sexta-feira, 5 de abril de 2013




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    Coisas que deixamos de cumprir: a prática da abstinência religiosa, preparativos para compromissos num futuro distante, Reclusão prolongada no tempo.

    24
    Coisas que são desdenhadas: muros danificados, pessoas conhecidas por seu coração bom demais.

    27
    Coisas passadas que nos causam saudades. Flores ressequidas de malva. Ornamentos do Dia das Meninas.
    Momentos em que nos deparamos com um retalho tingido de roxo-carmesim e roxo claro avermelhado prensado entre págians de uma brochura. Ou, em tedioso dia de chuva, encontrar cartas que outrora nos comoveram.
    O leque do ano que passou.

    (de 'O livro do travesseiro", de Sei Shônagon, trad. de uma pá de gente)

 Fonte : Guilherme Gontijo Flores

Dia de luz



Galeano - 5 de abril 

Aconteceu na África, em Ife',cidade sagrada do reino dos iorubas, talvez num dia como hoje, ou quem sabe quando.
Um velho, já muito enfermo, reuniu seus três filhos, e anunciou:
- Minhas coisas mais queridas serão de quem conseguir encher esta sala completamente.
E esperou lá fora, sentado, enquanto a noite caia.
Um dos filhos trouxe toda a palha que conseguiu juntar, mas a sala so' ficou cheia até a metade.
Outro filho trouxe toda a areia que conseguiu reunir, mas a metade da sala ficou vazia.
O terceiro filho acendeu uma vela.
E a sala se encheu.

O fantasma



Galeano - 4 de abril

Em 1846 nasceu Isidore Ducasse.
Eram tempos de guerra em Montevidéu, e ele foi batizado ao som de tiros de canhão.
Assim que pôde, foi-se embora para Paris. La' se transformou no Conde de Lautréamont e seus pesadelos contribuíram para a fundação do surrealismo.
Neste mundo, passou de visita: em sua breve vida incendiou e linguagem, em suas palavras ardeu e virou fumaça.

Goya


A ORIGEM





Consumara-se o prazer ilícito.
Ergueram-se ambos do catre humilde.
À pressa se vestiram, sem falar.
Saíram separados, furtivamente;
e, ao caminhar inquietos pela rua,
como que receavam que algo neles traísse
em que espécie de amor há pouco se deitavam.

Mas quanto assim ganhou a vida do poeta!
Amanhã, depois, anos depois, serão
escritos os versos de que é esta a origem.

--- Konstantínos Kaváfis (tradução de Jorge de Sena)

Wilson Nogueira




'Antes de mais nada, toda a sociedade exige necessariamente uma acomodação mútua e uma temperatura; por conseguinte, quanto mais numerosa, tanto mais enfadonha será. Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre.A coerção é a companheira inseparável de toda a sociedade, que ainda exige sacrifícios tão mais difíceis quanto mais significativa for a própria individualidade. Dessa forma, cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é. ''

__Arthur Schopenhauer