Era verão, pela varanda
entrava
a madura ondulação do
trigo,
o grito lancinante dos
pavões,
o cavalo na sombra
ardendo em cio.
Eugênio de Andrade
Poema da despedida
Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um
sonho
todo o inferno me vem à
boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.
- Mia Couto, no livro
"Raiz de Orvalho e Outros Poemas".