domingo, 9 de abril de 2017


"Desde 2011, a Síria é invadida por mercenários estrangeiros pagos por Estados Unidos, Reino Unido, França, Israel, Turquia, Arábia Saudita e Qatar. Nunca um conflito foi tão distorcido em sua natureza real com uso massivo de propaganda de guerra para manipular SENTIMENTOS e fazer pessoas se comoverem. As imagens de crianças feridas e mortas, de pessoas morrendo por ataques de armas químicas e de fanáticos muçulmanos degolando indefesos jornalistas são reais. Mas a narrativa, o momento de publicação e o que oferecem como solução é friamente calculado. Muitas dessas imagens são distorcidas com as chamadas operações de 'falsa bandeira" e os fatos são invertidos em favor dos invasores. Nessa guerra, o presidente Bashar al Assad, com apoio da Rússia, do Irã e do Hezbollah enfrenta dia a dia o terrorismo dos mercenários estrangeiros e a campanha de difamação internacional daqueles que pretendem partilhar o país em três pedaços. A guerra da Síria nunca foi uma guerra civil muito menos uma luta de "democratas" contra um ditador: ela é uma resistência contra o colonialismo e estão aí os exemplos do Iraque e da Líbia para mostrar que essa conversa de que ditador estadunidense vai implantar democracia já não engana mais ninguém. Se Bush e Obama mentiram, qual o sentido de acreditar na mesma mentira agora contada por Trump?"

Thomas de Toledo


"Paraná, paraíso da impunidade", o que sempre foi apontado por qualquer pessoa crítica bem informada ! Há vários anos que classificamos a Lava Jato como Farsa a Jato por causa da imensa impunidade existente na "República de Curitiba". A verdade sempre será reconhecida e agora até mesmo um dos operadores da força-tarefa reconhece apenas alguns dos principais escândalos de corrupção regionais, casos nunca tratados efetivamente pelos justiceiros locais. Faltou reconhecer e mencionar as Contas CC5, o mega fracasso do Banestado, a "mãe" de todas as corrupções recentes na classe dominante paranaense e com muitos dos mesmos operadores seletivos da Lava a Jato, o outro caso do "primo" de Beto Richa, Luiz Abi Antoun, o escândalo da Receita Estadual, agora o escândalo do Porto de Paranaguá e muitos outros casos de corrupção sendo semanalmente descobertos e denunciados: Pelo Gaeco e pelos integrantes justos no sistema judicial sério e não partidarizado, pelos verdadeiros jornalistas profissionais no campo midiático crítico, pelos policiais honestos nas instituições policiais sérias aqui existentes. Basta de farsas no Paraná !

Ricardo Costa de Oliveira



Guerras começam pela política e só terminam pela política como reitera Clausewitz. A guerra na Síria poderia terminar com a vitória militar total de um lado, o que parece difícil porque sempre que um grupo se aproxima de desmantelar os outros ocorrem ainda mais intervenções externas. Outra possibilidade poderia ser a iugoslavização na quebra do Estado Sírio e a formação de outras unidades aprofundando dimensões etnonacionais. Ainda restam possibilidades de formas autônomas e federativas entre os grupos alauítas, de Assad, xiítas, os apoios do Irã e do Hezbollah, os sunitas na base do ISIS e outros grupos com apoios da Arábia Saudita, wahabismo, minorias como os drusos, turcomanos, assírios, curdos e outros grupos étnicos e religiosos. Todo Estado Nacional mais estável se assenta em um núcleo duro etnonacional, o que hoje não é o caso da Síria. Os interesses do complexo industrial-militar dos Estados Unidos com Trump enfrentando derrotas na política interna, como na saúde da Obamacare, forçam os Republicanos a procurarem as tradicionais guerras externas para disfarçarem sua mediocridade e crescente falta de apoio doméstico, afinal Trump tem todos os defeitos de Obama e muitos mais, além do que para o capitalismo as guerras sempre são os melhores e mais lucrativos negócios. O cenário muito provável é a guerra continuar delimitada entre os aliados da Rússia e dos EUA, com as grandes potências nucleares evitando confrontos militares diretos entre si. Guerras devem ser travadas até o seu fim político, o que ainda está muito longe na Síria.

Ricardo Costa de Oliveira

Notas Estéticas

"A obra de Lukács, em matéria estética, acolhe como princípio fundamental a ideia de que aquilo que é social na obra de arte é a forma.

As implicações imediatas dessa posição indicam com grande clareza que as relações entre obras de arte e sociedade são concebidas de modo analógico-estrutural e não pela presença, na obra, de 'elementos' ou 'conteúdos' sociais.

Por exemplo: o romance é definido, ou melhor, situado, como gênero literário expressivo da burguesia não porque tantos romances contenham tão numerosos personagens, situações e acontecimentos facilmente encontráveis na sociedade burguesa - mas sim porque a estrutura básica da forma literária 'romance' possui linhas substancialmente homólogas (segundo Goldmann) ou análogas (pela nossa opinião) às diretrizes da sociedade burguesa.

O entendimento da relação arte/sociedade como uma função baseada na analogia de estruturas retira à velha dualidade forma/conteúdo qualquer valor lógico.

O 'conteúdo' se dissolve. Arte é campo de formas significativas, cuja significação vem da força com que se referem a formas sociais, não porque a arte tenha de ser explicada 'de fora', mas, simplesmente, porque sua função é ser linguagem, isto é, transposição ao nível do domínio, da clarificação e da consciência - daquelas formas sociais que constituem a bruta experiência do cotidiano. A arte, e especialmente a arte literária, realiza nessa condição um trabalho filosófico: por ela, a sociedade se conhece a si mesma.

O 'conteúdo' da obra de arte é uma ilusão elementarista, que não resiste a uma visão estrutural. Consiste no engano de querer perceber a obra em fragmentos, quando ela é antes de tudo uma unidade; e também em outro engano, o de querer captar uma 'mensagem' dentro de um estilo e das palavras, quando toda mensagem é a linguagem mesma: a ideia não está na palavra, não se vestiu com ela; a ideia, a significação, a mensagem, é a linguagem.

Se Croce não tivesse esquecido tantas coisas, seria possível dizer com ele (mas a terminologia já revela o que ele esqueceu) que toda intuição é expressão. Que todo 'conteúdo' é linguagem - e portanto, que separá-lo (tentar separá-lo) da sua linguagem, é apenas mutilação, apenas perda, apenas dano."


- José Guilherme Merquior, "Notas Estéticas", em "A Razão do Poema: ensaios de crítica e de estética" (1965). São Paulo: É Realizações, 2013. pp. 222-223. Da página do Fabricio Gonçalves
Ainda antes da abertura dos portões do cemitério, alguém já acende uma nova vela para a Missa de Sétimo Dia do jornal impresso. Se ontem foi o maior jornal do Paraná, mudando de formato e apostando no digital, no mês passado o jornal da cidade em que moro deixou de circular duas vezes na semana para investir em apenas uma edição semanal de “mais fôlego”. Nos últimos dez anos, ao menos oito grandes esfinges do jornalismo impresso morreram, da Gazeta Mercantil ao Jornal do Brasil. No ínterim, muitos amigos jornalistas foram demitidos, estão desempregados ou sobrevivendo de freelancers. Outros estão em segunda faculdade ou especializando-se em carreiras acadêmicas. O mundo muda, as profissões mudam e a redação parece destinada a ser o museu do futuro, onde crianças, acompanhadas dos professores, serão informadas sobre estranhas práticas em espaço restrito. O cenário realmente não é animador. Os dados do IVC apontam para uma queda progressiva da base de assinantes das principais revistas em circulação do País. Mesmo quem muda ainda está longe da calmaria. Os anunciantes estão evadindo-se para novas experiências de contato com seus consumidores. A base de produção, sem receita, corta custos para a máquina não emperrar. As ferramentas digitais não cobrem o antigo modelo. A conta não fecha.

E onde está o RelevO neste processo? Somos um jornal de papel, logo sentimos os efeitos da crise econômica, do aumento de custos operacionais – dos Correios ao combustível –, da instabilidade de ser contemporâneo em um segmento revirado e de nossa própria infraestrutura, modesta. Ainda assim, a cada mês aumentamos um pouco a nossa base de assinantes e não sentimos intensamente a fuga de anunciantes, até porque são poucos e fieis a um certo propósito, que retratarei mais à frente. Podia ser pior, mas confortável não é.
Para não fecharmos as portas, montamos um jornal sem fins lucrativos. O que isso significa? Exatamente: ninguém na estrutura ganha dinheiro com o jornal. (Prestamos contas públicas de nossos ganhos e gastos.) Naturalmente, não é o ideal. Eu mesmo gostaria muito de me remunerar com o jornal e pensar calmamente em estratégias de aprofundar as relações entre leitores e a literatura, estudar melhor o mundo complexo em que acordamos. Mas não: passo boa parte do mês fazendo malotes dos assinantes, distribuindo jornal no Brasil, cobrando assinantes e pagando boletos. Desgosto? Também não. Sinto um orgulho discreto de, em sete anos de turbulências, não abrirmos mão de alguns valores. Não ganhamos dinheiro porque nunca batemos na porta do poder público. Não ganhamos dinheiro porque não vendemos espaço editorial para empresas que acreditam que conteúdo e publicidade são o mesmo saco. Fechamos alguns meses no prejuízo porque não damos assinaturas para YouTubers, que se travestem de interesse público para inocular ações de marketing. Em suma, somos um case pronto de fracasso para os novos tempos.

O que, portanto, será de nós se o cemitério já tem uma lápide com o nosso nome e nos convoca para o descanso em paz? Bem, acredito, talvez de uma forma racionalista-mística, que o impresso ainda significará algo para determinados grupos, sejam eles pequenos, sejam eles à margem, sejam ele eu + cinco. Aos solavancos, encontramos um público cativo. E digo isso no sentido que o termo carrega de necessidade/apreço de se relacionar com o papel. Eu reconheço que sou da geração anterior, escrava do papel. Formei-me leitor nos jornais de papel, comecei minha carreira na comunicação entregando jornal de papel, aprendi a diagramar pensando no RelevO em páginas, entrego jornal até hoje. Talvez seja a minha moira. O que vai acontecer se o RelevO tiver que fechar? Não sei. Só sei de meu desconforto com os novos tempos, mas não quero ser um velho nostálgico.

Por isso, quando encontro pessoas que se comprometem com a reflexão sobre os rumos da Comunicação e da Cultura, digo que se trata da construção de circuitos. Um jornal de literatura de papel ainda é importante no processo de disseminação de um conjunto de ideias e de trabalhos. Representa, ao seu modo, um recorte temporal, nem melhor ou pior do que qualquer outro, apenas mais um – aquele que escolhemos. Não precisamos anular outras plataformas para construir o nosso circuito.

Quando encontro pessoas que são meus amigos e se comprometem com a reflexão sobre os rumos da Comunicação e Cultura, sou ainda mais franco. Se trata, sobretudo, daqueles que gostam de cultura, principalmente amigos, de investirem um pouco de seu tempo e dinheiro em projetos que não existirão sem algum engajamento. Porque assistir a morte anunciada de grandes conglomerados de comunicação é quase excitante. Contudo, logo um novo rei assume o lugar, se duvidar com a mesma música. Agora, quando morrem iniciativas culturais fora da curva, a próxima iniciativa precisará sair dos escombros para se erigir.
Portanto, não se trata de apelo, nem de defesa extrema de causa própria. Se você gosta de cultura, pense com mais carinho nos jornais impressos do setor, aqueles que você acha legal. O Brasil está cheio de periódicos muito bons e que movimentam ao seu modo determinados circuitos. Assine, divulgue, colabore, sugira. Se somos impessoais com a morte dos jornalões, não custa ser menos duro com projetos de identidade mais clara. Até custa, mas não muito.

Daniel Zanella


UMA MUDANÇA NO TEMPO DO CORAÇÃO



Uma mudança no tempo do coração
Resseca-lhe a umidade; um estampido dourado
Ecoa na tumba glacial.
Uma mudança no território das veias
Transforma a noite em dia; o reflexo solar do sangue
Ilumina os vermes ainda vivos.

Uma mudança nos olhos dissimula
Os ossos da cegueira; e o ventre
Mergulha na morte como a transpiração da vida.

A escuridão no tempo dos olhos
É a metade de sua luz; o mar profundo
Irrompe numa terra sem peixes.
A semente que dos flancos engrendra uma floresta
Divide ao meio seu fruto, e a metade
Goteja devagar no vento adormecido.

O tempo da carne e dos ossos
Torna-se úmido e seco; o vivo e o morto
Se movem como dois espectros diante dos olhos.
Uma mudança no tempo do mundo
Transforma um espectro no outro; cada criança
No útero da mãe repousa em sua dupla sombra.
Uma mudança arrasta a lua para o sol,
Caem da pele as cortinas em farrapos;
E o coração renuncia aos próprios mortos.

Dylan Thomas

Trad. Ivan Junqueira.