domingo, 24 de março de 2013

O Arco e a Lira



"A distância entre a palavra e o objeto-que é o que obriga,justamente,cada palavra a tornar-se metáfora daquilo que designa- é consequência de outra: somente o homem adquiriu consciência de si,separou-se do mundo natural e se fez outro no seio de si mesmo. A palavra não é idêntica à realidade que nomeia porque entre o homem e as coisas -e, mais profundamente, entre o homem e o seu ser- se interpõe a consciência de si." Octavio Paz. O Arco e a Lira.

Pedro Páramo



"Em minha vida, há muitos silêncios", disse Rulfo, certa vez. "Na minha escrita também."

Rulfo disse que levou Pedro Páramo dentro de si por muitos anos, antes de escrevê_lo. (...) Sim, existe uma estrutura em Pedro Páramo, mas è uma estrutura feita de silêncios, de fios soltos, de cenas cortadas, onde tudo ocorre num tempo simultâneo, que é um não_tempo." In Questáo de Ênfase, Susan Sontag, p. 144.

O intelectual



“O intelectual pode bem, e deverá sempre, se pôr a serviço duma dessas ideologias, duma dessas verdades temporárias. Mas por isso mesmo que é cultivado, e um ser livre, por mais que minta em proveito da verdade temporária que defende, nada no mundo o impedirá de ver, de recolher e reconhecer a Verdade da miséria do mundo. Da miséria dos homens. O intelectual verdadeiro, por tudo isso, sempre há de ser um homem revoltado e um revolucionário, pessimista, cético e cínico: fora da lei.”

- Mário de Andrade, 1976.

Momento




O homem parou, cheio de dedos, para procurar os fósforos nos bolsos. A insidiosa frescura do mar lhe mandou um pensamento suicida. E veio um riso límpido e irresistível – em i, em a, em o – do fundo de um pátio da infância. Um riso... Senão quando o homem achou os fósforos e a vida recomeçou. Apressada, implacável, urgente. A vida é cheia de pacotes...

- Mario Quintana, in: Sapato Florido, 1948.