quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Um homem que dorme
"Você tem tudo a
aprender, tudo aquilo que não se aprende: a solidão, a indiferença, a
paciência, o silêncio.
(...)
Dorme com os olhos arregalados como os idiotas.
(...)
Livre como uma vaca, como uma ostra, como um rato!
(...)
Os vulcões misericordiosos não se debruçaram sobre você.
(...)
Chegar ao fundo, nada quer dizer. Nem ao fundo do desespero, nem do ódio, nem da decadência etílica, nem da solidão orgulhosa.
(...)
Você nada aprendeu, a não ser que a solidão nada ensina, que a indiferença nada ensina: era um engodo, uma ilusão fascinante e enganadora. Você estava só e eis tudo e queria proteger-se; que entre o mundo e você as pontes estejam para sempre rompidas. Mas você é tão pouca coisa e o mundo é uma palavra tão grande: você jamais fez outra coisa a não ser vagar por uma cidade grande, a não ser caminhar ao longo de alguns quilómetros de fachadas, de parques e de cais.
(...)
"Não. Você não é mais o dono anônimo do mundo, aquele sobre o qual a história não tinha influência, aquele que não sentia a chuva cair, que não percebia a noite chegar. Você não é mais o inacessível, o límpido, o transparente. Você tem medo, espera. Você espera..."
(...)
Dorme com os olhos arregalados como os idiotas.
(...)
Livre como uma vaca, como uma ostra, como um rato!
(...)
Os vulcões misericordiosos não se debruçaram sobre você.
(...)
Chegar ao fundo, nada quer dizer. Nem ao fundo do desespero, nem do ódio, nem da decadência etílica, nem da solidão orgulhosa.
(...)
Você nada aprendeu, a não ser que a solidão nada ensina, que a indiferença nada ensina: era um engodo, uma ilusão fascinante e enganadora. Você estava só e eis tudo e queria proteger-se; que entre o mundo e você as pontes estejam para sempre rompidas. Mas você é tão pouca coisa e o mundo é uma palavra tão grande: você jamais fez outra coisa a não ser vagar por uma cidade grande, a não ser caminhar ao longo de alguns quilómetros de fachadas, de parques e de cais.
(...)
"Não. Você não é mais o dono anônimo do mundo, aquele sobre o qual a história não tinha influência, aquele que não sentia a chuva cair, que não percebia a noite chegar. Você não é mais o inacessível, o límpido, o transparente. Você tem medo, espera. Você espera..."
(Georges
Perec - Um homem que dorme)
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