos, de símbolos e canto,
promover a observância do santo respeito.

É possível que a treva algum dia termine,
é possível que o tempo um dia volte atrás
e que torne a reger-nos o Sol como um deus
a tornar-nos das mãos as nossas oferendas.

(Hermann Hesse)

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