Foxtrotando pela rua
Vai Fulaninha, seminua,
Tem movimentos de onda do mar.
O corpo moço, a pele fresca,
Futurista, bataclanesca,
Chi! Eu gosto! Nem é bom falar...
Pisa a calçada, toc... toc...
No seu encalço vão a reboque
Peralvilhos, gênios do mal.
E ela nem liga... Continua
Foxtrotando pela rua...
Gentes, Que coisa mais fatal!
Figurino de dia cálido!
O seu semblante moreno-pálido
A mão de um gênio foi que compôs.
Como se chama? Vera? Estefânia?
Meu Luluzinho da Pomerânia,
Meu Luluzinho número 2!
Aonde vais, lindo vagalume?
— Vou ao Bazin comprar perfume...
Guerlain, Houbigant, Coty?
Todo o perfume é o mesmo, ardente,
E alucinante, e estuante, e quente,
Quando o perfume vem de ti.
— Meu bizarro João da Avenida!
Já ficou bom daquela ferida
Que lhe abriram no coração?
— Há muito tempo estou curado.
Por que falar-me do Passado?
E ela pôs os olhos no chão.
E dizer que tu foste... Perdoa...
— Pr'a que dizer? A lembrança é boa
— Lembrar é falta de educação.
— Mas a saudade purifica...
O sofrimento é o único bem que fica
Para a volúpia do perdão!
©Olegário Mariano
In Ba-Ta-Clan, 1924
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
NO JARDIM DO MOSTEIRO
Poema integrante da série I: Da Morte.
No jardim do mosteiro
silêncios envolvem o monge
e seu livro de horas.
Ele sabe da sombra infinita
que espera lá fora.
É velho o monge
e morrerá com ele
alguma frase em latim
uma entonação gregoriana
seu rosário suas sandálias
e um pouco de mim
Autor: Neide Archanjo
No jardim do mosteiro
silêncios envolvem o monge
e seu livro de horas.
Ele sabe da sombra infinita
que espera lá fora.
É velho o monge
e morrerá com ele
alguma frase em latim
uma entonação gregoriana
seu rosário suas sandálias
e um pouco de mim
Autor: Neide Archanjo
O LIXO
plásticos voando baixo
cacos de uma garrafa
pétalas
sobre o asfalto
aquilo
que não mais
se considera útil
ou propício
há um balde
naquela lixeira
está nos sacos
jogados na esquina
caixas de madeira
está nos sacos
ao lado da cabine
telefônica
o lixo está contido
em outro saco
restos de comida e cigarros
no canteiro, sem a árvore,
lixo consentido
agora sob o viaduto
onde se confunde
com mendigos
Régis Bonvicino
cacos de uma garrafa
pétalas
sobre o asfalto
aquilo
que não mais
se considera útil
ou propício
há um balde
naquela lixeira
está nos sacos
jogados na esquina
caixas de madeira
está nos sacos
ao lado da cabine
telefônica
o lixo está contido
em outro saco
restos de comida e cigarros
no canteiro, sem a árvore,
lixo consentido
agora sob o viaduto
onde se confunde
com mendigos
Régis Bonvicino
AGONIA
uma gaivota rente ao mar
voa entre os barcos
no pôr-do-sol
toca
asas na água
sem o peixe
voando em círculos
perto da árvore
em bando barcos parados
a voz da gaivota,
aguda, ecoa
rumo ao mar
fechado, mergulha
imersa, agora, como ostra
destroça o peixe
entre as patas gaivotas a lua?
na água que apagou
nuvens sobre a montanha
onde já é quase noite
acima um céu azul ainda
horizonte uma gaivota voa
luz acesa da ponte
silêncio íntimo da baía
cor no entanto a onda
Régis Bonvicino
Régis Bonvicino é autor de vários livros de poesia, entre eles: Bicho papel (SP, Groove, 1975); Régis Hotel (SP, Groove, 1978); Sósia da cópia (SP, Max Limonad, 1983); Más companhias (SP, Olavobrás, 1987); 33 poemas (SP, Iluminuras, 1990); Outros poemas (SP, Iluminuras, 1993); Ossos de borboleta (SP, 34, 1996); Céu-eclipse (SP, 34, 1999); Remorso do cosmos (SP, Ateliê, 2003).
voa entre os barcos
no pôr-do-sol
toca
asas na água
sem o peixe
voando em círculos
perto da árvore
em bando barcos parados
a voz da gaivota,
aguda, ecoa
rumo ao mar
fechado, mergulha
imersa, agora, como ostra
destroça o peixe
entre as patas gaivotas a lua?
na água que apagou
nuvens sobre a montanha
onde já é quase noite
acima um céu azul ainda
horizonte uma gaivota voa
luz acesa da ponte
silêncio íntimo da baía
cor no entanto a onda
Régis Bonvicino
Régis Bonvicino é autor de vários livros de poesia, entre eles: Bicho papel (SP, Groove, 1975); Régis Hotel (SP, Groove, 1978); Sósia da cópia (SP, Max Limonad, 1983); Más companhias (SP, Olavobrás, 1987); 33 poemas (SP, Iluminuras, 1990); Outros poemas (SP, Iluminuras, 1993); Ossos de borboleta (SP, 34, 1996); Céu-eclipse (SP, 34, 1999); Remorso do cosmos (SP, Ateliê, 2003).
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