Dona Maria,
quero que a mãe seja a primeira a saber: decidi investir no
Brasil. Acredito na viabilidade deste país.
Vou ter um filho.
Meu filho será 100% nacional, meu filho gerará recursos para
equilibrar a balança externa, meu filho incentivará o consumo interno e criará
empregos diretos e indiretos. Que mais?... Olha, mãe (vó!), precisaria de um
economista para mostrar as vantagens imensas que
o meu filho trará para o Brasil. Sem falar no crescimento do
nosso parque de mão-de-obra barata, tenho como certa a sua integração nas
nossas Forças Armadas ao completar os 18 anos.
Mas não comemore ainda.
Ainda estou aguradando o sinal verde do Ministério do
Planejamento. Espero que eles aprovem minhas condições para investir um filho
meu no Brasil. Quero isenções.
Quero isenção do Imposto de Importação, isenção do ICM e
energia elétrica subsidiada. Isto na fase de gravidez. Depois, quando ele
nascer, quero perdão do Imposto de REnda por dez anos (prorrogáveis por mais
trinta), 300 mil alqueires da Amazônia pro meu filho correr, brincar etc...
Quero muito? Tô agora achando que o BRasil é uma gigantesca
teta, uma imensa Mãe Joana?
Uai! Só quero o que a Alcoa-Shell ganhou do Ministério do
Planejamento para investir em Carajás! E dou vantagens: com os dez anos de
perdão do Imposto de REnda que deram pra Alcoa-Shell, eu prometo trigêmeos!
Vale o que está escrito.
A bênção da sua opção civil.
[Henfil - Diretas Já! Editora Record, 1984]