terça-feira, 11 de maio de 2010

Escuridão formosa

À noite toquei-te e senti-te

sem que minha mão fugisse para lá de minha mão,

sem que meu corpo fugisse, aos meus ouvidos:

de um modo quase humano

senti-te.

A pulsar,

não sei se como sangue ou como nuvem

errante,

em minha casa, na ponta dos pés, escuridão que sobe,

escuridão que desce, cintilante, correste.

Correste por minha casa de madeira,

e abriste as janelas,

e senti pulsar a noite toda,

filha dos abismos, silenciosa,

guerreira tão terrível e tão bela,

que tudo quando existe,

sem tua chama, não existiria para mim.


Gonzalo Rojas
do livro “Rosa do Mundo”
assírio & alvim, 2001
trad. José Bento

Nenhum comentário: