domingo, 17 de março de 2013



Se o Zizek estiver numa balsa, ele não afunda, basta começa a falar, gesticula mais do que sei lá o quê,e ainda tive que ouvir essa mulher traduzindo, com erres retroflexos, igual aquele boçal do Olavo de Carvalho. Ele começa muito bem, falando do que eu já dele tinha lido, sobre a mobilização e a não persistência daquilo que move esses atos. O filósofo pop da esquerda festiva Sem festa, não passa de um psicanalista nervoso,e faz uma puta confusão na tentativa desesperada de síntese, algo que não consegue, tudo bem, antes desesperado que estagnado, embora o que ele diga esteja mais para estagnação...o velho binômio no discurso dos socialista-marxistas, essa de oprimidos e opressores e seus afins paleolíticos; e tentou a canonização de algumas bestas sagradas que se quiseram socialistas.Só gostei da menção do Maurizio Lazzarato,que aliás, é bem mais coerente.

Tullio Estef. Sartini


"Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: veredas", 36ª impressão, Editora Nova Fronteira, 1988.
 


Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.
 
Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.
 
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.
 
E ele espera, contente quase e bebedor tranqüilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.
- Ricardo Reis [Heterônimo de Fernando Pessoa], (escrito em 19.06.1914), In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
 
Poemas escolhidos de Fernando Pessoa: http://www.elfikurten.com.br/2013/01/fernando-pessoa-o-poeta-de-multiplos-eus_30.ht

QUANDO O HOMEM ENTRA NA MULHER





Quando o homem
entra na mulher,
como a rebentação
batendo na costa,
uma e outra vez,
e a mulher abre a boca de prazer
e os seus dentes brilham
como o alfabeto,
Logos aparece ordenhando uma estrela,
e o homem
dentro da mulher
ata um nó,
de modo que nunca mais
possam voltar a separar-se
e a mulher
trepa a uma flor
e engole o seu pecíolo
e Logos aparece
e solta os seus rios.


Este homem,
esta mulher
com o seu duplo desejo
tentaram atravessar
a cortina de Deus
e conseguiram-no por um instante,
embora Deus
na Sua perversidade
desate o nó.

Anne Sexton
tradução Jorge Sousa Braga

El mundo es eso – reveló -. Un montón de gente, un mar de fuegultos.




Cada persona brilla con luz propia entre todas las demás. No hay dos fuegos iguales. Hay fuegos grandes y fuegos chicos y fuegos de todos los colores. Hay gente de fuego sereno, que ni se entera del viento, y gente de fuego loco, que llena el aire de chispas. Algunos fuegos, fuegos bobos, no alumbran ni queman; pero otros arden la vida con tantas ganas que no se puede mirarlos sin parpadear, y quien se acerca, se enciende.
 
Eduardo Galeano


"Ontem um mexicano me perguntou por que nós, brasileiros, somos tão "apaixonados". Ele se referia à facilidade com que nos tocamos, à nossa cultura táctil, de falar pegando nas pessoas. De fato, os mexicanos são muito reservados nesse aspecto: são extremamente gentis, afáveis, educadíssimos e amáveis, mas guardam sempre uma distância mínima de respeito. Atravessar essa distância é uma longa conquista. Eu respondi dizendo que decerto nossa sensualidade era herança africana. Os portugueses foram talvez o único povo colonizador que se mesclou sem medo e sem susto com as populações não brancas. Graças a isso, fomos amamentados durante séculos pelo leite das amas negras e os filhos da casa grande brincavam com os escravinhos e aprendiam a falar português na senzala, de onde surgiu nossa língua única e fascinante. Eu cada dia mais me orgulho da nossa africanidade. E cada dia odeio mais o racismo tão entranhado em nossa população (superficialmente) branca."

Marcos Bagno