sábado, 28 de outubro de 2017

Ao ser amigo, eu deixo de ser singular, tenho regras, mesmo que implícitas, de conduta, de comportamento, de afeto. Amizades fazem com que as pessoas consigam administrar um tipo de vida, ter projetos como indivíduo, atuar e cumprir seu destino na sociedade.

Mauro Koury
Professor da UFPb, antropólogo, coordenador do Grem.
"O maior roubo da história do Brasil aconteceu hoje [ontem]; não vai ter destaque na mídia, são mais de 800 bilhões. 75% desse dinheiro iria para a educação e 25% para a saúde mas a lei de autoria de José Serra, votada após o golpe mudou o regime de partilha para um leilão. E o Brasil vendeu tudo por quase 200 vezes menos que o preço de mercado.
Ah, também foi aprovada uma MP que isenta de impostos as petroleiras que compraram, e a Petrobras vai emprestar a tecnologia que desenvolveu para a retirada do petróleo.
Isso mesmo: nós entregamos tudo por menos de 1% do valor de mercado, isentamos de imposto e ainda damos a tecnologia para extração.
Quer mais? Pois tem, o BNDES vai emprestar dinheiro caso as petroleiras precisem. Um total de mais de 20 bilhões. Isso mesmo, nós vendemos por 6 e damos 20 a eles.
Mas o problema são os recibos do Lula, né bolsominions retardados mentais, paneleiros e coxinhas?"

Thiago dos Reis
Tudo indica que o Ministro Luis Roberto Barroso é a estrela ascendente do STF neste momento. A sua posição em relação à corrupção começa a ter influência na corte. Ainda assim, acho que o bate boca de ontem é revelador de mais coisas. Em primeiro lugar, do fato do STF ser uma corte sem nenhuma forma de controle externo. As disputas ou mesmos os crimes se pensarmos as comunicações entre Gilmar Mendes e Aécio Neves ficam restritas a um bate boca entre ministros e não tem nenhuma solução institucional. Como fica bastante claro do entrevero, o judiciário só discute os crimes do sistema político, mas é amplamente leniente em relação aos seus próprios delitos.

Leonardo Avrizer
"Historiadores (ou psicanalistas?) algum dia explicarão um país em que os que não têm como pagar por serviços privados apoiam a destruição dos serviços públicos."

Mario Madureira

O judiciário brasileiro é um dos principais responsáveis pelo atraso nacional, pela crise política e pelo golpe de 2016

. Além dos graves problemas do executivo e do legislativo, como o familismo, a corrupção e os interesses privados, o corporativismo no judiciário é o pior dos três poderes. Hoje mesmo observamos o STF, pelo ministro Lewandowski, rejeitar investigações no documentado esquema da JBS para compra de decisões no STJ por meio da advogada Renata Araújo, filha da desembargadora Maria do Carmo Cardoso. Também hoje mais uma turma do STJ rejeitou mais um pedido de suspeição do juiz Moro feito pela defesa de Lula, mesmo depois de inúmeras provas, evidências, declarações, fotografias e interceptações telefônicas completamente ilegais e reveladoras, o que desmoraliza ainda mais o judiciário, o legislativo e o executivo golpistas, sempre protegendo os mais corruptos e réus confessos, como Temer, Aécio e seus familiares e cúmplices menores na caricata República de Bananas que se tornou o Brasil com esse bloco golpista no poder. Não existe nem a propalada autonomia do direito burguês e nem do judiciário do Estado burguês nessa conjuntura explicitamente golpista. A sociologia crítica explica os flagrantes esbulhos e isenções porque boa parte dos juízes pertence à mesma classe alta, a mesma elite hereditária da classe dominante tradicional, os portadores de foros especiais, privilegiados e inimputáveis pelo sistema deles. Somente ingênuos, desinformados e ideologicamente engambelados pensavam que um juiz seria um herói republicano, um justiceiro meritocrático vindo e defendendo uma classe média que nunca foi. Boa parte dos magistrados e ministros do judiciário representam os interesses da classe alta, servem uma justiça seletiva, corporativa e politicamente dirigida aos interesses de sua própria classe dominante e de suas agendas políticas extorsivas. Tal como na análise de outros componentes da elite brasileira, a hereditariedade é muito importante para o núcleo duro do judiciário brasileiro, boa parte filhos e netos das altas burocracias estatais e privadas, gente sempre no poder, com altos rendimentos e acostumados às mordomias e aos privilégios nababescos dos que sempre viveram há gerações, nas bolhas de privilégios estatais e privados dos poderes estabelecidos do status quo dominante.
RCO


Partidos políticos de direita no Brasil quase sempre morrem depois de "grandes vitórias" impopulares desgraçando a Nação



Partidos políticos de direita no Brasil quase sempre morrem depois de "grandes vitórias" impopulares desgraçando a Nação. A UDN acabou com a "vitória" de 1964. A ARENA começou a terminar depois do pacote de abril de 77 e da "vitória" de 78. O PDS começou a morrer depois da "vitória" contra a emenda Dante de Oliveira-Diretas Já em 84. Neste ano de 17 as "vitórias" de Temer e de seus desgraçados apoiadores acarretarão a morte, ou substantivas mudanças do PMDB, PSDB e DEM, que podem já ir procurando outros nomes, outras legendas, outras siglas, para tentarem mais uma vez fugirem dos eleitores profundamente indignados com mais esse golpe contra a vontade democrática da grande maioria. A direita vai ter que se reciclar no pós-Temer, tal como tentou se reciclar no pós-FHC, pós-Collor, pós-Sarney, pós-Figueiredo. Já a sigla do PT está hoje muito mais forte do que esteve em qualquer momento do Governo Dilma. Mais um golpe de direita fracassado miseravelmente no Brasil, que sina nós temos !
RCO
Ao fim desta frase,
começa a chover
Pela margem da chuva
um barco.

Derek Wallcot
Vejo muito aqui no Paraná e se aplica aos outros estados. Um empresário muito rico, do interior e de origem imigrante, com um patrimônio de 500 milhões, um novo rico na classe alta-alta, é ideologicamente menos perigoso, venenoso e arcaico para a modernização do que 50 altos burocratas da capital, com patrimônios de 10 milhões, com redes sociais, culturais e políticas de muitas gerações bem instaladas na classe alta-baixa no mesmo Estado. Um capitalista dinâmico, arrojado, da nova burguesia, explorador dos baixos salários de seus funcionários e predador de matérias primas, amanhã poderá não estar mais exatamente lá com as flutuações e instabilidades do mercado. O grande rico emergente não terá o peso da inércia e da continuidade institucional dos pequenos ricos, herdeiros do velho estamento, como no caso de um Desembargador casado com a filha de um Almirante, descendentes do velho senhoriato escravista e com mentalidades reacionárias. Conhecemos mais no Brasil os nomes, atividades e papéis sociais dos 100.000 mais ricos, a elite da elite do dinheiro, os donos do grande capital, do que os 2 milhões de menos ricos logo abaixo, a elite operacional e executiva do sistema desigual. Um dos segmentos menos estudados na estrutura social brasileira é a classe alta-baixa, isso mesmo, o segmento quantitativamente significante e qualitativamente reprodutor do sistema social, a camada gestora assalariada com altas remunerações e heranças da classe dominante tradicional. O que também acontece frequentemente são os emergentes, na economia ou na política, ou seus familiares casarem com a velha ordem e reproduzirem as velhas estruturas. Precisamos é de mais pesquisas empíricas sempre difíceis de serem obtidas.


RCO

A universidade brasileira como o microcosmo nacional da apatia, prostração e desinteresse político na oposição aos golpistas.


A universidade brasileira como o microcosmo nacional da apatia, prostração e desinteresse político na oposição aos golpistas. Quando um editorial reacionário de um jornal oligárquico-familiar afirma que temer está “forte” e só existe oposição virtual nas redes sociais e nos partidos de oposição, trata-se de leitura superficial, tendenciosa, momentânea e conjuntural causada pela direção dos grupos políticos oposicionistas ao PT entre 2003-2015. Precisamos entender o ano político nas universidades. O reitor da UFSC se suicidou e o ex-reitor da UFPR só não foi perseguido pelo sistema judicial e pela polícia federal, em outro escândalo interno, porque era de uma família de direita empresarial, mas a realidade profunda está em movimento nas correntezas não percebidas nas superfícies. Em primeiro lugar a fraqueza, fragilidade e esvaziamento do ANDES-CONLUTAS, com grandes divisões e a fragmentação da extrema esquerda rumo ao Partido do Só Tem Um (PSTU), rachas dos rachas. Durante treze anos fizeram oposição implacável de terra arrasada contra os governos populares do PT, da mesma maneira que um Aécio Neves, quando perdeu a eleição junto com os DEM, PSDB e a direita golpista, hoje instalada autoritariamente no ministério da educação que não lhes pertence. Pouco se importavam que o ciclo de Lula e do PT fossem os melhores anos da história da universidade pública, com aumentos de recursos, investimentos, ganhos salariais, progressões de carreira, ampliações, criações de IFES, UFs, IFETs, ingressos de novas camadas populares no ensino superior. Críticas sempre são necessárias, mas jamais uma “santa aliança” entre os grupelhos de extrema esquerda, pequenos, com uma grande base social conservadora, elitizada e de direita na comunidade universitária, que possuíam apenas a palavra de ordem – Delenda PT e com mais ódio ainda contra a primeira mulher Presidenta - Delenda Dilma. Esta “santa aliança” de PT-haters reunia desde trotsquistas, ultra-esquerdistas, monarquistas, tucanos, extremistas de direita, fascistas, viúvas da ditadura militar, MBAs, capitalistas, neoliberais e outros elementos antissociais, todos contra quem mais fazia historicamente pela universidade brasileira no legado de Lula. Neste caldo de cultura política, hoje já superado e muito dividido, brotou o atual imobilismo, descaso e apatia na luta contra os golpistas de 2016. Isto vai mudar com um novo pensamento crítico e com novas forças sociais a partir do ano que vem de 2018 porque Lula, o PT e grupos de esquerda ativos estão mais fortes e vivos do que nunca nas intenções de votos populares.

Concluindo a reflexão sobre o marasmo nas universidades . Hoje é o Dia do Servidor Público. Quem realmente perdeu no golpe? Ouvi muitos professores e alguns dirigentes do ANDES-CONLUTAS e muitos técnicos da FASUBRA-CONLUTAS (leões valentes contra Dilma e cordeirinhos mansos contra o golpista Temer) com o mesmo diagnóstico de desarranjo político-ideológico, declaravam que pouco se importavam, tanto fazia, que Temer era igual e mesmo seria menos pior do que Dilma porque estavam cansados de perderem eleições presidenciais nos 13 anos democráticos do PT. Diziam fora todos e patrocinaram inertes a pior direita no poder. Muitas dessas lideranças sindicais eram ex-petistas emocionalmente ressentidos, rancorosos por não terem conseguido seus objetivos anteriores e como ex-raivosos prejudicavam uma análise de conjuntura das políticas possíveis com a correlação de forças realistas entre 2003-2016. Hoje, um ano e meio de golpe depois, a situação só não é pior justamente devido ao grande crescimento e as gorduras acumuladas da Era do PT. Hoje só acontecem cortes, reduções, congelamento, diminuição salarial, perdas, retirada de direitos e mesmo rotinas burocráticas normais como simples progressões estão ameaçadas. E novamente cadê a tal CONLUTAS, um ano inteiro sendo golpeados sem uma única oposição firme e sem uma única grevezinha para enfrentar, ou pelo menos resistir aos golpistas! Agora essas lideranças afirmam que suas bases não querem mais lutar, eles não querem e não podem mais lutar e antes contra Lula-Dilma e seus avanços todos queriam e podiam ? Depois de longas greves quase anuais contra os progressos do PT, agora o silêncio envergonhado do bloco da extrema esquerda com a direita, que vociferavam o tempo todo contra os governos do PT e hoje são apenas sombras deprimidas se arrastando, sem quase nenhuma base combativa e sem a agressividade sindical anterior contra os governos populares sabotados e derrubados pelos embusteiros. O ambiente preparatório do golpe foi construído por anos a fio com auxílio desses setores pseudo-radicais. Agora na mega-corrupção filmada, registrada de temer, muitos agem como os paneleiros, nada mais falam e engolem a sua antiga indignação e revolta, que só serviam contra os governos populares e desaparecem na catástrofe atual da perda de direitos, salários e completa deterioração das condições de trabalho na pax golpista. Pouco se importam se os trabalhadores mais pobres, os camponeses, sem-terras, índios, quilombolas e escravizados estão sendo massacrados pelos golpistas nas periferias da nossa sociedade. ANDES-FASUBRA-CONLUTAS produziram e passaram durante anos uma mensagem equivocada para os professores, técnicos, servidores e estudantes: que o grande inimigo e alvo do ódio deles era o governo do PT, faziam sempre o jogo da direita, não lucraram eleitoralmente coisa nenhuma com o golpe dessa mesma direita a quem sempre beneficiaram ingenuamente, como nas farsas jornadas de 2013, porque sempre perdiam no voto popular eleitoral. Quem mais perdeu com o golpe foram os jovens, os jovens doutores, os jovens técnicos, os mais novos estudantes, todos que ficaram sem concursos nas IFES, concursos ampliados no ciclo anterior. Quem perdeu com o antipetismo primitivo desses setores foram os interesses populares, quem ganhava bolsas nas universidades, quem dependia de alimentação no RU, livros nas bibliotecas, apoios aos congressos para docentes, tudo que os golpistas cortam bastante hoje com o golpe. As perdas salariais só começaram porque o golpe ainda não teve tempo de arrochar e roubar salários, retirar direitos trabalhistas, como o ciclo de FHC fez ao longo de muitos anos. Agora que despolitizaram e equivocaram toda uma geração na universidade simplesmente não fazem nada e não conseguem fazer nada, nenhuma luta, zero à esquerda, nada. Tudo pode ser diferente no ano que vem porque tudo se transforma, já escrevia Heráclito, nada do que foi será e tudo é movimento. Novos ciclos e novos atores surgirão, o novo sempre vem !



RCO

Démons et merveilles


De colinas y vientos
de cosas que se denominan para entrar
como árboles o nubes en el mundo

De enigmas revelándose en las lunas
rotas contra el aljibe o las arenas
yo he dicho y esperado

Creo que nada vale contra esta caricia
abrasadora que sube por la piel
Ni el silencio, ese desatador de sueños

Vivir
oh imagen para un ojo cortado
boca arriba perpetuo

Júlio Cortázar


Canción

Muerto de fatiga y sueño,
vuelve un soldado del monte
labio duro, duro ceño.
i Que lejos el horizonte
donde el hierro lo desciña
y el caballo lo desmonte !

Nicolás Guillen