terça-feira, 3 de setembro de 2019

Sonetos da portuguesa



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Estas flores colhidas no jardim
Que me trazias no verão, no inverno,
Poderiam, no escuro do quarto interno,
Sem sol ou chuva ter crescido em mim.
Em nome deste amor toma as ideias
Que de igual modo aqui desabrocharam,
Do coração provindo, e acompanharam
Dias frios ou quentes. Estão cheias
De ervas amargas, cardos e lamentos
De que te incumbo. Juntas também vão
Rosas silvestres. Dá-lhes tratamento
Bom como eu dou às flores que me dão.
Que a cor persista ao teu olhar atento.
Das raízes, te lembra, eu sou o chão.


De Elizabeth Barrett Browning, poeta inglesa do século XIX, em tradução de Leonardo Fróes, o soneto último dos seus "Sonetos da portuguesa":

El despecho



Los ojos tristes, de llorar cansados,
alzando al cielo, su clemencia imploro;
mas vuelven luego al encendido lloro,
que el grave peso no los sufre alzados.

Mil dolorosos ayes desdeñados
son, ¡ay!, tras esto de la luz que adoro;
y ni me alivia el día, ni mejoro
con la callada noche mis cuidados.

Huyo a la soledad, y va conmigo
oculto el mal, y nada me recrea;
en la ciudad en lágrimas me anego;

aborrezco mi ser, y aunque maldigo
la vida, temo que la muerte aun sea
remedio débil para tanto fuego.




Juan Meléndez Valdés.


Biblioteca Digital Ciudad Seva

Sonetos da portuguesa




1

Já pensei em Teócrito a cantar
Os anos doces, desejados, bons,
Que com mãos graciosas tantos dons
A todos os mortais parecem dar.
Eu, em sua língua antiga cismando,
Por entre lágrimas aos poucos via
Os anos doces de melancolia
Que em minha vida triste iam lançando
Uma sombra por cima. E então notava
Que uma mística forma se movia
Por trás; pelo cabelo me puxava,
Impondo-me na voz supremacia.
"É a morte que me agarra?" eu perguntava.
"É amor", a voz de prata me dizia.


Elizabeth Barrett Browning, em tradução de Leonardo Fróes