quarta-feira, 28 de julho de 2010

Onda de calor mata 71 em 24 horas, pior seca em 130 anos

Pagina principal / Federação Russa

Nos últimos vinte e quatro horas, setenta e uma pessoas morreram na Rússia, como resultado do calor. As temperaturas recorde sentiram-se em todo o país, mas principalmente em Moscou, que levou as pessoas a assumir riscos de natação em ambientes desconhecidos. Até agora, em Julho, 1.244 pessoas morreram, quase trezentos dessas na semana passada, enquanto que o país enfrenta sua pior seca em 130 anos.

As mortes ocorreram todas em consequência de afogamento, quando as pessoas tentaram escapar da onda de calor por natação em tanques de água, canais e rios. Segundo o Ministério de Situações de Emergência, apenas nas últimas 24 horas, setenta e uma pessoas se afogaram em todo o território da Federação Russa.

Este valor faz parte de um total de 1.244 mortes por afogamento no mês de Julho, cerca de 300 dos quais morreram na semana passada, quando as temperaturas atingiram níveis recordes quase históricos de 36,5 graus Celsius, enquanto cerca de 2.500 pessoas morreram desde o início do ano em incidentes relacionados com a água, segundo a mesma fonte.
Na semana passada um adicional número de 178 pessoas foram resgatadas pelos serviços de emergência e, ontem, para além das 71 mortes, houve também 20 resgatados.

Pior seca em 130 anos

Até vinte por cento da produção de grãos da Rússia foi destruída no pior seca em 130 anos, de acordo com o Ministério da Agricultura. 9,6 milhões de hectares de campos de grãos foram destruídas ou gravemente danificadas e uma situação de emergência devido à seca foi declarada em 19 regiões.

As temperaturas recordes são devem continuar durante a semana seguinte, pelo menos, de acordo com meteorologistas.

O Governo russo está atualmente fornecendo medidas para ajudar as pessoas afectadas. O primeiro-ministro Vladimir Putin está distribuindo empréstimos, subsídios e reduziu os preços dos combustíveis para os agricultores. Entretanto, foi declarado que o preço do pão não será afetado, porque há reservas suficientes para lidar com esta crise.

Os motoristas de táxi fazem lucro

Nem todo o mundo está enfrentando tempos difíceis em Moscou, devido ao calor. Alguns motoristas de táxis da cidade estão fazendo uma fortuna, acrescentando uma carga extra de ar condicionado, de acordo com relatos citados pela Komsomolskaya Pravda, embora não há nada na legislação para justificar isso.



Konstantin KARPOV


Fonte: Pravda.ru .20.07.2010 

Lúcio Alves 1960 "A Vizinha do Lado"

Jacqueline du Pré - Saint-Saëns Allegro appassionato

A mão -de-obra

São bons de porte e finos de feição
E logo sabem o que lhes ensina,
Mas têm o grave defeito de ser livres.

José Paulo Paes
Os Melhores Poemas de José Paulo Paes

O Povo é bom

Apesar de seus graves problemas, o Brasil possui expressivo potencial turístico. o americano Norton gostava muito de nosso país."Brezííl...as mulááts..."Mas o Brasil não é só samba, praia e futebol.Norton passeava pelo centro financeiro de São Paulo."Maravíl...cada baynquinh simpáátic."Olhou para a massa humana a seu redor. "O pouváum...eu adór o pouv brézileir."Começou a gritar junto com a massa. "O póuv unííd djemáis siráh vencííd.""Era uma manifestação contra o FMI.Um rapaz se exaltou."O gringo quer provocar."No tumulto,apareceu a tropa de choque.Atingido por um cassetete,norton faz reflexões no hospital."O pôuv é bóndouz.Mas a polííç dêix a dizejahr"."Quem traz dólares para a gente não merece pancada.
Voltaire de Souza
Vida Bandida.Folha de São Paulo

Orlas

Parou diante de uma água pingando-sem nada enxergar na noite encoberta.Era só pelo ouvido que recebia as gotas caindo.Pensou até em cegueira repentina, mas nisso não se fixou, preferindo soletrar seu nome, ou melhor, um outro que vinha repetindo havia dias, pelo belo prazer de ter a boca ocupada com uma coisa que não ancorava de chofre num sentido: pura passagem de ar, que ele às vezes abortava mordendo, mastigando, engolindo, devolvendo pela boca aos pedacinhos ele ainda falava no clarear do dia , enquanto a gota já longe silenciava...Silenciava dissolvendo-se no nevoeiro que impedia o avião de decolar. Encostado no aramado do aeroporto, ele tocava no limite , repetindo um nome que não era bem o seu , e sem parar...

João Gilberto Noll
Relâmpagos.Folha de São Paulo.09/07/2001

O claro enigma de Marize Castro

Astier Basílio – Jornal da Paraíba

Não existem fórmulas que garantam uma boa poesia. Não há receitas. O fato de Marize Castro, por exemplo, escrever poemas curtos, econômicos, apostar na simplificidade não dá nenhuma garantia de que seu trabalho poético seja bem realizado.



O que faz Lábios – espelhos (Una, Rio Grande do Norte, 2009, 97 págs.) uma obra de qualidade é algo mais do que a combinação de um receituário seguido à risca. Não. É algo imponderável chamado talento. Marize não se preocupa em ostentações.



Veja o poema “Deus é Mundo” em que ela diz:



pequenas mortes acompanham-me

Desamparo-me a cada página

Ela me disse: Deus é o mundo.

Desde então, não me encolho mais.

Amplio-me.



Há, neste curto texto, dois eixos fundamentais. O primeiro, a referência a um eu-lírico, exteriorizado em terceira pessoa, denominado de “Ela”, referência que atravessa vários textos. O outro eixo, ou melhor, mais a revelação de uma estratégia, mostra uma poeta que esconde suas intertextualidades, que aposta no simples, é que “pequenas mortes”, principalmente no idioma francês, é uma metáfora para orgasmo, elemento que ilumina a temática erótica e amorosa de seus textos curtos e fulminantes.



Quem é essa “ela”? Essa “ela” que se insurge (se eu não escrevo, ela me engole/ come meu útero./ Meu cérebro…) que, por que não dizer, se metamorfoseia em várias outras, multidão de uma só que canta e que anuncia:



conduzo águias

tropeço em harpas

troco em harpas

troco anáguas no jardim

onde os amantes são sepultados.



Tentando, em vão responder a essa pergunta, a de quem seja “ela”, a melhor resposta não é decifrar o enigma, mas de contemplar o enigma, beijá-lo, como sugere o título, Lábios – espelho, uma gradação em camadas, uma caixa de pandora luminosa e, ao mesmo tempo, opaca, pois, a transparência de Marize ilusoriamente revela.



Eis o jogo, como sugerido em “silente”: sinto urgência em dizer: calo.

Otto Dix War

Héro et Léandre

Vestígios

noutros tempos

quando acreditávamos na existência da lua

foi-nos possível escrever poemas e

envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído

pelas salivas proibidas – noutros tempos

os dias corriam com a água e limpavam

os líquenes das imundas máscaras



hoje

nenhuma palavra pode ser escrita

nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras

ou se expande pelo corpo estendido

no quarto do zinabre e do álcool – pernoita-se



onde se pode – num vocabulário reduzido e

obcessivo – até que o relâmpago fulmine a língua

e nada mais se consiga ouvir



apesar de tudo

continuamos e repetir os gestos e a beber

a serenidade da seiva – vamos pela febre

dos cedros acima – até que tocamos o místico

arbusto estelar

e

o mistério da luz fustiga-nos os olhos

numa euforia torrencial


Al-Berto