Ele dizia que a inquisição ocorreu SEM o conhecimento do
Vaticano - ou, pelo menos, sem a aquiescência papal. Desafiou-me a mostrar
minhas fontes e ainda perguntou a qual inquisição eu referia-me, à católica ou
à protestante.
Foi um desafio interessante. Eu não conhecia a expressão
"inquisição protestante", de modo que foi um verdadeiro aprendizado.
Da mesma forma, fui atrás de fontes sobre a inquisição católica - outro
verdadeiro aprendizado.
Após estudar esses temas, fiquei chocado: é espantoso, é
escandaloso que alguém possa dizer, com seriedade, que o Vaticano não conhecia
e/ou não autorizava o funcionamento da Inquisição, fosse em sua versão
original, do século XII, fosse em sua versão absolutamente fanática, do século
XV.
Desde o início o papado apoiou e incentivou a inquisição. É
claro que diferentes papas conferiram diferentes ênfases ao tribunal, em alguns
casos restringindo sua ação - mas em outros casos estimulando-a.
O sinal mais simples de que o papado apoiava a inquisição é
o fato de que o mais ativo iniciador do tribunal criou uma ordem religiosa e
depois foi santificado: Domingos de Gusmão, depois São Domingos, fundador dos
frades pregadores, ou dominicanos. Aliás, os mais furiosos e fanáticos
diretores da inquisição espanhola eram dominicanos (como Torquemada e seu
sucessor).
Dito isso, não sei o que precisamente há por trás da
afirmação inicial de que o papado não apoiava a inquisição. Seria um desejo de
"inocentar" a igreja católica? De diminuir suas responsabilidades? De
transferir a atenção de seus crimes e seus fanatismos, do catolicismo para os
protestantes (que, de fato, não ficaram atrás dos católicos, embora sejam bem
menos conhecidos)?
Em todo caso, não me parece haver aí desconhecimento ou
ignorância; o que parece haver é desinformação, isto é, o desejo consciente de
propagar informações erradas. Isso é muito sério e preocupante.
(Uma estratégia semelhante pode ser vista da parte
justamente de um dos mais ativos denunciadores atuais da desinformação
esquerdista - Olavo de Carvalho. Aliás, desinformação com prepotência.)
Gustavo Biscaia de Lacerda