quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Poemas


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(trad. Olga Savary)

Nem flores nem lua.

E ele tomando sakê

sozinho.

De que árvore florida

chega? Não sei.

Mas é seu perfume.

(trad. Guilherme de Almeida)

Ah! o antigo açude!

E quando uma rã mergulha,

o marulho da água.

(trad. Manuel Bandeira)

A cigarra... Ouvi:
Nada revela em seu canto
que ela vai morrer.

(trad. desconhecido)

Este caminho

Ninguém já o percorre,

Salvo o crepúsculo.

Doente em viagem

Sonho em secos campos

Ir-me enveredar.


Matsuo Bashô. 

Japonês nascido em Tóquio, no ano de 1644, morre em Osaka, 500km ao sudoeste, em 1694. Filho de samurai, samurai por nascimento, interessava-se por poesia desde criança; publicou seu primeiro poema em 1662. Aos 25 anos, abandona sua classe social e a imposição do destino, trocando uma carreira militar pelas andanças errantes. Buscou uma vida mais reclusa, ensinou a milhares de discípulos a arte do haikai, peregrinou por algumas vezes por diferentes partes do Japão e pautou sua vida e produção artística em preceitos aliados à humildade, modéstia e transição. Tornou-se um mestre, consagrado e ainda muito considerado no campo da arte poética, mesmo depois de alguns séculos, célebre pela beleza de seus trabalhos. Bashô enxergava a beleza em coisas simples da natureza e da vida e a compartilhava com o mundo.

[Para mais sobre Bashô ou haikais: LEMINSKI, P. Matsuo Bashô: a lágrima do peixe. GUTTILLA, R. (org.) Boa companhia: haicai].

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Velas na Tapera


  
Com prefácio assinado por José Louzeiro e nota de orelha escrita por Olga Savary, obra traz como pano de fundo polêmico projeto da Cia. Ford Motors.


  Registros e detalhes sobre uma marcante odisséia vivida pela Amazônia vão aportar em solo europeu graças à literatura. Emoldurado por referências sobre um dos mais polêmicos projetos industriais já realizados na História recente, o romance "Velas na Tapera", do escritor Carlos Correia Santos, será lançado em Lisboa no próximo dia 06 de junho em um recital litero-musical promovido pela FNAC Chiado. O evento promete ser uma fusão cultural que contará com uma mostra de música brasileira e amazônica a cargo dos artistas Fercy Nery (na voz e violão) e Attila Argay (na bateria). A programação incluirá um bate-papo com o autor, além da sessão de autógrafos.

  
Resultado de seis anos de pesquisa, "Velas na Tapera" tem como pano de fundo a colossal história de Fordlândia, núcleo urbano erguido pela Cia Ford nos anos 20, em plena selva amazônica, para produção de látex destinado à fabricação de pneus que seriam utilizados pela poderosa empresa automobilística. O projeto acabou abandonado depois que a plantação de seringueiras foi atacada por uma praga. É pelo cenário da abandonada cidade americana, em meio ao ermo da mata, que transitam os personagens da narrativa. Em especial, Rita Flor.

  
Rita perde sua filha de seis anos. Após um misterioso incêndio em sua tapera, ela acredita que sua menina virou uma milagreira e decide construir uma capela em sua homenagem. A jovem não tem dinheiro para cumprir seu intento. O único caminho que lhe resta é prostituir-se. O sagrado e o profano deitam-se na mesma cama.  Em meio ao vazio e ao desencanto que transformam Forlândia numa vila fantasmagórica, Rita vende seu corpo para santificar a filha.

  
PRÊMIO E AVAL

  
"Velas na Tapera" venceu em 2008 o Prêmio Dalcídio Jurandir, promovido pela Fundação Tancredo Neves (FCPTN), uma das mais importantes entidades culturais da região amazônica. A obra tem prefácio assinado pelo romancista José Louzeiro (autor de clássicos da literatura brasileira, como Pixote e Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia) e orelha assinada por Olga Savary (uma das mais importantes poetas brasileiras, considerada a introdutora do hai-kai nas letras nacionais.

  
 "Sinto que é uma honra em todos os sentidos poder lançar esse trabalho em Portugal. Primeiro porque consigo provar que, mesmo sem a cobertura de mercado de uma grande editora, é possível fazer circular a produção literária. O romance chegou aos leitores graças a um prêmio. Foi editado por uma fundação amazônica e, ainda assim, está trilhando um caminho sólido", ressalta Correia. E ele complementa: "Essa possibilidade de intercâmbio também é sempre fascinante. Para quem cria narrativas em língua portuguesa é uma experiência emocionante poder levar seus ditos ao país berço do idioma com o qual labuta".  

  
O AUTOR
  

Poeta, contista, cronista, dramaturgo, roteirista e romancista, Carlos Correia Santos tem feito da diversidade uma grande marca de sua carreira. É escritor vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir 2008, na categoria romance, com a obra "Velas na Tapera", concurso de vulto nacional criado para celebrar o centenário do romancista Dalcídio Jurandir. É autor do premiado livro de poemas "O Baile dos Versos", obra que ganhou especial saudação da Academia Brasileira de Letras, em 1999. Também são de sua autoria as obras "Poeticário" (poemas), "No Último Desejo a Carne é Fria" (coletânea de contos), "Nu Nery" (teatro), Ópera Profano (teatro / Prêmio Cidade de Manaus) e "Batista" (teatro).

  
Como escritor na área de artes cênicas, coleciona importantes láureas nacionais, como o Prêmio Funarte de Dramaturgia por três anos consecutivos (2003, 2004 e 2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Fomento ao Teatro (2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Circulação Nacional (2006) e o Edital Seleção Brasil em Cena do Centro Cultural Banco do Brasil.
   
Incluídos no Catálogo da Dramaturgia Brasileira da renomada autora Maria Helena Kühner (iniciativa detentora do Prêmio Shell), seus textos teatrais já ganharam diversas montagens e já foram apresentados nas cidades brasileiras de Belém, São Luís, Natal, Recife, Camaçari, Piracicaba, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
   
Suas peças já foram traduzidas para o francês e espanhol. Importantes artistas brasileiros, como Stella Miranda (que interpretou a síndica do humorístico "Toma La, Dá Cá", de Miguel Falabella, exibido na TV Globo), já assinaram direção de suas obras.
   
Em 2009, foi o autor vencedor da categoria dramaturgia do III Concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação. O texto premiado chama-se "Não Conte com o Numero Um No Reino de Numesmópolis". No cinema, foi agraciado com o Prêmio do Edital Curta Criança do Ministério da Cultura. Assinou a seção Contando Um Conto, no jornal O Liberal (um dos maiores da região Norte) e Portal ORM. É colaborador, com seus contos, do jornal O Estado do Acre e dos sites BV News (Roraima), Amapá Digital (Amapá), Manaus On Line (Manaus), Madeira On Line (Rondônia) e Timor On Line (Timor Leste).




TRECHOS DO PREFÁCIO DE VELAS NA TAPERA
  

PERSONAGEM EMBLEMÁTICA

  
José Louzeiro*

"(...) Em boa hora, o nome do injustiçado Dalcídio vira prêmio literário em Belém, Pará, e o vencedor é o talentoso Carlos Correia Santos - "Velas na Tapera" - que prima pela criatividade, e eu até diria, pela singularidade na maneira de expressar-se.

Isso faz com que este "Velas na Tapera" seja uma obra cativante e originalíssima. O autor brinca com as frases sincopadas e a elas dá espírito novo, através de sugestivas e oportunas expressões metafóricas. A par desses recursos, de certa maneira cultivados por Guimarães Rosa, há que se destacar a preocupação do autor com a questão social, coisa essa imanente em todas as obras de Dalcídio.
A personagem trabalhada, dramaticamente por Carlos Correia é Rita Flor que, com suas vestes pretas, transforma-se numa espécie de estandarte vivo do sofrimento e da desesperança; da mulher diante de seus problemas pessoais, mas funcionando como figura emblemática neste livro que é a narrativa, também, do desastre de uma grande aventura industrial - a Fordlândia (Companhia Henry Ford Motores e Cia.) - que se instala em plena selva amazônica, mas pouco depois sobrevém a desilusão: o projeto naufraga no mar de folhas de todos os verdes, os prédios tornam-se taperas, as máquinas são esquecidas no matagal, como a pedir socorro pelo abandono a que foram entregues.  
Mas ao autor, experiente teatrólogo, não basta contar a história do naufrágio do ambicioso projeto industrial numa região da mais absoluta carência; ele se esmera na técnica do dizer, do inventar, literariamente, coisa essa que o coloca no plano mais alto que um escritor poderia aspirar. Claro está que neste "Velas na Tapera" há muitos e bem traçados personagens, mas a figura que transcende é a de  Rita Flor, forte e decidida como certas personagens da obra de  Bertolt Brecht.
O enterro que Rita faz da filha equivale, nas entrelinhas, ao verdadeiro e definitivo funeral (ou pá de cal?...) do projeto norte-americano que se tornou esperança de vida para uma comunidade inteira, na floresta que guarda tanto viço e riquezas a serem descobertas.
Neste "Velas na Tapera", Rita me faz lembrar, de certa forma, "A Alma Boa de Setsuan" (Brecht), pois ela é, na verdade, uma "parábola teatral," ao mesmo tempo em que pode ser o espírito da mata, da dor materializada no pólen das flores, da decadência, das malárias e pesadelos, dos que sonharam e acordaram perdedores, tremendo no frio da desesperança.
Com este primeiro romance, se Carlos Correia já era considerado versátil teatrólogo, agora estréia na condição de ficcionista que prima pelas inovações e capacidade narrativa. Depois de sepultar a filha Saninha, Rita "se deitaria para sempre sobre a solidão", pois ela passa a ser a personificação do que, popularmente, chamamos de "alma penada", sujeita a chuvas e trovoadas.
O autor traça de tal forma o desenho desta personagem que sua projeção estende-se sobre a narrativa, torna-se absoluta e por que não dizer, chocante, surpreendente, pois é clara a intenção do autor em revolucionar as velhas formas "do dizer e do sentir" no contar de uma história.
"Velas na Tapera" é o que se pode chamar de realismo mágico a envolver a pequena comunidade marcada pela ausência de caminhos. Apenas Rita trilha as picadas da ausência, na louca tentativa de resgatar Saninha, materialização da saudade, do que se foi, não é mais. Menos para Rita. Curioso: essa metáfora, criada com maestria pelo ficcionista, envolve todos os habitantes das taperas, inconscientes da realidade que é uma espécie de rio sem começo e sem fim.
Somente Rita Flor, com as pegadas que deixa pelos caminhos fundos, pulsa como sendo a dor e a oculta paixão de certos homens, que sabem não serem correspondidos, pois o coração de Rita foi sepultado com o corpo de Saninha.

No desvario dela própria e no dos outros é que Rita encontra forças para manter-se viva no seu "mudo prantear". Mas na visão estreita dos vizinhos ela é apenas a desmemoriada, que tudo perdeu - o marido, a casa incendiada - e, agora, vive das luzes que recebe da filha sepultada, mas que, para ela, mantém-se "vela acesa" ou sonho que não se deixa mesclar pelas cores soturnas do seu desafiador existir.

No mundo especial em que Rita transita, além das folhas verdes da floresta, há velas acesas a iluminar sua passagem. Pena que ela já tivesse "um ver que não via nada", nem seus ouvidos registravam os "sussurros do mato" e muito menos os "cochichos de reentrâncias".

As dores transformaram Rita Flor em assombração no inconsciente dos humilhados e ofendidos. Com este livro, Carlos Correia demonstra ser um grande conhecedor do poder das metáforas e de como utilizá-las com sutileza e sabedoria.

* Um dos mais importantes nomes das letras nacionais, José Louzeiro é autor de 40 livros e criador, no Brasil, do gênero intitulado romance-reportagem. Atuou em célebres veículos de comunicação, como "Última Hora", "Correio da Manhã" e Revista Manchete. No cinema já assinou, como roteirista, dez longas-metragens, dos quais pelo menos três se tornaram populares: "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia", "Pixote" e "O Homem da Capa Preta". Lançou pela Editora Francisco Alves o estudo biográfico intitulado O Anjo da Fidelidade, sobre Gregório Fortunato, o "anjo negro" de Getúlio Vargas. Em 2001, pela Editora do Brasil: "Isto não deu no jornal" (memórias de sua passagem por cinco jornais cariocas). E em 2002, "Ana Nery, a brasileira que venceu a guerra" (Editora Mondrian): biografia da heroína baiana, patrona dos en fermeiros brasileiros. O trabalho foi adaptado para a televisão, tendo Marília Pêra como protagonista. Ainda na TV, foi o autor de novelas como "Corpo Santo".

  
ORELHA DE VELAS NA TAPERA

A VELA ACESA POR SAVARY

Olga Savary*

Da complexidade do ser, da própria solidão e solidariedade humana, da sua simplicidade e estranheza, são realizados os textos de Carlos Correia Santos, seja na poesia, nos contos, no teatro ou no romance. Sua dedicação à cultura e à Arte faz deste autor paraense, deste grande brasileiro, um candidato constante às premiações importantes nas áreas citadas: poesia, ficção, peças teatrais.

Assisti com orgulho a uma premiação obtida por ele no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, em 2006. Carlos Correia Santos destacou-se entre dezenas e dezenas de concorrentes. Seu talento impulsionou-o a sobrepujar os demais candidatos. Uma platéia seleta e atenta assistia a apresentação do trabalho de Correia e tinha o direito de votar no melhor participante.

A literatura e a arte foram os meios de expressão eleitos por Carlos Correia Santos, que bem poderia pertencer à Academia Paraense de Letras. Seria uma honra para a APL tê-lo junto aos Acadêmicos, que só teriam a ganhar.

Além de seus méritos pessoais, no trabalho em seus livros, em tudo o que faz, Carlos Correia Santos é um guerreiro, um lutador pela cultura geral e pela cultura paraense em particular, sem falar na sua esplêndida atitude como pessoa, em sua admirável postura diante da vida e dos outros.

Pela extrema elegância e gentileza, pela classe e nobreza com que se conduz em tudo, Carlos Correia Santos é um príncipe. Orgulho-me de ter o privilégio de ser sua fraterna amiga.

* Poeta, contista, tradutora e organizadora de antologias. Artista nacionalmente aclamada, é uma das introdutoras do hai-kai no Brasil.

Algo había sucedido




El tren había recorrido sólo pocos kilómetros (y el camino era largo, nos detendríamos recién en la lejanísima estación de llegada, después de correr durante casi diez horas) cuando vi por la ventanilla, en un paso a nivel, a una muchacha. Fue una casualidad, podía haber mirado tantas otras cosas y en cambio mi mirada cayó sobre ella, que no era hermosa ni tenía nada de extraordinario. ¡Quién sabe por qué había reparado en ella! Era evidente que estaba apoyada en la barrera para disfrutar de la vista de nuestro tren, superdirecto, expreso al norte, símbolo -para aquella gente inculta- de vida fácil, aventureros, espléndidas valijas de cuero, celebridades, estrellas cinematográficas... Una vez al día este maravilloso espectáculo y absolutamente gratuito, por añadidura.

Pero cuando el tren pasó frente a la muchacha, en vez de mirar en nuestra dirección se dio vuelta para atender a un hombre que llegaba corriendo y le gritaba algo que nosotros, naturalmente, no pudimos oír, como si acudiera a prevenirla de un peligro. Solamente fue un instante: la escena voló, quedó atrás y yo me quedé preguntándome qué preocupación le había traído aquel hombre a la muchacha que había venido a contemplarnos. Y ya estaba por adormecerme, al rítmico bamboleo del tren, cuando quiso la casualidad -se trataba seguramente de una pura y simple casualidad- que reparara en un campesino parado sobre un murito, que llamaba y llamaba hacia el campo, haciéndose bocina con las manos. También esta vez fue un momento porque el expreso siguió su camino, aunque me dio tiempo de ver a seis o siete personas que corrían a través de las praderas, los cultivos, la hierba medicinal, pisoteándola sin miramientos. Debía ser algo importante. Venían de diferentes lugares -de una casa, de una fila de viñas, de una abertura en la maleza- pero todos corrían directamente al murito, acudiendo alarmados, al llamado del muchacho. Corrían, sí, ¡por Dios cómo corrían!, espantados por alguna inesperada noticia que los intrigaba terriblemente, quebrando la paz de sus vidas. Pero fue sólo un instante, lo repito apenas un relámpago; no tuvimos tiempo de observar nada más.

"¡Qué extraño!", pensé, "en pocos kilómetros ya dos casos de gente que recibe, de golpe, una noticia" (eso, al menos, era lo que yo presumía). Ahora, vagamente sugestionado, escrutaba el campo, las carreteras, los paisajes, con presentimiento e inquietud. Seguramente estaba influido por el especial estado de ánimo, pero lo cierto es que cuanto más observaba a la gente, más me parecía encontrar en todos lados una inusitada animación. ¿Por qué aquel ir y venir en los patios, aquellas afanadas mujeres, aquellos carros...? En todos los lados era lo mismo. Aunque a esa velocidad era imposible distinguir bien, hubiera jurado que toda esa agitación respondía a una misma causa. ¿Se celebraría alguna procesión en la zona? ¿O los hombres se dispondrían a ir al mercado? El tren continuaba adelante y todo seguía igual, a juzgar por la confusión. Era evidente que todo se relacionaba: la muchacha del paso a nivel, el joven sobre el muro, el ir y venir de los campesinos: algo había sucedido y nosotros, en el tren, no sabíamos nada.

Miré a mis compañeros de viaje, algunos en el compartimiento, otros en el corredor. No se habían dado cuenta de nada. Parecían tranquilos y una señora de unos sesenta años, frente a mí, estaba a punto de dormirse. ¿O acaso sospechaban? Sí, sí, también ellos estaban inquietos y no se atrevían a hablar. Más de una vez los sorprendí echando rápidas miradas hacia fuera. Especialmente la señora somnolienta, sobre todo ella, miraba de reojo, entreabriendo apenas los párpados y después me examinaba cuidadosamente para ver si la había descubierto. Pero, ¿de qué teníamos miedo?

Nápoles. Aquí, habitualmente, el tren se detiene. Pero nuestro expreso, no, hoy no. Desfilaron cerca las viejas casas y en los patios oscuros se veían ventanas iluminadas. En aquellos cuartos -fue un instante- hombres y mujeres aparecían inclinados, haciendo paquetes y cerrando valijas. ¿O me engañaba y todo era producto de mi fantasía?

Se preparaban para marcharse. "¿Adónde?", me preguntaba. Evidentemente no era una noticia feliz, pues había como una especie de alarma generalizada tanto en la campaña como en la ciudad. Una amenaza, un peligro, el anuncio de un desastre. Después me decía: "Si fuera una desgracia se habría detenido el tren; en cambio, el tren encontraba todo en orden, señales de vía libre, cambios perfectos, como para un viaje inaugural.

Un joven a mi lado, simulando que se desperezaba, se había puesto de pie. En realidad quería ver mejor y se inclinaba sobre mí para estar más cerca del vidrio. Afuera, el campo, el sol, los caminos blancos; sobre los caminos, carros, camiones, grupos de gente a pie, largas caravanas, semejantes a las que marchan en dirección a la iglesia el día del santo patrón de la ciudad. Ya eran cientos, cada vez más gentío a medida que el tren se acercaba al norte. Y todos llevaban la misma dirección, descendían hacia el mediodía, huían del peligro mientras nosotros íbamos directamente a su encuentro; a velocidad enloquecida nos precipitábamos, corríamos hacia la guerra, la revolución, la peste, el fuego... ¿Qué más podía pasarnos? No lo sabríamos hasta dentro de cinco horas, en el momento de llegar, y seguramente sería demasiado tarde.

Nadie decía nada. Ninguno quería ser el primero en ceder. Cada uno quizás dudara de sí mismo, como yo, y en la incertidumbre se preguntara si toda aquella alarma sería real o simplemente una idea loca, una alucinación, una de esas ocurrencias absurdas que suelen asaltarnos en el tren, cuando ya se está un poco cansado. La señora de enfrente lanzó un suspiro, aparentando que recién se despertaba, e igual que aquel que saliendo efectivamente del sueño levanta la mirada mecánicamente, así ella levantó las pupilas, fijándolas, casi por azar, en la manija de la señal de alarma. Y también todos nosotros miramos el aparato, con idéntico pensamiento. Nadie se atrevió a hablar o tuvo la audacia de romper el silencio o simplemente osó preguntar a los otros si habían advertido, afuera, algo alarmante.

Ahora las carreteras hormigueaban de vehículos y gente, todos en dirección al sur. Nos cruzábamos con trenes repletos de gente. Los que nos veían pasar, volando con tanta prisa hacia el norte, nos miraban desconcertados. Un multitud había invadido las estaciones. Algunos nos hacían señales, otros nos gritaban frases de las cuales se percibían solamente las voces, como ecos de la montaña.

La señora de enfrente empezó a mirarme. Con las manos enjoyadas estrujaba nerviosamente un pañuelo, mientras suplicaba con la mirada. Parecía decir: si alguien hablaba... si alguno de ustedes rompiera al fin este silencio y pronunciara la pregunta que todos estamos esperando como una gracia y ninguno se atreve a formular...

Otra ciudad. Como al entrar en la estación el tren disminuyó su velocidad, dos o tres se levantaron con la esperanza de que se detuviera. No lo hizo y siguió adelante como una estruendosa turbonada a lo largo de los andenes donde, en medio de un caótico montón de valijas, un gentío se enardecía, esperando, seguramente, un convoy que partiera. Un muchacho intentó seguirnos con un paquete de diarios y agitaba uno que tenía un gran titular negro en la primera página. Entonces, con un gesto repentino, la señora que estaba frente a mí se asomó, logrando detener por un momento el periódico, pero el viento se lo arrancó impetuosamente. Entre los dedos le quedó un pedacito. Advertí que sus manos temblaban al desplegarlo. Era un papelito casi triangular. Del enorme título, sólo quedaban tres letras: ION, se leía. Nada más. Sobre el reverso aparecían indiferentes noticias periodísticas.

Sin decir palabra, la señora levantó un poco el fragmento, a fin de que pudiéramos verlo. Todos lo habíamos visto, aunque ella aparentaba ignorarlo. A medida que crecía el miedo, nos volvíamos más cautelosos. Corríamos como locos hacia una cosa que terminaba en ION y debía de tratarse de algo espeluznante; poblaciones enteras se daban a la fuga. Un hecho nuevo y poderoso había roto la vida del país, hombres y mujeres solamente pensaban en salvarse, abandonando casas, trabajos, negocios, todo, pero nuestro tren no, el maldito aparato, del cual ya nos sentíamos parte como un pasamano más, como un asiento, marchaba con la regularidad de un reloj, a la manera de un soldado honesto que se separa del grueso del ejército derrotado para llegar a su trinchera, donde ya la ha cercado el enemigo. Y por decencia, por un respeto humano miserable, ninguno de nosotros tenía el coraje de reaccionar. ¡Oh los trenes, cómo se parecen a la vida!

Faltaban dos horas. Dos horas más tarde, a la llegada, ya sabríamos la suerte que nos esperaba a todos. Dos horas. Una hora y media. Una hora. Ya descendía la oscuridad. Vimos a lo lejos las luces de nuestra anhelada ciudad y su inmóvil resplandor reverberante, un halo amarillo en el cielo, nos volvió a dar un poco de coraje.

La locomotora emitió un silbido, las ruedas resonaron sobre el laberinto de los cambios. La estación, la superficie -ahora oscura- del techo de vidrio, las lámparas, los carteles, todo estaba como de costumbre. Pero, ¡horror! Aún el tren se movía, cuando vi que la estación estaba desierta, los andenes vacíos y desnudos. Por más que busqué no pude encontrar una figura humana. El tren se detuvo, al fin. Corrimos por el andén hacia la salida, a la caza de alguno de nuestros semejantes. Me pareció entrever al fondo, en el ángulo derecho, casi en la penumbra, a un ferroviario con su gorro que desaparecía por una puerta, aterrorizado. ¿Qué habría pasado? ¿No encontraríamos un alma en la ciudad? De pronto, la voz de una mujer, altísima y violenta como un disparo, nos hizo estremecer. "¡Socorro! ¡Socorro!", gritaba y el grito repercutió bajo el techo de vidrio con la vacía sonoridad de los lugares abandonados para siempre.

FIN

 Dino Buzzati

08 Jun 2011

Biblioteca Digital Ciudad Seva



"Acho que seria uma felicidade poder ler todos os bons livros que existem. É doloroso saber que não leremos todos eles."



 Adolfo Bioy Casares

La intrusa



Dicen (lo cual es improbable) que la historia fue referida por Eduardo, el menor de los Nelson, en el velorio de Cristián, el mayor, que falleció de muerte natural, hacia mil ochocientos noventa y tantos, en el partido de Morón. Lo cierto es que alguien la oyó de alguien, en el decurso de esa larga noche perdida, entre mate y mate, y la repitió a Santiago Dabove, por quien la supe. Años después, volvieron a contármela en Turdera, donde había acontecido. La segunda versión, algo más prolija, confirmaba en suma la de Santiago, con las pequeñas variaciones y divergencias que son del caso. La escribo ahora porque en ella se cifra, si no me engaño, un breve y trágico cristal de la índole de los orilleros antiguos. Lo haré con probidad, pero ya preveo que cederé a la tentación literaria de acentuar o agregar algún pormenor.
En Turdera los llamaban los Nilsen. El párroco me dijo que su predecesor recordaba, no sin sorpresa, haber visto en la casa de esa gente una gastada Biblia de tapas negras, con caracteres góticos; en las últimas páginas entrevió nombres y fechas manuscritas. Era el único libro que había en la casa. La azarosa crónica de los Nilsen, perdida como todo se perderá. El caserón, que ya no existe, era de ladrillo sin revocar; desde el zaguán se divisaban un patio de baldosa colorada y otro de tierra. Pocos, por lo demás, entraron ahí; los Nilsen defendían su soledad. En las habitaciones desmanteladas dormían en catres; sus lujos eran el caballo, el apero, la daga de hojas corta, el atuendo rumboso de los sábados y el alcohol pendenciero. Sé que eran altos, de melena rojiza. Dinamarca o Irlanda, de las que nunca oirían hablar, andaban por la sangre de esos dos criollos. El barrio los temía a los Colorados; no es imposible que debieran alguna muerte. Hombro a hombro pelearon una vez a la policía. Se dice que el menor tuvo un altercado con Juan Iberra, en el que no llevó la peor parte, lo cual, según los entendidos, es mucho. Fueron troperos, cuarteadores, cuatreros y alguna vez tahúres. Tenían fama de avaros, salvo cuando la bebida y el juego los volvían generosos. De sus deudos nada se sabe y ni de dónde vinieron. Eran dueños de una carreta y una yunta de bueyes.

Físicamente diferían del compadraje que dio su apodo forajido a la Costa Brava. Esto, y lo que ignoramos, ayuda a comprender lo unidos que fueron. Malquistarse con uno era contar con dos enemigos.

Los Nilsen eran calaveras, pero sus episodios amorosos habían sido hasta entonces de zaguán o de casa mala. No faltaron, pues, comentarios cuando Cristián llevó a vivir con él a Juliana Burgos. Es verdad que ganaba así una sirvienta, pero no es menos cierto que la colmó de horrendas baratijas y que la lucía en las fiestas. En las pobres fiestas de conventillo, donde la quebrada y el corte estaban prohibidos y donde se bailaba, todavía, con mucha luz. Juliana era de tez morena y de ojos rasgados; bastaba que alguien la mirara, para que se sonriera. En un barrio modesto, donde el trabajo y el descuido gastan a las mujeres, no era mal parecida.

Eduardo los acompañaba al principio. Después emprendió un viaje a Arrecifes por no sé qué negocio; a su vuelta llevó a la casa una muchacha, que había levantado por el camino, y a los pocos días la echó. Se hizo más hosco; se emborrachaba solo en el almacén y no se daba con nadie. Estaba enamorado de la mujer de Cristián. El barrio, que tal vez lo supo antes que él, previó con alevosa alegría la rivalidad latente de los hermanos.

Una noche, al volver tarde de la esquina, Eduardo vio el oscuro de Cristián atado al palenque En el patio, el mayor estaba esperándolo con sus mejores pilchas. La mujer iba y venía con el mate en la mano. Cristián le dijo a Eduardo:

-Yo me voy a una farra en lo de Farías. Ahí la tenés a la Juliana; si la querés, usala.

El tono era entre mandón y cordial. Eduardo se quedó un tiempo mirándolo; no sabía qué hacer. Cristián se levantó, se despidió de Eduardo, no de Juliana, que era una cosa, montó a caballo y se fue al trote, sin apuro.

Desde aquella noche la compartieron. Nadie sabrá los pormenores de esa sórdida unión, que ultrajaba las decencias del arrabal. El arreglo anduvo bien por unas semanas, pero no podía durar. Entre ellos, los hermanos no pronunciaban el nombre de Juliana, ni siquiera para llamarla, pero buscaban, y encontraban razones para no estar de acuerdo. Discutían la venta de unos cueros, pero lo que discutían era otra cosa. Cristián solía alzar la voz y Eduardo callaba. Sin saberlo, estaban celándose. En el duro suburbio, un hombre no decía, ni se decía, que una mujer pudiera importarle, más allá del deseo y la posesión, pero los dos estaban enamorados. Esto, de algún modo, los humillaba.

Una tarde, en la plaza de Lomas, Eduardo se cruzó con Juan Iberra, que lo felicitó por ese primor que se había agenciado. Fue entonces, creo, que Eduardo lo injurió. Nadie, delante de él, iba a hacer burla de Cristián.

La mujer atendía a los dos con sumisión bestial; pero no podía ocultar alguna preferencia por el menor, que no había rechazado la participación, pero que no la había dispuesto.

Un día, le mandaron a la Juliana que sacara dos sillas al primer patio y que no apareciera por ahí, porque tenían que hablar. Ella esperaba un diálogo largo y se acostó a dormir la siesta, pero al rato la recordaron. Le hicieron llenar una bolsa con todo lo que tenía, sin olvidar el rosario de vidrio y la crucecita que le había dejado su madre. Sin explicarle nada la subieron a la carreta y emprendieron un silencioso y tedioso viaje. Había llovido; los caminos estaban muy pesados y serían las once de la noche cuando llegaron a Morón. Ahí la vendieron a la patrona del prostíbulo. El trato ya estaba hecho; Cristián cobró la suma y la dividió después con el otro.

En Turdera, los Nilsen, perdidos hasta entonces en la mañana (que también era una rutina) de aquel monstruoso amor, quisieron reanudar su antigua vida de hombres entre hombres. Volvieron a las trucadas, al reñidero, a las juergas casuales. Acaso, alguna vez, se creyeron salvados, pero solían incurrir, cada cual por su lado, en injustificadas o harto justificadas ausencias. Poco antes de fin de año el menor dijo que tenía que hacer en la Capital. Cristián se fue a Morón; en el palenque de la casa que sabemos reconoció al overo de Eduardo. Entró; adentro estaba el otro, esperando turno. Parece que Cristián le dijo:

-De seguir así, los vamos a cansar a los pingos. Más vale que la tengamos a mano.

Habló con la patrona, sacó unas monedas del tirador y se la llevaron. La Juliana iba con Cristián; Eduardo espoleó al overo para no verlos.

Volvieron a lo que ya se ha dicho. La infame solución había fracasado; los dos habían cedido a la tentación de hacer trampa. Caín andaba por ahí, pero el cariño entre los Nilsen era muy grande -¡quién sabe qué rigores y qué peligros habían compartido!- y prefirieron desahogar su exasperación con ajenos. Con un desconocido, con los perros, con la Juliana, que habían traído la discordia.

El mes de marzo estaba por concluir y el calor no cejaba. Un domingo (los domingos la gente suele recogerse temprano) Eduardo, que volvía del almacén, vio que Cristián uncía los bueyes. Cristián le dijo:

-Vení, tenemos que dejar unos cueros en lo del Pardo; ya los cargué; aprovechemos la fresca.

El comercio del Pardo quedaba, creo, más al Sur; tomaron por el Camino de las Tropas; después, por un desvío. El campo iba agrandándose con la noche.

Orillaron un pajonal; Cristián tiró el cigarro que había encendido y dijo sin apuro:

-A trabajar, hermano. Después nos ayudarán los caranchos. Hoy la maté. Que se quede aquí con su pilchas, ya no hará más perjuicios.

Se abrazaron, casi llorando. Ahora los ataba otro círculo: la mujer tristemente sacrificada y la obligación de olvidarla.

FIN

 Jorge Luis Borges

15 Jun 2011

Biblioteca Digital Ciudad Seva

“cantinho dos haicais”




las hojas secas

son como el testamento

de los castaños

.

en cofre nuevo

guardé los sentimientos /

perdí la llave

.

si hubiera dios

nadie le rezaria

por no aburrírle

.

ola por ola

el mar lo sabe todo

pero se olvida

.

sé que el abismo

tiene su seducción

yo ni mi acerco

.

los premios póstumos

se otorgan com desgana

y algo de lástima

.

un pesimista

es sólo un optimista

bien informado

.

la poesia

dice honduras que a veces

la prosa calla


Mario Benedetti,  alguns dos seus tercetos reunidos num “cantinho dos haicais” (Rincón de Haikus, 1999) – esta, ainda sem tradução para o português. 


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