André Castelo Branco Machado
Não posso aceitar que a nossa sociedade, cada vez mais
violenta, superficial, competitiva e egoísta, queira estabelecer leis ainda
mais severas para punir a agressividade e os crimes que ela própria produz. É
apagar incêndio com pólvora. Estamos rumando para a barbárie e muitos estão
aflitos para acelerar esse destino.
Poderíamos aproveitar esse momento de caos para efetivarmos
mudanças radicais no metabolismo dessa sociedade e transformarmos as relações
humanas.
Socialismo ou barbárie, cada vez mais atual.
O PT de volta ao divã
De tempos em tempos, assim como reforma política, reforma
ministerial, reforma tributária, o destino do PT emerge como assunto de
destaque. Com o 5º congresso marcado para junho e em meio a um tiroteio
político generalizado, volta-se a falar em refundação, aliança com movimentos
sociais e até a criação de “puxadinhos” tipo Frente Ampla do Uruguai.
Fala-se de tudo, menos do essencial. Com base em que
propostas, em que projeto social vai repousar esta reformulação? Eis o ponto.
O problema do PT, decididamente, não é organizativo. Está
longe dos movimentos sociais? Sim, está, mas é ilusão culpar erros
administrativos. Deixou de dialogar com os setores trabalhistas e operários?
Evidente, mas o motivo não é uma questão de comunicação. Afastou-se dos
sem-teto, da juventude que saiu às ruas, da classe média? Basta olhar os fatos.
Pergunte aos militantes petistas qual programa seguem. “A
favor dos pobres”, dirão –mesmo porque nem o dirigente mais aguerrido saberá
descrever quatro ou cinco pontos específicos da plataforma do partido.
O certo é que não dá para defender a maioria recorrendo ao
instrumental da minoria.
Concebido como representante de trabalhadores, o PT pouco a
pouco tem abandonado sua essência. De bancário, arrisca-se a virar banqueiro, a
ponto de hoje ocupar as manchetes como paladino do superávit primário, do corte
de benefícios sociais, do encolhimento de recursos para a educação. Só falta
imprimir as propostas em inglês. Isso para não citar os tentáculos expostos na
área da corrupção.
A inapetência do PT, sem intenção de trocadilho, salta aos
olhos. São Paulo sofre com a falta d’água, vive uma epidemia de dengue e
assiste a uma nova greve de professores. Onde está o PT?
O máximo que se vê é sua principal figura no Estado, o
prefeito paulistano, preocupado em travar uma batalha de morte por…ciclovias.
Nada contra elas, assim como muitos poucos serão a favor da destruição da
camada de ozônio ou da proibição de pasta de dente. Mas transformar isto em
bandeira de governo numa capital de tamanhas carências revela, como diria o
povo, falta de senso de noção.
No plano federal, a mesma coisa. Além do caso Petrobras, o
partido submete-se a um papel secundário, de coadjuvante, também frente a
escândalos como a lista do HSBC e a recente Operação Zelotes. Ambas provam que
o Brasil, tido como um dos campeões de carga tributária, revela-se, na verdade,
imbatível na sonegação de impostos.
Só na Zelotes, calcula-se um prejuízo de quase 6 bilhões de
reais para o Tesouro –valor três vezes maior que o indicado pelo Ministério
Público na Operação Lava Jato. Repita-se: três vezes maior.
Os jornalistas Fábio Fabrini e Andreza Matais, de “O Estado
de S. Paulo”, deram a lista de alguns acusados: Santander, Bradesco, Ford,
Gerdau, Safra, RBS, Camargo Corrêa e outros nomes de calibre parecido. Onde
estão o governo do PT e o ministro da Fazenda que ele nomeou? Em vez de atacar
os peixes graúdos, os emissários do Planalto mendigam votos no Congresso para
encolher pensões de viúvas, cortar bolsas de universitários e onerar
desempregados.
Para fazer este trabalho, convenhamos, já há legendas de
sobra na paisagem nacional.
Artigo do jornalista Ricardo Melo publicado no jornal Folha
de São Paulo de 30 de março de 2015.