sábado, 14 de maio de 2016

Notícia passada e relevante. Antigamente o porto de Santos e a política carioca eram acusados de formarem uma associação entre escroques cariocas e contrabandistas santistas. Imponentes fortunas históricas surgiram em Santos e foram gastas no Rio de Janeiro. Quem conhece a trajetória da família Guinle, do Copacabana Palace e do falecido playboy Jorginho Guinle, que se orgulhava de ter gasto dezenas de milhões sem nunca precisar ter trabalhado na sua vida. Eis que também se verifica uma conexão entre Cunha-Temer, RJ e Santos, reforçando estereótipos sociais, tipos ideais, na suposta "malandragem carioca" e no "bacharel de negócios paulista", juntos e associados.

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Pensamento selvagem. Isto é o Brasil dos dominantes. A modernidade e o iluminismo nunca chegaram ao parlamento brasileiro. Família importa, importa muito nas mentalidades e relações sociais deles. Sem entendermos as conexões e redes familiares dos parlamentares não entenderemos muitos detalhes da desigualdade na política brasileira. A nuvem de palavras e de ideias dos discursos dos deputados mostra o que pesquisamos há anos: Famílias, evocações religiosas, e formas de pensamento político ainda muito tradicionais e conservadoras formam uma cultura política também muito atrasada e retrógrada. Um retrato das bases sociais locais e regionais dos deputados. Nepotismo, patrimonialismo e propriedade. A classe dominante brasileira e a sua elite política parlamentar produziram isto. O parlamento também apresenta alguns bons representantes, cujas lutas nos dignificam. A luta continua.

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Conhecemos várias referências políticas para o tipo de golpe apresentado no Brasil, não apenas na teoria, mas também na cultura e nas artes. O tipo descarado de novo golpe "soft power" é conduzido pelos mais ricos, os mais corruptos, de dentro das estruturas mais conservadoras do Estado, com a participação de membros das burocracias públicas mais privilegiadas e dos magnatas da mídia. Protagonistas conhecidos por negociatas públicas, alguns com antigas genealogias do poder e bastante expertise nos meandros dos poderes estatais, formam os ativos bastidores do golpe, ao lado de empresários e interesses estrangeiros. Segmentos tradicionais, com vasta experiência no poder legislativo e no sistema judicial atuam de forma a ocultarem as suas flagrantes ilegalidades na condução do golpe no Brasil. Um dos melhores exemplos de golpe soft-power de dentro dos bastidores do "civil service" foi a série britânica de ficção "A Very British Coup", em que um popular líder trabalhista, uma mistura de Lula-Mujica, tenta ser derrubado por poderosos empresários e aristocratas, das altas burocracias públicas, que atuam de maneira ilegal nos bastidores da administração ao forjarem irregularidades de evidências financeiras contra o chefe trabalhista. Série televisiva baseada em livro anterior. No final somente eleições e mais democracia neutralizam os golpistas.
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O Temer não tem popularidade nem legitimidade para assumir, já que não terá sido eleito por votos. Quem comandará tudo por trás dele será o Eduardo Cunha. Ele é pior do que o Temer, porque é réu confesso num processo de lavagem de dinheiro e corrupção passiva.A insatisfação da população com a crise vai crescer rápido demais e haverá mais confrontos nas ruas, paralisações nas empresas e o aumento da corrupção. Será um cenário de muita dificuldade para todos. Retrocesso.Os velhos poderes terão chance para triunfar. Aquela velha mídia manipuladora, os velhos políticos e o Judiciário, aqueles velhos empresários que antigamente queriam tirar os direitos sociais dos trabalhadores, acredito que vão todos voltar. As bolsas sociais do governo podem ficar ameaçadas também”
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O caos provocado pelos golpistas prejudica muito mais os golpistas agora. Surreal ver os golpistas receberem a decisão política de Maranhão como um golpe. Quanto mais os golpistas avançam no golpe, mais surgem contradições e agora um Cunha ressentido, por dentro e por fora, atemorizando muito mais o golpista Temer. Os golpistas mereciam um Maranhão para embaralhar o fácil jogo triunfal de suas manobras e manipulações, numa vitória que já consideravam inexpugnável e definida em poucas horas no Senado. Se for para o STF, com os vícios de origem, tudo é possível por lá, de novos golpes até mesmo o impedimento do impedimento naquela fogueira de vaidades. Aconteça o que acontecer parte do golpe brando desmoronou hoje por dentro, contrariando a pretensa hegemonia parlamentar golpista, no que parecia ser uma semana fácil de simples votações no Senado para afastarem tranquilamente Dilma, o que revela toda a instabilidade, desequilíbrios e ameaças contra os golpistas e sua ordem de direita antipopular e antidemocrática.

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"Nas favelas, no senado. Sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a constituição". A cereja de ilegitimidade no bolo dos golpistas, caso o STF não faça nada, será o voto de senadores sem-votos, dez suplentes sem votos populares diretos para decidirem o esbulho eleitoral dos mais de 54 milhões de votos diretos na Dilma. Sim, aquele do helicóptero de carreira também está lá como um dos grandes símbolos do processo.

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O golpe foi dado pelo que existe de pior, mais atrasado e mais corrupto no sistema político brasileiro. Golpe covarde dos que não ganham no voto popular. O tamanho do buraco do golpe será do tamanho para o salto das novas forças propulsoras pós-golpe. Nós teremos novamente outra grande oportunidade histórica de lutarmos pela realização da democracia no Brasil, com as novas gerações, contra o que não conseguimos mudar nos anos 1980. Os golpistas corruptos liderados por Temer e Cunha apresentarão uma oportunidade única para um novo ciclo de lutas e de modernização democrática no país. Já vivemos situações miseráveis antes e digo que a conjuntura vai mudar de novo muito rapidamente. Já vi a ARENA e o PDS se acabarem. Vi os fiscais do Sarney sumirem. Vi os defensores do Collor evaporarem. Vi o PSDB-FHC diminuir nas universidades. A direita disfarça, some e nunca assume os seus fracassos anteriores, como o voto em um Beto Richa. Em breve ninguém assumirá ter apoiado e votado com Cunha, Renan e Temer. Ninguém quererá estar associado ao golpe sujo de 2016. Antes a democracia no Brasil era incompatível com o AI-5, com o DOI-CODI, com a censura e com a ARENA. Agora a democracia é incompatível com a manipulação da grande mídia monopolista familiar, incompatível com os excessos oligárquicos dos nepotismos da classe dominante, com os imensos privilégios golpistas de muitos setores atrasados do legislativo, judiciário e do mp. O novo ciclo democrático transformará todas essas instituições arcaicas e golpistas, tal como começou a mudar as dos anos 1970. Lutaremos pelos direitos sociais e trabalhistas, contra a privataria e a desigualdade promovidas pelo empresariado saqueador neoliberal. Denazistificaremos pessoas e corporações nos que violam os direitos humanos com o passado ditatorial de violências superadas. As derrotas da liberdade são apenas momentâneas e venceremos no final. Segurem o fôlego e as emoções para já vivermos intensa retomada, talvez nunca antes vista no Brasil e que marcará os novos tempos. Amanhã será um novo dia. A Democracia sempre vencerá.

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1912: SPD conquista maioria no Parlamento do Império Alemão


Nas eleições de 12 de janeiro de 1912, o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) torna-se pela primeira vez a maior bancada do Parlamento do Império, com 34,8% dos votos, que lhe garantiram 110 deputados.
Foi uma lenta, porém contínua história de sucesso que se concretizou em 12 de janeiro de 1912. Fundado nos anos 60 do século 19, o SPD representava, principalmente, o operariado do setor industrial. O número de seus filiados duplicara ao longo de apenas uma geração.
O governo de Otto von Bismarck, o "chanceler de ferro", tentou sem sucesso conter o crescimento do partido. Durante 12 anos, todos os jornais, associações e reuniões do SPD ficaram proibidos pela "lei contra as reivindicações da social-democracia, perigosas para a coletividade". Mas, apesar da repressão e difamação, o eleitorado dos social-democratas continuou crescendo.
Onda vermelha
O Sinzinger Zeitung, jornal ligado ao governo, advertia na época:
"Funcionários e servidores públicos alemães! A onda vermelha eleva-se cada vez mais. É preciso enfrentá-la com um muro inabalável e insuperável. O núcleo desse muro deve ser a fidelidade constante ao imperador e ao Império, ao príncipe e à pátria, que vive no coração do funcionalismo público alemão. A social-democracia quer destruir o que lhes é caro nos campos religioso, cultural e econômico. No dia 12 de janeiro e no segundo turno das eleições, cada voto conta. Votem todos, mas que nenhum funcionário ou servidor público eleja um social-democrata".
Nesse tom, o Sinzinger Zeitung tentava moblizar contra a social-democracia, na véspera da eleição. Sem sucesso, porque em 12 de janeiro de 1912 o SPD obteve seu melhor resultado eleitoral durante o Império. Com quase 35% dos votos, era disparado o partido mais forte, seguido pelo centro católico, com 16,4%, e os conservadores, com apenas 9,2%.
O sucesso eleitoral dos social-democratas deveu-se a problemas políticos internos, sobretudo à latente crise econômica.
Maioria dos votos x maioria no Parlamento
Ter o voto da maioria dos eleitores, porém, não representava automaticamente uma maioria dos assentos no Parlamento, uma vez que a legislação eleitoral do império desfavorecia o SPD. Em 1890, por exemplo, o partido obtivera a maioria dos votos, mas em função das alianças dos partidos burgueses e da desfavorável divisão dos distritos eleitorais, só conquistou 35 dos 391 mandatos.
Em 1912, porém, o SPD aliara-se ao Partido Progressista, liberal de esquerda, na luta contra a lei eleitoral discriminatória, o armamentismo e a política colonial da Prússia. Essa aliança ajudou o partido a conquistar um grande número de cadeiras no segundo turno das eleições, em 25 de janeiro. Com 110 deputados, o SPD tornou-se, pela primeira vez, a bancada majoritária no Reichstag.
Poder reduzido
No entanto, mesmo como principal bancada, seu poder de influenciar a política imperial era restrito. De acordo com a Constituição, o chanceler imperial e seus ministros só deviam explicações ao imperador, e não ao Parlamento. O Reichstag só tinha poder para aprovar ou rejeitar o orçamento.
Como, além disso, o imperador podia dissolver o Parlamento a qualquer momento, a autoconfiança dos parlamentares era mínima. Os próprios deputados não escondiam sua desconfiança na instituição, como demonstrou um integrante da ala conservadora em 1910: "O rei da Prússia e imperador da Alemanha deve estar em condições de, a qualquer momento, dizer a um comandante: pegue dez homens e feche o Reichstag!"
É o que, de fato, ocorreu uma ou outra vez. Em 1906, por exemplo, o chanceler imperial Bernhard von Bülow mandou dissolver o Parlamento porque este não lhe havia liberado novos recursos para a guerra colonial contra os hotentotes na África do Sudoeste (hoje Namíbia).
Dois anos após a vitória eleitoral de 1912, os social-democratas foram confrontados com um pedido de empréstimos para a Primeira Guerra Mundial, que, desta vez, aprovaram. Com a liberação dos recursos e a renúncia a qualquer oposição durante o conflito, o SPD tentou livrar-se da imagem de partido sem patriotismo.
"As consequências da política imperial irromperam sobre a Europa como uma tempestade. Estamos diante do fato inegável da guerra. Neste momento, cumprimos o que sempre ressaltamos: na hora do perigo, não abandonamos a pátria".

Rachel Gessat/ DW


Bismarck e o 2º Império


A Revolução Francesa contribuiu para a queda do Sacro Império em 1806. Uma nova unificação política só foi possível em 1871, graças ao progresso econômico registrado a partir de meados do século 19.
O impacto da Revolução Francesa – que em 1789 proclamou Liberté, Egalité, Fraternité na França, eliminando a ordem social feudal e promovendo a separação de poderes – foi o que faltava para fazer desmoronar o Sacro Império Romano de Nação Germânica. Os ideais revolucionários ouvidos na França não chegaram a se alastrar na Alemanha devido à estrutura federalista do império. Mas as ofensivas militares desencadeadas pela revolução tiveram amplo efeito sobre a região.
A Prússia e a Áustria resolveram intervir nos acontecimentos do país vizinho e acabaram provocando uma contraofensiva das tropas revolucionárias. Atacado pelo exército de Napoleão Bonaparte, que se considerava herdeiro da Revolução Francesa, o Sacro Império sucumbiu definitivamente, e a França anexou a margem esquerda do rio Reno.
Essa reorganização territorial deu-se às custas dos principados menores e dos religiosos. Os estados de porte médio foram os grandes beneficiados, unindo-se em 1806 na Liga Renana (ou Confederação do Reno), sob o protetorado francês. No mesmo ano, o imperador Francisco 2º abdicou da coroa, pondo fim ao Sacro Império Romano de Nação Germânica. A necessidade de expulsar os invasores franceses acabou dando asas ao espírito nacional, e um novo movimento nacional culminou nas Guerras de Libertação.
A Alemanha, contudo, não ficou imune às grandes transformações sociais vindas da França e acabou instituindo a sociedade burguesa. Reformas, como a abolição da vassalagem, a liberdade profissional, a autonomia municipal, a igualdade perante a lei e o serviço militar obrigatório, foram implementadas inicialmente nos estados da Liga Renana e mais tarde também na Prússia, dando continuidade à reforma judicial e outras obras avançadas realizadas no século anterior por Frederico, o Grande (1740–1786), um legítimo representante do despotismo esclarecido.
A Liga Alemã
Seguro-saúde para trabalhadores
Após a derrota de Napoleão, o Congresso de Viena (1814–1815) estabeleceu uma nova ordem na Europa. Porém, as aspirações de muitos alemães a um Estado nacional livre e homogêneo não se concretizaram. A Liga Alemã, que substituiu o antigo império, era uma união de estados soberanos pouco coesos. O único órgão, a Dieta de Frankfurt, não era um parlamento eleito, e sim um congresso de delegados. A Liga Alemã só podia agir com o beneplácito das duas grandes potências Prússia e Áustria. Nas décadas seguintes, a Liga reprimiu todas as tentativas de unificação e liberdade.
O desenvolvimento econômico incipiente trazia modernidade, contrariando essas tendências retrógradas. Em 1834, foi fundada a União Alfandegária Alemã, que implantou um mercado nacional uniforme. Em 1835, foi inaugurada a primeira estrada de ferro. Começava a industrialização. Com as fábricas, formou-se uma nova classe operária fabril. No entanto, o forte crescimento demográfico levou a um excedente de mão de obra. Como não havia legislação previdenciária ou trabalhista, a massa dos operários vivia na miséria.
A Revolução de 1848
A revolução de fevereiro de 1848 na França teve eco imediato na Alemanha, ao contrário do que acontecera com a Revolução Francesa. Em março, insurreições populares em todos os estados da federação obrigaram os amedrontados príncipes a fazerem grandes concessões. Em maio, reuniu-se a Assembleia Nacional em Frankfurt. O arquiduque austríaco João foi eleito regente do império.
O centro liberal, que visava a uma monarquia constitucional com direito eleitoral limitado, era a força dominante na Assembleia. Contudo, a excessiva fragmentação partidária dificultava o trabalho legislativo. A classe política estava dividida entre a chamada "grande solução" e a "pequena solução", ou seja, um império alemão com ou sem a Áustria.
Afinal, foi aprovada uma Constituição democrática, na qual se tentava conjugar o velho com o novo. Ela previa que o governo prestasse contas ao Parlamento. Como a Áustria insistisse em incorporar ao futuro império todo o seu território, composto de mais de uma dúzia de povos, venceu a tese da pequena solução.
A Assembleia Nacional ofereceu ao rei da Prússia, Frederico Guilherme 4º, a coroa hereditária do Império Alemão. Mas o soberano não aceitou a dignidade de imperador concedida por uma revolução. Em maio, fracassaram os levantes populares que pretendiam impor a Constituição "de baixo para cima". Selada a derrota da revolução alemã, a maioria das conquistas foram anuladas e em 1850 foi restabelecida a Liga Alemã.
A ascensão de Bismarck
O grande progresso econômico registrado em meados do século 19 trabalhou a favor da unificação, tornando a Alemanha um país industrial, com destaque para a indústria pesada e a construção de máquinas. Na vanguarda desse desenvolvimento estava a Prússia.
A riqueza econômica, por sua vez, fortalecia a consciência política da burguesia liberal. O Partido Progressista Alemão, fundado em 1861, tornou-se a principal força no Parlamento da Prússia, opondo-se muitas vezes ao governo.
Empossado em 1862 como chanceler, Otto von Bismarck aceitou o desafio de governar contra o Parlamento e sem um orçamento por ele aprovado. Para impor a cobrança de novas taxas, e assim financiar a reforma militar que pretendia fazer, recorreu a medidas repressivas, como a censura da imprensa e a restrição ao direito de reunião.
Os êxitos na política exterior compensaram a fraca posição de Bismarck na política nacional. Ao vencer a guerra contra a Dinamarca (1864), a Alemanha obteve os territórios de Schleswig e Holstein, no norte, passando a administrá-los conjuntamente com a Áustria. O objetivo de Bismarck, contudo, era anexar os dois ducados.
O conflito acabou levando a uma guerra contra a Áustria, que saiu derrotada (1866). A Liga Alemã foi dissolvida e substituída pela Liga Setentrional Alemã, que reunia todos os estados germânicos ao norte do rio Meno, tendo Otto von Bismarck como chanceler (primeiro-ministro).
O 2º Império
 Proclamação em Versalhes em 1871
Completando a unificação da Alemanha no sentido da "pequena solução", Bismarck conquistou a Alsácia e a Lorena, numa guerra contra a França (1870–1871) deflagrada por um conflito diplomático. Imbuídos de patriotismo, os estados do sul da Alemanha uniram-se à Liga Setentrional Alemã, constituindo o 2º Império Alemão ou Reich. Em Versalhes, o rei Guilherme 1º da Prússia foi proclamado imperador da Alemanha, no dia 18 de janeiro de 1871.
A unidade alemã, portanto, não resultou da vontade do povo, "de baixo para cima", mas de um pacto entre os príncipes, isto é, "de cima para baixo" e com a supremacia esmagadora da Prússia. O Parlamento do Império, o Reichstag, era eleito por sufrágio igualitário e tinha apenas uma influência indireta no governo. O chanceler do Império, embora só devesse prestar contas ao imperador, era obrigado a procurar apoio para a sua política no Parlamento.
Não eram uniformes as leis eleitorais relativas às representações populares dos diferentes estados no Reichstag. Em 11 estados, existia o sistema eleitoral por classes, dependente dos impostos pagos pelo eleitor e, em outros quatro, mantinha-se a representação por corporações. Com maior tradição parlamentar, os estados do sul da Alemanha reformaram seu direito eleitoral, adaptando sua legislação eleitoral à do Império.
Bismarck governou o Império por 19 anos, fortalecendo sua posição na nova constelação de forças na Europa através de uma política de paz e de alianças. Sua política nacional, porém, estava distante dessa sabedoria. Bismarck combateu tendências democráticas por considerá-las inimigas do Império.

Lutou contra a ala esquerda da burguesia liberal, contra os políticos católicos e, principalmente, contra o movimento operário organizado, que reprimiu durante 12 anos. Bismarck, de certa forma, terminou sendo vítima do seu próprio sistema. A política personalista do jovem imperador Guilherme 2º forçou-o à demissão em 1890.

Deutsche Welle

1878: A lei antissocialista de Bismarck


No dia 18 de outubro de 1878, o chanceler imperial Otto von Bismarck aprovou uma lei proibindo os partidos social-democrata, socialista e comunista.

Era um fantástico domingo primaveril de maio, o sol brilhava e o imperador Guilherme 1º fazia um passeio de carruagem com sua filha pela pomposa alameda Unter den Linden em Berlim. De repente, um tiro. O imperador não foi ferido. Mas o chanceler Otto von Bismarck telegrafou imediatamente ao seu secretário de Estado: "Não deveríamos tomar o atentado como motivo para medidas urgentes contra os socialistas e sua imprensa?"

Bismarck temia os social-democratas, que se tornavam cada vez mais fortes. Ele lhes atribuiu a culpa pelo atentado e, no verão europeu de 1878, preparou um projeto de lei proibindo as organizações socialistas. Mas o chanceler não conseguiu o apoio da maioria dos deputados no Parlamento alemão, o Reichstag. Uma semana após a votação, houve outro atentado contra o imperador e, desta vez, Guilherme foi ferido. A fim de obter a aprovação da lei, Bismarck mandou forjar uma confissão, segundo a qual o autor do atentado teria admitido ser socialista.

Divulgada a falsa confissão, Bismarck fez com que fosse eleito um novo Parlamento. No dia 18 de outubro de 1878, a chamada lei antissocialista foi votada pela terceira vez no Reichstag e, desta vez, Bismarck tinha o apoio garantido da maioria. Um dia depois, a "lei contra as metas perigosas da social-democracia" entrou em vigor.

Começa era difícil para social-democratas

A imprensa social-democrata foi proibida, da mesma maneira como as suas organizações. Somente a representação parlamentar pôde continuar existindo. No final de novembro, inúmeros socialistas foram expulsos de Berlim. Outras cidades seguiram o exemplo.

No entanto, um panfleto conclamava os banidos a não promover uma revolução e sim a manter a calma: "Qualquer erro de uma única pessoa poderia ter consequências desastrosas e daria à reação uma justificativa para os seus atos de violência".

O trabalho na clandestinidade começou com mil marcos na caixa do partido. Nas cidades grandes, surgiram associações socialistas, disfarçadas de clubes de fumantes, de jogadores de cartas ou clubes de ginástica. Panfletos e revistas eram impressos no exterior e contrabandeados para a Alemanha.

Num castelo, nas proximidades de Zurique, o partido reuniu-se em agosto de 1880 para debater seu futuro. A revolução e o anarquismo foram rechaçados. A bancada do Reichstag, ainda existente, assumiu oficialmente a direção do partido.

"Agitadores em busca de simpatizantes"

Apesar da proibição, os socialistas conquistavam cada vez mais adeptos. Para o deputado Ignatz Auer, tal fato era também uma conseqüência da lei antissocialista: "Se antes era necessário enviar agitadores pagos a todo o país para difundir os princípios do socialismo, esses foram agora substituídos em grande número por trabalhadores instruídos. Eles se tornaram agitadores e buscavam simpatizantes para a social-democracia entre os trabalhadores que antes não tinham nenhum conhecimento da existência do partido".


Nas eleições seguintes, os social-democratas conquistaram cada vez mais votos, embora oficialmente não pudessem fazer campanha eleitoral. Bismarck introduziu o seguro-saúde, o seguro-desemprego e o seguro de acidentes, a fim de reconciliar os trabalhadores com o Estado e esvaziar a  força dos social-democratas. Mas, em 1890, o Partido Socialista dos Trabalhadores tornou-se a principal força no Reichstag e a lei antissocialista não foi mais prorrogada.

Ralf Geissler/ DW

1890: Criação da primeira central sindical da Alemanha


Após anos de proibição, em 1890 o imperador Guilherme 2º liberou a atividade sindical. Em 17 de novembro daquele ano, líderes operários aprovaram a criação de uma união sindical, fundada dois anos mais tarde.

No ano de 1878, o chanceler Otto von Bismarck promulgou as chamadas leis antissocialistas, após dois atentados contra o imperador Guilherme 1º e por temer uma revolução. Embora a validade dessa "lei contra os perigosos propósitos da socialdemocracia" tenha sido em princípio limitada a dois anos, sua vigência acabou por ser prorrogada diversas vezes.

Nesse período, foram proibidas também todas as atividades sindicais no país. Quem não podia ou não queria atuar ilegalmente, estava fadado ao exílio. Este foi o caso de Adolph Johannes von Elm, um exemplo típico de sindicalista social-democrata alemão do século 19. Ele emigrou para os Estados Unidos, onde viveu por 12 anos.

Fim da ilegalidade

Em 1890, a situação política na Alemanha mudou radicalmente em poucos meses. O novo imperador, Guilherme 2º, não estava mais disposto a tolerar um chanceler que pretendesse dar curso a sua própria política e promulgou, contra a vontade de Bismarck, leis de proteção ao trabalhador nos chamados Decretos de Fevereiro. Pouco depois, a 20 de março de 1890, quando a vigência das leis antissocialistas não foi mais prorrogada, Bismarck renunciou ao cargo.

Com a queda dessas leis, ficou relegado ao passado o tempo de ilegalidade dos sindicatos e das perseguições aos líderes operários. Mesmo assim, a discriminação social era grande em relação aos sindicalistas e social-democratas. Ainda no início do século 20, eles eram considerados na Alemanha "cidadãos sem amor à pátria". Apesar de sua atitude, o imperador não tinha qualquer simpatia pelo movimento trabalhista, o que ficava claro em seus pronunciamentos.

Em 1891, Guilherme 2º discursou aos recrutas de um regimento de guarda em Potsdam: "Há para vocês apenas um inimigo, e este é meu inimigo. Considerando as manobras socialistas em curso, pode acontecer que eu venha a ordenar que vocês atirem em seus parentes, irmãos ou pais. Que Deus não permita que isso aconteça, mas se for o caso vocês têm que obedecer sem reclamar".

Congresso de sindicalistas

O ano de 1890 foi o ano da arrancada da social-democracia e do sindicalismo na Alemanha. Pela primeira vez na história, sindicalistas puderam trabalhar livremente e sem medo de perseguições. Como vários outros, também Adolph Johannes von Elm voltou do exílio e retomou suas atividades políticas, tendo participado do primeiro congresso de sindicatos livres, realizado em novembro daquele ano na Alemanha.

Nos anos da ilegalidade, eram pequenas representações locais que lutavam pelos direitos dos trabalhadores. Essas associações de torneiros, marceneiros e pedreiros, entre outros, enviaram seus representantes para o primeiro congresso de sindicalistas, que aconteceu em Berlim. Também o movimento das mulheres trabalhadoras esteve presente ao encontro, através de sua representante Emma Ihrer, da cidade de Velten.
O principal ponto de discórdia girava em torno da estrutura da futura união sindical. Questionava-se se o melhor seria continuar trabalhando em pequenas associações locais de profissionais, ou se a melhor alternativa seria unir-se em uma grande organização central. No dia 17 de novembro, quando o congresso chegou a uma resolução final, os defensores da união haviam prevalecido.

A resolução definia: "Considerando que a organização local não corresponde mais às relações de produção e que a situação econômica de emergência dos trabalhadores requer a concentração de todas as forças, a conferência declara que a forma de organização centralizada apresenta-se no momento como a correta. A conferência aconselha por isso todas as associações locais a unirem-se à organização central em questão".
No entanto, a disputa entre centralistas e defensores das estruturas descentralizadas não foi com isso encerrada. Dé cadas se passaram até que fosse aceita a posição de que exatamente uma associação de trabalhadores necessita de uma união nacional forte e unida.

Para finalizar o encontro, foi formada uma comissão, que passou a ser responsável pela organização do próximo congresso: "A conferência elege uma comissão de sete membros que deverá elaborar as premissas do próximo congresso, definir seu local e data, bem como convocar os trabalhadores para dele participarem".

Entre esses sete membros, estava o representante dos trabalhadores em fábricas de cigarros, Adolph Johannes von Elm, e o presidente da Associação Nacional de Torneiros, Carl Legien, que se tornaria dois anos mais tarde presidente da primeira união sindical alemã.


 Dirk Kaufmann/Deutsche Welle

Há 200 anos nascia Otto von Bismarck, o "chanceler de ferro"


Em 1º de abril de 1815 nasceu o futuro primeiro-ministro da Prússia e chanceler do Império Alemão. Uma figura ambivalente: para uns, promotor da paz e da justiça social. Para outros, pioneiro do militarismo germânico.

Há um quadro que define a imagem que muitos alemães têm do político Otto von Bismarck (1815-1898): de uniformes escuros, generais e príncipes alemães se reúnem no salão de espelhos do Palácio de Versalhes, na França, e saúdam de braço estendido o imperador alemão Guilherme 1º. Contudo, quem está no centro geométrico da cena não é o monarca, mas Bismarck, ainda mais destacado por trajar uniforme branco.

A  tela de Anton von Werner representa de forma estilizada o 18 de janeiro de 1871, data oficial da fundação do Império Alemão, quando 25 estados foram unificados sob a liderança da Prússia. E atribui-se à política bismarckiana a façanha de, na época, superar a fragmentação da Alemanha em minúsculos estados.
Por todo o país há homenagens ao "chanceler de ferro": monumentos, torres, ruas e até carvalhos foram batizados com o seu nome. Na escola, aprende-se que ele não só unificou a Alemanha, como, em sua gestão como reichskanzler, de 1871 a 1890, introduziu o direito ao voto e sistemas de seguridade social, incluindo os seguros de saúde, aposentadoria e contra acidentes.

Mas há também quem veja em Otto von Bismarck e seu capacete de ponta o chanceler da guerra, um pioneiro do militarismo alemão. Afinal, somente com as guerras contra a Dinamarca em 1864, a Áustria em 1866 e a França em 1870-71 aplainou-se o caminho para a fundação do império.

Na qualidade de primeiro-ministro da Prússia, Bismarck preparara politicamente todas essas três guerras. Além disso, com seus valores conservadores, ele é responsabilizado pela perseguição do Reich aos socialistas; por uma cultura parlamentar subdesenvolvida na Alemanha do fim de século 19 e início do 20; assim como pela criação de colônias alemãs na África e na Ásia.

Super-herói ou arquivilão?

"Bismarck precisa ser visto menos como superfície de projeção para uma avaliação positiva ou negativa da história nacional alemã", aconselha o historiador Christoph Nonn. Por ocasião do bicentenário do político, nesta quarta-feira (1º/04), o professor de Düsseldorf se ocupou intensamente com ele e sua época, publicando o resultado de suas pesquisas no livro Bismarck – ein Preusse und sein Jahrhundert (Um prussiano e seu século).

A fundação do Reich, por exemplo, não foi uma iniciativa puramente alemã e muito menos obra pessoal de Bismarck, aponta Nonn. "Desse prolongado e complexo processo participaram muitas instâncias, tanto na Alemanha como também no exterior, com o que elas fizeram ou deixaram de fazer. Por exemplo, ao não tentar impedir a unificação."

O chanceler tampouco foi responsável pelas três guerras que antecederam a fundação do império. Nonn assegura que ele não era nem militar nem agressor, apostando, antes, em negociações. Seu colega Arnd Bauerkämper, da Universidade Livre de Berlim, concorda: foi somente em suas memórias, escritas em 1890, que Bismarck "se autoencenou um pouco como chanceler da guerra".

Entretanto a legitimidade dessas guerras estava acima de qualquer dúvida para Bismarck, ressalva Bauerkämper. Por outro lado, ambos os historiadores enfatizam que o Império Alemão sob Bismarck não reivindicou novos territórios, mas perseguiu uma política moderada, a fim de se concentrar no desenvolvimento econômico interno.

Colônias como instrumento interno

Mas então onde se encaixa a política colonial nesse quadro? Bismarck não repetia sempre que o Império Alemão não precisava de colônias? E, mesmo assim, menos de 15 anos após a fundação do Reich, ele permitiu a criação dos assim chamados protetorados na África e na Ásia.
"A questão não eram propriamente as colônias. Elas foram apenas um meio na luta pelo poder travada em Berlim", afirma Nonn. O conservador Bismarck queria enfraquecer os liberais, seus oponentes políticos, e o príncipe herdeiro Frederico, simpatizante deles.

Os liberais tinham ligações com o Reino Unido, que ativamente mantinha colônias. Para criar uma fissura nessa aliança, em 1884 e 1885 o reichskanzler cedeu temporariamente ao clamor por colônias alemãs, que já se fazia ouvir há décadas.

Contudo, em 1885 os liberais perderam as eleições, ficando politicamente debilitados. E o príncipe Frederico assegurou que seguiria associado ao chanceler conservador, mesmo depois da morte de seu pai, o imperador Guilherme 1º.

"A partir daí, Bismarck encerrou imediatamente o episódio da política colonial", conta Nonn. Bauerkämper igualmente lhe atribui uma política colonial hesitante: "Com as colônias, ele queria evitar, e se possível equacionar, os atritos com as outras grandes potências europeias."


Parlamento decorativo

Na política interna, pelo contrário, mediação ou diálogo nem sempre estiveram no foco da política bismarckiana. Apesar de o Império Alemão fundado em 1871 ser uma monarquia parlamentarista, o Parlamento não tinha qualquer influência sobre a política do governo.

O primeiro chanceler alemão até mesmo designava o movimento trabalhista em ascensão como "inimigo do Reich". Com a assim chamada "lei dos socialistas", ele baniu, na prática, os partidos social-democratas. Também a introdução dos seguros de saúde, aposentadoria e contra acidentes se deveu à rejeição de Bismarck ao movimento dos trabalhadores.

"As reformas sociais visavam minar o apoio aos social-democratas, assegurando para o novo Estado alemão a lealdade da maioria da população e da classe trabalhadora em crescimento", analisa Bauerkämper.
A fim de preservar o próprio poder e o da nobreza, a Constituição do Império Alemão não concedia direito de codeterminação ao Reichstag, o Parlamento. "Não se formou uma espécie de cultura do consenso parlamentar, de tomada de decisões entre os partidos", observa o historiador berlinense.

Como Bismarck foi um dos autores da Constituição, seu biógrafo Nonn lhe atribui o fato de o Parlamento não ter arcado com qualquer responsabilidade política desde 1871 até a proclamação da República, em 1918.

"Foi difícil se libertar dessa mentalidade de irresponsabilidade depois de 1918, quando o Reichstag passou a realmente ter poder na Alemanha. Essa foi uma hipoteca pesada para a democracia alemã, para a República de Weimar", diz Nonn.

Paralelos com a Reunificação

E, no entanto, políticos democraticamente eleitos da Alemanha recordam agora o nascimento, 200 anos atrás, do primeiro chanceler do Reich. Bauerkämper constata que, nos últimos 30 a 40 anos, a tendência tem sido rever positivamente a imagem de Otto von Bismarck. E Nonn traça paralelos entre a fundação do Reich e a Reunificação Alemã, em 1990.

Em ambas as ocasiões circulava na Europa o medo de que a Alemanha voltasse a se expandir. Pois, assim como em 1871, o país assegurou também em 1990 que não faria exigências territoriais.

"Praticou-se a mesma política de tranquilização dos vizinhos europeus", compara o autor de Um prussiano e o seu século. Para ele, o maior feito do "chanceler de ferro" na política externa foi, como responsável por ela, a partir de 1871, ter contribuído de forma decisiva para que o recém-fundado Império Alemão não travasse guerras por mais de 40 anos.

 Alexander Drechsel /DW

1881: Tunísia tornava-se protetorado francês


No dia 12 de maio de 1881, a Tunísia tornou-se protetorado francês. Nos bastidores, estava o alemão Otto von Bismarck, que desviava a atenção dos franceses para a política colonial, a fim de afastar as tensões de Berlim.

Bismarck atuou nos bastidores

A corrida das nações europeias por "um lugar ao sol" começou nas duas últimas décadas do século 19, mais exatamente após o Congresso de Berlim, em junho/julho de 1878.

A ameaça de uma grande guerra pairava no ar. O "equilíbrio de forças", que desde o Congresso de Viena em 1815 garantira relativa estabilidade na Europa, balançava após a vitória da Prússia sobre a França. A Alemanha, uma "nação tardia", ambicionava tornar-se potência hegemônica.

O papel de Bismarck

O chanceler imperial Otto von Bismarck, que em 1875 provocara a França, ansiosa por uma revanche, tentava acalmar os vizinhos. Após as guerras de unificação contra a Dinamarca (1864), a Áustria (1866) e a França (1870/71), ele garantiu que a Alemanha estava "saturada": "A Alemanha está satisfeita. Ela não tem intenção de fazer novas conquistas".

Em Berlim, ele se apresentava como um "corretor sincero, realmente interessado no fechamento do negócio". O "negócio" em questão era salvar a ameaçada paz europeia (sobretudo depois da guerra russo-turca) e, ao mesmo tempo, repartir o mundo entre as grandes potências.

O Império Otomano – a esta altura conhecido como "o doente da Europa" – perdera seus últimos territórios nos Bálcãs após o acordo de paz de San Stefano, imposto pela Rússia. A Inglaterra e a Áustria protestavam contra o crescente poder da Rússia que, ironicamente, mantinha desde 1872 uma tríplice aliança imperial com a Áustria e a Alemanha.

O pesadelo de Bismarck era um conflito com duas frentes de batalha: contra a arqui-inimiga França e contra a Rússia, que saíra desapontada do Congresso de Berlim. Era um temor plausível, visto que Paris não engolira a humilhação de 1871.

Estratégia frustrada

Em 1873, o chefe de Estado francês, George Clemenceau, anunciou a intenção de transformar a Rússia (que fora o carrasco na derrota francesa para a Prússia) num "instrumento da nossa plena reabilitação".
Por mais de uma década, Bismarck conseguiu impedir a revanche francesa, por meio de uma tática pérfida: mantinha o vínculo com São Petersburgo e isolava a França. Ou ainda: desviava a atenção dos franceses para a política colonial, a fim de afastar as tensões de Berlim.

Bismarck apostava num conflito entre a França e a Inglaterra, principal potência colonial da época. O império britânico sonhava em dominar a África, do Cairo ao Cabo da Boa Esperança. Mesmo assim, aceitava o protetorado francês na Tunísia imposto pelo Tratado de Bardo.

O tratado de Casr el Said Bardo foi assinado em 12 de maio de 1881. Ele significou, por um lado, melhorias na infraestrutura da África do Norte, mas trouxe também outros problemas, cujas consequências são sentidas ainda hoje.

Um ano depois, a França ocupava toda a Argélia. Até 1911, o país conquistou 10 milhões de quilômetros quadrados de colônias com 60 milhões de habitantes. Assim, os franceses tornaram-se a segunda maior potência colonial, depois da Inglaterra, e passaram a sonhar com um império da África Ocidental à Índia.

A política colonial, que entre 1881 e 1884 até chegou a aproximar a Alemanha e a França, nunca passou de um mero instrumento de poder para Bismarck. Mas, ao contrário do que ele esperava, a França não deixou desviar por muito tempo suas atenções para os territórios ultramarinos. Sua aproximação com a Rússia estava em pleno andamento. Poucos anos depois, quem estava isolada era a Alemanha.


 Frank Gerstenberg /DW

1870: Paris é cercada pelos alemães


Em 19 de setembro de 1870, o cerco das tropas alemãs a Paris marcou o início do fim da guerra de Bismarck contra Napoleão 3º.

Após a guerra teuto-francesa, Bismarck governou a Prússia de 1871 a 1890

O fato que conduziu diretamente ao irrompimento da Guerra Franco-Prussiana de 1870 foi a candidatura do príncipe Leopoldo von Hohenzollern-Sigmaringen, um parente distante do rei prussiano Guilherme 1º, ao trono espanhol, que havia ficado vago após a revolução de 1868.

Embora sem o consentimento de Guilherme 1º, o então chefe de governo da Prússia, Otto von Bismarck, convenceu Leopoldo de que o trono espanhol deveria ser ocupado por alguém da dinastia Hohenzollern. Já a França, governada por Napoleão 3º, sobrinho de Napoleão Bonaparte, foi contra, por temer um desequilíbrio de poder na Europa em favor dos alemães.

Num gesto extremo, Paris ameaçou a Prússia com guerra, caso não retirasse o apoio ao candidato ao trono espanhol. A pressão de Guilherme 1º cresceu, a ponto de Leopoldo desistir oficialmente. Mas Napoleão 3º, que pretendia ver a Prússia humilhada, exigiu do soberano alemão um pedido oficial de desculpas e, acima de tudo, a garantia de que também no futuro a dinastia Hohenzollern não ambicionaria o trono espanhol.
Esta exigência foi manipulada por Bismarck para ser entendida como um ultimato da França. Ele não só acreditava que seu país estivesse preparado para um conflito armado; apostava, também, no efeito psicológico que uma declaração de guerra contra a Prússia teria nos países vizinhos. Contando com a solidariedade dos países de idioma alemão, estaria praticamente atingida a meta da unificação.

Vizinhos do sul aliaram-se à Prússia

A guerra foi declarada pela França a 19 de julho de 1870 e, imediatamente, a Alemanha e seus vizinhos sulinos uniram-se numa frente contra Napoleão 3º e suas tropas. O Império Áustro-Húngaro, a Rússia, a Itália e a Inglaterra preferiram manter a neutralidade. Enquanto as tropas alemãs, do comandante-em-chefe conde Helmuth von Moltke, dispunham de 400 mil soldados, os franceses conseguiram mobilizar apenas 200 mil.

A primeira batalha, a 2 de agosto, em Saarbrücken, foi vencida pela França. Quatro dias depois, entretanto, o país sofria a primeira derrota. As seguintes seriam em Vionville (15 de agosto), Gravelotte (18) e Beaumont (30/08).

A batalha decisiva foi iniciada na manhã de 1º de setembro, em Sedan. Napoleão chegou ao campo de batalha na tarde do mesmo dia e assumiu o comando militar. Ao conscientizar-se da situação desoladora, ordenou que fosse içada a bandeira branca. Na mesma noite, foi negociada a capitulação e a prisão de Napoleão e 83 mil soldados franceses.

Quando esta notícia chegou a Paris, houve uma rápida rebelião, a Assembleia Constituinte foi dissolvida e, a 4 de setembro, proclamada a República Francesa. No dia 19 de setembro de 1870, as tropas alemãs cercaram Paris. Nos conflitos que se seguiram, comandados pelo governo da resistência, em Tours, os franceses foram derrotados pelos prussianos. Os sérios problemas de abastecimento e a forma rudimentar com que a população civil tentava evitar a tomada da capital apressaram a capitulação, a 19 de janeiro de 1871.

Um dia antes, Guilherme 1º havia sido coroado imperador alemão no Palácio de Versalhes, selando o objetivo de Bismarck, de uma grande potência alemã. A capitulação formal de Paris e o armistício aconteceram a 28 de janeiro de 1871. Seguiram-se a composição da Assembleia Nacional francesa e a constituição da Terceira República. O acordo de paz foi selado em Frankfurt, a 10 de maio de 1871. Como reparação de guerra, a França abdicou da Alsácia e foi forçada a pagar uma alta soma em dinheiro.

 R W / Deutsche Welle


1871: Fundação do Império Alemão


Com a guerra contra a França vencida, o rei Guilherme 1º da Prússia foi proclamado imperador alemão em Paris em 18 de janeiro de 1871. Bismarck convencera os principados e reinos alemães a se unificarem num só Estado.

Otto von Bismarck, primeiro chefe de governo do Império

Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, em Paris. A luz de 32 lustres de prata se multiplica pelo reflexo das paredes ao longo do salão de 73 metros. Flores, laranjeiras e móveis barrocos luxuosos compõem o cenário ao redor de centenas de pessoas em trajes de gala. Lá estão o rei prussiano e sua corte, muitos príncipes alemães e numerosos militares de alto escalão exibindo suas medalhas.
O coral encerra a cerimônia religiosa encomendada pelos soberanos alemães no palácio real do inimigo já praticamente derrotado. Mas não é a missa em ação de graças que eles celebram. Eles vieram para concretizar um velho sonho alemão: o sonho do Império Alemão, o sonho de ter novamente um imperador. Aos 71 anos, Guilherme 1º, rei da Prússia, é proclamado imperador alemão pelos príncipes presentes.
Na cerimônia cheia de ostentação, o escolhido não se sentia muito confortável. Na véspera, havia escrito:
"Assumo um império apenas nas aparências. Não serei mais do que um 'presidente'. Mas se já chegamos até aqui, tenho de carregar esta cruz. Amanhã me despedirei da velha Prússia, à qual sempre estive ligado e sempre estarei. Nem consigo expressar como me sinto desesperado."
Papel de Bismarck
Uma pessoa, ao menos, estava mais do que satisfeita. Afinal o restabelecimento do Império era basicamente obra sua, cujos frutos ele finalmente podia colher após longos anos de trabalho: Otto von Bismarck, primeiro-ministro prussiano e primeiro chanceler (chefe de governo) do Império recém-fundado.
Demorou longos anos até que a colcha de retalhos Alemanha, com seus pequenos principados e reinos, formasse um Estado nacional único, sob liderança da Prússia. O reino de Guilherme 1º e Bismarck travou duas guerras para atingir seu objetivo: em 1866, contra a Áustria, e em 1870/71, contra a França.
Através da guerra contra a França, Bismarck conseguiu despertar o entusiasmado espírito nacional que lhe permitiu conquistar a adesão dos principados que ainda resistiam à unificação nacional. No fim de 1870, chegara a hora. A Liga Setentrional Alemã rebatizou-se como Império e, em vez de uma presidência, passaria a ter um imperador. Apenas o rei Ludwig da Baviera hesitava ainda em declarar sua adesão.

Data histórica para a Prússia

Na última noite de 1870, o príncipe herdeiro da Prússia e futuro rei Frederico 3º anotou em seu diário:
"O imperador declarou não desejar fazer qualquer manifestação amanhã, porque a Baviera ainda não aderiu. Por outro lado, Delbrück comunicou que, hoje à noite, já estará impressa em Berlim a nova Constituição Imperial, que entrará em vigor amanhã, proclamando o imperador e o Império. Bismarck, que eu encontrei na cama e cujo quarto mais parece um verdadeiro depósito de tralha, desaconselhou uma proclamação sem a adesão da Baviera. Então, o remeti à histórica data de 18 de janeiro, com o que ele pareceu concordar."
De fato, não teria havido dia melhor para encenar o novo capítulo da história nacional, pois o 18 de janeiro é dia santo para os prussianos. Neste dia, 170 anos antes, em 1701, o príncipe eleitor de Brandemburgo fora coroado como o primeiro rei da Prússia. Desde então, a data era lembrada todos os anos.
E a encenação foi bem-sucedida. Embora o Império já existisse formal e juridicamente há algumas semanas, a proclamação festiva de Guilherme 1º em Paris como imperador entrou para os livros de história como a data de fundação do Império Alemão.


 Rachel Gessat/ Deutsche Welle 

1883: Alemanha torna-se potência colonial


No dia 9 de abril de 1883, o comerciante Adolf Lüderitz iniciou oficialmente a política colonialista alemã ao estabelecer-se na atual Namíbia. A Alemanha perdeu o território durante a Primeira Guerra Mundial.
A aventura e a ambição pela riqueza levaram um grupo de alemães, entre eles alguns comerciantes, a aportar na África em 1883. As terras por eles administradas logo passaram a protetorado alemão durante o governo de Otto von Bismarck.
No dia 9 de abril de 1883, o navio Tilly, do comerciante Adolf Lüderitz, de Bremen, ancorou numa peque na baía na costa africana. Hoje, a cidade ali fundada tem o nome de seu colonizador. Era o início do colonialismo alemão.
Em pouco tempo, no entanto, a experiência provou que os protetorados do então Império Alemão traziam mais problemas do que vantagens. Por volta de 1900, pertenciam à Alemanha o Sudoeste Africano Alemão (hoje Namíbia), Togo, Camarões, África Oriental Alemã (partes do que hoje é Tanzânia, Burundi e Ruanda), Nova Guiné Alemã (partes do que hoje é Papua-Nova Guiné), além de algumas ilhas do Pacífico e o protetorado de Kiautshu, na China.
A área total desses territórios era de 2,5 milhões de quilômetros quadrados, com uma população de aproximadamente 15 milhões de habitantes. Essas pessoas interessavam à Alemanha como mão de obra barata, já que a escravidão fora abolida.
Rebeliões reprimidas com violência
Nunca ninguém se preocupou em saber se os nativos tinham interesse em fazer parte do Império Alemão. As rebeliões eram sempre reprimidas violentamente. Em princípio, Otto von Bismarck aceitou participar do jogo, oferecendo proteção aos comerciantes lá estabelecidos.
No dia 26 de junho de 1884, Bismarck pronunciou-se da seguinte forma no Parlamento da época: "Nosso objetivo não é fundar províncias, mas empresas e negócios. Trata-se, em sentido figurado, de cultivar as plantas semeadas pelos comerciantes. Se por acaso uma delas definhar, não será culpa do governo, e sim de seus administradores".
Com o passar dos anos, a situação acabou extrapolando as expectativas. As áreas sob proteção cresceram tanto que o Império Alemão foi forçado a intervir para ajudar na administração, não só através de pessoal, mas também com subvenções.
As guerras coloniais consumiram as finanças e acabaram com a imagem do país. Durante a Primeira Guerra Mundial, foi impossível manter a segurança militar dos protetorados e eles acabaram sendo tomados pelos inimigos.


 Volker Vagener / Deutsche Welle

1884: Proteção imperial alemã sobre África do Sudoeste


No dia 24 de abril de 1884, o Império Alemão enviou o navio Nautilus, armado com canhões, a Angra Pequena, na costa sudoeste da África, hoje Namíbia. O primeiro protetorado alemão fora adquirido por um comerciante.
"No sul da costa ocidental da África, limitando ao norte com a zona tropical, encontra-se a África do Sudoeste, que se originou da primeira colônia da Alemanha – Angra Pequena, um nome que desde 1884 é conhecido de todos."
Com essa inofensiva descrição começa o capítulo "Deutsch- Südwest", do manual Colônias da Alemanha, escrito em 1898 por Rochus Schmidt, um comandante das tropas imperiais.
Em comparação com as grandes potências coloniais como, por exemplo, o Reino Unido e a França, que se apoderavam de novos territórios com objetivos políticos e rudeza militar, a breve e modesta atuação alemã no além-mar foi atípica e, em se tratando do chanceler Otto von Bismarck, até bastante cautelosa. Pelo menos foi assim na atual Namíbia – a ex-África do Sudoeste.
Ideia de um comerciante
Comerciante Franz Adolf Lüderitz
O coiniciador da delimitação do primeiro "protetorado alemão" foi Franz Adolf Eduard Lüderitz, comerciante de tabaco de Bremen. Ambicioso, Lüderitz atuara sem grande sucesso nos negócios com o sudoeste da África.
Fora dele a ideia de estabelecer uma base comercial nas costas daquela região desértica, para retomar o comércio de armas com os autóctones, iniciado pela Companhia das Missões Renanas. Além disso, ele pretendia burlar as taxas de importação cobradas pelos ingleses, que ocupavam a faixa costeira, a fim de controlar o comércio de armas.
Lüderitz sabia que logo seria barrado pelo britânicos, se a região que reivindicava para seus interesses econômicos não fosse colocada "sob proteção da bandeira alemã". Assim, fundamentou seu "pedido de proteção" com o argumento de que isso garantiria a exploração de enormes reservas minerais pela indústria alemã.
Receio da Inglaterra
Temendo atritos com a Inglaterra, Berlim relutou, inicialmente, dando a entender que Lüderitz deveria estabelecer a base comercial por conta própria.
O comerciante de Bremen acabou arrancando de Bismarck pelo menos a promessa verbal de uma proteção, mas com uma ressalva: era preciso conferir se a Inglaterra não tinha ou pretendia obter direitos de soberania sobre o território.
Bismarck não queria, de jeito nenhum, colidir com os interesses britânicos. Tanto maior sua irritação, ao saber através da imprensa em agosto de 1883, que a 12 de maio Lüderitz havia içado a bandeira alemã "em sinal de tomada de posse".
A colônia que a Alemanha não queria
Lüderitz chegou a dar a sua possessão caráter de soberania imperial, o que foi rejeitado por Berlim. Bismarck deixou claro que se tratava apenas de uma "propriedade particular de Lüderitz" na África do Sudoeste.
Otto von Bismarck
O "imperador de ferro" mandou verificar, mais uma vez, se a Inglaterra não tinha direitos sobre o território. "Caso a coroa britânica não tenha tomado posse, a soberania nacional pertence ao referido príncipe negro ou a Lüderitz, mas não ao Império Alemão", observou Bismarck.
Um dos princípios da política externa alemã do final do século 19 era respeitar o interesse de terceiros no fomento das relações comerciais com territórios do além-mar.
Apesar da impertinência de Lüderitz, o Ministério das Relações Exteriores deu-lhe proteção como a qualquer outro comerciante alemão no exterior, isto é, "proteção consular" para um alemão com propriedade particular fora do país.
Namíbia: colonizada e ocupada
A 24 de abril de 1884, Bismarck anunciou que enviaria o navio Nautilus, armado com canhões, a Angra Pequena. Foi o primeiro passo da Alemanha no sentido de tornar-se potência colonial.
Colonizada pelos alemães a partir de 1890, a Namíbia é um dos mais jovens países do mundo. Durante a Primeira Guerra Mundial, foi ocupada pela África do Sul, que, em 1920, recebeu da Liga das Nações um mandato para administrar o território.

A luta pela libertação eclodiu em 1966 e se arrastou até 21 de março de 1990, quando a independência entrou em vigor.

Volker Vagener / Deutsche Welle

1904: Começa a revolta dos hereros


Em 2 de janeiro de 1904 estourou uma revolta do povo banto dos hereros contra os colonizadores alemães na então África do Sudoeste, atual Namíbia. A resposta alemã foi o genocídio.
A revolta surpreendeu os alemães na África do Sudoeste. Durante 20 anos, eles tinham expandido o seu domínio na atual Namíbia usando a tática de alimentar as rivalidades entre os povos inimigos dos nama e herero. Mas, desta vez, eles próprios foram as vítimas. Os revoltosos, liderados pelo cacique Samuel Maharero, matavam todo alemão que pudesse portar uma arma.
Os hereros viviam basicamente da pecuária. Passo a passo, o orgulhoso povo de pastores perdeu seus campos para os colonizadores alemães. Às vezes, na base de negociações, mas freqüentemente também por meio de falcatruas e violência.
Resistência à dominação
A situação chegou a um ponto em que o cacique dos hereros, Samuel Maharero, conclamou seu povo e outras tribos a resistirem à dominação alemã.
Numa carta ao líder nama Hendrik Witbooi, ele escreveu: "Toda a nossa subserviência e paciência em relação aos alemães não nos trouxe vantagens. Por isso, faço um apelo, meu irmão, para que participes da nossa revolta, de modo a toda a África levantar suas armas contra os alemães."
Reação violenta
Porém, esse sonho de Maharero não se tornou realidade. Os nama ficaram na expectativa, enquanto o Império Alemão reagiu com extrema brutalidade. O imperador Guilherme 2º mandou tropas comandadas pelo general Lothar von Trotha à África do Sudoeste.
Em carta ao governador da colônia, Theodor von Leutwein, ele anunciou uma violenta repressão: "Conheço muitas tribos africanas… Terror, violência brutal. Essa é a minha política", escreveu.
A 11 de agosto, von Trotha cercou os hereros na decisiva batalha de Waterberg, cerca de 400 quilômetros ao norte de Windhoek. O general alemão organizou suas tropas de forma a que os hereros só podiam romper o cerco num determinado ponto, para fugir rumo ao deserto de Omaheke. Ainda assim foram perseguidos pelos alemães, segundo relatou o comando do exército imperial.
"Ordem de extermínio"
Somente alguns poucos fugitivos conseguiram escapar para o território britânico de Betshuana. Outros tentaram romper a barreira militar alemã e voltar aos seus povoados de origem. Mas von Trotha foi implacável. A 2 de outubro de 1904, baixou uma proclamação que entraria para a história como uma "ordem de extermínio".
Esse ato de barbárie foi demais até para o governo alemão em Berlim. O chanceler imperial Bernhard von Bülow interveio junto ao imperador, argumentando que os hereros eram mão-de-obra indispensável para as fazendas e minas da África do Sudoeste e, por isso, deveriam ser poupados. Guilherme 2º ainda hesitou quase duas semanas até revogar a ordem de extermínio e exigir que von Trotha aceitasse a capitulação dos hereros.
Para a maioria dos rebeldes, porém, essa decisão veio tarde demais. Apenas cerca 15 mil de um total de 80 mil hereros escaparam do genocídio. O domínio alemão ainda persistiu por mais uma década.
Sob os auspícios sul-africanos
Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, a atual Namíbia foi ocupada pela África do Sul, na época colônia britânica. Em 1920, a Liga das Nações deu à África do Sul um mandato para administrar o território, situação que perdurou até o final da década de 80.
A luta pela libertação eclodiu em 1966, com o início das guerrilhas praticadas pela Organização dos Povos do Sudoeste da África (Swapo), de linha marxista. A Namíbia, no entanto, só se tornaria um país independente em 21 de março de 1990.

Carsten von Nahmen / Deutsche Welle

Fonte : http : //dw.com /p/ 1 YmF

Rutilio da cuenta de su vida


Mi nombre es Rutilio; mi patria, Sena, una de las más famosas ciudades de Italia; mi oficio, maestro de danzar, único en él, y venturoso si yo quisiera. Había en Sena un caballero rico, a quien el cielo dio una hija más hermosa que discreta, a la cual trató de casar su padre con un caballero florentín; y, por entregársela adornada de gracias adquiridas, ya que las del entendimiento le faltaban, quiso que yo la enseñase a danzar; que la gentileza, gallardía y disposición del cuerpo en los bailes honestos más que en otros pasos se señalan, y a las damas principales les está muy bien saberlos, para las ocasiones forzosas que les pueden suceder. Entré a enseñarla los movimientos del cuerpo, pero movila los del alma, pues, como no discreta, como he dicho, rindió la suya a la mía, y la suerte, que de corriente larga traía encaminadas mis desgracias, hizo que, para que los dos nos gozásemos, yo la sacase de en casa de su padre y la llevase a Roma. Pero, como el amor no da baratos sus gustos, y los delitos llevan a las espaldas el castigo (pues siempre se teme), en el camino nos prendieron a los dos, por la diligencia que su padre puso en buscarnos. Su confesión y la mía, que fue decir que yo llevaba a mi esposa y ella se iba con su marido, no fue bastante para no agravar mi culpa: tanto, que obligó al juez, movió y convenció a sentenciarme a muerte.

Apartáronme en la prisión con los ya condenados a ella por otros delitos no tan honrados como el mío. Visitome en el calabozo una mujer, que decían estaba presa por fatucherie, que en castellano se llaman hechiceras, que la alcaidesa de la cárcel había hecho soltar de las prisiones y llevádola a su aposento, a título de que con yerbas y palabras había de curar a una hija suya de una enfermedad que los médicos no acertaban a curarla.

Finalmente, por abreviar mi historia, pues no hay razonamiento que, aunque sea bueno, siendo largo lo parezca, viéndome yo atado, y con el cordel a la garganta, sentenciado al suplicio, sin orden ni esperanza de remedio, di el sí a lo que la hechicera me pidió, de ser su marido, si me sacaba de aquel trabajo. Díjome que no tuviese pena, que aquella misma noche del día que sucedió esta plática, ella rompería las cadenas y los cepos, y, a pesar de otro cualquier impedimento, me pondría en libertad, y en parte donde no me pudiesen ofender mis enemigos, aunque fuesen muchos y poderosos. Túvela, no por hechicera, sino por ángel que enviaba el cielo para mi remedio. Esperé la noche, y en la mitad de su silencio llegó a mí, y me dijo que asiese de la punta de una caña que me puso en la mano, diciéndome la siguiese. Turbeme algún tanto; pero como el interés era tan grande, moví los pies para seguirla, y hallelos sin grillos y sin cadenas, y las puertas de toda la prisión de par en par abiertas, y los prisioneros y guardas en profundísimo sueño sepultados.

En saliendo a la calle, tendió en el suelo mi guiadora un manto, y, mandándome que pusiese los pies en él, me dijo que tuviese buen ánimo, que por entonces dejase mis devociones. Luego vi mala señal, luego conocí que quería llevarme por los aires, y aunque, como cristiano bien enseñado, tenía por burla todas estas hechicerías -como es razón que se tengan-, todavía el peligro de la muerte, como ya he dicho, me dejó atropellar por todo; y, en fin, puse los pies en la mitad del manto, y ella ni más ni menos, murmurando unas razones que yo no pude entender, y el manto comenzó a levantarse en el aire, y yo comencé a temer poderosamente, y en mi corazón no tuvo santo la letanía a quien no llamase en mi ayuda. Ella debió de conocer mi miedo, y presentir mis rogativas, y volviome a mandar que las dejase. "¡Desdichado de mí! -dije-; ¿qué bien puedo esperar, si se me niega el pedirle a Dios, de quien todos los bienes vienen?"

En resolución, cerré los ojos y dejeme llevar de los diablos, que no son otras las postas de las hechiceras, y, al parecer, cuatro horas o poco más había volado, cuando me hallé al crepúsculo del día en una tierra no conocida. Tocó el manto el suelo, y mi guiadora me dijo: "En parte estás, amigo Rutilio, que todo el género humano no podrá ofenderte". Y, diciendo esto, comenzó a abrazarme no muy honestamente. Apartela de mí con los brazos, y, como mejor pude, divisé que la que me abrazaba era una figura de lobo, cuya visión me heló el alma, me turbó los sentidos y dio con mi mucho ánimo al través. Pero, como suele acontecer que en los grandes peligros la poca esperanza de vencerlos saca del ánimo desesperadas fuerzas, las pocas mías me pusieron en la mano un cuchillo, que acaso en el seno traía, y con furia y rabia se le hinqué por el pecho a la que pensé ser loba, la cual, cayendo en el suelo, perdió aquella fea figura, y hallé muerta y corriendo sangre a la desventurada encantadora.

Considerad, señores, cuál quedaría yo, en tierra no conocida y sin persona que me guiase. Estuve esperando el día muchas horas, pero nunca acababa de llegar, ni por los horizontes se descubría señal de que el sol viniese. Aparteme de aquel cadáver, porque me causaba horror y espanto el tenerle cerca de mí. Volvía muy a menudo los ojos al cielo, contemplaba el movimiento de las estrellas y parecíame, según el curso que habían hecho, que ya había de ser de día.

Estando en esta confusión, oí que venía hablando, por junto de donde estaba, alguna gente, y así fue verdad. Y, saliéndoles al encuentro, les pregunté en mi lengua toscana que me dijesen qué tierra era aquella; y uno de ellos, asimismo en italiano, me respondió: "Esta tierra es Noruega; pero, ¿quién eres tú, que lo preguntas, y en lengua que en estas partes hay muy pocos que la entiendan?" "Yo soy -respondí- un miserable, que por huir de la muerte he venido a caer en sus manos". Y en breves razones le di cuenta de mi viaje, y aun de la muerte de la hechicera. Mostró condolerse el que me hablaba, y díjome: "Puedes, buen hombre, dar infinitas gracias al cielo por haberte librado del poder destas maléficas hechiceras, de las cuales hay mucha abundancia en estas setentrionales partes. Cuéntase dellas que se convierten en lobos, así machos como hembras, porque de entrambos géneros hay maléficos y encantadores. Cómo esto pueda ser yo lo ignoro, y como cristiano que soy católico no lo creo, pero la esperiencia me muestra lo contrario. Lo que puedo alcanzar es que todas estas transformaciones son ilusiones del demonio, y permisión de Dios y castigo de los abominables pecados deste maldito género de gente".

Preguntele qué hora podría ser, porque me parecía que la noche se alargaba, y el día nunca venía. Respondiome que en aquellas partes remotas se repartía el año en cuatro tiempos: tres meses había de noche escura, sin que el sol pareciese en la tierra en manera alguna; y tres meses había de crepúsculo del día, sin que bien fuese noche ni bien fuese día; otros tres meses había de día claro continuado, sin que el sol se escondiese, y otros tres de crepúsculo de la noche; y que la sazón en que estaban era la del crepúsculo del día: así que, esperar la claridad del sol por entonces era esperanza vana, y que también lo sería esperar yo volver a mi tierra tan presto, si no fuese cuando llegase la sazón del día grande, en la cual parten navíos de estas partes a Inglaterra, Francia y España con algunas mercancías. Preguntome si tenía algún oficio en que ganar de comer, mientras llegaba tiempo de volverme a mi tierra. Díjele que era bailarín y grande hombre de hacer cabriolas, y que sabía jugar de manos sutilísimamente. Riose de gana el hombre, y me dijo que aquellos ejercicios o oficios (o como llamarlos quisiese) no corrían en Noruega ni en todas aquellas partes. Preguntome si sabría oficio de orífice. Díjele que tenía habilidad para aprender lo que me enseñase. "Pues veníos, hermano, conmigo, aunque primero será bien que demos sepultura a esta miserable".

Hicímoslo así, y llevome a una ciudad, donde toda la gente andaba por las calles con palos de tea encendidos en las manos, negociando lo que les importaba. Preguntele en el camino que cómo o cuándo había venido a aquella tierra, y que si era verdaderamente italiano. Respondió que uno de sus pasados abuelos se había casado en ella, viniendo de Italia a negocios que le importaban, y a los hijos que tuvo les enseñó su lengua, y de uno en otro se estendió por todo su linaje, hasta llegar a él, que era uno de sus cuartos nietos. "Y así, como vecino y morador tan antiguo, llevado de la afición de mis hijos y mujer, me he quedado hecho carne y sangre entre esta gente, sin acordarme de Italia ni de los parientes que allá dijeron mis padres que tenían".

Contar yo ahora la casa donde entré, la mujer e hijos que hallé, y criados (que tenía muchos), el gran caudal, el recibimiento y agasajo que me hicieron, sería proceder en infinito: basta decir, en suma, que yo aprendí su oficio, y en pocos meses ganaba de comer por mi trabajo. En este tiempo se llegó el de llegar el día grande, y mi amo y maestro -que así le puedo llamar- ordenó de llevar gran cantidad de su mercancía a otras islas por allí cercanas y a otras bien apartadas. Fuime con él, así por curiosidad como por vender algo que ya tenía de caudal, en el cual viaje vi cosas dignas de admiración y espanto, y otras de risa y contento; noté costumbres, advertí en ceremonias no vistas y de ninguna otra gente usadas. En fin, a cabo de dos meses, corrimos una borrasca que nos duró cerca de cuarenta días, al cabo de los cuales dimos en esta isla, de donde hoy salimos, entre unas peñas, donde nuestro bajel se hizo pedazos, y ninguno de los que en él venían quedó vivo, sino yo.

Lo primero que se me ofreció a la vista, antes que viese otra cosa alguna, fue un bárbaro pendiente y ahorcado de un árbol, por donde conocí que estaba en tierra de bárbaros salvajes, y luego el miedo me puso delante mil géneros de muertes; y, no sabiendo qué hacerme, alguna o todas juntas las temía y las esperaba. En fin, como la necesidad, según se dice, es maestra de sutilizar el ingenio, di en un pensamiento harto extraordinario, y fue que descolgué al bárbaro del árbol, y, habiéndome desnudado de todos mis vestidos, que enterré en la arena, me vestí de los suyos, que me vinieron bien, pues no tenían otra hechura que ser de pieles de animales, no cosidos ni cortados a medida, sino ceñidos por el cuerpo, como lo habéis visto. Para disimular la lengua, y que por ella no fuese conocido por estranjero, me fingí mudo y sordo, y con esta industria me entré por la isla adentro, saltando y haciendo cabriolas en el aire.

A poco trecho descubrí una gran cantidad de bárbaros, los cuales me rodearon, y en su lengua unos y otros, con gran priesa me preguntaron -a lo que después acá he entendido- quién era, cómo me llamaba, adónde venía y adónde iba. Respondiles con callar y hacer todas las señales de mudo más aparentes que pude, y luego reiteraba los saltos y menudeaba las cabriolas. Salime de entre ellos, siguiéronme los muchachos, que no me dejaban adonde quiera que iba. Con esta industria pasé por bárbaro y por mudo, y los muchachos, por verme saltar y hacer gestos, me daban de comer de lo que tenían. Desta manera he pasado tres años entre ellos, y aun pasara todos los de mi vida, sin ser conocido. Con la atención y curiosidad noté su lengua, y aprendí mucha parte de ella, supe la profecía que de la duración de su reino tenía profetizada un antiguo y sabio bárbaro, a quien ellos daban gran crédito. He visto sacrificar algunos varones para hacer la esperiencia de su cumplimiento, y he visto comprar algunas doncellas para el mismo efeto, hasta que sucedió el incendio de la isla, que vosotros, señores, habéis visto. Guardeme de las llamas; fui a dar aviso a los prisioneros de la mazmorra, donde vosotros sin duda habréis estado; vi estas barcas, acudí a la marina; hallaron en vuestros generosos pechos lugar mis ruegos; recogístesme en ellas, por lo que os doy infinitas gracias, y agora espero en la del cielo, que, pues nos sacó de tanta miseria a todos, nos ha de dar en este que pretendemos felicísimo viaje.

FIN



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Eu amo a acariciar os dedos,
Sorrateiramente, deslizando, beijo
Deixa-os ir passado as meninas, meninos,
Eles ver estes jogos não pode ser...
Janelas pacificamente stare, paternal,
Ouvir as palavras, as vibrações do muro
Eu te amo como um ser humano,
Ogorchaya e budas, e dos deuses...
Eu, confie em mim, na pequena probleske tempo
Esperando os desejos do seu coração,
E ilumina minha bola na cabeça -
Chakra, luz, amor celestial!
Aproveite a paixão dos meus olhos
O teu corpo, características faciais,
E meus olhos são enormes templos
Izumrudnykh becos sem fim!!!
E a minha alma com fumo, funde
Lábios à tua luxúria,
E um abraço, e que tentam se infiltrar,
Esperando a possibilidade de beijo!
Fascinado pelo meu ouvir a tua voz,
Ele é um espaço eco sons,
E espesso, banhado a ouro, cabelo
O que se passa com os raios do espiritual granizo...
Noite, táxi e voar interestadual,
Vai dormir, meu amor... Sempre no caminho
As nossas almas, palácios e eles não têm,
Eles seriam na vida um do outro para encontrar!..

Alexander Aisenberg . Jerusalem .Israel


fonte : http://stihi.ru/2016/05/14/3450