domingo, 17 de abril de 2011

Loucura

teu medo em minhas entranhas

meu cheiro em teus pesadelos

teu gosto em minhas façanhas

meu seio te lambe os cabelos

teu dedo em minha ferida

meu tempo em tua salada

tua voz, minha chaga parida

minha vida, tua encruzilhada

meus dentes em tua paixão

teu cetro vertendo meu dia

meu luto em tua aspiração

teu riso em minha alforria

teu nome em minha doença

meu corpo em tua desdita

teu hálito em minha crença

minha alma sempre maldita

meus vales em teu caminho

teu rio me deságua em mar

minha lava te banha de cio

teu pólen me faz aflorar

meu sonho e meu dia se fundem

tua noite vagueia sem pejo

os versos em nós se confundem

e a dor se transforma em desejo

loucura é esse amor sem perdão

perdido entre os tantos que somos

rescaldo de entrega e explosão

a cura do mal que não fomos.

Lílian Maial
– Escritoras Suicidas