terça-feira, 11 de maio de 2010
Escuridão formosa
À noite toquei-te e senti-te
sem que minha mão fugisse para lá de minha mão,
sem que meu corpo fugisse, aos meus ouvidos:
de um modo quase humano
senti-te.
A pulsar,
não sei se como sangue ou como nuvem
errante,
em minha casa, na ponta dos pés, escuridão que sobe,
escuridão que desce, cintilante, correste.
Correste por minha casa de madeira,
e abriste as janelas,
e senti pulsar a noite toda,
filha dos abismos, silenciosa,
guerreira tão terrível e tão bela,
que tudo quando existe,
sem tua chama, não existiria para mim.
Gonzalo Rojas
do livro “Rosa do Mundo”
assírio & alvim, 2001
trad. José Bento
sem que minha mão fugisse para lá de minha mão,
sem que meu corpo fugisse, aos meus ouvidos:
de um modo quase humano
senti-te.
A pulsar,
não sei se como sangue ou como nuvem
errante,
em minha casa, na ponta dos pés, escuridão que sobe,
escuridão que desce, cintilante, correste.
Correste por minha casa de madeira,
e abriste as janelas,
e senti pulsar a noite toda,
filha dos abismos, silenciosa,
guerreira tão terrível e tão bela,
que tudo quando existe,
sem tua chama, não existiria para mim.
Gonzalo Rojas
do livro “Rosa do Mundo”
assírio & alvim, 2001
trad. José Bento
A Rua da vida
A Affonso Schmidt
Esta é rua da vida. E a vida se revela,
a rua sem pudor, completamente nua.
Mas, mostrando-se nua, a vida não é bela
e não é boa a vida através desta rua.
O convite que sai da entreaberta janela
tem a fascinação indizível da sua
promessa de pecado ! E, atraída por ela,
a sombra do homem pelas portas se insinua...
Marítimos gingando o corpo forte e suado,
malandros de chinelo, asiáticos franzinos,
toda esta malta vil que o homem detesta
vem deixar, nesta rua, um pouco do passado;
vem cumprir, nesta rua, os seus torvos destinos
para que possa haver a nossa rua honesta !
Cid Silveira(1910)
Esta é rua da vida. E a vida se revela,
a rua sem pudor, completamente nua.
Mas, mostrando-se nua, a vida não é bela
e não é boa a vida através desta rua.
O convite que sai da entreaberta janela
tem a fascinação indizível da sua
promessa de pecado ! E, atraída por ela,
a sombra do homem pelas portas se insinua...
Marítimos gingando o corpo forte e suado,
malandros de chinelo, asiáticos franzinos,
toda esta malta vil que o homem detesta
vem deixar, nesta rua, um pouco do passado;
vem cumprir, nesta rua, os seus torvos destinos
para que possa haver a nossa rua honesta !
Cid Silveira(1910)
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