sábado, 16 de fevereiro de 2013
ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de
há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com
uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa
nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por
mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter
esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido
da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que
fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do
fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme
através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo
frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra
vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de
manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega
para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores
desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas doces, frutas o resto
na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era
por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na
algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos, 15-10-1929
La dominación masculina
BOURDIEU, PIERRE
Enlace: http:// socioeducacion.files.wordpress. com/2011/09/ bourdieu-pierre-la-dominacion-m asculina.pdf
El orden de las cosas no es un orden natural contra el
que nada puede hacerse, sino que es una construcción mental, una visión del
mundo con la que el hombre satisface su sed de dominio. Una visión que las
propias mujeres, sus víctimas, han asumido, aceptando inconscientemente su
inferioridad. Pierre Bourdieu, con su descripción etnográfica de la sociedad
cabileña, auténtica reserva del inconsciente mediterráneo, ofrece un
instrumento extremadamente poderoso para disolver las evidencias y explorar las
estructuras simbólicas de ese inconsciente antrocéntrico, que sobrevive en los
hombres y en las mujeres de hoy. El resultado es una denuncia, tanto más eficaz
políticamente en cuanto que científicamente fundamentada, de las muchas
paradojas que las relaciones entre los géneros alimentan, así como una
invitación a reconsiderar, junto a la unidad doméstica, la acción de aquellas
instancias superiores, la Iglesia, la Escuela, el Estado responsables en último
término de la dominación masculina.
“Esta presença constante da fome sempre fora a
grande força modeladora do comportamento moral de todos os homens desta
comunidade: dos seus sentimentos dominantes. Vê-los agir, falar, lutar, sofrer,
viver e morrer era ver a própria fome modelando, com suas despóticas mãos de
ferro, os heróis do maior drama da humanidade – o drama da fome.”
- Josué de Castro
A Literatura
Quando se pergunta o porquê da Literatura, só resta
responder: porque somos seres humanos. A Literatura é uma necessidade humana,
vem da própria existência. Somos animais que consomem voluntariamente grande
quantidade de relatos e poesias. Todas as populações do globo, de todas as
épocas, contam suas histórias e cantam seus poemas. Somos obrigados, por
exemplo, a nos recontar histórias para saber sempre o que fizemos, por isso
constituímos essa quantidade enorme de impressões. Vivemos o dia a dia,
escutamos tudo o que nos acontece, observamos tudo o que está a nossa volta, e
o que resta disso é sempre uma história. Eu encontrei um amigo, tomamos café,
falávamos disso ou daquilo etc. Essa é a função da narrativa, mas ela se
encontra condensada, sublimada e magnificada na Literatura. A ficção conta
melhor nossas próprias experiências. As palavras me permitem expressar meus
sentimentos, mas também enxergam a pluralidade humana. A Literatura é a forma
pela qual percebemos que os seres humanos não vivem cada um no seu mundo, mas
numa pluralidade infinita.
*Tzvetan Todorov in. “Revista de História da Biblioteca
Nacional”. n. 88, jan. 2013, p. 49.
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